31.5.15

Vozes que ecoaram no dia 29 de maio em Belém

Na última sexta-feira, 29, enquanto centenas de professores adentravam no Hangar Centro de Convenções da Amazônia protestando contra o corte em seus cheques como represália à greve na educação, que já dura mais de dois meses, estudantes, artistas, produtores e cidadãos de modo geral, também ecoaram suas vozes em outras manifestações, ao lado do Bar do Parque, com o ato realizado pelo PROA, e no Solar da Beira, com a ocupação Solar das Artes.

Artistas, professores, produtores, cidadãos. A sexta-feira, 29 de maio, foi marcada pelo exercício de cidadania, com ações legítimas em defesa da educação e da cultura, dois setores que há muito vêm sofrendo cortes e carecendo de políticas públicas sérias que contemplem a sua importância para a construção de um país melhor.

Quem não participou, foi para o facebook para acompanhar as diversas imagens, fotos e postagens de apoio aos professores que adentraram no Hangar Centro de Convenções da Amazônia, onde era realizada a abertura da 19ª Feira Pan Amazônica do Livro. Ficou claro que nem professores e nem estudantes admitem mais a situação a que chegou a educação neste país.

Enquanto isso, na calçada do Bar do Parque, conhecido reduto de convergência de ideias e diversidade cultural, situado ao lado do Theatro da Paz, outra manifestação, com revindicações tão legítimas quanto a dos professores, reunia mais de 1000 pessoas, que passaram, circularam e pararam para assinar e ouvir as falas do movimento PROA – Produtores e Artistas Associados.

O movimento vem sendo construído há meses, com reuniões semanais para estudos de leis públicas de apoio à cultura existente em outros estados brasileiros, que já aderiram ao Sistema Nacional de Cultura, principal ferramenta para a democratização e acesso à cultura, que vem sendo negada ao Pará. Nossos Sistemas de Cultura, tanto municipal quanto estadual, não estão implantados e se encontram com seus processos emperrados por falta de interesse dos respectivos governos.

A programação cultural, que atraiu o público para o ato, teve, entre outros, a presença de Dona Onete, uma das maiores representantes da cultura do Estado, no país e atualmente no exterior, de Bruno B. O. representando a voz social de excluídos e Gang do Eletro, entre outros artistas que representam a classe artística na cadeia produtiva da música.

Nem só de música, porém, evoluiu o Ato do PROA, que recolhia também assinaturas em petições públicas em prol da implantação dos sistemas municipal e estadual de cultura e exibiu um vídeo em que artistas e produtores revindicam os diretos de todos à cultura em nosso estado. No mesmo dia em que foi postado, ganhou mais de 10 mil visualizações e hoje (31 de maio) já tem mais de 12 mil, e mais de 400 compartilhamentos.

A crise na cultura não é um problema isolado do Estado do Pará. Em nível nacional a Funarte vive talvez um dos piores momentos de sua história. Está com todos os processos emperrados. Há projetos aprovados, que vêm sendo realizados sem recursos recebidos, pra não atrasar suas agendas, e há outros que também já foram contemplados e não puderam iniciar. 

O setor cultural passa por mau momento nas três esferas de governo. As leis de incentivo não funcionam, possuem inúmeras contradições  e não encontram eco no empresariado, deixando produtores e artistas com cartas na mão.

Lúcio Flávio Pinto, em noite também de boas falas

Na noite de 29 de maio de 2015, que com certeza entrou para a nossa história, entre outros, foram ao microfone, a jornalista Úrsula Vidal, o geógrafo e músico Cincinato Marques, o produtor cultural Pedro Vianna e o sociólogo, jornalista e professor Lúcio Flávio Pinto. Ele chamou atenção para a situação do poder econômico do Pará não direcionado a investimentos públicos que poderiam ser feitos a partir do aproveitamento de nossas riquezas.

Ao falar em riqueza, Lúcio levantou uma comparação das mais pertinentes que ouvi naquela noite. A Era da Borracha e a Era do Ferro. Dois ciclos “áureos” da nossa história e de como os governantes de cada época soube ou sabe aproveitar a riqueza que o estado exporta para outros estados brasileiros e outros países.

Quando ele fala de governantes, lembra imediatamente de Antônio Lemos, até hoje a maior referencia da administração pública de Belém. Fala de sua atuação, que chegou a inspirar o carioca Francisco Pereira Passos (1836 – 1913), que revolucionou em saneamento e urbanização do Rio de Janeiro, entre 1902 e 1906.

“Estou fazendo essa referência porque nós costumamos dizer que Antonio Lemos foi o nosso melhor prefeito. E a cada novo prefeito, a gente tem mais razão de achar isso. Mas não conseguimos perceber que, o que nós estamos vivendo agora é uma época mais importante do que a era da borracha”, chama atenção, Lúcio Flávio.

Antônio Lemos, Intendente que administrou Belém de 1897 a 1912, período de apogeu do comércio da borracha, foi precursor do que Pereira Passos fez no Rio de Janeiro e que até hoje a projeta como Cidade Maravilhosa. Assim, como Belém está sempre associada a sua Bélle Époque, feito de Lemos. 

O intendente foi buscar na França, centro irradiador da cultura mundial, os fundamentos para o seu plano de modernização, transformando a capital paraense em uma Paris N’Àmérica, impressionando o escritor viajante Euclides da Cunha de passagem por aqui em 1904: "nunca esquecerei a surpresa que me causou aquela cidade. Nunca São Paulo e Rio de Janeiro terão as suas avenidas monumentais, largas de 40 metros e sombreadas de filas sucessivas de árvores enormes. Não se imagina no resto do Brasil o que é a cidade de Belém, com os seus edifícios desmesurados, as suas praças incomparáveis e com a sua gente de hábitos europeus, cavalheira e generosa. Foi a maior surpresa de toda a viagem".

E Lúcio continuou. “Se nós formos ver o quanto representa o minério de ferro, hoje o principal produto de exportação do Brasil, e que a borracha só foi o principal produto de exportação do Brasil durante um ano, o resto foi a Era o Café de São Paulo, nós vamos ver que a história está nos dando a oportunidade de fazer aquilo, que nem o Lemos, nem os intelectuais que falavam fluentemente francês e impressionaram Euclides da Cunha, conseguiram. No entanto, nós achamos que o melhor da nossa história foi o período da borracha e não o da mineração”, disse o jornalistas, um dos maiores defensores dos direitos da Amazônia, editor do Jornal Pessoal. 

O jornalista ressalta que já temos meio século de mineração no Pará. E que se no início disso tudo o Estado exportava em torno de R$ 200 milhões de dólares, em 2014, exportamos R$ 14 bilhões de dólares. Em 2013, foram R$ 18 bilhões de dólares. 

“O Ferro é o maior produto do país, somos o quinto exportador do Brasil, o segundo que mais dá divisas e dólares pro Banco Central. E nós estamos felizes, ricos, desenvolvidos? Não. Nós somos o 16º estado brasileiro em IDH - Índice de Desenvolvimento Humano, e somos o 21º, junto com os estados nordestino, sendo o único estado da Amazônia, em renda per capta, que é a divisão de riqueza pela população”, disse. 

Embora estejamos em um ciclo muito mais importante do que o da borracha, de valor econômico muito maior, não estamos conseguindo transformar isso em riqueza. Lúcio Flávio diz como entende isso. “Não estamos conseguindo isso porque nós não somos personagens da história. Sem entender o que está acontecendo é evidente que não vamos conseguir mudar os rumos das coisas", comenta. 

