29.4.18

Cordel do Fogo Encantado inicia turnê pelo país

Depois de oito anos sem fazer shows, e há mais de dez, desde o lançamento do álbum anterior, Transfiguração (2006), o Cordel do Fogo Encantado lançou em abril, pelas plataformas digitais, o quarto disco da carreira, "Viagem ao coração do sol", que agora segue com show em turnê pelo país.  Ontem (28), no Rio, o grupo levantou o público no Circo Voador. Noite densa, emocionada, como relata o jornalista Ismael Machado, que analisa também o retorno da banda no atual contexto político do país.



Cordel, Lula, Marielle e o circo do Brasil


‘Os amigos voltaram, os amigos voltaram’. O mestre de cerimônias do Circo Voador repetia essas palavras com intensidade e genuína emoção ao anunciar o Cordel do Fogo Encantado no Circo Voador num sábado quente de 28 de abril de 2018. O Circo, entupido de gente, parecia respirar essa sensação.

A banda entra devagar. De ambos os lados do palco. Parados, ladeados, olham para o público por longos segundos. Simbolicamente pareciam encarar o reencontro. Velhos amigos, quem sabe antigos amores, revendo-se depois de tanto tempo. Quem sabe tentando reparar se mudanças ocorreram no período em que ficaram afastados um do outro. O tempo, amigo ou inimigo, inevitável com suas marcas e cicatrizes.

É interessante perceber as nuances de um show. Há os que são burocráticos. Mesmo fortes ou bem feitos, exalam o fato de que os músicos parecem estar cumprindo uma função delineada noite após noite. Esse retorno do Cordel transparece um frescor, uma renovação que pareceu tão necessária a eles mesmos como ao público também.

Enquanto tocam as músicas, eles se olham e sorriem uns para os outros. Apertam as mãos, abraçam-se. Dá para perceber que eles estão felizes em estar ali, naquele palco juntos novamente. É significativo o abraço conjunto ao final do show entre eles, aquela rodinha que jogadores de futebol adotaram fazer antes do início das partidas.

E essa energia resplandecia no Circo Voador. O público do Cordel já é conhecido. É intenso, emocional, vibrante. E estava ansioso. Em diversos momentos a banda parecia surpresa com a participação que vinha da plateia. Em um desses momentos, Lirinha interrompeu a letra e ficou olhando para o que estava à sua frente. Olhou em direção aos companheiros e apontou para o público, como dizendo ‘vocês estão vendo isso?’.

"Não beberemos a água do esquecimento"

Oito anos depois de uma separação anunciada por Lirinha, ou Lira, como queiram, o país que recebe o Cordel é muito diferente daquele que os viu surgir na música brasileira. Se o surgimento e auge da banda se deu inserido num país que buscava outros caminhos, tão possíveis quanto necessários. 

O país que o Cordel do Fogo Encantado encontra hoje é um país despedaçado, triturado em suas entranhas. As balas que mataram Marielle, a quem a banda homenageou a canção Conceição e o show inteiro, ricocheteiam e atingem pessoas acampadas em Curitiba, num ato supremo de intolerância.

O país encontrado pelo Cordel em 2018 é o país que rejeita o outro com veemência. Mas é também o país que resiste e insiste em gritar Lula Livre e Marielle Presente. O branco da roupa de Lirinha e o preto da vestimenta do violonista Clayton Barros se complementam de forma quase simbiótica. O preto e o branco lado a lado.

Lira repete em pelo menos dois momentos: ‘não beberemos a água do esquecimento’. A referência é ao massacre de Canudos, mas poderia ser a qualquer massacre. Tanto virtual como físico no país de tantos massacres e chacinas.

Quando o público atropela uma fala de Lira e entoa Lula Livre, o vocalista sorri, agacha-se e lentamente gira o pedestal do microfone para a plateia. Nada diz e nem precisa. Sem discurso a banda faz um dos mais contundentes atos políticos que se possa conceber. 

Seja nas letras das músicas ou no gestual dos percussionistas, trazendo sempre a lembrança do país formado por batuques, tambores, sua ancestralidade negra, nordestina, indígena. Está tudo ali, inserido no sotaque de Lira, na cor da pele dos músicos e nos cabelos da vocalista que agora acompanha a banda na turnê e cujo nome me foge à lembrança no momento que escrevo.

