29.1.16

Ousadia e performance na 6ª edição do Noite Suja

Existe apenas uma lei no Carnaval do Noite Suja: seja livre! O projeto, que chega a sua 6ª edição, resolveu celebrar a carne com um cortejo que sairá do Anfiteatro da Praça da República e seguirá para a Casa Dirigível, culminando em uma festa especial. A ideia é unir performers, drag queens, drag kings, drag queers, artistas, gente criativa e sem normatividade para brincar o carnaval. A programação será no dia 6 de fevereiro, a partir das 17h. 

“Venha celebrar a vida e a carne! Monte-se como se fosse a última vez. Improvise. Pegue emprestado. Sambe com toda e qualquer música! Costure-se e construa-se. Carnaval não é bagunça, é extravagância!”, avisam os idealizadores do projeto “Noite Suja”, Matheus Aguiar e Maruzo Costa, que também se apresentarão no dia.

Além do cortejo gratuito, o Noite Suja Carnevale terá uma festa especial com DJ’s, videomapping, drag drinks, performances drags e a novidade desta edição: a batalha de closes, que convida qualquer pessoa a se apresentar, mostrando que performar é um ato livre. 

Close e extravagância - O projeto Noite Suja vem para desconstruir, ousar e divertir. A edição “Carnevale” celebrará a essência do Carnaval, a liberdade em todas as suas formas. “Queremos instigar o público a sentir-se à vontade com a nossa Arte. 

Ser e viver a performance, viver a montação, ser e estar livre para desconstruir e construir qualquer padrão de imagem e beleza. Muito do que nós já fizemos estava agregado ao Drag, porém o Noite Suja tenta difundir a arte livre de qualquer definição”, explica o artista visual Matheus Aguiar.

Segundo ele, ao falar de arte drag ainda se enfrenta vários preconceitos, mas “montar-se” é necessário, principalmente como forma de contestação e desconstrução de padrões estéticos que imperam em nossa sociedade machista, provinciana e patriarcal. Fazer drag é um ato político. Além do Noite Suja, a cidade ganhou outros eventos que reavivam essa arte, como a Viada Cultural, criada pela drag Flores Astrais. 

Ode à carne - A ideia dos artistas Matheus Aguiar e Maruzo Costa é pensar nostalgicamente o Carnaval, relembrando não só da folia, mas de acontecimentos da TV, de Belém, da Amazônia e do Brasil nos tempos áureos e que atravessam gerações. Bozo, Planeta Xuxa, Kaveira, Eloi Iglesias, Roberta Close, Elke Maravilha, Marília Pêra, samba, arte digital, Radionovelas em geral e as aberturas do Fantástico. “Muitas vezes são coisas que nem pertencem ao nosso tempo, mas que de certa forma ainda ecoam numa memória psicodélica e coletiva”, diz o performer Maruzo Costa.

Segundo ele, a identidade visual do evento trata dessa comunhão de corpos libertos, enlouquecidos, que formam uma grande maquinaria de arte, cores e carnes. Sem esquecer que o Carnaval é uma história antiga que se transforma. “E se quisermos fazer uma festa de Carnaval cyber punk, de rock, de disco music ou tecnobrega, é possível. A montação nos leva a terrenos amplos, onde ficamos felizes com a premissa de que tudo é possível. Carnaval é tanto vida quanto morte, e tudo deve ser celebrado”, completa. 

Serviço

Noite Suja Carnevale
✤ Cortejo (Bloco de rua) - Inicia no Anfiteatro da Praça da República, às 17h, gratuito.

✤ Balada VIP depois do Cortejo (Casa Dirigível) - Tv. Padre Prudêncio, 731, Bairro Campina, às 19h, R$10 - Vendas antecipadas: Ná Figueredo da Estação das Docas - Pagamento apenas em dinheiro.

(Texto de Monique Malcher)

28.1.16

Casa de Folha lança Bangalô de músicas inéditas

Primeiro trabalho do Casa de Folha, gravado em estúdio, o EP “Bangalô”, ganha lançamento virtual, nesta sexta-feira, 29 de janeiro, às 18h, na plataforma SOUNDCLOUD, com quatro faixas para download. O link estará disponibilizado também na página do EVENTOno FACEBOOK .

Gravado no Guamundo Home Studio, com produção e direção musical de Renato Torres, “Bangalô” flerta com vários ritmos e gêneros, trazendo a percussão expressiva, que imprime a personalidade e o hibridismo que nutrem o Casa de Folha desde sua primeira formação, quando surgiu em 2010.

O primeiro EP do grupo traz participações especiais, como a do violinista Igor Amaro em "Sina de Mar", a canção que abre o trabalho, composta com percussões poderosas e um baixo pulsante. Em seguida, ouvimos "Musa", com fala solta e leve, da própria Musa, filha do ator Jhonny Russel, parceiro do Casa de Folha. Na terceira faixa, "Sá coisa", o luxuoso vocal de Juliana Sinimbú sela os laços da cantora com a banda. A última faixa, "Meio Total", parceria da banda com o poeta Renato Gusmão, traz o vocal Thais Ribeiro, a mais recente integrante do grupo.

A formação atual da banda conta ainda com André Butter (violão), Ismael Rodrigues (percussão), Jassar Protázio (baixo) e sempre que possível, com dois músicos convidados, JP Cavalcante (percuteria)  e Daniel Serrão (sax e teclados), que também gravaram as bases para o EP.

Foto: Karina Paes
“Queremos mostrar o que o Casa de Folha gosta e se sente bem em fazer. Bangalô retrata esse ir e vir das pessoas, seus jeitos e, principalmente, a perspectiva sonora que isso foi causando na gente”, garantem.

O lançamento do EP traz ao público o que há de mais verdadeiro na banda, a vontade de tocar, mas também de apresentar seus novos sons em várias tipos de plataformas, ouvir opiniões, trocar ideias.

“Tem uma energia muito boa acontecendo de parceiros e amigos querendo muito que este som e o projeto deem certo. É legal sentir que somos bem mais que aqueles que estão no palco, ligações maiores nos unem”, diz Butter. “Vamos correr pra captar e gravar este CD, para contar mais histórias”, conclui.

EP BANGALÔ – CASA DE FOLHA
Lançamento
Sexta-feira, 29 de janeiro  - 18h00


Contatos
André Butter: 91 98341 1956
Jassar Protázio: 91 98234 5767

27.1.16

Zimbado lança EP de jazz e ritmos da Amazônia

Rafael Guerreiro e Zimbado Group lançam nesta quarta-feira, 27, a partir das 21h, no Gotazkaen Estúdio, o EP viabilizado através de financiamento coletivo, no ano passado. A noite promete ser uma mistura da sofisticação do jazz instrumental com ritmos amazônicos.

Diversidade e experimentação dão a tônica do trabalho de Rafael Guerreiro. Idealizador do projeto Zimbado, violonista, guitarrista, compositor e professor, em 15 anos de estrada percebeu que variações musicais dos gêneros latinos, amazônicos, afro-brasileiros poderiam resultar numa surpreendente fusão com o Jazz.

Sob este olhar, o Projeto “Zimbado” aponta um caminho diferente para os instrumentos percussivos da cultura amazônica que neste trabalho servem de base à diversos gêneros. O toque jazzístico fica por conta do violão, guitarra e sax.

Para compartilhar seus experimentos o artista gravou uma pequena mostra de seu trabalho em um EP, através da parceria com o site “Eupatrocino” iniciativa de financiamento coletivo. Para gravar o EP Rafael uniu-se a outros músicos que em comum têm a passagem pela música erudita, Academia e conservatórios, e a presente afinidade com a música popular, pop e regional.

Dangle Freitas(contrabaixo elétrico), Douglas Dias(percussão), João Paulo Pires(bateria), Yuossef Neto (sax e teclado), juntos de Rafael Guerreiro, formam o projeto de música instrumental Zimbado. A programação conta com os sons do DJs Mychello e Al-Jaz-Silva,

Serviço
O lançamento será a partir das 21h, no Gotazkaen Estúdio - Travessa Rui Barbosa, 543. - Reduto, Ingresso R$10,00.

22.1.16

"Tupy or No To Be" traz à Belém a nossa questão

Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, "Tupy Or No To Be - Teatro, Cinema e Novas Midias" chega pela  vez na capital paraense, trazendo espetáculo, oficina e um documentário premiado sobre o massacre dos índios da Gleba Corumbiara (RO). A diretora Verônica Fabrini, bateu um super papo com o blog.