"E os rumos do que está acontecendo na Amazônia e no Pará, em particular, são os rumos do velho processo de exploração e sangria das riquezas naturais. Então eu estou aqui ao lado do Theatro da Paz e estou tentando dizer pra vocês que hoje no cotidiano da história, temos a oportunidade de fazer uma grande e nova história. Vamos ver se a gente consegue recuperar este desafio e responde-lo adequadamente, muito obrigado”, encerou aplaudido pelo público presente.

Em defesa da cultura paraense, assinem as petições, manifestem-se nos links abaixo:

Clique para assinar pelo Sistema Estadual de Cultura

Clique para assinar pelo Sistema Municipal de Cultura

Raphaël Larre ministra curso de charge em Belém

O artista francês vem à Belém pela primeira vez para realizar um workshop na Aliança Francesa, sua anfitriã, com direito à certificado, e para participar do Festival Internacional de Humor da Amazônia, que está sendo realizado na Feira Pan-Amazônica do LivroProfessor da École des Beaux-Arts de Toulouse , Raphaël ele integra o júri, na categoria, Charge/Cartum, tendo como tema a liberdade de expressão.

O tema  faz alusão aos seis cartunistas vítimas do atentado terrorista ao Charlie Hebdò. Em janeiro deste ano, o jornal francês foi invadido por dois homens que mataram 12 pessoas, entre elas, o editor e cartunista Stéphane Charbonnier, conhecido como Charb, o lendário cartunista Wolinski e os também cartunistas Jean Cabu e Bernard Verlhac, conhecido como Tignous, além do desenhista Phillippe Honoré. Os seis são homenageados pelo salão, retratados na categoria Caricaturas.

O tema é latente, amplo, mas ao prestar homenagem aos cartunistas franceses, o salão conseguiu reunir trabalhos de teor crítico que trazem à tona coisas que poderiam ficar engatadas na garganta. Nada como a arte para canalizar ideias que trazem mais lucidez. 

Já no curso, Raphaël Larre aborda a charge em sua evolução crítica até os dias de hoje, sem esquecer, contudo, a sua evolução no sentido estrito do desenho. Após essa discussão e contextualização histórica, os alunos confeccionarão coletivamente um mural inspirado na atualidade, que ficará em exposição na Aliança Francesa, como produto final do atelier.

“Ação, reação, desenho” será ministrado de 1 a 5 de junho, das 18h às 20h inscrições podem ser feitas pelo email contatos@afbelem.com . Ao final, os alunos receberão um certificado de participação.

Sobre o artista - Raphaël Larre nasceu na cidade de Dax, na Aquitânia e se formou pela École Nationale des Beaux Arts de Paris em 2005. De 2006 a 2008, foi residente da seção artística do Centro Cultural Francês “Casa de Velazquez” em Madrid. 

Inspirado pela busca do desenho no sentido mais amplo da palavra, seu interesse maior é pelo tema que envolve o movimento com desenhos narrativos. O artista já participou de exposições tanto individuais e coletivas, na França, Espanha e Argentina. 

Raphaël atualmente é professor de educação artística e foca suas aulas na prática do esboço como estilo de desenho. Através desse desenho rápido e baseado no real, recentemente decidiu homenagear as vítimas do ataque à revista satírica Charlie Hebdo, junto com seus alunos.

Serviço
Curso "Ação, reação, desenho". Período: 1 a 5 de junho, das 18h às 20h, na Aliança Francesa de Belém (Tv. Rui Barbosa, 1851). Inscrições gratuitas. Vagas limitadas. Inscrições pelo email: contatos@afbelem.com.

28.5.15

PROA realiza ato em defesa da cultura paraense

O convite é amplo e busca debater com o público em geral prioridades para a cultura paraense. Programado para esta sexta-feira, 29, às 19h, na Praça da República, ao lado do Theatro da Paz, o ato terá a presença de artistas, produtores e jornalistas, com participação de Dona Onete & Pio Lobato, Malacos Símios, Aeroplano, Bruno B.O, Juliana Sinimbú, Camila Honda, Natalia Matos, Quaderna, Renato Gusmão, Meio Amargo Monoband, Turbo e Gang do Eletro.

Unidos pela implantação de políticas públicas de cultura e pela revitalização e democratização dos espaços públicos em Belém do Pará, além das participações artísticas, o PROA – Produtores e Artistas Associados - realizará a leitura de um manifesto se apresentando à sociedade paraense.

Também será colocada à disposição dos presentes uma petição pedindo a implantação do Sistema Estadual de Cultura, ferramenta importante para a construção de uma política cultural que atenda a agenda nacional de cultura.

O PROA tem como pauta prioritária, a imediata implementação dos sistemas municipal e estadual de cultura, com seus respectivos conselhos de cultura, planos de cultura e fundos de cultura, que garantirão a efetiva participação do Pará, no Sistema Nacional de Cultura, cujo objetivo é fortalecer institucionalmente as políticas culturais da União, Estados e Municípios, com a participação da sociedade. A meta do Ministério da Cultura é que até 2016 todos os estados da federação tenham aderido ao sistema e estejam com o mesmo implantando e em pleno funcionamento.

“Conforme consulta feita em 22 de maio de 2015 no portal do Sistema Nacional de Cultura (http://www.cultura.gov.br/snc), o Sistema Estadual de Cultura (SEC) do Pará ainda se encontra em estágio bastante embrionário. Conforme o portal do SNC, a situação do estado do Pará é ‘acordo aguardando renovação’. Isso quer dizer que o Governo do Pará já assinou acordo de adesão ao SNC, mas que precisa ser renovado”, afirmam os integrantes do movimento.

O que é o PROA

O PROA se enuncia como uma reunião de protagonistas sociais de diferentes manifestações artísticas e linguagens, que estão juntos na defesa de um bem imaterial, a cultura paraense. 

E para isso, o movimento pretende ir mais à fundo. O grupo vem estudando política cultural, se reunindo uma vez por semana, em reuniões abertas, é bom que se diga, abraçando todos que quiserem somar. 

“Resolvemos descruzar os braços, soltar a voz, nos organizar enquanto sociedade civil, e reivindicar mudanças, contribuindo para construção de uma política cultural democrática, pautada no respeito e na valorização da diversidade cultural de nosso estado”, diz o texto do manifesto, acatado por artistas, produtores, ativistas, técnicos, educadores, pesquisadores, trabalhadores e, principalmente, amantes da arte e da cultura do Estado do Pará.

O movimento vem ganhando visibilidade nacional. Postagens diárias são feitas e compartilhadas pelo facebook. Há adesão de pessoas de outros estados que também estão às voltas com a mesma apatia cultural em suas cidades. 

“Somente através da nossa união e participação política conseguiremos pressionar o poder público, pautar nossas demandas e provocar mudanças. Claro que não pretendemos falar em nome de ninguém, nem centralizar o debate. Nosso objetivo é somar forças e ampliar o diálogo com outros movimentos sociais, que há tantos anos já lutam por essa mesma causa”, diz ainda o manifesto.

Na última terça-feira, alguns dos representantes do movimento também estiveram na audiência pública do PPA (Planejamento Plurianual)  - 2016 a 2019. “Expusemos nossa proposta de implementação do Sistema Estadual de Cultura. O documento foi recebido e protocolado pelo Secretário De Planejamento do Estado”, comunicaram. 

“No PPA de 2012-2015, observou-se que 91% dos recursos previstos em programas e projetos ligados à cultura estavam direcionados à Região Metropolitana de Belém. Ou seja, para as outras onze (11) regiões de integração regional foram destinados apenas 9% dos recursos previstos para a cultura durante os últimos quatro anos”, informaram os que estiveram presentes à reunião.