Há muitas Marielles presentes no show. Os cabelos de tantas mulheres ali não nos deixa esquecer. E as rodas de dança no meio do salão ensinam a possibilidade de um país reconstruído, pois se tanta beleza pode resplandecer em um momento mágico porque não imaginar a reconfiguração do sonho?

‘No Morro da Conceição/Nunca é tarde demais pra saber/Super nova batida da dança/Do tambor que se chama esperança/Todos juntos no barco do tempo’.

Em Liberdade, eles dizem que aquele rio é vermelho. Um rio mar. Gentes. Multidões que gritam e entoam a palavra liberdade. Há uma mistura entre o ontem e o hoje nesse show, onde a pergunta que ecoa na letra de uma música diz ‘se não arder, como viver?’. A vida arde, no suor que escorre, na lágrima que desce, na chuva que molha, na solidão que entorpece, na saudade que escoa e no grito que ecoa.

O Lira que hoje parece um tanto mais contido no palco parece guardar uma nova experiência de vida, onde o andar devagar pode ser por tanta pressa já anunciada e vivida. 

‘A nossa sorte é ter coragem’, canta a banda em Eternal Viagem. E isso remete longe ao ‘pavão mysterioso’ de Ednardo, que tranquilizava: nossa sorte nessa guerra é que 'eles são muitos, mas não podem voar’. Já são quase três da manhã quando a banda encerra o show. O público canta ainda. Bate palmas. Um transe coletivo repleto de amor, de cumplicidade, de esperança talvez. 

O mestre de cerimônias retorna, com suas tranças rastafáris e nos pergunta se alguém anotou a placa do caminhão que nos atropelou. E repete a frase do início: ‘os amigos voltaram’. Pois que sejam bem vindos, tomem esse cálice de vinho, experimentem essa cerveja artesanal,  feita com carinho. Olhem, aquelas são nossas crianças, ali estão os gatos e cachorros que convivem com a gente, essa foto é de uma viagem inesquecível. Senta aqui, tem café quente ainda. Venham aqui até a cozinha. A mesa está posta e a comida é farta e para os amigos a porta está sempre aberta.

27.4.18

Espetáculo traz Denise Fraga pela 1a vez a Belém

Fotos: Cacá Bernardes
A Velha Senhora chega a Belém na próxima semana para uma temporada de  4 a 6 de maio, no Teatro do SESI. Os ingressos já estão à venda na bilheteria digital e no própri teatro (veja detalhes no serviço desta matéria). No elenco com 13 atores, estão Denise Fraga e Tuca Andrada, que em circulação com a peça pelo país, acabaram de se apresentar em BH e falaram ao jornalista Walter Félix do site uai.com.br

A visita da velha senhora, peça escrita pelo suíço Friedrich Dürrenmatt em 1956, sobreviveu ao tempo abordando sentimentos universais e atemporais. Levado para o atual contexto político e social brasileiro, é como se o texto tivesse acabado de ser concebido. 

A tragicomédia clássica faz parte de uma trilogia de adaptações da atriz Denise Fraga, centradas no contraponto entre os valores éticos e o poder do dinheiro. Seus últimos trabalhos nos palcos foram A alma boa de Setsuan e Galileu Galilei, textos do alemão Bertolt Brecht com abordagens semelhantes, mas muito diferentes de A visita em seus desenvolvimentos. A atriz entende que Brecht desconstrói as ilusões humanas propondo possíveis transformações, ao passo que Dürrenmatt traz uma visão não tão otimista no destino de seus personagens.

“O Dürrenmatt expõe, em um de seus ensaios, que não existem culpados ou inocentes, somos todos pecados e vítimas nesse ‘manicômio labiríntico’ – como o autor define a forma de vida louca que o ser humano inventou”, observa a atriz. “Para ele, essa abordagem no palco só é possível com a comédia. O humor, afinal, traz a possibilidade de reflexão ao mesmo tempo em que diverte. As pessoas vão ao teatro à procura de um momento de lazer, mas saem transformadas de alguma maneira”, afirma ela.

Denise Fraga interpreta Claire Zachanassian, uma bilionária com sede de vingança que retorna a Güllen anos após ser expulsa da cidade. Ao encontrar a população na miséria, ela oferece uma grande quantia em dinheiro a quem se dispuser a matar Alfred Krank (Tuca Andrada), o homem por quem foi apaixonada e que a abandonou grávida no passado.