“Tupy or No To Be: Teatro Cinema e Novas Mídias”, da Boa Companhia (Campinas – SP) inicia sua programação em Belém neste sábado, 23, pela manhã, com a oficina “Um Corpo em estado de viagem”, em que compartilha com os atores paraenses e estudantes de artes da cena, as técnicas da montagem de “Cartas do Paraíso”, espetáculo que será apresentado sábado, 23, às 21h, e no domingo, às 20h, no Teatro Waldemar Henrique (Praça da República, s/n), onde também, no domingo, será exibido, às 16h, o documentário Corumbiara (Vicent Carelli), seguido de bate papo com a diretora da companhia, Verônica Fabrini.

A companhia já passou por várias cidades paulistas e fez uma temporada, na capital, ocupando o Teatro de Arena Eugênio Kusnet. Depois fez Rio de Janeiro, no Caixa Cultural, e ainda se apresentou no festival Fuga, em Goiania, em Cuiabá, e de um festival internacional em Lima, no Peru.

Apoiado em pesquisas bibliográficas, iconográficas e sonoras, “Cartas do Paraíso” constrói uma encenação a partir das informações que constam nas cartas escritas por jesuítas, exploradores e viajantes, nos primeiros tempos da também chamada Pindorama ou mítica Hi-Brasil.

A radical diferença entre as duas visões de mundo foi o ponto de partida para a criação de uma poética luso-tropicalista, pautada na mestiçagem, no encontro e no confronto de imaginários tão ricos: a de Portugal renascentista e mercantilista e a cultura indígena brasileira, sendo ela mesma extremamente múltipla. 

Sem necessariamente reconstruir a história, mas acompanhando as metamorfoses da ideia de Paraíso, a peça projeta o público neste imaginário. Para tal, o espetáculo se nutre de elementos de outras artes cênicas como a dança, música, performance e mídias áudio visuais. No entanto, é a construção do corpo cênico o elemento central de toda criação artística do grupo.

O projeto também vai exibir “Corumbiar”, do indigenista e antropólogo franco-brasileiro Vicent Carelli, que acompanha o indigenista Marcelo Santos, em sua denúncia do massacre dos índios da Gleba Corumbiara (RO). Carelli filma o que resta das evidências. Marcelo e sua equipe levaram anos para encontrar sobreviventes e duas décadas depois, a versão dos índios é revelada.

Holofote Virtual: A história indígena no país sempre foi algo que, seja para o  bem ou para o mal, se fez questão de manter na invisibilidade. O espetáculo traz isso à tona de uma maneira poética, mas contundente. O que mudou nisso tudo desde a colonização?

Verônica Fabrini: Nesses cinco anos com o projeto, percebemos que o movimento indígena vem ganhando mais e mais visibilidade, não só no Brasil, mas na América Latina também. Desde o já antigo e emblemático movimento de resistência de Chiapas no México (EZLN, desde 1996), passando pela eleição de Evo Morales, por exemplo.

Acredito que percorrer esse tempo todo com essa peça, nos trouxe a certeza da importância e urgência da questão indígena, tanto para o país, quanto para América. Nosso "terceiro continente" precisa reconhecer sua raiz indígena e isso quer dizer uma forma completamente diferente e única de se entender o ser humano e sua relação com o planeta. Aprendemos que a terra é o corpo do índio e isso tem implicações muito profundas.

Holofote Virtual: O projeto também foi apresentado em aldeias, como foi isso?

Verônica Fabrini: Dessas viagens, guardo com muito carinho e momentos de muito crescimento para o trabalho, as apresentações em aldeias, como Krucutu , na grande São Paulo e em Cananéia, no litoral paulista. O contato direto com a população indígena foi especial pois podemos perceber de perto nossa distancia de um Brasil que infelizmente desconhecemos. 

Ficamos impressionados de ver, na própria grande São Paulo a enorme população guarani, preservando sua cultura e numa luta organizada por seus direitos. É impressionante nosso desconhecimento tanto da riqueza dessa parte "desconhecida" da população e da própria história do país. Nos sentimos muito próximos dos personagens da peça, como se estivéssemos nós mesmos "descobrindo" o Brasil, e com isso, o desejo (utópico?) de agora fazer diferente... digo, o desejo de realmente reconhecer essa ancestralidade. 

Holofote Virtual: E o público, será que entende o "recado"?

Verônica Fabrini: Nosso desejo tem sido o de tocar as pessoas quanto a essa questão, ao menos de colocar essa pergunta: o que é, quem são, porque foram e são sistematicamente exterminados? Quais os interesses por trás (e muitas vezes na frente) desse extermínio? 

Na nossa percepção, esse recado tem sido dado, e a recepção tem se mostrado generosa. Não é um espetáculo fácil, didático ou mesmo dogmático. Trabalhamos muito com imagens, num teatro que vai do mais simples e óbvio da linguagem teatral, na primeira parte do espetáculo, transformando-se numa linguagem bem mais performatica e quase ativista na segunda parte. 

Colocamos perguntas e percepções, então nossas respostas de público também variam, desde reações mais emocionais até questionamentos mais racionais. Quando apresentamos em lugares que tem um contato mais direto com populações indígenas, a recepção mostra uma identificação maior; já em lugares mais distantes dessa realidade, a reação já é mais ligada a poética da cena, de como trabalhamos a narrativa.

De modo bem geral (se é que é possível falar assim), temos a sensação de que o recado está chegando. E acredito que as grandes transformações, as revoluções mais potentes, começam no campo do sensível e no imaginário. Acho que o espetáculo vem conseguindo isso, tocar no nosso imaginário de "colonizadores" e nos fazer questionar. É uma questão urgente. 

Holofote Virtual: Vocês pretendem com isso dar voz aos indígenas?

Verônica Fabrini: Não queremos "dar voz" a essa população. Longe disso! O movimento indígena sabe muito bem como fazer isso. Queremos tocar nessa "ferida" histórica; falar para aqueles que sempre viram na questão indígena uma questão "só deles". 

Queremos que percebam que é muito mais do que isso. Tocar na questão indígena é falar sobre a propriedade privada da terra, sobre o uso da terra, sobre nossa relação com a Natureza. Por isso é tão importante.

Holofote Virtual: Tudo parte da pesquisa, e como tantas informações contribuíram para a forma final da montagem?

Verônica Fabrini: A ideia do espetáculo nasceu da leitura de cartas de exploradores e de jesuítas no início da colonização. Depois foi se ampliando para outros campos, como o movimento modernista, o tropicalismo (pois ambos reivindicam uma tal "brasilidade"), cartas e manifestos do próprio movimento indígena: desde a carta dos Guarani Kaiowás do Mato Grosso do Sul, ou a carta do então presidente Evo Morales nas Nações Unidas. 

Fomos percebendo que mais de 500 anos já se passaram e a ferida colonial ainda está aberta, e como!!! Pessoalmente eu sinto uma imensa vergonha de ser branca e burguesa!!! De ser ignorante quanto ao passado do meu próprio país. Meu país??? 

Durante a pesquisa para o espetáculo foi muito duro o contato com os sucessivos extermínios, com a violência e o desrespeito com culturas riquíssimas. É duro estar no lugar do colonizador e não compartilhar com os valores deles. Isso foi uma "descoberta". Talvez essa seja uma das palavras mais importantes do processo: descoberta. Nos "descobrir" índios. Descobrir o que fizemos e ainda se faz com eles. Eles somos nós? Nós quem, cara-pálida??? 

Holofote Virtual: Como o espetáculo está dividido?

Verônica Fabrini: O espetáculo está dividido em duas partes: numa primeira, encarnamos quatro personagens na caravela que chegou por aqui em 1500. Os personagens: um degredado, um cartógrafo, um padre e um cômico. Aliás, essa foi também uma descoberta muito bacana para nós, do teatro. 

Saber que nas grandes navegações, o ator era fundamental nas viagens, tanto para entreter a tripulação nas longas viagens, quanto para fazer contato com populações "selvagens". Aliás, usamos até um trecho da carta de Pero Vaz de Caminha, aquela famosa, na qual ele descreve o encontro do cômico da embarcação com a população indígena nativa. 