Insatisfação gera outras ações

Outras ações que vem sendo realizadas em Belém têm formado um verdadeiro mosaico de insatisfação com o que há muito tempo vem está posto no âmbito do poder público ligado à cultura. Neste sentido, o movimento do PROA, não é isolado.

A ocupação Solar das Artes, no Solar da Beira é uma delas. Há três semanas, estudantes, artistas e simpatizantes da causa, ocupam um prédio secular, com arte, compartilhamentos diversos e ativismo cultural legítimo.

Eles querem algo que eu, também quero: a preservação do Solar da Beira, não só como Patrimônio Histórico e Cultural que é - e se encontra abandonado -, como a permanência do mesmo, enquanto espaço público popular, voltado às artes e ações sociais de saúde e cidadania aos feirantes e moradores do entorno e seus visitantes. O querem transformar em espaço privado, dizem os ocupantes do Solar das Artes.

O Circular Campina Cidade Velha também é exemplo. Há seis edições, este movimento também quer algo que eu também quero, a revitalização do Centro Histórico, com melhorias e trabalho social nas ruas, permitindo que os bairros mais antigos de Belém possam se efetivar em sua vocação comercial e cultural. 

Ao reunir um grupo de pessoas que trabalham com arte e possuem espaços artísticos nos bairros mais antigos de Belém, o Circular Campina Cidade Velha rompeu com o isolamento. Ainda falta muito a ser feito, as ruas continuam escuras, tenho medo de andar por ali depois das 19h. Ainda não há sinal de revitalização, mesmo na porta dos 400 anos. Falta segurança, iluminação, limpeza, uma ação social eficaz e falta preservação do patrimônio histórico. 

Mas pelo menos, os espaços, que poderiam fechar suas portas, devido ao estado de abandono que aquelas áreas se encontram, com iniciativa própria, deram uma guinada no jogo e vêm recebendo um público diverso, que aumenta a cada edição do projeto, realizada de dois em dois meses em um domingo. O próximo será dia 14. E amanhã, estarei na Praça da República pra somar! De proa em proa a gente chega lá!

Saiba mais:

  • PROA - https://www.facebook.com/movimentoproa
  • Solar das Artes - https://www.facebook.com/pages/Ocupa-Solar-da-Beira-Solar-das-Artes/470559213093688?fref=ts
  • Circular Campina Cidade Velha – www.projetocircular.com.br


27.5.15

Mc Bruno Bo e Família Sempre mostram novo show

Fotos: Thiago Araújo
Considerado um dos pioneiros do rap paraense, ao lado do DJ Morcegão, que lhe acompanha, o MC apresenta um novo formato de apresentação, aposta em participações de amigos, como Keila Gentil (Gang do Eletro), os integrantes da Família e outros companheiros de cena. O objetivo é levar para o público a mensagem do hip hop original, de positividade , irmandade e união que é vivida entre "família". Nesta sexta-feira, 29, na festa Bambata Brothers do Café com Arte.  A apresentação começa após às 21h e os ingressos antecipados custam R$15,00.

O show tem como base o EP Floresta De Concreto (2013), mas também traz novas versões de alguns clássicos do hip hop mundial e nacional, repaginados para a apresentação.
Acompanhado de Dj Morcegão, Taxinha na Guitarra, Toninho Pina nos Backings vocals e participações especiais, o MC promete um show de hip hop afroamazonico.

O compositor e MC Bruno B.O. é nascido em Belém-PA, e um dos pioneiros do Rap e do Ragga no Pará, iniciou a carreira musical na banda de Hard Core/Rap Carmina Burana (1994-2000), onde passou a experimentar a fusão rock, rap e ragga Em 1999 passa a integrar o M.B.G.C. grupo vanguarda na época.

A partir de 2002, Bruno se lança em carreira solo e vem trabalhando com as bandas Alma Livre Sound System (ragga/rap), Luz de Ras (reggae) e Clã Real (rap/reggaeton). Em 2010 foi 1ª Lugar nas Seletivas do “V Se Rasgum” (maior festival independente do norte do Brasil), onde foi destaque por representar a diversidade do mesmo, além de fazer uma apresentação com a fusão de estilos (rock/rap/ragga) .

Em 2010 recebeu do Ministério da Cultura o Prêmio Cultura Hip Hop_Edição Preto Ghoez, na categoria "Conexões-Região Norte", por sua fusão de rap, rock, ragga e espiritualismo, influenciada pela musica urbana paraense. Este prêmio contemplou as ações artísticas de 16 anos de carreira do MC na época, com composições, ações e intervenções em prol do diálogo e da integração das linguagens urbanas da música contemporânea, com mensagens positivas em prol da união e da compreensão.

Em 2013, lançou o Ep Floresta De Concreto e iniciou a circulação do mesmo, ate 2014 as capitais Manaus, Macapa e Belo Horizonte, alem das cidades paraenses Maraba, Parauapebas, Castanhal, Maruda e Bragança, puderam conferir de perto a força do trabalho produzido pelo conceituado Wagner Bagão Dubalizer (SP). 

Em duelos nacionais

Em 2014, a repercussão do trabalho lhe trouxe o convite para fazer uma das apresentações do Duelo de Mcs Nacional 2014, onde em edições anteriores já teriam se apresentado nada menos que Emicida, Materia Prima, Rappin Hood e Marechal, colocando de vez Bruno BO no circuito do Rap Nacional, onde há muito tempo já vem sendo visto como um dos nomes mais fortes do rap no norte do Pais. 

Neste mesmo ano (2014) BO já havia se apresentado na Virada Cultural de Belo Horizonte com o projeto Original Zion, da qual e o único integrante fora de Minas Gerais. Atualmente Bruno B.O. é integrante do projeto Original Zion (BH), organizador da Batalha da Floresta (Eliminatoria Paraense do Duelo de Mcs Nacional-BH) e integrante da Familia Sempre Pelo Certo, coletivo de produção artística e cultural no hip hop do Pará.

Serviço
Show do MC Bruno BO & Família Sempre Pelo Certo no Bambata Brothers. Nesta sexta-feira, 29, a partir das 21h. No Café com Arte – Travessa Rui Barbosa 1437, próximo à Avenida Braz de Aguiar.
Ingressos à venda na Gotazkaen Estúdio (Rui Barbosa, 543) e Café com Arte (Rui Barbosa, 1437).

Teatro e arte para uma educação ambiental

Fotos: Flávio Contente
O Projeto Arte na Trilha leva educação ambiental com vivência em artes plásticas e teatro para crianças de 18 escolas públicas de Belém. Cada escola leva em média 50 alunos para participarem de oficinas, mini-horta e espetáculos na trilha interpretativa dentro da floresta, com vivencias no Parque dos Igarapés.

Em sua segunda edição, o projeto é realizado pelo Instituto Ariri Vivo, com patrocínio do Grupo Líder, via Lei Semear de Incentivo à Cultura. As oficinas oferecidas às crianças das escolas públicas culminam com uma trilha interpretativa, onde atores se utilizam do teatro para contar histórias e lendas da floresta amazônica.

Todas as atividades são realizadas no Complexo Parque dos Igarapés, seguindo as orientações do Conselho Nacional de Educação e do PEAM – Programa de Educação do Estado do Pará, com o objetivo de fortalecer conhecimentos e incentivar o movimento nas escolas com práticas alternativas educacionais e ambientais.

Oferecendo oficinas de teatro, artes visuais, musicalização, reciclagem e fotografia, o “Arte na Trilha” traz também um viveiro educativo com a produção de mudas, sementeiras e mini horta. Além disso, cada estudante recebe ainda uma cartilha educacional, onde a vivência na natureza relaciona informações de disciplinas da grade curricular como matéria e língua portuguesa, busca a integralidade da educação.