“Quando Claire faz essa proposta louca à cidade, todos, a princípio, se negam. Mas ela diz: ‘Eu posso esperar’. A partir daí, Dürrenmatt cria uma obra-prima de dramaturgia, com uma sucessão de cenas hilárias sobre as reações daquelas pessoas na iminência de receber o bilhão que ela oferece”, diz Denise.

A trama desencadeia uma série de questionamentos sobre a flexibilidade dos valores humanos diante da necessidade de sobrevivência ou da pura ganância. “Citando Brecht, ‘que ética resiste à fome’? Até onde a gente se vende para poder comprar? Nós somos tentados, todos os dias, a sair de quem somos e ter atitudes contrárias aos nossos princípios. O texto trata dessa letargia e propõe como essa omissão possa virar ação”, analisa.

Com mais de 30 anos de carreira, Denise Fraga leva as reflexões da peça para a sua vida. “Parece que a regra é nunca deixar de ganhar mais, mesmo que você esteja feliz no lugar que ocupa. Escolhi ganhar menos, fazendo o teatro em que eu acredito. O dinheiro é importante, claro, mas ele não pode determinar a minha vida.”

Tema atemporal da peça e o Brasil de hoje

A atemporalidade do texto de Dürrenmatt surpreende os atores de A visita da velha senhora. Algumas passagens, em especial, soam como referências diretas ao noticiário político e social brasileiro. “Há quatro anos  eu já queria montar a peça e, com tudo o que aconteceu nesse meio-tempo, além de atemporal ela foi ficando assustadoramente propícia. Em algumas ocasiões, nos ensaios, as falas pareciam ‘cacos’ adicionados ao texto, porque tinham tudo a ver com as manchetes, de tão perfeita e justa que é a parábola da peça”, observa a atriz.

Tuca Andrada atribui parte do sucesso da montagem ao diálogo da história com assuntos contemporâneos. “Que justiça é essa que se adapta às conveniências da sociedade? Até onde você é capaz de ir para sobreviver? Qual é o seu limite ético?” Questionamentos como esses, apontados pelo ator, caem como uma luva nesta época assolada pela crise institucional brasileira.

“O texto dialoga com qualquer parte do mundo, mas parece que foi escrito especialmente para o Brasil de hoje. Além de justiça, aborda ética, empoderamento feminino, linchamento popular, entre outros assuntos tão latentes”, cita.

Os atores entendem que parte da riqueza do texto está na complexidade de cada personagem. Apesar de ter atitudes controversas e, por vezes, hediondas, todos são movidos por sentimentos comuns a todos nós e não se encaixam em uma dicotomia entre o bem e o mal. 

“Não há vilões na história, todos foram levados pelas circunstâncias. O que Alfred fez foi terrível, mas a solidão que ele encontra nos momentos finais, sem qualquer escuta para sua defesa, revela um personagem totalmente humano”, analisa Tuca Andrada.

“Dürrenmatt é muito pessimista, ao contrário de Brecht. Para ele, a humanidade não deu certo. Meu personagem não se redime do que fez no passado, mas entende que não há fuga possível, a não ser refletir e aceitar que foi ele quem construiu toda aquela história. Ele reúne todas as características de um personagem trágico: arma o seu próprio destino, tenta fugir dele, mas percebe que não há outra saída senão aceitá-lo”, descreve o ator.

Denise Fraga destaca o auxílio do diretor Luiz Villaça (com quem é casada), para a composição de sua Claire. “Dürrenmatt escreveu que nada atrapalharia mais essa tragédia do que não ser levada como uma comédia. Ao mesmo tempo em que tem um quê de vilã, Claire é um emblema do poder econômico e, debochada, se diverte manipulando a cidade. Seria muito fácil fazer uma malvada, mas ela é safa, tem savoir-faire”, diz Denise.

Clássico já influenciou obras no cinema e na TV

A trajetória artística de Friedrich Dürrenmatt é marcada pelo humor sarcástico e por romances policiais. A Visita da Velha Senhora se tornou um clássico, servindo como base para o argumento de diversas obras para cinema e TV.

Tuca enxerga no passado do dramaturgo como escritor de radionovelas de suspense a razão de sua desenvoltura para construir uma peça nos mesmos moldes. “É fantástica a capacidade desse texto de envolver o espectador. Boa parte do público já sabe como é o final da história e, mesmo assim, a tensão se mantém até o fim”, aponta o ator.