Esta primeira parte é bem teatral, quase uma "historinha do descobrimento": o impulso aventureiro para o novo, a coragem dos viajantes, aquele espírito heróico dos Lusíadas, misturado com o medo do desconhecido. O primeiro encontro com o "selvagem". Aqui, o espetáculo é bem formal, com desenhos de personagem, marcação rigorosa da cena buscando atmosferas que misturassem o rigor de uma geometria renascentista, na qual o homem é o centro do universo, com uma religiosidade ainda forte, com noções de céu, inferno, paraíso, um grande e único Deus. Nessa tensão entre homem (navegadores), natureza (o mar) e Deus (o destino), a primeira parte se desenrola. 

Depois do "encontro" com o "selvagem", a própria linguagem da cena cena perde essa linearidade, o teatral cede lugar ao performatico, os tempos se misturam, o jogo com o material documental fica mais explícito no uso das imagens projetadas (que na primeira parte são mais atmosféricos).

Holofote Virtual: Claro que o documentário tem tudo a ver, mas como foi que o elenco, a direção tratou dele para a montagem?

Verônica Fabrini: Tanto nas questões de fundo (políticas/ideológicas) quanto como material de pesquisa para trabalho de ator, o filme de Vincent Carelli, "CORUMBIARA" foi fundamental. A temporalidade presente no documentário influenciou nossas "viagens no tempo", a gestualidade/corporeidade das pessoas nos guiaram, o senso de injustiça, o jogo de invisibilidade/visibilidade do índio. O documentário foi nossa estrela guia. Por isso é com grande prazer que trazemos o documentário como parte do projeto. É uma obra prima, quer como cinema documentário, quer como manifesto ativista.

Holofote Virtual: Quais as expectativas para a apresentação do projeto em Belém, onde, aliás, também teve extermínio indígena? 

Verônica Fabrini: Sim, temos a impressão que a questão indígena é um tema fundamental nessa região do país. Portanto, é para nós uma grande responsabilidade estar aí, e um grande prazer. No Norte, a Boa Companhia já esteve em Rondônia, Rorâima e no Amapá. É nossa primeira vez em Belém. Estamos torcendo para ter um bom público nas três partes do projeto.

É precioso para nós, podermos compartilhar esse "super trio": espetáculo/oficina/documentário, aqui. Queremos que o espectador tenha a possibilidade de passar pela experiência do documental (o contato direto, reflexivo e crítico) com o "mundo real", através do filme "CORUMBIARA". Que ele possa fruir a construção poética nascida do documental (o espetáculo CARTAS DO PARAÍSO) e que ele experiência no próprio corpo, ao menos um pouquinho, de uma parte de nosso processo (a oficina UM CORPO EM ESTADO DE VIAGEM). Dessa forma queremos compartilhar a razão/coração/sensação (documentário/espetáculo/oficina), que formam a totalidade do projeto. 

Holofote Virtual: E a Boa Companhia, como atua em Campinas, qual a principal linha de trabalho do grupo?

Verônica Fabrini: A Boa Companhia é um grupo com 25 anos de atuação ininterrupta. Temos um histórico com o que se costuma chamar de "teatro físico". 

Imagino que isso se deve ao fato de que eu, que sou a diretora artística da companhia, tenho uma formação em dança e costumamos começar nossos trabalhos por uma investigação sobre as corporeidades, os desenhos no espaço, os ritmos. 

Dando uma olhada no percurso da companhia, temos mais trabalhos a partir de temas e contos do que textos dramáticos propriamente ditos. Claro que não negamos eles, muito pelo contrário! Nosso primeiro trabalho foi com Otelo, de Shakespeare, depois vieram Nelson Rodrigues, Brecht e Beckett... Mas nossas investigações mais profundas foram com contos de Franz Kafka, de Hilda Hilst, e desde 2010, com Cartas do Paraíso. Gostamos muito de trabalhar com a palavra, com a música.

Temos uma pequena sede na cidade de Campinas, no bairro de Barão Geraldo, que é um sub-distrito da cidade, perto da UNICAMP, com um pequeno teatro de 55 lugares. Fomos Ponto de Cultura durante cinco anos e temos uma atuação local expressiva, participando do movimento de Teatro de Grupo do interior paulista.

Holofote Virtual: Em Belém temos muito teatro e excelentes companhias, mas a dificuldade de fazer e viver da arte é presente. E pra vocês, no outro lado do país, como é?

Verônica Fabrini Campinas não é uma cidade generosa com a produção local e como não há temporadas possíveis nos espaços da cidade, estamos sempre viajando muito. Pelo interior do estado, outros estados do país, festivais aqui e no exterior. Estivemos na Alemanha, Portugal, Rússia, Chile, Peru, Marrocos... Vamos explorando lugares, linguagens... 

Trabalhamos muito com parcerias com outros grupos, especialmente com o Matula Teatro, também com sede em Barão Geraldo e com outros artistas independentes. Não somos "filiados" a nenhuma escola específica, como, por exemplo, a antropologia teatral, ou algo parecido. Cada trabalho nos pede uma investigação diferente: danças de salão, view-points, danças brasileiras, canto coral, teatro brechtiano... Cada novo projeto é uma nova aventura. Claro que rastros vão ficando. Mas somos uma "metamorfose ambulante", como diria Raul Seixas...

Holofote Virtual: Os demais planos para este ano...

Verônica Fabrini Em 2016 vamos retomar o espetáculo PRIMUS, baseado no conto "Comunicado para uma Academia", de Franz Kafka, que é de 1999, mas que esteve sempre no repertório da companhia.  Retomar um dos espetáculos de nossa "origem", nos fortalece, nos faz recordar de onde viemos. 

Também seguiremos com "Cartas do Paraíso", pois achamos que a questão indígena é fundamental na atualidade. Estreamos no ano passado o espetáculo "Mujeres Violentas", em parceria com a diretora chilena Cláudia Echenique e o Matula Teatro, sobre violência contra a mulher e vamos circular com esse perfo-espetáculo durante esse ano, e seguimos numa outra parceria com o Matula Teatro, com o espetáculo "Agda", baseado no conto homônimo de Hilda Hilst, com direção de Moacir Ferraz, da Boa Companhia. 

Em termos de temas, pensando nesses quatro projetos de 2016, estamos em torno de ecologia (civilização e barbárie, com PRIMUS), questões indígenas (Cartas do Paraíso) e feminismo (Mujeres Violentas e Agda). Acho que os três são temas urgentes e fundamentais.

21.1.16

Gruta: retorno à cidade com Leituras Dramáticas

Temporada na Da Tribu: Rua Carlos Gomes, 117
O Grupo Gruta de Teatro, um dos mais antigos e consistentes do Pará,  deu início, ontem (20), a uma série de Leituras Dramáticas que seguirão nas próximas quartas-feiras de janeiro e fevereiro, sempre às 19h, com entrada franca, na Laje da Morada Da Tribu. A ação marca a retomada do grupo na cena teatral da cidade, que ganhará de presente duas novas montagens em 2016, além do lançamento de uma publicação, em novembro, quando o grupo completa 47 anos de atuação.

Um útero, um abrigo, uma fuga, um achado, o Gruta. Ao longo de sua história, o grupo já havia passado por algumas pausas de produção, mas sempre que esteve em cena, balançou nossos alicerces com suas montagens onde o trabalho de ator brilha em textos que já revolucionaram a cena teatral de Belém.

Entre eles, cito o “Auto da Cananéia”, de Gil Vicente, em 1971; “Cínicas e Cênicas”, em 1987; “Caoscomcadicáfica”, inspirado em “O Processo, de Kafka”, em 1989, adaptações de Henrique da Paz, como “A Vida que sempre morre, que se perde em que se perca?”, uma releitura de “Antígona”, de Sófocles, que será o foco da próxima Leitura Dramática, no dia 27 de janeiro, assim como “Hamlet Máquina”, de Heiner Müller, encenado em 1998, e que será lido, no dia 24 de fevereiro.

Ainda estão na programação, “O Auto da Índia”, no dia 17 de fevereiro e, por último, “A farsa do boi ou o Desejo de Catirina”, única leitura que não será realizada em uma quarta-feira, e está sendo programada, de forma diferenciada, a fim de contemplar o público infantil. Em breve, a data será anunciada.

Nesta última quarta-feira, 20, a estreia das leituras dramáticas teve Mariana Paz, Monalisa Paz e Valéria Costa, três gerações de atrizes, que se encontraram para a leitura de "A Casa do Rio", texto de Adriano Barroso, premiado pela Funarte. 