Educação ambiental ampla e transformadora

Grande aliado das oficinas de educação ambiental, o teatro interativo utilizado como trilhainterpretativa no projeto, foi a forma encontrada pelo Instituto Ariri Vivo de colocar a questão ambiental de jeito prático e palatável aos estudantes. 

O texto criado pelo teatrólogo, ator, diretor e escritor Adriano Barroso, dá vida ao espetáculo encenado na floresta tem direção de Monalisa Paz e nove atores: Leonardo Cardoso, Suely Brito, Romana Melo, Suani Corrêa, Antônio Do Rosário e Luis Girard,  interpretando papéis dos seres da floresta amazônica, como o Mapinguari, Curupira, Matinta-Perera, Amazonas, dentre outros que, como metáforas, demonstram a necessidade do uso sustentável dos recursos naturais, e do convívio pacífico, inteligente e consciente com a natureza. A apresentação é interativa, aguçando o aprendizado dos alunos.

No espetáculo, crianças e adolescentes são conduzidos por estes  personagens do imaginário local dentro da trilha “IMIRA” (que significa “entrando na mata no dialeto TUPI”).  Intitulado “A Caça ao Tesouro Encantado de El Dourado”, o teatro interativo se apresenta como proposta inovadora de aprendizado, relacionando as práticas de educação, o lúdico e o meio ambiente em uma dinâmica diferenciada no processo ensino-aprendizagem. 

Assim, o Circuito Educacional Arte na Trilha pretende que alunos do ensino fundamental tornem-se Desbravadores Mirins, em uma viagem pelo imaginário amazônico entrelaçado em diversas áreas, saberes e conhecimentos que envolvem a temática ambiental e  objetivando facilitar o entendimento dos alunos quanto às questões culturais, sociais e ambientais.

O Arte na Trilha é uma realização do Instituto Ariri Vivo em parceria com o Complexo Ecológico Parque dos Igarapés, patrocinado pelo Grupo Líder, através da Lei Semear de Incentivo à Cultura. As atividades ocorrem entre os dias 28 de abril e 03 de julho de 2015, entre terça e sexta-feira, com média de 100 estudantes por semana. 

A abertura do projeto foi com estudantes da Escola Bosque de Outeiro sendo que mais cinco outras escolas públicas já foram atendidas neste mês de maio, para junho estão agendadas as escolas São Pedro Mattos Costa, ambas de Icoaraci.

Serviço
Projeto Circuito Educacional Arte na Trilha. De 28 a de abril a 03 de julho no Parque dos Igarapés
Cerca de 02 escolas por semana, de terça a sexta-feira, com 50 alunos por escola cadastrada. Início às 8h com cada escola.

15.5.15

"Amores Líquidos" deixa a estrada e chega na praia

Fotos: Jorane Castro,
 Moana Mendes,

 Emanoel Loureiro
“Amores líquidos”, longa metragem da paraense Jorane Castro, está em sua terceira semana de filmagem. A equipe agora está filmando nas areias da praia do Atalaia, onde várias das cenas decisivas e finais do filme serão feitas.  As filmagens em Salinas, no nordeste do estado, em nossa chamada região do salgado, iniciaram no dia 14, última quinta-feira. Jorane Castro bateu um super papo com o Holofote Virtual e contou como tem sido filmar um longa roadie movie de baixo orçamento na Amazônia.

Um filme paraense com certeza. Paisagens paradisícas, cenas interioranas. E agora, já começam também, os preparativos para uma festa de aparelhagem. 

É neste ambiente de cenário praiano mas cheio de 'treme', que vai se dar o desfecho da história de Eva (Lorena Lobato), Melina (Ane Oliveira) e Keithylennye (Keila Gentil), com Jonas (Ramon Rivera), Pedro (Leocir Medeiros) e DJ Pankadinha (Dime França).  A equipe que mistrua gente de Belém, Ceará e Recife, entra em uma nova fase da filmagem, que iniciou em Belém, navegou a Baía do Guajará e pegou a estrada. 

"Esse tem sido talvez o set mais prazeroso da minha vida, estou muito feliz. A equipe tem amor pelo que faz e é muito dedicada. Está ligada no que está fazendo, investida em melhorar tudo. E isso nos salva, porque é um momento que não é fácil", diz Jorane Castro, diretora paraense que estreia em seu primeiro longa, contemplado com o edital de Produção Cinematográfica de Ficção de Baixo Orçamento do Ministério da Cultura.

Jorane conta que há um esgotamento físico, mas que há muita vontade e um ótimo clima no set, acalentando toda a equipe. "A gente acorda 4 da manhã, tem que estar no set 5h30, 6h e trabalha até o fim do dia. Temos jornadas bem longas, fora do tempo normal. Nosso domingo é quarta feira, mas ao mesmo tempo está sendo muito intenso, prazeroso e produtivo", comenta.

As locações em Belém foram na Vila da Barca, no Porto de Belém, e no Complexo do Ver o Rio, contemplando assim, a paisagem ribeirinha, que contrasta com a velocidade da cidade, uma imagem comum em várias cidades da Amazônia, situadas à beira do rio. O “Amores Líquidos”, porém, não é um filme ribeirinho. Ele é um roadie movie.

Na segunda semana, a equipe entrou em deslocamento. As filmagens passaram pela Vila do Apeú e na Vila do Mel, localizada à beira da estrada, a 30 km de Salinas. “Há muitas cenas que são de estrada mesmo. Fomos pra rota turística e pegamos uma antiga estrada que passa por Igarapé Açu, e que hoje está sendo renovada, atravessamos a ponte de Livramento. É um lugar cinematograficamente mais interessante de filmar do que a própria BR, é uma PA (zinha)”, descreve Jorane Castro, que também é autora do roteiro.

Personagem e fotografia

“Amores Líquidos” é um filme de personagens. E, além disso, é um filme de fotografia. O filme narra a trajetória entrelaçada de três mulheres. Eva (Lorena Lobato), Melina (Ane Oliveira) e Keithylennye (Keila Gentil). 

Por motivos diferentes, elas pegam a estrada e seguem de carro para Salinas. No caminho, vivem algumas experiências até chegarem a seus objetivos, dando-se então o desfecho da história. 

“São personagens fortes e intensos. As pessoas é que guiam o filme, não temos uma situação de um conflito que tem que ser solucionado, é um filme que conta uma história, num entrelaçamento de três narrativas, levadas por três mulheres muito diferentes e que estão na estrada juntas. Então eu diria que é um filme de personagens, que podem nos levar junto nesta estrada”, comenta a diretora.

A opção por uma paisagem natural não é uma escolha estética nova da cineasta que dirigiu, em 2010, “Ribeirinhos do Asfalto”, premiado em Gramado com Melhor Direção de Arte, assinada por Rui Santa Helena, o mesmo diretor que Jorane também convidou para assinar a direção de arte de “Amores Líquidos”.

“Estamos trabalhando uma linguagem muito próxima do documental. Filmando de barco, na estrada, na praia, na areia, locais que a gente não quer mesmo recriar num estúdio. 

O mais interessante aqui é que a realidade tenha pequenas interferências da arte, mas mantendo todas as referências do lugar. E é tão bonito. Então sempre buscamos locações verdadeiras e fazemos as nossas adaptações. Foi assim em “Ribeirinhos e deu muito certo”, continua a diretora.
Pará e Recife

“Amores Líquidos” é produção é da Cabocla Filmes, produtora paraense, com a co-produção da REC Produtores Associados, de Recife (PE), uma parceria que vem dando certo, também no set de filmagem.