“Antes de tudo, a peça tem uma história ótima. O folhetim e os clichês não existem por acaso. Logo no fim do primeiro ato, vejo a plateia abrir a boca, literalmente, tamanho o grau de surpresa”, conta Denise. Além de interpretar a protagonista, ela participou da adaptação do texto original, ao lado de Maristela Chelala e da tradutora Christine Röhrig.

“Não fizemos nenhuma grande alteração, só alguns cortes, porque a peça era longa e tinha 20 atores. Reduzimos para 13, unindo alguns personagens em um só, porque seria inviável fazer a montagem com um elenco tão grande”, diz Denise, que afirma ter conseguido reunir o elenco de seus sonhos.

Figurino - O estilista mineiro Ronaldo Fraga assina o figurino de A visita da velha senhora. “A peça tem esse ponto altíssimo que é o figurino. Adoro o trabalho dele e sempre disse que nós precisávamos trabalhar juntos. Muito mais que estilista, o Ronaldo é um artista e um pensador. Ele dá show, como sempre”, elogia Denise Fraga.

Ficha Técnica:
Autor: Friedrich Dürrenmatt
Stage rights: Diogenes Verlag AG Zürich
Tradução: Christine Röhrig
Adaptação: Christine Röhrig, Denise Fraga e Maristela Chelala
Direção Geral: Luiz Villaça
Direção de Produção: José Maria
Elenco: Denise Fraga, Tuca Andrada, Fábio Herford, Romis Ferreira, Eduardo Estrela, 
Maristela Chelala, Renato Caldas, Beto Matos, David Taiyu, Luiz Ramalho, Fernando Neves, 
Fábio Nassar e Rafael Faustino
Direção de Arte: Ronaldo Fraga
Direção Musical: Dimi Kireeff
Trilha Sonora Original: Dimi Kireeff e Rafael Faustino
Desenho de Luz: Nadja Naira
Produção Executiva: Marita Prado
Preparação Corporal e Coreografias: Keila Bueno
Direção Vocal: Lucia Gayotto
Preparação Vocal: Andrea Drigo
Visagismo: Simone Batata
Assistente de Direção: André Dib
Assistente de Produção: Musical Nara Guimarães
Engenheiro de Mixagem: Fernando Gressler
Camareira: Cristiane Ferreira 
Assistente de Iluminação e Operador de Luz: Robson Lima
Operador de Som: Janice Rodrigues
Cenotécnicos: Jeferson Batista de Santana, Edmilson Ferreira da Silva
Assessoria Financeira: Cristiane Souza
Fotografia: Cacá Bernardes
Making Off: Pedro Villaça e Flávio Torres
Redes Sociais: Nino Villaça
Programação visual: Gustavo Xella
Assessoria de Imprensa Belém: Luciana Medeiros/Holofote Virtual
Projeto realizado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Produção Original: SESI São Paulo
Patrocínio Exclusivo: Bradesco
Realização: NIA Teatro, Ministério da Cultura e Governo Federal

Serviço
A Visita da Velha Senhora - Belém
Dias 04, 05 e 06 de maio
Sexta e sábado, às 20h30; Domingo, às 19h
Teatro do SESI
Av. Almirante Barroso, nº 2540, Marco.
Classificação: 14 anos
Duração: 120 min
Gênero: Comédia Trágica
Ingressos: 
R$ 70,00 (inteira) / R$ 35,00 (meia)
R$ 50,00 (inteira) / R$ 25,00 (meia) 
Bilheteria: (91) 3366-0971/0972
Seg a Sex: 9h às 18h / Sáb: de 9h às 13h
Domingo a partir das 9h quando houver atração
Vendas também pela Bilheteria Digital 
Informações para Imprensa:
Luciana Medeiros: 91 98134.7719/lume.com@gmail.com


24.4.18

Casarão traz histórias e ações de sustentabilidade

Foto: Cláudio Ferreira
O Amostraí acontece sempre no último sábado de cada mês, trazendo várias atrações. Neste sábado, 28, tem contação de histórias, espetáculo e economia criativa. O ingresso é pague quanto puder, com objetivo de deixar o casarão de pé e na ativa, aberto ao público e ao fazer artístico sustentável. A partir das 18h.

