4.2.16

Cultura do bem comer no foco de Leonardo Brant

Pesquisador em cultura, escritor, documentarista e diretor, um mestre em gestão de patrocínio e planejamento cultural, Leonardo Brant estará em Belém, assim que o carnaval passar. Vem lançar “Comer o quê?”, no Teatro Gasômetro - Parque da Residência -, com exibição às 18h. A noite tem participação de chefs que foram entrevistados no documentário, lançamento de livro e bate papo.

Veganos, vegetarianos, saúde alimentar, produtos orgânicos. O posicionamento político, a crueldade praticada com animais. Uma indústria alimentícia desumana, visando o lucro a qualquer custo. 

A alimentação nunca foi um tema tão debatido.“Concordo”, diz Leonardo Brant, que na tarde de ontem atendeu a solicitação de entrevista para o Holofote Virtual. 

“Alimentação hoje é uma questão cultural, de saúde pública, de cidadania, de micro e macro economia. O modelo e a opção alimentar de uma pessoa é algo estruturante em sua vida, porque envolve sua cultura, sua identidade, suas crenças, consciência ambiental, tem repercussão na vida econômica, na saúde a curto, médio e longo prazos”, continua.

Produzido pela Deusdará Filmes, “Comer o quê?” teve desdobramentos como web série, mas chega agora ao público em formato de longa metragem.  O pré-lançamento de “Comer o que”, em Belém, é uma parceria entre o Instituto ATA, Instituto Paulo Martins e Centro de Empreendedorismo da Amazônia.

Para realizar o documentário, o diretor entrevistou vários chefs e pequenos produtores, indo para dentro de suas cozinhas e quintais. “Nossa ideia foi mostrar como cada um desses personagens se relacionam na vida cotidiana com a comida. E acabamos mostrando que uma opção alimentar é uma opção de vida”, diz o diretor. 

Alex Atala, Bela Gil, Helena Rizzo, Josimar Melo, Neka Menna Barreto, Marcos Palmeira, Marcio Atalla, Roberto Smeraldi, Fabiolla Duarte, Claudia Visoni, entre outros, conduzem o espectador por um passeio pela gastronomia nacional, apresentando melhor os hábitos alimentares dos brasileiros.

São chefs consagrados, produtores rurais, especialistas em nutrição, economia e gastronomia, que abordam temas como agronegócio, a comida como forma de sociabilidade, a incorporação de paisagens brasileiras à mesa, alimentos orgânicos, saúde e outros.

A noite conta com a presença de Bela Gil, que lança livro, e de Roberto Smeraldi, jornalista e diretor da OSCIP Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, além Leonardo Brant, que é também diretor de filmes como “À Distância”, “Prazeres & Pecados”, “Ctrl-V e da série “Os Criativos”. Codirigiu com Pedro Caldas “Luz na Crise” e “Tudo o que há no mundo”, além de “Ódio”, em parceria com José Sampaio, e “Encruzilhada”, com Lisiana Kieling.

Enfim, há muito o que conversar com Leonardo Brant, mas aqui, focamos no “Comer O Quê?”. “Estamos fazendo uma série de pré-lançamentos e capturando impressões que serão necessárias até o filme chegar, de fato, nas pessoas, pelos festivais, cinemas, televisão e meios digitais”, explica ele. Leia mais do nosso  papo vespertino, a seguir. 

Holofote Virtual: Acabei de ver alguns episódios da web série. Esteticamente, me parece que o documentário é como uma revista sobre saúde, pincelando um bocado de assuntos dentro do mesmo tema, nos enveredando pelo universo da gastronomia, do cultivo da terra, nos fazendo perceber questões relevantes da alimentação, também social e economicamente. Acho que tem vários assuntos ali, que realmente renderiam, por si só, um filme inteiro.

Leonardo Brant: Adorei sua definição. Não sei te dizer se isso é intencional. Acho que não. Mas não quero impor a minha visão sobre o filme. É uma obra aberta a diversas definições, gostos, interpretações. Acho que ela possibilita a abertura de muitos campos do conhecimento, muitas buscas. Mas antes de qualquer coisa, quis fazer algo despretensioso, trazer a questão para a simplicidade, para o cotidiano das pessoas. Se falar mais vou tentar definir ou tentar induzir uma leitura sobre a obra. 

Holofote Virtual: O interesse é amplo neste setor. Hoje em dia tem sempre alguém bem do seu lado falando sobre alternativas que fujam dos agrotóxicos, da lactose, do glúten, pessoas que dão exemplos de boa conduta alimentar... 

Leonardo Brant: Isso tudo não é uma questão apenas individual, pois tem impacto em toda a sociedade, pois envolve a relação desta sociedade com os recursos naturais, está intimamente ligada com a definição do modelo econômico, a estrutura social, política e cultural de todos. 

A gente vive sem carro, sem andar de avião e sem usar cosméticos, mas ninguém vive sem comer. E nunca paramos para pensar que a escolha do que comer é antes de tudo uma questão de cidadania, de uma vontade e uma consciência do indivíduo. É daí que vem a ideia do filme. 

Holofote Virtual: Você teve aprendizados que colocou em prática depois de dialogar com tanta gente especializada e que tem muito a dizer sobre o assunto?

Leonardo Brant: Eu já tinha uma consciência alimentar bem desenvolvida quando me envolvi com a produção. Já fiz, por exemplo, uma dieta higienista, que me privou por muito tempo de glúten, lácteos, alimentos transgênicos e com agrotóxicos, carnes, café, álcool, por exemplo. 

Esse processo traz muito auto conhecimento e sobretudo, uma consciência muito grande sobre o efeito de cada tipo de alimento sobre a sua saúde e bem estar. Mas aprendi muito com o filme. E continuo aprendendo, pois cada encontro para discuti-lo é um aprendizado. 

Holofote Virtual: O que dizer da gourmetização? Um mesmo prato, dependendo do lugar e de sua apresentação, pode variar muito de valor... Será que se alimentar bem, implica em ter um poder aquisitivo diferenciado?

Leonardo Brant: A indústria gastronômica é algo muito saudável, pois via de regra valoriza produtos locais, fortalece a cadeia produtiva e a cultura. Mas é claro que tem seus exageros. Isso é coisa do capitalismo, que alimenta e celebra os excessos e incentiva a gula. 

Holofote Virtual: Aqui você sabe temos um pé fincado na gastronomia. Expectativas para o encontro com o publico paraense?

Leonardo Brant:  Não há nada mais gratificante do que ver uma obra ganhar o mundo. As expectativas são traiçoeiras. Prefiro estar aberto para o que vier, ter humildade para aprender com cada momento que me é proporcionado. Receberei de peito aberto.

Holofote Virtual: Você está realizando um novo projeto, ou outros projetos no momento quais?

Leonardo Brant: Muitos projetos, mais do que eu daria conta. Estou fazendo uma outra parceria com a Graziela Mantoanelli, que fez a pesquisa e a produção executiva do COMER O QUÊ?. É um filme sobre amamentação, chamado De Peito Aberto

Acabamos de fazer uma campanha bem sucedida de financiamento coletivo e começamos a filmar há duas semanas. No final do ano fiz uma ópera-filme chamada Psiquê, que será lançada ainda no primeiro semestre de 2016 e estou trabalhando no desenvolvimento de outras propostas e projetos próprios que não estão maduros o suficiente para divulgar. 

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