Ontem quem esteve presente à primeira leitura da programação viu três atrizes determinadas, além do reencontro de uma família no salutar ato do fazer teatro. O retorno, claro, causa emoção em todos eles, envolvidos a fundo na retomada do grupo.

“Isso me causa, de certa forma, ansiedade. Uma série de motivos, políticos, pessoais e a própria cidade, em suas configurações, contribuíram pra gente dar uma pausa. Não que tenhamos planejado esta pausa, assim como agora, naturalmente, chegamos ao momento de voltar, e resolvemos fazer isso com a leitura dos textos mais significativos do grupo.

Na verdade, pra mim é menos que um retorno, e mais uma continuidade do que já estamos fazendo durante todo este tempo, e de forma muito prazerosa, agora, que é ver minha filha, meus netos, todos influenciados e escolhendo o teatro para suas vidas”, diz o patriarca dessa gruta ou devo dizer, paixão pela arte cênica.

Henrique da Paz é o que se pode chamar de ponto de partida para o firmamento desta essência peculiar do Gruta. Ele, desde cedo, envolveu sua família com o teatro. “Meus irmãos já foram pra cena, foram bilheteiros, estiveram na portaria de espetáculos nossos. A Mariana (neta) cresceu neste ambiente, ainda pequena entrou brincando comigo em cena, pois não tinha ninguém pra tomar conta dela, enquanto estávamos encenando. Acho que acabou gostando”, lembra o avô. E ela, a neta, confirma!

“Eu trago na memória certas cenas desses espetáculos mais antigos, é claro que em alguns eu ainda estava na barriga da mamãe, mas posso dizer que fui criada no Teatro Waldemar Henrique e no Curro Velho”, diz Mariana, que atualmente faz o curso técnico de teatro na Escola de Teatro e Dança da UFPA e já pensa também em fazer a Licenciatura. “É muito legal trabalhar com minha mãe, mas ser dirigida pelo meu pai às vezes é complicado”, brinca a jovem Mariana, 17.

“Nós somos uma família de circo, mambembe”, brinca Adriano Barroso, autor, ator e, alternando com Henrique, diretor do Grupo. “Durante algum tempo a gente negou isso de passar a arte do teatro de pai e mãe, pra filho, filha, de avô que passa pra neto e genro”, diz ele, que é casado com Monalisa, pai de Mariana e genro de Henrique, que é ex-marido de Valéria Costa. “Mas depois a gente entendeu essa missão”, reflete o ator, autor e diretor que entrou para o grupo em 1996. 

“Quando eu cheguei junto, o grupo já era uma referência muito grande na cidade e fiquei muito a fim de fazer parte daquilo. Entrei no grupo em um momento que o Gruta começou a dar uma grande virada na trajetória, montando espetáculos mais porradas, espetáculos mais pra pensar.

Veio Tartufo (do parisiense Moliére), e Hamlet Máquina (do dramaturgo alemão Heiner Muller). Depois fomos para o que chamamos da fase regional, sobretudo com minhas pesquisas dentro das lendas amazônicas e cultura popular”, vai relembrando ele que está há três anos escrevendo a biografia do Gruta, para lançá-la no aniversário do grupo, no final deste ano.

E assim, é fato. O Gruta está de volta, e junto com ele, a atriz Valéria Costa, que estava morando em Porto Velho (RO), há 14 anos e sem fazer teatro, depois de ter encenado absolutamente todos os demais textos das leituras que seguem, a exceção deste primeiro, que Adriano montou no período de seu distanciamento.

“Estou me umedecendo”, diz Valéria, citando um pouco do texto que acabara de ler. “Passei muitos anos fora, mas estou de volta para rever os amigos’”, segue com o humor o papo com o blog, que esteve presente à leitura desta quarta-feira, 20. 

“Quando cheguei a Belém, começamos a falar desta volta do Gruta e o Adriano me convidou oficialmente para as leituras e novas montagens. Posso te dizer que nunca perdi a emoção de entrar no teatro, de me arrepiar, com vontades de chorar. Muito feliz com tudo isso e já estamos montando o esquema de ensaios”, conta.

Para Adriano Barroso, a leitura deste primeiro texto foi especial, na plateia, estavam pessoas que acompanham a trajetória do grupo. Nas próximas leituras, ele, as atrizes e Henrique também estarão em “cena’. Na última leitura, atenção: haverá estreia no elenco.

“Para ‘A Farsa do Boi ou o Desejo de Catirina’ estamos trazendo o Miguel (8 anos), pra cena e queremos fazer isso em um domingo de manhã, para melhor proveito do público infantil. Este é um texto que rodou muito, uma recriação do Boi Bumbá, que é engraçado, leve e tranquilo, feito para criança. Vamos mostrar um Gruta pra garotada”, diz Adriano.

Após as leituras dramáticas, que inauguram o ano do Gruta, estão previstos dois espetáculos novos. Um texto para monólogo, escrito por Adriano Barroso, “A invenção do Mundo”, com Monalisa, e um Kafka. “Estamos pensando em montar ‘A Metamorfose' ”, diz Monalisa.

O público pode esperar daí, boas surpresas. O Gruta sempre se apropriou muito bem de todos os textos que montou, “entendendo a cidade e a fazendo pensar. Isso me interessa muito”, continua Adriano. 

“Estamos pensando neste retorno, desde o ano passado, quando teve inicio uma nova movimentação em Belém, como a do projeto Circular retomando o Centro Histórico, as ocupações dos espaços públicos, e tudo isso que veio movido por questões políticas envolvendo a cidade, que antes fizeram com que os artistas se afastassem da cena.

A atitude para essas  ocupações nos permitiu congraçar novamente com a cidade. É o que faz sentido, pois se a gente mora em Belém, temos que fazê-la pensar, colocar a nossa arte em xeque, as questões da cidade em xeque”, reflete Barroso. “Começamos a fazer este ciclo de leituras, temos as duas novas montagens e a biografia do Gruta. É um ciclo que se fecha com a cidade para abrir uma outra Cabala”, finaliza, ele prevendo dias muito melhores.

“Quem vai Levar Mariazinha para Passear” – na TV

Mariazinha, em sua jornada
Curta de animação paraense, premiado pelo Edital Curta Criança - Ministério da Cultura, tem estreia simultânea, na TV Brasil e na TV Cultura do Pará, nesta sexta-feira, 22 de janeiro.

Filmado em 2011, no Teatro Cláudio Barradas e na Praça da República, em Belém do Pará, "Quem vai levar Mariazinha para Passear?", a obra audiovisual da Desabusados Cia, estreia em rede nacional, pela Tv Brasil, retransmitida, pela Tv Cultura do Pará, nesta sexta, 22, às 11h15min, no horário de Brasília, o que vem a ser 10h15, no horário Belém. 

A antiga simpatia da bonequinha de papel que tem o poder de cessar chuvas e trovoadas serviu de inspiração para o curta que acaba levando o espectador para uma viagem pelos mitos da Grécia Antiga, onde havia uma princesa chamada Psiquê. Ela era tão linda que os homens começaram a comparar sua beleza com a de Afrodite, a Deusa do Amor, que, claro, não gostou nada disso e tenta destruir a bela.

Maurício Franco (Anjo 002) e Ester Sá (Anjo 001)
A história é contada por dois anjos, 001 e 002 que, por curiosidade de conhecer os homens acabaram caindo do céu, no Planeta Terra, bem dentro de um teatro, mas em um dia muito chuvoso. 

Trancados ali dentro, sem poder sair por causa da chuva, eles resolvem brincar de contar histórias com papel e acabam reinventando o Mito de Eros e Psiquê, que na imaginação deles é interpretada pela bonequinha de papel, criada naquele momento justamente para fazer cessar a chuva.

Guiada pelos anjos, a história fantástica, de Mariazinha no mundo Grego, mostra uma Afrodite empenhada em destruir Psiquê. Sem perder o humor e aguçando a criatividade comum da infância, a história leva o público a acompanhar uma Deusa não satisfeita, que também manda seu filho Eros, o cupido, até o rochedo em que Psiquê, resignada, espera por seu destino, com objetivo de faze-la se apaixonar pelo monstro. 

Eros, porém, o Deus do amor, acaba vendo Psiquê, e se encanta  com tamanha beleza, apaixona-se por ela e a partir daí uma nova saga se desenrola até que a chuva passa e os anjos voltam à “realidade”.