Tem novidade nesta edição. O público vai ver o ouvir a narrativa de Fátima Sobrinho. “A-Aya e a Criação do Mudo”, que estreou no dia 8 de abril durante a 21a edição do projeto Circular Campina Cidade Velha. Baseada no Mito da Canoa Encantada e no dia a dia dos indígenas da etnia Xavante, a história é contada enquanto Fafá, como é carinhosamente chamada pelos amigos, vai levando o público desde a entrada até o anfitetatro dos Tajás, percorrendo toda a área externa do Casarão do Boneco. Uma cena em movimento que causa um misto de surpresa e encantamento no público de gente grande e miúda.

A A-Aya, a avó de Universo narra a criação do mundo de forma mágica, lúdica e poética. A narrativa é uma livre adaptação do texto “As Histórias da A-Aya”, de Antônio Carlos dos Santos Carvalho. Fátima Sobrinho tem experiência de 30 anos nos movimentos sociais e de teatro popular, e conta, nesta narrativa, com a direção de Vandiléia Foro.

Também está na programação a história da lenda “Princesa da Torre do Galo”, que conta que uma moça bela e rica vivia em um castelo no topo de uma torre muito alta, e para encontrá-la um herói teria que enfrentar muitos desafios e alguns seres encantados. Esse trabalho é do Grupo Folhas de Papel, surgiu em 2017, formado por AJ Takashi e Tais Sawaki, o grupo estuda, investiga e experimenta várias formas de contar suas histórias.

Gato de Botas é o espetáculo da vez

Foto: Cláudio Ferreira
“O Gato de Botas” é encenado desde 2015 pelo Grupo Corifeus. Clássico infantil escrito por Charles Perrout, o conto narra a história de um caçula de três irmãos que recebe como herança de seu pai um gato de estimação. Mas depois de ganhar um par de botas, o gato consegue convencer um rei muito poderoso de que pertence a um fidalgo chamado Marquês de carabás, e concede ao seu dono a mão da princesa em casamento.

Criado em setembro de 2014, por Douglas Mourão e Jorge Miranda, o grupo conta com integrantes de idade entre 13 a 22 anos, que a partir de projetos como o “Teatro na Escola", vem dando força à cultura no bairro da Cremação. Em cena Bruno Andrade, Renan Silva, Bianca Duarte, Renan Evans, Valeria Gabriele, Marcelo Mendes, Fernanda Soares, Elle Oliveira, Celio Amador e Ailton Souza, com a direção de Jorge Miranda.

Força criativa e da sociedade civil organizada

Foto: Cláudio Ferreira
Além das apresentações, outra iniciativa de sustentabilidade do Casarão do Boneco é a loja Dell’arte. Inaugurada no último Circular Campina Cidade Velha, no dia 8 de abril, o espaço funciona diariamente e em dias de evento, abriga um brechó, um sebo, moda autoral e objetos de arte de artistas produtores da cidade de Belém. 

Os figurinistas Maurício Franco e Nanan Falcão, integrantes do coletivo da casa, assumem a gestão da loja expondo sua criações e de parceiros, além de abrir o ateliê com serviços de figurino e cenografia sob encomenda.

Contando com as marcas como: Espumas de Inaê, Francco e NanisFalconis, a loja é norteada pelos princípios de transformação e reaproveitamento, dando espaço a artistas que utilizam desse conceito para suas produções.

Coletivo de portas e coração abertos

Foto: Cláudio Ferreira
O Amostra Aí é produzido e realizado colaborativamente pelo grupo de artistas do coletivo Casarão do Boneco. Nessa edição estão envolvidos Victoria Rapsodia, Inaê Nascimento, Nanan Falcão, Thiago Ferradaes, Paulo R. Nascimento, Marina Trindade e Lucas Alberto.

“Nossos corações e ações se juntam objetivando a difusão das artes cênicas. Independente de classe social ou qualquer outra divisão imposta pela sociedade. Com o dinheiro arrecadado mantemos as funções básicas do Casarão para que haja sempre um movimento artístico dentro da casa, seja de apresentações, ensaios ou oficinas”, afirma Lucas Alberto, um dos atores criadores do coletivo.

Fomentando também a força da sociedade civil, o Casarão do Boneco, que não depende de investimentos diretos do estado ou de empresas privadas, vem se mantendo através de um conjunto de artistas da sociedade que acreditam nesse espaço.

Serviço
Amostra aí, a partir das 18h. No Casarão do Boneco  (Av. 16 de Novembro-815, entre Veiga Cabral e Praça Amazonas). PAGUE O QUANTO PUDER. Contatos: (91) 32418981/ (91) 98949-8021.