“Precisamos ter uma equipe afiada e temos conseguido isso, o que é muito bacana, pois apesar de ter muita gente com quem eu já trabalhei, com o fotógrafo Beto Martins, por exemplo, nunca tinha filmado. A equipe é grande, mas que funciona muito rápido. Estamos fazendo três a quatro cenas por dia o que é a média normal”, diz Jorane.

Desde Líbero Luxardo, que realizou “Brutos Inocentes”, que não se produz um filme longa metragem genuinamente paraense. “Amores Líquidos” é o primeiro filme de baixo orçamento realizado com estrutura de produtora daqui, a partir de recursos federais. 

A equipe é formada em mais de 85% por profissionais paraenses, como todo o elenco, que traz ainda o ator Leocyr Medeiros e Dime França (Da dupla de Rap Cronistas da Rua), mas também traz técnicos e produtores da capital pernambucana, além de Márcio Câmara, responsável pelo Som Direto e parceiro em vários outros projetos de Jorane Castro. Essa busca de reforço é claro, não foi à toa.

“Precisei de mais apoio e parcerias, porque somos inexperientes nesta área de produção, é um longa, não um curta, precisa de um planejamento maior, de longa duração, não temos esta experiência. Então fui conversar com outro paraense, que é sócio da REC, o Ofir Figueiredo e ele topou estar aqui como co-produtor. Nós somos sócios e parceiros neste projeto, e estamos tocando ele com uma equipe de 70 pessoas, que são do Pará e do Recife, ao todo, oito pessoas pra ser mais exata”, reforça a cineasta.

Jorane acredita que, no que depender da equipe, o filme terá imprimido um resultado positivo. “Há empatia, cumplicidade e harmonia, todos amam muito o que estão fazendo e dando o melhor de si. E se isso continuar assim, vai também estar impresso na tela algo positivo. Quero muito que as pessoas sintam através dessa imagem a energia que temos, todo nosso esforço profissional e técnico que estamos investindo neste projeto”, enfatiza.

Música paraense na veia

Além da paisagem, da fotografia, da equipe afinada, do elenco entrosado, o filme promete também ser um roadie movie extremamente musical. Apesar da trilha ainda não estar definida, Jorane afirma que só vai usar música paraense. 

“Eu quero uma trilha bem paraense, porque esse filme já tem isso. Quando olho em volta e vejo as atrizes conversando, elas estão o tempo todo falando de música, duas delas são cantoras”, diz Jorane, referindo-se a Keila e Lorena. 

A equipe ainda filma até o final desse mês naquela região. E para quem ficou na ansiedade de ver isso tudo na tela, uma boa notícia. Jorane Castro diz que o filme fica pronto ainda este ano, no segundo semestre, e que a ideia é que ele tenha uma trajetória normal no cinema brasileiro e quem sabe ir um pouco mais além. 

“Vamos tentar festivais e já pensar na distribuição em sala de cinema. Eu queria muito que o filme chegasse a um bom público, porque essa é a grande dificuldade que temos no Brasil. Os filmes brasileiros têm um mercado limitado de distribuição, mas vamos fazer assim, da forma convencional, até chegar a DVD, HD, televisão aberta, fechada. Essas são as possibilidades que se abrem para o público descobrir o filme mais adiante. E depois desse, quem sabe fazer outros filmes, porque até agora tem sido muito bom”, diz  Jorane Castro, que ainda nos conta mais detalhes abaixo.

Holofote Virtual: Como vocês chegaram a este elenco. A Keila, por exemplo, nunca tinha atuado... 

Jorane Castro: Tínhamos duas atrizes contratadas, desde o início do filme, e que desistiram de fazer os papéis, por questões pessoais e profissionais. Uma está grávida, e a outra tinha um contrato por um período maior que nosso filme. Eram duas atrizes paraenses também. Dira Paes e Maeve Jinkings. 

Em nosso elenco, mesmo que alguns nunca tinham feito cinema, é muito integrado. Lorena Lobato, Ane Oliveira e Keila Gentil estão tão envolvidas que quando você as vê em cena, com câmera ligada funciona como se não tivesse câmera por perto, como se fosse uma situação realista. É o que quero no filme, uma interpretação naturalista, não quero que seja uma interpretação rebuscada, eu quero que tenha uma linguagem documental, assim como já falei sobre locações. Quero verdade neste filme. 

Holofote Virtual: A fotografia é um ponto forte na estética do filme. O que fostes buscar de inspiração?

Jorane Castro: A inspiração vem das indicações do próprio roteiro e das atrizes que estão dando o seu melhor. O filme está se construindo de maneira muito boa, há locações que são incríveis, na beira da estrada, lugares lindos. Estamos com uma luz muito bonita, trabalhando numa transição do de inverno pra verão e essa luz do inverno é linda, uma luz difusa, branca, sem contraste.

Holofote Virtual: És uma diretora que costuma se repetir na equipe (risos). Em Amores Líquidos há pessoas que te acompanham desde “Mulheres Chiradeiras”, teu primeiro curta. É uma preferência tua?

Jorane Castro: Quando tenho afinidade com as pessoas, não preciso mudar. Isso me dá segurança, eu fico mais tranquila. Não tenho que me explicar tanto, as pessoas já me conhecem e sabem como eu dirijo. Isso nos faz ganhar tempo. Ao invés de estar ainda se conehcendo, a gente aplica em outra coisa. 

Márcio Camara, Antonio Maurity, Moana Mendes, Moema Mendes, Shirleide Reis já trabalham comigo exatamente, desde As Mulheres Choradeiras. Há pessoas que já trabalham mais recentemente comigo, como o Rui Santa Helena, que esta há quatro filmes comigo. Não é só a questão do carinho e da segurança que isso me dá, mas pela cumplicidade estética que já temos e isso é muito importante, então nesse grupo todo a gente está muito bem, eu gosto de repetir essas cumplicidades, essas parcerias.

Holofote Virtual: Muito legal também é a afinidade das equipes Belém e Recife, que num certo sentido, são duas cidades parecidas na produção cinematográfica, com a diferença que eles possuem edital de cinema que destina milhões por ano, provocando e aquecendo assim a realização de curtas e longas a cada ano. Como tem sido essa relação, na prática

Jorane Castro: Temos uma equipe técnica que dá muito conta do que tem que ser feito. Estamos filmando em barco, praia, carro, na areia, água, igarapé, situações que são muito delicadas de fazer e requerem conhecimento e técnica de trabalho. A equipe de Recife tem mais experiência, porque o mercado lá é mais aquecido, existe mais publicidade também, além de um edital público estadual que direciona quase R$ 12 milhões para o audiovisual. Este tipo de apoio permite que haja uma produção mais profissional e é isso que eles estão nos trazendo. A liga deu certo.

Guitarrada paraense (re) visita ritmos brasileiros

Arte: Roberta Carvalho
Foto: Renato Reis
Um guitarrista único. Joaquim de Lima Vieira, Mestre Vieira, tem aquilo que todo músico sonha em ter: um sotaque pessoal no instrumento. Ele criou um estilo, a guitarrada. Aos 80 anos, possui 15 LPs gravados entre os anos 1979, quando lança o Lambada das Quebradas, e o ano 2000. Participou de várias coletâneas de CDs, e de discos especiais, como “Os Mestres da Guitarrada” e “Música Magneta.”