“Quem Vai Levar Mariazinha para Passear”, adaptação da obra teatral homônima da Cia Desabusados, escrita por Maurício Franco e Ester Sá, para o cinema de animação, foi um dos 13 curtas selecionados para a produção audiovisual, dentre mais de 600 projetos enviados ao Ministério da Cultura no Edital Curta Criança do MINC/TV Brasil, em 2010.  

O curta é o primeiro trabalho audiovisual da companhia, que estreou o espetáculo ainda em 2006. “Foi um desafio, mas confesso que isso dá até um gostinho especial de olhar agora e dizer ‘olha’, conseguimos!  Nos lançamos ao desconhecido, com a coragem e o frisson da aventura, pois da companhia, só o André Mardock já trabalhava com o audiovisual, mas também foi sua primeira direção. Creio que conseguimos um bom resultado, hoje olhamos o filme com orgulho de tudo que ele foi como processo, e é como resultado”, diz a atriz e produtora executiva do filme, Ester Sá. 

“Tivemos a parceria de profissionais que foram importantíssimos para essa caminhada, e nem é bom citar nomes pois foram muitos...mas poderíamos ressaltar a figura do Andrei Miralha, que assina a direção de animação, ele abraçou o filme, somos gratos pela amizade e parceria de tantos, pois acreditamos no trabalho da arte feito com amor, e se conseguimos isso na equipe que está fazendo, isso vai para o resultado e chega nas pessoas”, continua.

A opção pela animação com papel, utilizado para personagens e cenários, vem do elo com a boneca Mariazinha, o que dá ao trabalho, unidade estética e conceitual. 

“O papel é um material muito próximo ao dia-a-dia da infância. A ideia é instigar as crianças com esta visualidade, permitindo que ela brinque de construir suas próprias histórias”, conclui Ester Sá.

Além da direção de André Mardock, o filme conta a direção de arte de Aníbal Pacha, figurinos e a construção dos bonecos para a animação são assinados por Maurício Franco. A maquiagem é de Plínio Palha, a direção de fotografia, de Marcelo Rodrigues; a direção de produção, de Luciana Medeiros e Cristina Costa, além da composição e efeitos, de Thiago Souza; a finalização de som, de Leo Bitar e a trilha sonora original e sonoplastia, de Fabio Cavalcante. 

A preparação de ator foi de Adriano Barroso e a edição, de Robson Fonseca, mas a ficha técnica é bem maior. Conta com Som Direto, de Mário Ribeiro, Maquinária de Anderson Conte e Marcus Leal Sapinho, continuidade de Luciano Lira, o eletricista Aldo Lima e, na assistência de direção Lucas Escócio. 

Os assistentes de produção são Paulo Ricardo Nascimento, Andrea Rocha e Sandra Perlin.  A maquiagem é de Plínio Palha, com assistência de Nara Reis. Na arte, temos Cláudio Bastos e Malu Rabelo (assistentes), Ribamar Oliveira (cenotécnico), a costureira Cláudia Silveira e os estagiários de fotografia Marina Mota e Mateus Moura.

A exibição na TV Brasil conta, ainda, com uma reprise às 16h20 (Horário de Brasília), mas que não poderá ser vista na TV Cultura do Pará, no mesmo horário (15h20, nosso horário local), porque coincide com a programação local da emissora.

“De forma alguma poderíamos deixar de exibir este momento mágico em nossa programação. O ‘Mariazinha’ será exibido aqui no Pará simultaneamente com a TV Brasil, no dia 22 pela manhã. Por conta do Sem Censura, não poderemos exibir o horário vespertino ao mesmo tempo, mas o material será gravado e divulgaremos mais à frente, com alternativas para o telespectador não deixar de ver o curta por aqui”, diz Tim Penner, Diretor da TV Cultura do Pará.

Serviço
"Quem vai levar Mariazinha para Passear?" – Curta Criança – exibições, nesta sexta-feira, 22 de janeiro, pela TV Brasil, às 11h15min e 16h20 (Horário de Brasília), e pela Tv Cultura do Pará, às 10h15 (Horário de Belém).

19.1.16

"Tupy or Not To Be": teatro cinema e novas mídias

O projeto Tupy or Not To Be: Teatro Cinema e Novas Mídias da Boa Companhia (Campinas – SP), em circulação pelo país, passa pela capital paraense, com apresentação, oficina, exibição de documentário e bate papo, neste sábado, 23, e domingo, 24, com programação no Teatro Waldemar Henrique e Casa dos Palhaços, confira no texto a seguir. 

Contemplado pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2014, o projeto contará com duas apresentações do espetáculo teatral "Cartas do Paraíso", uma oficina para artistas da cena e a exibição do premiado documentário Corumbiara (Vicent Carelli), seguido de bate papo com a diretora da companhia, Verônica Fabrini.

A circulação seguirá também para as cidades de Campinas, Cuiabá, Goiânia e São Paulo, onde se apresentará em duas aldeias que ficam na capital. Ainda faz parte desta circulação o blog http://cartasdoparaiso.boacompanhia.art.br/, onde é possível conferir textos, músicas e debates sobre o tema. Desta forma a companhia procura trazer à tona algumas reverberações sobre as questões indígenas, seus imaginários e os conflitos presentes desde o período do “achamento” do Brasil, até os dias de hoje. As apresentações do espetáculo terão ingresso no chapéu e as demais atividades serão gratuitas.

O espetáculo -  Estreado em 2010, Cartas do Paraíso foi apresentado em diversas cidades do Brasil, além de Lima (Peru), completou uma turnê à beira-mar, realizou temporada no Teatro da Caixa Rio de Janeiro no início do ano e já se apresentou em duas aldeias.

O espetáculo tem como principal fonte de inspiração cartas escritas por jesuítas, exploradores e viajantes, nos primeiros tempos desta Terra de Santa Cruz, Pindorama ou mítica Hi-Brasil. A radical diferença entre as duas visões de mundo foi o ponto de partida para a criação de uma poética luso-tropicalista, pautada na mestiçagem, no encontro e no confronto de imaginários tão ricos: o do Portugal renascentista e mercantilista e a cultura indígena brasileira, sendo ela mesma extremamente múltipla.

Apoiada em pesquisas bibliográficas, iconográficas e sonoras, a encenação busca orquestrar essas duas perspectivas, sem, no entanto, pretender uma reconstrução histórica. O espetáculo acompanha as metamorfoses da ideia de Paraíso, projetada pelo imaginário europeu na terra de Pindorama (Terra de Santa Cruz), e traz a reverberação disso na construção de uma singularidade brasileira, acelerando a passagem do tempo, atravessando o movimento modernista (bradando tupi or not tupi!), o tropicalismo (Aqui é o Fim do Mundo, de Torquato Neto), até desembocar na complexidade atual da crise ambiental, da crise ética, neste cenário pré-apocalíptico de um mundo globalizado e bárbaro.

Ficha Técnica/Espetáculo 

Duração: 60 minutos/ Indicação etária: 14 anos. 

Atuação: Alexandre Caetano, Eduardo Osorio, Gustavo Valezi e Moacir Ferraz. Direção: Verônica Fabrini. Direção Musical e trilha sonora: Silas Oliveira. Iluminação: Eduardo Albergaria e Bruno Garcia. Figurino: Guilherme Guedes. Projeto gráfico: Gustavo Valezi, Alexandre Caetano. Edição Audiovisual: Gustavo Valezi e Ericson Cunha. Produção: Cassiane Tomilhero e Isabela Razera. Produção local e assessoria de comunicação: Romana Melo e Rosana Darwich (Palhaços Trovadores). Assessoria de Imprensa local: Marton Maués (Palhaços Trovadores). Apoio/Divulgação: Blog Holofote Virtual (holofotevirtual.blogspot.com).

O documentário - O documentário CORUMBIARA, do indigenista e antropólogo franco-brasileiro Vicent Carelli, acompanha o indigenista Marcelo Santos, em sua denúncia do massacre dos índios da Gleba Corumbiara (RO), e Carelli filma o que resta das evidências. Marcelo e sua equipe levam anos para encontrar sobreviventes e duas décadas depois, a versão dos índios é revelada. Duração: 117 min


A Oficina - Um Corpo em estado de viagem
 - Esta oficina busca compartilhar com atores e estudantes de artes da cena alguns procedimentos utilizados na montagem do novo trabalho da Boa Companhia, “Cartas do Paraíso”. 