[As imagens da postagem (crédito: Cláudio Ferreira) fazem parte do acervo do projeto Circular Campina Cidade Velha, do qual o Casarão do Boneco é parceiro.]

23.4.18

Instalação leva Chikaoka de volta a Montevideo

Fotos de registro da instalação: Miguel Chikaoka
A experiência de “Águas Enlazadas” realizada no evento Jornadas 10 (Fotografia y Educacion), do Centro de Fotografia de Montevideo (cdF), em 2014, será o tema central do Laboratório de Reflexão, no qual o fotógrafo vai tratar de questões que permearam o desenvolvimento do projeto.

O trabalho apaixonado de Miguel Chikaoka pela fotografia e seus desdobramentos na prática e ensino, poética visual e sensorial, compartilhamentos e pesquisa, será um dos focos centrais nesta semana, em Montevideo. Além do Laboratório de Reflexão Chikaoka também vai ministrar no cdF, uma oficina e participar de palestras e mesas. As malas já estão prontas e ele parte nesta terça-feira, 24, pela manhã, mas antes conversou com o Holofote Virtual.

Miguel já tinha estado outras vezes no Uruguai para ministrar oficinas e outras atividades a convite do Centro de Fotografia de Montevideo, quando recebeu, em 2014, um convite desafiador de Daniel Sosa, diretor do cdF, que lhe pedia a criação de um projeto exclusivamente para apresentar na Jornadas 10 (Fotografia y Educacion). O convite foi feito e aceito em maio, meses antes da abertura que seria em novembro.

A partir de algumas trocas de e-mail, diversas reuniões via Skype, e com base nas experiências e ações de projetos já desenvolvidos como Olhos d’Água - 2004-5 (Colares-Belém-Yvry-Sur-Seine/Paris) e H2Olhos 2008-9 (SP), o fotógrafo deu início ao processo que resultou na instalação Águas Emendadas (Aguas Enlazadas).

Miguel conta que para construir o projeto, à distância, tomou como base a planta baixa do andar onde se daria a instalação e assim chegar ao que seria e foi a instalação. Foram necessários vários ajustes, com uma frente ampla de trabalho  e ações simultâneas em Belém e no Uruguai. “O processo envolveu uma pá de gente”. No final, ele havia formado 250 participantes entre instrutores e educadores, via skype. “Viajei a Montevideo quinze dias antes para finalizar o processo e montar a cena”, comenta. 

E o que se processou após 2014 a partir dessa experiência foi aproximação e uma abertura para outras ações e projetos de intercâmbio. 

"Dado o interesse e o contexto onde estarei falando do projeto: um laboratório de reflexão, a expectativa é de desdobramentos já que o tema e a abordagem não se encerram no que se produziu. Vai ser muito bom re-encontrar os colegas sem os quais não teria alcançado êxito na empreitada”, diz. “Já estamos em diálogo para um novo projeto que envolve ações simultâneas em Montevideo, Buenos Aires e Belém”, adianta ele em entrevista ao blog, enquanto arruma as malas para viajar nesta terça-feira pela manhã.

“Águas Emendadas” partiu de uma ideia de correnteza, fenômeno hidrográfico que se refere às águas que partem de um mesmo ponto e fluem para lados oposto. Miguel focou as que nascem no bioma do cerrado, na região central do continente, formando a Bacia do Tocantins-Araguaia e a Bacia Platina. Na liquidez da água, entrelaçou-se o afeto, a cultura compartilhada na Sul América. Miguel trabalhou dois países, duas cidades (Belém-Montevidéu), permitindo que as linhas demarcadoras se diluíssem no líquido.

Na instalação, o olho d’água foi simbolizado por um recipiente utilizado pelos ribeirinhos para coleta de água, produzido a partir da fruta da cuieira, e queserviu de base para criação da obra “Loading....”, um dispositivo que funciona como uma câmera obscura.

Os dois painéis fotográficos foram constituídos de fotos-pixel (unidades de informação), em que cada pixel representava em si, uma imagem, o associando “a um lugar-identidade de um autor”, de acordo com Chikaoka.  Em tons de cinzas, pequenas fotografias, criadas por diferentes autores, formaram os dois grandes painéis, um desdobramento de outras duas obras: o “Urublues” e  “Urublues Raiték”.