Em 2009, ele lançou, de forma independente, o primeiro CD de músicas inéditas, o “Guitarrada Magnética” e, em 2013, o DVD “Mestre Vieira 50 Anos de Guitarrada”, gravado ao vivo no Theatro da Paz, em Belém do Pará, reunindo 38 músicas representativas de sua carreira, com participações especiais de Gaby Amarantos, Felipe Cordeiro, Lia Sophia, Sebastião Tapajós, Trio Manari entre outros artistas expoentes da cena musical paraense. 

Em “Guitarreiro do Mundo”, o segundo CD, Mestre Vieira apresenta músicas inéditas, ao todo, 12, em que se percebe a cúmbia, a lambada e o brega, mas também, muito presentes o baião, o samba e o choro, ritmos brasileiros, com os quais ele embalava festas entre os anos 1950 e 1960. Muito tempo antes de se apaixonar pela guitarra.

Aos 14 anos, por exemplo, abraçado ao bandolim, ele ganhou o 1º lugar em um concurso de choro, na extinta Rádio Clube do Pará PRC-5, em Belém. Um pouco mais tarde, em Barcarena, cidade paraense onde nasceu, cresceu e reside até hoje, ele formou com familiares o grupo Irmãos do Samba. Munido também de um violão, Mestre Vieira ouvia seus compositores preferidos, entre os quais estão Garoto, Dilermando Reis e Jacob do Bandolim.

As nuances da música brasileira, projetadas na obra de Mestre Vieira, ao longo de sua carreira, estão claras no disco e no show de lançamento “Guitarreiro do Mundo”. Em um momento especial, à exemplo disso, o criador da guitarrada, deixará a guitarra de lado para se render ao cavaquinho. 

Dois momentos para lançar o disco

Na floresta do Murucupi (Barcarena-PA)
Foto: Renato Reis
O lançamento do novo CD, em Belém, será no dia 6 de junho, no bar e restaurante Tábuas de Maré, que abrirá a partir das 17h, no pôr do sol, seguida de música brasileira no melhor estilo instrumental, a partir das 19h, na apresentação da Até Jazz, banda formada por Angela Rika (Flauta), Milton Cavalcante (Guitarra), Rafael Azevedo (Contra Baixo) e Carlos “Canhão” Brito (Bateria). No repertório, a banda tocará arranjos para músicas de Tom Jobim, Hermeto Pascoal, Chick Corea, João Donato, entre outros, abrindo, assim a noite para o grande show da noite.

Mestre Vieira e Seu Conjunto Musical sobem ao palco às 21h30. O grupo é formado pelos filhos de Vieira, Wilson Vieira (teclado) e Waldecir Ferreira (bateria), além de Bruno Rabelo (guitarra base), André Macleuri (baixo) e Carlos “Canhão”Brito (percussão). Terminado o show, Mestre Vieira estará a postos para autografar os CDs e também o DVD dos 50 anos, que estará sendo vendido a preço promocional. 

A festa segue entrando pela madrugada, com a participação do DJ Al-Jaz-Silva, que une em um só groove, África-Brasil-Pará, e passeia pelos ritmos dançantes da linha do Equador, além do projeto Ondas Tropicais, que se trilha nas sonoridades mais calientes dos trópicos do planeta.  Prepare-se para sets de guitarrada, cúmbia, merengue e outros. 

Depois de Belém, o lançamento será no Rio de Janeiro. Contemplado pelo edital de ocupação Caixa Cultural do Rio de Janeiro, “Guitarreiro do Mundo” estará em cartaz, durante três dias, no Teatro de Arena da Caixa Cultural, com programação de shows, bate papo e workshop de guitarrada.

O CD - Produzido no estúdio Hobsom Gravações, em Barcarena (PA), município em que nasceu e reside o artista, “Guitarreiro do Mundo” sai pela Na Music, com direção e criação musical de Mestre Vieira, produção executiva de Luciana Medeiros - Três – Cultura Produção Comunicação -, e produção musical de Waldecir Vieira. 

A capa é da artista gráfica Roberta Carvalho. Gravaram as faixas, com Mestre Vieira (guitarra solo), os músicos Dhosy (Guitarra base), Waldecir Vieira (bateria), Wilson Vieira (teclado), Beto Marques (baixo) e Kim Vieira (percussão).

“Guitarreiro do Mundo” pode ser encontrado em plataformas virtuais, nos shows do artista e nas lojas Na Figueredo, em Belém. Também está disponível em São Paulo, na FNAC Paulista/Morumbi/Pinheiros, e nas livrarias Saraiva, Cultura (shoppings Iguatemi e Villa Lobos).

Serviço
Belém – CD Guitarreiro do Mundo. Dia 6 de junho, a partir das 17h, no Tábuas de Maré – Rua São Boaventura – Cidade Velha. Ingressos com venda antecipada, a partir desta sexta-feira, 15 de maio, nas lojas na Figueredo - Av. Gentil Bitencourt, 449 – Nazaré | Estação das Docas. Fone:  (91) 3224-8948. Preço único promocional: R$ 15,00 – até dia 25 de maio. De 26 de maio a 06 de junho: R$ 25,00 e R$ 12,50. Apoio: Na Figueredo, Gotazkein Estúdio.

Mais informações: site www.mestrevieira.com.br . Contatos: 91 3088.5858 – Três Cultura Produção Comunicação | 91 98134.7719 – Luciana Medeiros – Produção |91 98912. 1237 – Flávia Lima – Comunicação

14.5.15

Pavulagem busca recursos para arrastões de junho

A crise financeira do país, que nunca saiu da área cultura, está mais grave. Na falta de editais e outras ferramentas de política pública para a produção cultural no estado, agora foi a vez do músicos de um dos mais tradicionais grupos paraenses, o Arraial do Pavulagem, aderirem ao crowdfunding para realizar o cortejo de rua que iluminam e dão cores aos mês junino em Belém, há quase 30 anos. A campanha foi lançada ontem, mas amanhã, 15, às 20h, haverá show na sede do grupo.

O Arrastão do Pavulagem é o mais recente afetado pelo corte de gastos. Sem investimento financeiro do setor privado ou público, assim como inúmeros outros grupos e iniciativas de cultura, o Instituto Arraial do Pavulagem, ONG criada pelos músicos do Arraial, lança uma campanha de financiamento coletivo e convoca a sociedade a colaborar para manter a tradição dos cortejos de rua, concebidos para celebrar, a cada domingo, a quadra junina e a rica cultura popular paraense.

A campanha, lançada pelo site Eu patrocino, tem uma meta total de arrecadação de R$ 100 mil até 29 de junho. A primeira meta é alcançar R$ 25 mil até 8 de junho. Ações nas redes sociais, shows e ensaios abertos buscam incentivar o público a financiar o projeto. Uma carta aberta do grupo foi divulgada esta semana para apresentar a campanha e cativar fãs e todos aqueles que acreditam na importância da arte e na cultura.

Para participar, basta escolher um dos valores disponíveis no site e fazer o investimento, por meio do cartão de crédito, débito em conta ou boleto bancário. Como uma compra antecipada, quem financia ganha um kit exclusivo do Pavulagem como recompensa. Mas o brinde só é entregue se as metas foram atingidas.

Mais do que apoio financeiro, a campanha é uma reflexão sobre a relação das pessoas com o cortejo. Por trás dos números e dos investimentos, há  uma tradição concebida pelo esforço coletivo, pela dedicação e pelo carinho dos fãs. Ao longo de quase 30 anos de atividades, o Arraial do Pavulagem partilha experiências e pesquisas ligadas aos saberes tradicionais da região amazônica por meio de arrastões, seminários, rodas de conversa, oficinas, shows e ensaios abertos.

A campanha já está circulando e nesta sexta, 15 de maio, a banda Arraial do Pavulagem faz um show aberto na sede do Instituto e convida para a construção coletiva o recomeço do Arrastão do Pavulagem e a continuar a trajetória colorida e festiva que marca a relação com a cidade.