A partir do trabalho corporal e musical, buscaremos explorar os fluxos entre personagem, figura cênica e “estados”, inspirados pela ideia de viagem, dessa estranha suspensão que ocorre nos trânsitos, quando abandonamos um passado, mas ainda não somos, ainda não habitamos nenhum futuro. 

Essa sensação de liminaridade será nosso “mote’ para dar corpo a alguns trechos escritos pelos primeiros viajantes de Pindorama-Vera Cruz.

Inscrições: http://cartasdoparaiso.boacompanhia.art.br/inscricao-oficina/ - Mais informações: http://cartasdoparaiso.boacompanhia.art.br/ e http://www.boacompanhia.art.br/. Contato local: Romana Melo / Fone:  988348773/ Zapfone:  992752184. Número de vagas: 20
.Público indicado: atores profissionais ou amadores, estudantes de artes cênicas - dança ou teatro. 

Serviço
Espetáculo Cartas do Paraíso. De 23 e 24 de janeiro – sábado às 21h e domingo às 20h, com ingresso no chapéu (pague quanto puder) e Exibição do filme Corumbiara e bate papo - 24 de janeiro (domingo), às 16h. Gratuito – Ambas as ações, no Teatro Waldemar Henrique - Av. Presidente Vargas, 645 - Praça da República - Bairro da Campina. Oficina Um corpo em estado de viagem - 23 de janeiro (sábado) – 15h às 18h - Gratuita – Na Casa dos Palhaços - Travessa Piedade, 533 - Bairro Reduto - Próximo à Praça da República.

12.1.16

400 anos - dicas pra não ficar só no mais do mesmo

Nem tudo é novidade, mas algumas programações podem fazer a diferença. O blog selecionou dicas interessantes, para somar com a sua agenda neste aniversário especial da cidade.

Um passeio pela orla, com direito a café da manhã regado a todas as iguarias que o paraense tem direito. Tapioquinha, sucos regionais e um horizonte ribeirinho. É mais do mesmo? Eu gosto e o programa também pode ser um pacote básico inicial para seguir o dia, em busca do que fazer para comemorar o aniversário de 400 anos de Belém. 

Mas antes de sair por aí, dá uma pesquisada nas dicas disponibilizadas em blogs e portais independentes. Pode estar nestes espaços, o que há de mais criativo para comemorar o dia em que Belém se torna uma quatrocentona. O site Cultura Pará, por exemplo, rende sua homenagem a Belém com o lançamento virtual do livro/plaquete, contendo textos de 22 autores, sobre os quatrocentos anos da cidade. O lançamento da edição impressa será dia 15 de fevereiro, data em que o site comemora seus 19 anos. Ainda dá pra colaborar. É só enviar um e-mail para vasco.cavalcante@gmail.com. 

O rock também marca presença no aniversário de Belém, vale anotar. Tem show da banda Molho Negro, no Old School Rock Bar, e a Cultura Rede de Comunicação comemora o aniversário de Belém com uma programação especial. Quatro artistas gravaram jingles comemorativos pelos 400 anos da capital paraense: Renan Sanches e Banda ARK, Cronistas da Rua, Som de Pau Oco e Toni Soares. As músicas já estão sendo veiculadas na Cultura FM e os videoclipes começam a ser exibidos pela TV Cultura a partir da próxima semana. Saiba mais, no Portal Cultura.

Programação Silvino Santos
Para quem curte cinema, tem coisas interessante em cartaz no circuito alternativo. Iniciou na segunda (11), mas continua hoje, a programação da oficina de Crítica do Cinema Amazônico, ministrada pelo pesquisador amazonense, Savio Stoco, na UFPa.  Tem exibição de “No Rastro do Eldorado” (1925), filme de Silvino Santos, que será exibido na Casa da Artes (Antigo IAP), às 19h. 

Silvino Santos é considerado o primeiro cineasta amazonico e é responsável pelos primeiros longas que retratam a vida em nossa região. Sávio fez seu mestrado dele sobre ele. A programação é gratuita e sem necessidade de inscrição prévia.

O projeto conta com  patrocínio do edital Amazônia Cultural do Ministério da Cultura e ao final passará por todas as sete capitais da região amazônica. Em Belém, tem apoio do Curso de Cinema e Audiovisual da UFPa (Projeto Cineclube Silvino Santos) e da Casa das Artes (Núcleo de Produção Digital). 

No Cine Oympia, será exibido o documentário "Belém: 4 Séculos em Imagens", que retrata com imagens raras e inéditas, a cidade, ao longo de toda sua existência. Compilação visual da formação social e urbana da cidade, a partir da visão de pintores, cartografistas, paisagistas, fotógrafos, cinematografistas ambulantes, artistas visuais da atualidade, e toda sorte de aventureiros que passaram por Belém, produzindo e reproduzindo imagens da cidade ao longo de seus quatro séculos, o filme é uma forma de resgatar a memória perdida de Belém.

Produzido pela Mekaron Filmes, tem direção de Eduardo Souza e produção de Júlia Garcia. A exibição, no histórico e centenário Cinema Olympia, é apropriada, e terá acompanhamento musical do pianista paraense Paulo José Campos de Melo, dentro do Projeto “Cinema e Música Especial".


Lia Sophia, no palco do Portal da Amazônia
Parabéns oficial - A comemoração  da prefeitura, no dia 12, que marca a fundação da cidade, segue o protocolo, com o tradicional parabéns no mercado do Ver-o-Peso, onde será servido o bolo comemorativo, desta vez com 100 metros de extensão. A trilha sonora será da banda da Guarda Municipal, que executará a canção “Belém Meu Amor”, composta por Vicente Malheiros, especialmente para a data. 

Está prometida também uma grande ação com serviços de cidadania e saúde, enquanto que na Praça dos Estivadores, será inaugurado um monumento alusivo à Belém. A prefeitura também apresenta os projetos “Minha Rua” e “Placas informativas nos pontos turísticos”, para levar informações sobre a história de ruas e pontos turísticos da área do Comércio e Cidade Velha. 

Na ocasião, será realizado um abraço simbólico no centro histórico da capital. O encerramento às 19h, no Teatro da Paz, traz a OSTP e, no Portal da Amazônia, shows com Edilson Moreno, Lia Sophia, Pinduca, Félix Robato, Gaby Amarantos. Mais detalhamentos dessa programação, na Agência Belém.

Um Dia Qualquer, de Líbero Luxardo
Mais - Cinema, exposições, shows, debates, circulação cultural pelo Centro Histórico de Belém. Tem muita coisa pra rolar de hoje, data redonda de aniversário, até domingo, num final de semana que promete emoções. 

No no Cine Estação, mais tela, só que ao longo da semana. "Um Dia Qualquer", de Líbero Luxardo, será exibido nesta quarta-feira, 13, às 18h, antes de “Desejo e Obsessão” (Trouble every day, França/Japão/Alemanha, 2001), de Claire Denis. 

Já na quinta-feira, 14, você pode assistir, também às 18h, “Fisionomia Belém” (trailer do filme: https://goo.gl/VrcMLX), de Relivaldo Pinho e Yasmin Pires. Os dois filmes poderão também ser vistos nos domingos, dias 17, 24 e 31, sempre às 10h.

Destacaremos em breve aqui,  a programação especial dos 400 anos, na 10ª edição do Circular Campina Cidade Velha, que além de novos parceiros, retoma neste domingo, 17, uma romaria que deixou de existir em 2009, depois de mais de 30 anos de realização no bairro da Campina. 

São Benedito das Rosas, de volta à Campina neste Circular
A procissão, além de trazer de volta as homenagens à São Benedito das Rosas, ainda contará com a participação da Marujada de Bragança, com direito à Comitiva de São Benedito, Conjunto Regional que executará os ritmos tradicionais da Marujada, e apresentações de Junior Soares, Luê e Toni Soares. 

A ação tem patrocínio do Banco da Amazônia, sendo uma de suas homenagens a Belém. A programação tem mais ainda, já dá pra ir conferindo algumas coisas pelo evento criado no Facebook e também no site www.projetocircular.com.br

8.1.16

Exposição percorre a trajetória de Miguel Chikaoka

“Travessias” é o título da nova exposição individual do fotógrafo e educador Miguel Chikaoka, a ser realizada no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, em Belém, Pará. A abertura acontece na próxima quinta-feira, 14, a partir das 19h.

