Sebastião Tatapajós Júnior, mais conhecido no país, como Sebá, artistas do graffiti que vem fazendo da Amazônia um atelier a céu aberto e, mais especificamente, da ilha o Combú, sua galeria fluvial. Carioca, filho do conceituado compositor e violonista paraense, Sebastião Tapajós, ele mostra parte de seu projeto “Street River”, a partir de hoje, na galeria de arte do CCBEU, a partir das 19h, com direito a pocket show que traz além do pai, a participação da cantora Lia Sophia.
Paisagem amazônica, cultura indígena e ribeirinha. A exposição “Street River”, na verdade uma instalação, traz para dentro de quatro paredes a imensidão cultural da região, repleta de cores que com capricho marcam casas e barcos. Ousada, leve e didática, a mostra se utiliza da plataforma rio-floresta, barco-palafita, para alcançar um reconhecimento que vai além de um conceito artístico.
É assim que Sebá tem planejado sua vida, mas como em sua casa, nem só de artes visuais, vive o talento, o pequeno show de Sebastião Tapajós, compositor dos que mais traduzem em sons e ressonâncias a memória afetiva da Amazônia, chega na abertura da exposição como o toque que envolverá os visitantes numa atmosfera perfeita.
“Vai ser lindo e emocionante. A Lia é maravilhosa e representa essa nova safra de ouro da música brasileira, sou apaixonado pelo trabalho dela. E também será a realização de um sonho ter meu pai comigo. É o homem que mais admiro nesse mundo”, diz Sebá em entrevista ao blog.
A ideia de expor arte de rua, neste caso, de vias fluviais, dentro de uma galeria, partiu do próprio CCBEU que, por meio de um convite ao artista, realizou a curadoria do que o público verá a partir de hoje.
“Exposições são bacanas por que nos proporciona ultrapassar os limites, com instalações e é isso que sempre tento propor mesmo que indiretamente”, diz ele, para quem a paisagem amazônica, com suas cores, cheiros, traços e linguajar, norteia a vida. “Faz parte do nosso cotidiano”, resume ele que já carrega no sobrenome um dos rios mais lindos da região.
A semana dele foi assim, cheinha de bate papos nas rádios, nas TVs, entrevistas e reportagens aos jornais, demais blogs e sites na internet. Ouvi e li várias depoimentos deles e em todos, Sebá nunca deixa de manifestar o amor e admiração pelo pai.
Estar no centro das atenções da imprensa, aliás, para ele, já não é novidade. Depois de participar do projeto: #RIOEUTEAMO, a convite da Conspiração Filmes e com curadoria do IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus) e de atuar na revitalização dos bancos da orla de Copacabana, Zona sul do Rio, utilizando-se da técnica do spray, Sebá foi descoberto pela mídia.
Este ano ele mostrou seu talento e simpatia em rede nacional, no programa “Encontro com Fátima Bernardes”, da Rede Globo de Televisão e vem ganhando respeito e visibilidade artística por onde passa.
Zapeando na internet é fácil encontrar fotos dele, ao lado de artistas famosos, como Lulu Santos e Priscila Fantin. Diante disso tudo, aos 30 anos, passa um filme em sua cabeça, remontando uma trajetória que inicia ainda aos nove anos de idade, quando o talento para as artes visuais foi identificado.
Nascido no Rio de Janeiro, na adolescência, aos 16, ele já sabia que sua plataforma seria a rua. Começou a grafitar nos muros da capital carioca expandindo-se a Salvador, na Bahia.
Em 2011, graduado designer gráfico na Universidade Estácio de Sá, ele já era Diretor de Arte e Ilustrador da agência Útil Comunicação e Design. No ano seguinte, foi convidado para fazer sua primeira exposição fora do Brasil, em Madrid, Lisboa e Amsterdam.
“Ganhei uma bolsa de estudos na Estácio, faculdade onde me formei em 2012 e, no mesmo ano, retornei, depois de ter ido expor na Argentina e de ter morado e participado de evento e expôs de graffitis, na Europa, em países como Portugal, Espanha e Holanda”, diz ele, em entrevista ao Holofote Virtual.
Em 2013, em Belém-PA, fez a pintura de um painel para o maior evento religioso do país, Círio de Nazaré, patrocinado pela Companhia das Docas do Pará. No mesmo ano, teve seus trabalhos expostos no CasaCor Pará.

“Agora estou fixo aqui e não pretendo morar em nenhum outro lugar do mundo, que não seja Belém. Retornei final de 2012 e agora em 2015 serei pai e minha esposa é paraense, mais um motivo para não ir embora e manter minhas raízes atrelada ao processo criativo”, explica.
A arte de rua tem crescido consideravelmente no país e aos poucos vem sendo aceita. O graffiti, que já foi mais hostilizado, ganha, hoje, novo status, sem perder, porém, a áurea de uma arte de posicionamentos sociais, políticos, diversos, que ainda despertam estranhamentos e atitudes agressivas.
“Hoje em dia a rua tá suave para quem tá começando. O respeito, porém, é relativo. Muitas pessoas ainda são retrogradas, mas muitas assim que veem o trabalho dos graffiteiros, mudam de opinião. Isso não é só no Brasil. É no mundo. A aceitação melhorou, mas ainda é como Fé: as pessoas precisam ver para crer. Ainda bem que há seres humanos de sensibilidade mais aflorada e que possuem mais interatividade com o mundo cultural”, desabafa.
Agota, navegando por estas águas infindáveis, em meio a vegetação exuberante e biodiversa, ele bebe cada vez mais em fontes de maravilhamentos e cria projetos como o Street River, que busca compartilhar isso com quem está a sua volta. Mais do que fazer arte, Sebá deseja retribuir em dobro, o que ele vem recebendo por causa de seu talento e sensibilidade.
“Estamos rodeados por esse riozão lindo e, em Santarém, que considero minha terra natal, isso é muito mais presente ainda, e acho que as ideias surgem naturalmente, mas que o homem adentra na floresta amazônica muitas vezes de forma agressiva”, comenta.
Sebá pretende com esse projeto agregar ao olhar do mundo, a realidade indígena e ribeirinha nos tempos atuais e, em paralelo, construir diálogos com estas comunidades. “Quero ensinar técnicas de desenho, história da arte, graffiti e pintura para fomentar a cultura local e o turismo, propondo uma das primeiras se não a primeira galeria de “streetart fluvial” do mundo”, conclui.
Serviço
Exposição #StreetRiver, de Sebá Tapajós. Na Galeria de Artes do CCBEU – Trav. Padre Eutíquio, 1309. Vernissage nesta terça-feira, 03, às 19h. Participação de Sebastião Tapajós e Lia Sophia. Visitação de 4 de março a 7 de abril de 2015.
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