"O Arrastão do Pavulagem é um patrimônio nosso, do povo paraense. A história de muitas e muitas pessoas, de várias gerações, está entrelaçada com os bons momentos de participação nos cortejos e nas atividades anuais do Arraial do Pavulagem. É baseada nessa relação afetiva, construída ao longo desses 29 anos, que acreditamos poder superar as dificuldades deste difícil ano, para todos nós, brasileiros. É uma parceria comunitária, que busca a preservação de uma das manifestações mais representativas da Amazônia. E qualquer cidadão do mundo, que more em qualquer região do planeta pode contribuir, venha junto conosco, participe", diz Junior Soares, um dos organizadores do Arrastão e fundador do grupo.

O Arrastão - Criado em 1987 pela banda Arraial do Pavulagem, o cortejo celebra uma das festas mais populares da cultura brasileira, em que são homenageados os santos católicos milagrosos: Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal, reverenciados com o fogo das fogueiras de rua que simbolizam os ritos arcaicos pagãos ligados à colheita farta, à proteção e à fecundidade.

O Arrastão contribui para manter viva a memória oral tradicional, tão importante para a formação da identidade das novas gerações, em particular aquelas que vivem condicionadas ao espaço urbano. E para partilha com o público durante os domingos de junho e julho a herança do folguedo do boi-bumbá, as bandeiras de santos, o mastro, os bonecos cabeçudos, os ritmos, cores, danças, cantos e cheiros característicos da região em uma festa que inunda de alegria e cor a capital paraense. Saiba mais em www.arraialdopavulagem.org.

Serviço
Show do Arraial na sede do Instituto. Nesta sexta-feira, 15, a partir das 20h - Boulevard Castilhos França, 738, Campina. Acesse o site www.eupatrocino.com.br e financie.

Solo de Marajó abre temporada no Sesc Boulevard

Fotos: JM Condurú
Depois de uma temporada no Rio de Janeiro com sete apresentações realizadas em quatro espaços diferentes, o espetáculo teatral paraense Solo de Marajó volta a Belém e faz curta temporada no auditório do Sesc Boulevard. De hoej (14) a sábado (16), sempre às 19h, com entrada gratuita. A montagem da Usina Contemporânea de Teatro é inspirada na obra do escritor paraense Dalcídio Jurandir, considerado o expoente do romance regionalista no Norte do país.

Em Solo de Marajó, o ator paraense Claudio Barros narra, sozinho sobre um palco vazio, oito pequenas histórias extraídas do romance Marajó, o segundo de uma saga em dez volumes do romancista intitulada Ciclo Extremo Norte, cuja densidade e fôlego ombreia com a produção romanesca de grandes nomes da literatura moderna brasileira.

A encenação é ousada ao assumir o palco nu para valorizar o papel do ator como contador de histórias. Mas é justamente esta escolha que potencializa a força da prosa dalcidiana. Em cena, a palavra é colocada sobre uma detalhada partitura corporal, fruto de pesquisa sobre as histórias de vida do ator e a partir da observação do corpo de pessoas que habitam o ambiente da vida rústica na Amazônia, o mesmo sobre o qual a obra se funda.

Os temas das narrativas vão desde questões de cunho social, como racismo, exploração do trabalho, tráfico de crianças e prostituição, até o universo íntimo das relações amorosas, recheadas de paixão, dor, solidão, ciúme e vingança. Esta visão multifacetada do autor levou os criadores a uma dramatugia que não se preocupa em dar conta da fábula romanesca, mas acaba por construir um mosaico capaz de representar as relações humanas na Amazônia.

Criado em 2009, o espetáculo marca a primeira incursão do encenador Alberto Silva Neto no universo da literatura dalcidiana pensada para a cena. Mas já no an
o seguinte, premiada pela Funarte, a Usina realizaria, também sob sua direção, a montagem Eutanázio e o princípio do mundo, desta vez inspirada em Chove nos campos de Cachoeira – primeiro romance de Dalcídio, publicado em 1941, depois de conquistar o primeiro lugar no concurso literário nacional promovido no RJ pelo Jornal Dom Casmurro e pela Editora Vecchi.

Solo de Marajó chegou ao RJ em janeiro de 2015, depois de diversas temporadas em Belém nos últimos seis anos, além de uma turnê por cinco cidades da Ilha de Marajó, em 2012, e duas apresentações em São Paulo (a primeira em 2010, em mostra da cena paraense contemporânea promovida pela Cia Pessoal do Faroeste, dirigida pelo dramaturgo e encenador paraense Paulo Faria, e a segunda no ano passado, durante a programação da Virada Cultural de SP).

A partir de junho, o espetáculo inicia a turnê nacional Solo de Marajó nos solos de outros brasis, agraciada pela Funarte com o prêmio Myriam Muniz, quando circulará por dez cidades de cinco estados brasileiros diferentes, que foram berço de outros grandes romancistas brasileiros: o Rio Grande do Sul de Érico Veríssimo, o Ceará de Raquel de Queiroz, as Alagoas de José Lins do Rego, a Paraíba de Graciliano Ramos e a Bahia de Jorge Amado. Em novembro, volta ao RJ para uma temporada de quatro semanas (sempre às quartas e quintas) no Teatro Cândido Mendes, em Ipanema.

Solo de Marajó tem ainda dramaturgia de Alberto Silva Neto, Claudio Barros e Carlos Correia Santos, iluminação de Iara Regina de Souza, fotos de JM Conduru e produção de Sandra Conduru.

O autor - Nascido na vila de Ponta de Pedras, na Ilha de Marajó, em 10 de janeiro de 1909, Dalcídio Jurandir Ramos Pereira foi jornalista e escritor. Passou a infância no município vizinho de Cachoeira do Arari e logo depois mudou-se para Belém. Foi para o Rio de Janeiro pela primeira vez em 1928, com apenas 19 anos, onde até lavou pratos para sobreviver. Ainda voltou ao Pará algumas vezes mas viveu no Rio até morrer, no dia 16 de junho de 1979.

A maior saga da literatura amazônica foi publicada por Dalcídio entre 1941 e 1978, apenas um ano antes de sua morte. Segundo o crítico Benedito Nunes, para quem a obra do marajoara funda a paisagem urbana na literatura amazônica, os dez romances (além destes, ele ainda escreveu Linha do Parque, de temática proletária e publicado no RS) integram um único ciclo romanesco, quer pelos personagens e as relações que os entrelaçam, quer pela linguagem que os constitui, num percurso que vai desde Cachoeira até Belém, criando uma radiografia tanto do ambiente rural na Amazônia quanto da periferia da capital paraense.

Apesar de ser frenquentemente enquadrada na segunda fase do modernismo brasileiro, caracterizada sobretudo pelo regionalismo e pela denúncia social, a obra de Dalcídio ultrapassa toda forma de enquadramento. Do ponto de vista formal e estilístico, a prosa dalcidiana explora elementos da narrativa moderna, como as quebras com a linearidade espaço-temporais, uso da técnica do fluxo de consciência para realçar a densidade psicológica dos personagens ou a projeção de sentimento na descrição da paisagem.

Em 1972, Dalcídio Jurandir recebeu da Academia Brasileira de Letras o prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra, entregue em suas mãos por Jorge Amado. Naquela oportunidade, o romancista baiano declarou que o romancista paraense “trabalha o barro do princípio do mundo do grande rio, a floresta e o povo das barrancas, dos povoados, das ilhas, e o faz com a dignidade de um verdadeiro escritor, pleno de sutileza e de ternura na análise e no levantamento da humanidade paraense, amazônica, da criança e dos adultos, da vida por vezes quase tímida ante o mundo extraordinário onde ela se afirma”.