A exposição reúne obras produzidas ao longo dos 35 anos de trabalho como fotógrafo, além de objetos, vídeo e instalações, realçado uma diversidade de elementos contidos em sua obra.

Com curadoria de Marisa Mokarzel, a exposição celebra a aquisição de quarenta e três obras de Chikaoka para o Acervo da Casa das Onze Janelas, viabilizada através do Edital Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça/ 7ª. Edição - FUNARTE, pelo qual o artista foi contemplado em 2014. Além da aquisição, Chikaoka fez a doação de mais treze obras, para completar a coleção, que ocupará o Laboratório das Artes, a Sala Valdir Sarubbi e a Sala Gratuliano Bibas.

Trazem tanto o aspecto poético da imagem como demarcam o papel de propositor assumido por Chikaoka, que em sua vivência artística sempre deixa o canal aberto à experiência e propõe obras em processo, articuladas com a quebra de fronteiras entre arte, educação e vida”.

Além da exposição, haverá ainda o lançamento do Catálogo da Coleção Miguel Chikaoka, com data a ser agendada. O programa educativo conta com a roda de conversa “Olhar dos Sentidos e os Sentidos do Olhar” com educadores e mediadores do Sistema Integrado de Museus, além da oficina “Imagens em Trânsito”, a ser divulgada ao público em geral.

“Travessias” é uma realização da Secretaria de Cultura e Sistema Integrado de Museus do Governo do Estado do Pará e da Funarte/Ministério da Cultura. Conta com o apoio da Kamara Kó Galeria e da Fast Frame.

Serviço
Abertura da exposição “Travessias” de Miguel Chikaoka com curadoria de Marisa Mokarzel. No dia 14 de janeiro, às 19h, no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas. Praça Frei Caetano Brandão, s/n – Cidade Velha. Visitação: até 1 de abril.

7.1.16

Estreia de musical reconta história da Cabanagem

“Cabanagem, o musical”,  adaptado da obra “Cabanagem - Poema”, escrita pelo pesquisador, professor e médico, especializado em saúde pública, Valdecir Manuel Affonso Palhares, traz novas luzes sobre a história da maior revolução popular já ocorrida do país. A estreia, neste sábado, 9 de janeiro, às 20h, no Teatro Margarida Schivasappa do Centur, conta ainda com o lançamento do livro e do CD que deram origem ao espetáculo.

Janeiro é marcante na história da capital paraense. Além de ser o mês de sua fundação no dia 12 (chegaremos aos 400 anos na próxima semana), foi também quando, exatamente no dia 7 de janeiro, há 181, estourava a Cabanagem, única revolução popular em que o povo, de fato, tomou o poder neste país. Em pleno Império do Brasil, na então província do Grão-Pará, em 7 de janeiro 1835, período regencial brasileiro,  tapuias, cabanos, negros e índios liderados por Antônio Vinagre, toram o quartel e o palácio do governo de Belém. 

O império consegue sufocar a revolta, em 1841, promovendo um extermínio em massa da população paraense. Esse história, porém, até hoje, é pouco pesquisada no país, ou mesmo estudada nas escolas paraenses. Um cidadão paulista, porém, teve curiosidade para revirar mais de 300 obras, conseguindo elucidar vários pontos obscuros para recontar uma história antes só contada sob a ótica do império que, depois de derramar muito sangue, recuperou o poder.

Valdecir Palhares escreveu assim o livro “Cabanagem, Poema”, que rendeu mais de 230 versos, que foram adaptados pela diretora, atriz e também pesquisadora Ester Sá, integra um projeto que além do livro poema e do espetáculo, conta com um CD com 18 músicas, que compõem a trilha sonora do musical, trazendo arranjos de Luiz Pardal e Jacinto Kahwage, e interpretação de Allan Carvalho, Nanna Reis e Rogério Brito. O CD e o Livro serão lançados na ocasião da estreia do espetáculo, neste sábado, 9, com realização da UNICON - Cooperativa Mista de Consumidores do Brasil e patrocínio da UNICON e COOPERUFPA.


ESPETÁCULO REÚNE VÁRIAS LINGUAGENS ARTISTICAS


Ester Sá dirige cena / Fotos: Uirandê Gomes
Para Ester Sá, o projeto traz uma enorme contribuição histórica, que elucida fatos sobre uma fase ainda obscura sobre a nossa história.

“O livro já é um si uma grande contribuição e o espetáculo, que faz essa tradução da palavra para o cênico, tem a função de gerar o afeto , no sentido de ‘ser afetado por’. Essa foi a ideia desta encenação. Fazemos um passeio pela história, desejando que a plateia ria, sinta dor, comoção, revolta, reflexão”, diz Ester Sá.

No seu conjunto, o projeto é uma valiosa aula de história, repassada de forma lúdica, unindo arte e a educação e que pretende, em uma segunda temporada, prevista para os meses de maio e junho, circular por escolas e por cidades paraenses, principalmente aquelas em que a revolução cabana se fez mais presente.

As cenas do espetáculo foram sendo compostas e a equipe de criação começa a trabalhar e dar forma a ideia primeira que vai sendo moldada com muitas mãos. “Nesta tarefa contei com o apoio luxuoso da muitas pessoas que compõem o trabalho, muitas mãos, vozes e inteligências somadas”, ressalta Ester Sá.

Elenco: Paulo Vasconcelos, Vandiléia Foro e Sandra Perlin
Os atores Paulo Vasconcelos, Vandiléia Foro e Sandra Perlin conduzem a trama. A Direção de Elenco é de Adriana Cruz, com coreografia de Nazaré Azevedo, dos próprios atores e dos 19 bailarinos do Grupo Parafolclórico Frutos do Pará. A visualidade do espetáculo vai surgindo pelo olhar dos artistas criadores Maurício Franco (figurinos), Malu Rabelo (Luz), Nívia e Sam do Projeto Camapu (bonecos), André Mardock (vídeo), Jorge Cunha (Malas-cenário) dentre outros. 

As ilustrações de Biratan Porto, que estão também no livro, foram utilizadas incorporando o vídeo que é projetado no espetáculo, ora contextualizando, ora narrando e jogando cenicamente com o elenco. No comando da Produção, os "Produtores Criativos" com Direção de Produção de Cristina Costa. 

Reunindo várias linguagens artísticas, o espetáculo tem as músicas que, nesta temporada, ainda serão executadas de forma mecânica, mas na próxima, serão realizadas ao vivo. 

“Após o trabalho de edição do texto (adaptação) os compositores criaram as músicas já em conexão com a criação cênica. Pude interferir nesta criação no sentido de solicitar ao Luiz Pardal e o Jacinto Kahwage estados, ritmos, climas, e até tempos nas músicas... Eu ia explicando para eles o que queria encenar e eles iam criando para a cena. Foi um trabalho muito rico essa troca com os músicos que entenderam a proposta e trabalhamos numa parceria muito sintonizada”, diz Ester Sá.

Foram muitos meses de trabalho. A adaptação e formação de equipe iniciaram em agosto de 2015. Os ensaios, em outubro.  Os desafios foram muitos até esta estreia, mas também foi um processo prazeroso e cheio de aprendizado, como conta Ester Sá.

“Tanto na questão desta criação do Cabanagem, que me trouxe conhecimento de história, e isso é uma coisa que sempre me instiga, quanto na composição de uma equipe coesa e azeitada para realização de trabalho como esse, de grande porte, no sentido de dimensão da produção. Temos capacidade e talento para a criação de grandes espetáculos como esse com nossos profissionais na cidade, e vejo isso como abertura de mercado para todos da área”, comenta.

PESQUISA CONTEXTUALIZA CABANAGEM NA HISTÓRIA MUNDIAL


Sandra Perlin, representando a Corte Portuguesa
Ester Sá percebeu a dimensão do poema criada pelo Valdecir. “Ele foi minuncioso na pesquisa e compôs sua obra com encadeamento dos fatos desenhando o histórico de exploração e injustiças que o povo sofreu para que a revolução fosse sendo formada. A Cabanagem em sua obra é mostrada como um fato integrado no tempo, uma culminância aos acontecimentos políticos e sociais da época de uma forma bem ampla, conectada com o Brasil e o mundo todo, que estava em transformação”, diz a diretora.