A primeira obra realizada em 2004 no Memorial dos Povos, em Belém do Pará (BR), trazia a imagem do Ver-o-Peso; e a segunda apresentada em 2009 no SESC Pompéia, em São Paulo (Br), a imagem de um urubu, ave símbolo da paisagem do complexo do Ver-o-Peso, e que era formada por milhares de fotos-pixel retiradas da paisagem paulistana. 

Para além do Laboratório, Miguel Chikaoka leva na bagagem o desejo de compartilhar tanto as experiências inovadoras no campo da formação quanto às indagações que surgem dessas experiências. 

“Tenho um grande interesse em trocar ideias e debater sobre as possibilidades de abordagens dos processos que se produzem a partir da natureza dos elementos vitais. É fundamental apreendermos, por  experiência própria, seja na esfera cientifica, das artes e da espiritualidade, por que os elementos  luz(fogo), o ar, a terra e a água são considerados vitais”, finaliza.

13.4.18

Cyro Almeida abre a mostra "Isolamentos e Fluxos"

Trazendo fotografias de Cyro Almeida realizadas entre 2011 e 2018 em cinco bairros da capital paraense: São Brás, Guamá, Condor, Jurunas e Cidade Velha, a exposição tem curadoria é de Mariano Klautau Filho.Abre nesta terça, 17, às 18h, no Espaço Cultural do Banco da Amazônia.

“Isolamentos e Fluxos” desafia os estereótipos da violência e foi uma das selecionadas pelo Edital de Pautas 2018 do Banco da Amazônia. A abordagem documentária do fotógrafo mineiro revela sua dedicação à figuração de habitantes e trabalhadores nas periferias das metrópoles, com um olhar atento ao corpo, à cor e à ocupação dos espaços. 

“As imagens são uma tentativa de escapar da visualidade predominante sobre essas regiões, que normalmente se apoiam nos estereótipos da carência material e da violência.”, declara o artista. Por seu trabalho em Belém, Cyro recebeu o XV Prêmio Funante Marc Ferrez de Fotografia, em 2015, na categoria Documentação Fotográfica do Brasil.

Influenciado por fotógrafos como Luiz Braga e André Cypriano, e pelo cineasta Eduardo Coutinho, a poética de Cyro Almeida é construída pelo desejo de conhecer o outro. Isso o levou a percorrer a pé de Van um trajeto cujas extremidades abrigam os mercados de São Braz e do Ver-o-Peso, indo ao encontro de açougueiros no Guamá, carregadores de açaí nas feiras do Jurunas e da Cidade Velha, serralheiros no Porto do Sal, além de diversos moradores serenamente posicionados nas portas de suas casas ou em momentos de lazer.

Residindo em Belo Horizonte, o artista vem a Belém todos os anos desde 2009, normalmente no período mais chuvoso, entre dezembro e abril. 

“A primeira vez que estive em Belém, andando pelo Ver-o-Peso, foi como uma mágica, pela conexão e identificação que eu senti. Não tenho nenhum parente em Belém e naquela época nenhum vínculo de trabalho. Era como se eu estivesse matando a saudade de um lugar que eu nunca havia estado”, conta. Ao conviver com os espaços fotografados, observá-los e interagir com as pessoas, Cyro entendeu que estava em áreas marcadas por estigmas da violência social, sendo constantemente alertado para não estar ali.

Sem acreditar que está imune a qualquer ameaça, o fotógrafo prefere a ideia de que os discursos da intimidação podem, às vezes, levar à própria violência que criticam. “Minhas fotografias não são pra dizer que não existe violência nesses bairros, mas para que eu mesmo não me torne violento a eles pela representação estereotipada, a distinção social e fantasia produzida pelo medo”. 

Portanto, as fotografias apresentadas em “Isolamentos e fluxos” não são apenas um documento histórico de uma parte da vida em Belém na década de 2010, mas uma tentativa de remontar os sentidos convencionalmente colocados sobre essas populações em âmbito local e global.

Nas palavras do curador, Mariano Klautau Filho, o resultado desse processo é uma “fotografia franca, sensível na experiência do contato e precisa nos enquadramentos em que a persona e seu ambiente estão em uma harmonia dissonante aos discursos sobre os perigos da cidade”, examinando ainda que “há certa paz nas imagens, muito provavelmente pela qualidade da experiência entre fotógrafo e retratado”. 