Os criadores da cena

Claudio Barros, 51 anos, começou no teatro em 1976 e tornou-se um dos mais notáveis atores paraenses de sua geração, com passagem por grupos importantes na cena contemporânea local como Experiência (onde integrou o elenco original de Ver de Ver-o-Peso, famosa ópera cabocla, há mais de 30 anos em cartaz), além de Cena Aberta e Cuíra do Pará, do qual é um dos fundadores. Desde 2009, integra o núcleo de criação da Usina Contemporânea de Teatro, atuando em Solo de Marajó.

Alberto Silva Neto, 45 anos, começou no teatro em 1987. É ator, encenador e professor da Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (UFPA). Nos últimos dez anos, dirige as criações da Usina Contemporânea de Teatro, com ênfase numa cena que explora uma poética amazônica inspirada nos modos de vida do povo caboclo (fruto da miscigenação entre índios e brancos) a partir da figura do ator como contador de histórias.

Série Extremo-Norte

•    Chove nos Campos de Cachoeira, Editora Vecchi (1941)
•    Marajó, Editora José Olympio (1947)
•    Três Casas e um Rio, Editora Martins (1958)
•    Belém do Grão Pará, Editora Martins (1960)
•    Passagem dos Inocentes, Editora Martins (1963)
•    Primeira Manhã, Editora Martins (1968)
•    Ponte do Galo, Editora Martins/MEC (1971)
•    Belém do Grão-Pará, Publicações Europa-América (1975) Edição Portuguesa
•    Chove nos Campos de Cachoeira, 2ª Edição, Editora Cátedra (1976)
•    Os Habitantes, Editora Artenova (1976)
•    Chão dos Lobos, Editora Record (1976)
•    Marajó, 2ª Edição, Editora Cátedra/MEC (1978)
•    Ribanceira, Editora Record (1978)

Série Extremo-Sul

•    Linha do Parque, Editora Vitória (1959)
•    Linha do Parque, Editora Russa (1962) Edição Russa

Publicações póstumas

•    Passagem dos Inocentes – Editora Falângola (1984)
•    Linha do Parque – Editora Falangola (1987)
•    Chove nos Campos de Cachoeira – Editora Cejup (1991, 1995 e 1997 (com o Jornal Província do Pará))
•    Marajó – Editora Cejup (1991 e 1992)
•    Três casas e um Rio – Editora Cejup (1991 e 1994)
•    Chove nos Campos de Cachoeira – Edição Crítica de Rosa Assis – Editora da Unama (1998)
•    Belém do Grão-Pará – Editora Edufpa/Casa de Rui Barbosa (2005)
•    Marajó – Editora Edufpa/Casa de Rui Barbosa (2008)
•    Primeira Manhã – Eduepa (2009)
•    Chove nos Campos de Cachoeira (Nova e definitiva edição com "texto inteiramente revisto, corrigido, reestruturado e amplamente emendado pelo autor, de próprio punho") – Editora 7 Letras (2011)

Serviço
Espetáculo teatral Solo de Marajó, da Usina Contemporânea de Teatro. Com Claudio Barros. Direção: Alberto Silva Neto. De 14 a 16 de maio, no Sesc Boulevard, sempre às 19 horas. Entrada gratuita. Duração: 55 min. Conheça mais sobre Dalcídio Jurandir (RJ) no site www.dalcidiojurandir.com.br

Mais informações:  (91) 98810-3040/99120-6080 e 98189-2160.

Magudiá: compartilhar alimento, reduzir distâncias

 A performance gastronômica foi a segunda ação realizada pelo projeto “Kiuá Nangetu!”. A jornalista ativista Luiza Cabral estava lá e nos relata, no texto abaixo, como tudo aconteceu.

O sol castigava quem passeava pelo Ver-O-Peso naquele sábado, dia 21 de março. 

Feirantes e transeuntes andavam pelos corredores da feira, sons de conversa e música se confundiam no ar. Era hora do almoço e uma possibilidade inusitada de refeição se mostrou possível aos que ali estavam. “Magudiá – À margem do alimento”, intervenção do artista de terreiro Carlos Vera Cruz, ofereceu, despretensiosamente, a sagrada comida do candomblé à quem se interessasse.

Omolocum: feijão e camarão, em preparo tradicional em uma grande travessa de barro. Quem servia os pratos individuais a serem distribuídos era Mametu Nangetu, abençoando o alimento por ela preparado. Carlos conduzia a ação, balbuciando um discurso, na tentativa de explicar o ato solidário. 

“Na nossa religião é assim, entendemos que o alimento precisa ser compartilhado. Com isso , levamos aos que nos cercam o verdadeiro espírito de nossa crença”, dizia em tom intimista o artista, em meio ao agito da feira.  Todos vestidos de branco, respeitando a tradição das religiões de matriz africana. Ao redor, muitos olhos atentos e curiosos ao que acontecia ali.

Seu trajeto de pesquisa e experimentação em artes, guiado principalmente pelas expressões cênicas, levou Carlos a hoje utilizar o teor combativo da performance para aprofundar o debate sobre a identidade afro-amazônida tradicional. 

Seus recentes trabalhos, como o “Negra Luz”, que vem sendo desenvolvido em seu projeto de mestrado, aponta essa direção. A obra em questão parte de uma leitura da fotografia “Negra Luz”, de Alan Soares, para induzir uma leitura sobre os orixás. “Neste trabalho os orixás foram significados no corpo nú, nas ações e nos mínimos elementos utilizado”, conta.

Na sua proposição para o “Kiuá Nangetu!” o caminho não poderia ser diferente. “Com a performance feita no Ver-O-Peso me propus a compartilhar uma comida de santo, no caso de Dandalunda (Oxum), com os transeuntes, os feirantes, compradores, enfim, todos que circulam aquele universo da feira. Compartilhar é uma coisa que nós das tradições de matriz africana fazemos, e dividindo o alimento esse conceito ganha potência”.

As reações à ação foram diversas. Alimentando-se do Magudiá, alguns deleitavam-se no sabor, outros se mostravam desconfiados – indicando a linha tênue entre aceitação e preconceito. Veja aqui o video da performance: https://www.youtube.com/watch?v=aN-6tEsy_GA

Sobre Carlos Vera Cruz - Ator, diretor, professor e pesquisador de teatro. É formado em Licenciatura Plena em Teatro pela Universidade Federal do Pará.  Iniciou carreira em 1999 na Usina de Teatro da Unama – Universidade da Amazônia.Integrou como ator os grupos de Teatro Palha, Verbus - A poesia se fez carne, e Teatro de Apartamento. 

É também cenógrafo e iluminador; já tendo concebido e executado cenário e iluminação dos shows de artistas locais. Atualmente, além de ministrar oficinas de artes cênicas, desenvolve pesquisa e criação performática com cultura afro-brasileira, performance de gênero, e intervenção urbana. 

Saiba mais - “Kiuá Nangetu! Poéticas visuais de resistência negra” é um projeto de vivências poéticas, interferências midiáticas e intervenções urbanas com artistas do terreiro “Mansu Nangetu” e também de outros terreiros convidados, com obras e poéticas oriundas do cotidiano das práticas tradicionais dessa comunidade de terreiro afro-amazônico e seus parceiros.  As ações iniciaram em março e se estendem até o mês de maio de 2015, culminando com o encerramento das comemorações dos 10 anos de criação do Instituto Nangetu. 

Apoio na divulgação: Blog Holofote Virtual