Isso resultou numa obra extensa demais para um espetáculo, então o primeiro desafio da diretora foi escolher o que ficar para o roteiro do espetáculo, privilegiando esta construção do tempo na mente do espectador e buscando boas soluções cênicas. “A obra do Valdecir tem sua força maior em seu compromisso didático, e para mim, isto foi um desafio também, pois foi a primeira vez que criei um espetáculo com esse viés em primeiro plano”, finaliza Ester Sá.

O musical ficou então dividido em 18 cenas: Quem conta a história da história/ Cenário histórico mundial/ Guaiamiaba – O primeiro herói da Amazônia/Ajuricaba – Revolta indígena em Manaus/A Corte Portuguesa no Brasil/Revoltas políticas no período Regencial/A Independência: Um Império para Dom Pedro I/O mercado da Independência/Ação mercenária/Brigue Palhaço/Presença do Clero na Cabanagem/Ofensas em Cametá/Um quadro histórico analítico/Consagração popular/Tomada do poder/Governos Cabanos/Uma história de Eduardo Angelim/Heroísmo Cabano.

300 OBRAS E MAIS DE CINCO ANOS PRA ESCREVER UM POEMA


Escrito pelo professor Valdecir Palhares, o livro poema é resultado de uma minuciosa pesquisa que durou mais de cinco anos, sobre a Cabanagem, a maior revolução popular já vivida no Brasil. A tarefa nada fácil de traduzir a história da principal insurreição brasileira, foi apoiada por sua visão acerca dos escritos sobre as raízes das mobilizações cabanas. 

“A pesquisa gerou mais de 200 versos. Quando fui escrevendo, fiquei surpreso com a dimensão que foi a Cabanagem, eu não tinha nem ideia disso, por exemplo, que foi a única revolução popular que o povo tomou o poder. Eu nunca vi isso, nunca teve outra, primeiro que mataram dois governadores, segundo que durou cinco anos de guerra, e não foi só aqui em Belém, foi em toda a Amazônia”, comenta Palhares.

Para chegar ao resultado final, o autor fez toda uma contextualização dos fatos que ocorreram, antes, durante e depois da Cabanagem. De acordo com sua pesquisa, a revolução Cabana começou em Belém e foi até a divisa do Brasil com o Peru, subindo pelo Rio Negro. 

“Foram 05 anos de luta, morreram 40.000 pessoas. Em nenhuma guerra morreu tanta gente, até então. A que mais matou depois dessa foi a do Paraguai, com 20.000, depois foi a Balaiada, que matou 9.000 e a guerra de Farrapos, no Rio Grande do Sul, que durou 10 anos e foi contemporânea a Cabanagem, em que morreram 3.400 e poucas pessoas”, continua. 

Mas a diferença, diz ele, é que a luta da Farroupilha, por exemplo, foi feita por fazendeiros que queriam separar o Rio Grande do Sul do Brasil. “Aqui não. Era uma luta republicana contra o Império, não havia intenção de separação de nada, e era uma revolta que o povo tinha desde a fundação de Belém”, revela. 


REVOLTA CABANA NASCE DA RESISTÊNCIA INDÍGENA


Ilustrações, Biratan Porto
Revirando mais de 300 obras, Palhares chegou a descobrir o primeiro e único herói indígena, Guaiamiaba, o Morubixaba dos Tupinambás, o guerreiro mais corajoso, que ia à frente, na guerra. “Cada aldeia tinha o seu. Este veio antes do mais conhecido Ajuricaba, de Manaus”, conta Palhares.

Os indígenas foram a primeira resistência ao domínio do colonizador. Apesar de serem bem recebidos, os Portugueses, aqui, tomaram a arma do índio, sua flecha, sua lança, e é claro que os índios se revoltaram e mataram um monte deles. Os portugueses quiseram se vingar, entraram pelo rio, dizimaram outras aldeias. 

“Em contrapartida, os Tupinambás fizeram uma federação de mais de 600 aldeias e ficaram dois anos em guerra com o portugueses e isso acabou chegando em Belém. O Guaiamiaba quebrou as flechas que indicavam a guerra e incendiou o forte, que na época era de madeira, feito de troncos de açaizeiros. Foi quando os portugueses atiraram e mataram o Guaiamiaba. Por este gesto, por este ato, ele passa a ser o primeiro herói indígena da Amazônia, da resistência e ocupação”, diz o pesquisador.

“O objetivo desse projeto é que a população tenha consciência do que foi esta revolução realmente. O livro é completo, está divido em poemas, músicas com partituras e qualquer escola poderá ter esse material e a peça teatral. Há um desdobramento na área cultural, mas o objetivo é a educação”, finaliza Palhares.

O autor - Nascido em São Paulo, na cidade de Bebedouros, Valdecir Manuel Affonso Palhares se diz paraense por opção. “Vim pra cá fazer medicina e acabei ficando, nunca mais fui embora, mas minha família mora toda em SP”, conta o pesquisador que dirige desde 1986, a Cooperativa Mista de Consumidores do Brasil (UNICON), patrocinadora do projeto da Cabanagem e de outros projetos desenvolvidos sempre nesta área educacional e cultural.

Paulista, que viveu sua juventude ligada ao Movimento Estudantil libertário do anarquismo em São Paulo, foi no Pará que fez vestibular e cursou Medicina na UFPA, onde estabeleceu relações com o movimento esquerdista. Valdecir fez parte da geração que ficou na Faculdade de Medicina após a ocupação de 1968.

Entre outros projetos, ele assina também a obra intitulada 'Um Poema para Belém', redigida por 12 anos, gerando dois CDs, lançados no dia 12 de janeiro de 2011, com arranjos de Manoel Cordeiro e o segundo, dos músicos Jacinto Kahwage e Luiz Pardal.

Ficha Técnica

  • Poema: Valdecir Palhares
  • Adaptação do texto para a encenação- Ester Sá
  • Músicas e Arranjos: Luiz Pardal e Jacinto Kahwage
  • Intérpretes das músicas: Allan Carvalho, Nanna Reis e Rogério Brito
  • Iluminação - Malu Rabelo
  • Figurinos - Maurício Franco
  • Vídeo - André Mardock
  • Ilustrações - Biratan Porto
  • Coreografias - Nazaré Azevedo/ Grupo Frutos do Pará
  • Atores - Sandra Perlin, Paulo Vasconcelos e Vandiléia Foro
  • Coro Coreográfico - Grupo Frutos do Pará: Yasmin Luna, Christiane Azevedo, Kledison Gomes, Gabriel Saraiva,Tatienne Silva, Frank Silva,Luiz Jhonatan, Anny Maués, Taynara Garcia, Vânia Delarosa, Alex Fernandes, Lizandra Nascimento, Marcus Cezar, Markus Menezes, Samantha Campos, Thiago Barbosa, Diego Pereira, Larissa Rocha, Ana Eduarda Santos.
  • Operação de Sonoplastia: Oiran Gomes
  • Bonecos - Projeto Camapu
  • Adereços – Handerson Ramos
  • Malas-Cenário - Jorge Cunha
  • Assessoria de Técnicas Circences - Charles Monteiro
  • Costureiras - Ila Falcão e Nanan Falcão
  • Assistentes de coxia – Mauricio Franco, Ila Falcão, Nanan Falcão e Claudia Duarte Assistente de Iluminação - Thiago Ferradaes
  • Técnicos do TMS – João da Mata, José Igreja e Fernando Dako
  • Equipe de Produção - Produtores Criativos: Andréa Rocha, Fafá Sobrinho, Oiran Gomes, Lucas Alberto, Uirandê Gomes, Thiago Ferradaes e Nanan Falcão
  • Assessoria de imprensa – Luciana Medeiros
  • Registro fotográfico – Uirandê Gomes
  • Arte Gráfica - Mieko Takehana
  • Direção de Palco - Cláudio Bastos
  • Direção de Elenco - Adriana Cruz
  • Direção de Produção - Cristina Costa/Produtores Criativos
  • Direção Geral - Ester Sá

Serviço
UNICON apresenta “Cabanagem – O Musical”, um poema de Valdecir Palhares, com músicas de Luiz Pardal e Jacinto Kahwage, com adaptação e encenação de Ester Sá. Dia 9 de janeiro de 2016, às 20h, no Teatro Margarida Schivasappa. Lançamento do livro (R$ 55,00) e do CD “Cabanagem - Poema” (R$ 15,00). Entrada franca com convite. Mais informações: (91) 9 8171.8282 (tim) / 9 9111.5658 (vivo).