Trata-se assim da oportunidade do público belenense conhecer pela primeira vez no formato de exposição os resultados de constantes vivências e imersões feitas por um retratista forasteiro que tem tomado a capital paraense como base de sua poética.

Serviço
Exposição “Isolamentos e Fluxos”, de Cyro Almeida. Abertura nesta terça-feira, 17, às 18h30, no Banco da Amazônia (Av. Pres. Vargas, 800 - Campina). Conversa com o artista e curador será na quarta-feira, dia 24 de abril, às 18h30.  Visitação: 18/04 a 15/06, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. Entrada gratuita.

(Informações da assessoria de imprensa do Banco da Amazônia)

3.4.18

Se Rasgum é o único festival do norte na Rio2C

A maior conferência de inovação e criatividade da América Latina, a Rio2C vai realizar um encontro de festivais independentes de várias partes do Brasil no próximo fim de semana, 7 de 8 de abril, e o único representante do norte é o Festival Se Rasgum. 

Para firmar a presença da música nortista no evento, um super show está garantido com o encontro de Lucas Estrela e STROBO, em meio a uma programação que tem Emicida (SP), Karol Conká (PR), Tulipa Ruiz (SP), Carne Doce (GO), Plutão Já Foi Planeta (RN), Francisco, el Hombre (SP/MEX) e um encontro da nova cena pernambucana. 

Chamado de "Festivália", esse encontro teve, além do Se Rasgum, toque especial de outros festivais para montar a programação, como o Coquetel Molotov, de Pernambuco, o Bananada, de Goiás, o Faro, do Rio, o Psicodália, de Santa Catarina, entre outros. O Festival Se Rasgum foi convidado para integrar a programação pelo curador do Palco Sunset, do Rock In Rio, Zé Ricardo. A conferência Rio2C e o Festivália são realizados nos dias 3 a 8 de abril, no espaço Cidade das Artes, Rio de Janeiro. Os ingressos estão disponíveis no site do evento.

Strobo (Foto: Laís Teixeira)
De um lado, encontro de negócios de profissionais independentes de toda a América Latina, de outro, uma conferência de criatividade que junta música, audiovisual e inovação, o Rio2C é um campo minado de conexão de ideias, troca de experiências e networking de nível global, com palestras, shows, bate-papos e espaços para apresentação de projetos de inovação. 

Tendo a curadoria musical do produtor e músico Zé Ricardo, o mesmo que assina a programação do Palco Sunset do Rock in Rio em Madri, Rio de Janeiro, Las Vegas e Lisboa, o Festivália serve como vitrine da nova e criativa música brasileira para o mundo. Com parceria do Se Rasgum na curadoria, o show que representa o norte, Lucas Estrela & STROBO, traz uma explosão eletrônica e musical com tempero das raízes nortistas. Para o músico e produtor musical Leo Chermont, guitarrista da STROBO o evento tem a cara da banda, que sempre misturou música e vídeo. 

Lucas Estrela (Foto: Anderson Fattori)
“Eu realmente ainda não conhecia o evento. Quando vi o tamanho e a quantidade de gente envolvida e de pessoas realmente importantes pro cenário audiovisual e musical, foi muito bom saber que a gente tá representando o Pará nessa convenção. A gente fica muito feliz, não só pela banda e de estar com o Lucas Estrela que é nosso parceiro e já estamos tocando juntos e fazendo umas movimentações juntos, mas também somos uma banda muito audiovisual. Temos 10 clipes lançados, vamos lançar um filme agora pela Natura Musical, a gente realmente sempre quis entrar nesse cenário audiovisual, e sempre foi uma batalha, e agora a gente vai tá com os caras do audiovisual do mundo todo”, comemora o músico.

Para Lucas Estrela, é um momento muito importante de ocupação desses grandes espaços. “A gente vai aproveitar a semana inteira nos espaços da conferência. No fim de semana, a gente faz o show e tá numa expectativa enorme pra isso. Tenho certeza que vai ser uma experiência muito importante pra gente que trabalha com música instrumental e de maneira independente, e a gente sabe como é difícil ter acesso a esses lugares. Eu quero agradecer demais à Se Rasgum Produções pelo convite e vamos levar pro rio esse show com a Strobo pela primeira vez fora de Belém”, conta o artista.

Para conferir a programação completa da conferência, basta acessar o site do evento ou visitar as redes sociais.


(Informações enviadas pela assessoria de imprensa do Se Rasgum)