Nesta segunda, a culinária é a protagonista da sessão do cinecluber Inovacine, às 18h30, no espaço Na Figueiredo. O curta “Açaí com Jabá”, dos paraenses Alan Rodrigues, Walério Duarte e Marcos Daibes abre a sessão, que terá em seguida, o longa “Estômago”, do diretor Marcos Jorge.
Açaí com Jabá é uma comédia baseada no costume do paraense de tomar açaí. Em cena, um paraense e um turista duelam para ver quem consegue tomar mais açaí acompanhado de jabá e farinha da “baguda”.
O filme foi premiado com edital para produção de curta-metragem do MinC, em 1999 e lançado em 2001, com 13 minutos de duração.
O longa metragem narra uma fábula nada infantil sobre o poder, o sexo e a culinária. Na vida há os que devoram e os que são devorados. Raimundo Nonato, o protagonista, descobre um caminho à parte: ele cozinha.
E é nas cozinhas de um boteco, de um restaurante italiano e de uma prisão - o que ele fez para acabar ali? - que Nonato vive sua intrigante história. Lá ele também aprende as regras da sociedade dos que devoram ou são devorados.
Regras que ele usa a seu favor, porque mesmo os cozinheiros têm direito a comer sua parte - e eles sabem, mais do que ninguém, qual é a parte melhor. Abaixo, entrevista concedida pelo diretor ao site do filme.
O que motivou você a produzir um filme tendo a comida como mediadora das dinâmicas sociais?
Marcos Jorge: Nada do que é humano me é estranho. E tudo o que é humano me interessa profundamente e interessa ao cinema que gosto e que quero fazer. E há algo mais humano do que a culinária? O homem é o único animal que cozinha. Isso já basta para justificar o meu tema em Estômago.
Você comentou que o roteirista Lusa Silvestre escreve contos sobre comida. Qual deles inspirou o filme? Marcos Jorge: Conheci o Lusa quase por acaso, enviando-lhe um e-mail circular convidando-o para a estréia em São Paulo de meu curta-metragem “Infinitamente Maio”. Ele não pode ir, mas desculpou-se enviando dois ou três contos seus para que eu lesse. Eram contos ainda inéditos, e um deles deu origem ao projeto Estômago. No ano passado os contos foram publicados em livro, num volume chamado “Pólvora, Gorgonzola e Alecrim”.
Por quê Estômago?
Marcos Jorge: O conto que deu origem ao filme é intitulado “Presos pelo Estômago” e conta a história de um cozinheiro na prisão. Eu li, gostei, e propus ao Lusa que a transformássemos em roteiro de filme.
Mas a história não era suficiente para alimentar um longa, então inventamos toda uma primeira parte, um antefato, que na realidade é a história do cozinheiro antes de ir para a prisão.
O título do conto não me entusiasmava, e o primeiro nome do projeto foi “Uma História Gastronômica”.
Mas o nome ainda não me convencia completamente, eu precisava de um título mais forte, que fosse compatível com as tonalidades da história que estávamos escrevendo. Aí surgiu Estômago, simplesmente.
Não foi de aceitação imediata, mas acabou prevalecendo. Estômago nos falava obviamente da digestão, mas também de todas as metáforas relacionadas ao órgão: soco no estômago, ter estômago para enfrentar uma situação, dor de estômago...
Numa rápida pesquisa me surpreendi que até agora, depois de mais de cem anos de história do cinema, ninguém tivesse tido a coragem de usar este nome como título de filme. Talvez pelas contra-indicações, que são muitas. Mas o título Estômago reflete bem a visceralidade da história e espero que funcione.
Qual a sua experiência com a gastronomia e como você avalia a importância da comensalidade para compreender fenômenos urbanos, evidenciado pelos hábitos alimentares?
Marcos Jorge: Eu adoro cozinhar. Aprendi a fazê-lo na Itália, onde vivi toda a década de 90. Lá a culinária é coisa séria e bastante difundida entre a população: praticamente não há italiano que não cozinhe. Lá aprendi a respeitar o momento das refeições como algo sacro, um momento de encontro privilegiado entre os comensais.
Do ponto de vista puramente artístico, acredito profundamente em procurar a verdade nos aspectos mais simples da existência humana, nos aspectos mais básicos, essenciais e ancestrais, entre os quais elenco entre os primeiros lugares a alimentação.
A partir desta constatação, fazer um filme sobre comida era quase uma necessidade para mim. O mercado editorial está investindo alto em literatura especializada de gastronomia, mas no cinema brasileiro este tema não era apresentado com destaque.
Estômago inaugura ou apresenta a relevância deste tema?
Marcos Jorge: Não posso dizer que Estômago inaugure algo, pois não tenho conhecimento de nenhum outro projeto cinematográfico em que a culinária apresente a relevância que tem em nosso filme.
Sempre vasculho documentários e curtas sobre o tema, pois é meu tema de interesse. E me desperta a curiosidade saber como a produção audiovisual encara a comida como matéria, já que em algumas áreas, por exemplo, o assunto sempre foi posto em segundo plano.
Qual a vantagem de trabalhar um tema trivial para falar de questões complexas?
Marcos Jorge: Antes de mais nada, não considero a comida como algo trivial. Compartilho a visão de meu personagem Giovanni, que considera a culinária como uma forma de arte. No fundo, aquilo que comemos nos influencia tanto quanto aquilo que lemos ou vemos.
Onde aconteceram as filmagens? E quanto tempo duraram?
Marcos Jorge: Estômago foi filmado em Curitiba e São Paulo, em 5 semanas. Os ensaios com os atores consumiram mais 4 semanas, obviamente antes das filmagens.
Detalhe importante, e que na minha opinião ajuda a explicar porque um tema tão importante como a comida foi um pouco relegado em segundo plano pelo cinema: filmar gente comendo é muito complicado.
Antes de mais nada, é preciso atentar para a continuidade, o que significa continuamente refazer os pratos dos atores. Consumimos uma quantidade enorme de comida em cena, durante as filmagens. Era necessário manter os pratos quentes e agradáveis para os atores, o que exigiu uma equipe dedicada exclusivamente para isso, composta de três pessoas. E um gasto considerável.
Na maior parte das cenas de Estômago as pessoas ou estão comendo ou estão cozinhando. Você comentou que o filme não é sobre alta gastronomia, mas sobre a alimentação do dia a dia. Que tipo de receitas são apresentadas no filme e como elas se comunicam com as questões dos personagens?
Marcos Jorge: O filme inicia com um monólogo do protagonista sobre a história do queijo gorgonzola. Pouco depois, vemos o protagonista aprendendo a fazer pastel. Aliás, as imagens desta preparação servem de suporte para os créditos iniciais do filme.
E a partir daí os pratos apresentados e descritos, no interior da história, são muitos: xinxim de galinha, macarrão alho e óleo, macarrão à putanesca, risoto à milanesa, peixe ao forno, carpaccio, leitão ao forno, e até uma farofa de formiga. Prato importante no contexto da história é uma sobremesa, Anita e Garibaldi, feita de gorgonzola e goiabada, prato que será o pivô da tragédia que se abate sobre o protagonista.
Como foram selecionadas as receitas? Quem preparou a comida? Podia citar algumas curiosidades das gravações?
Marcos Jorge: As receitas foram selecionadas por mim mesmo e pelo Lusa, à medida que escrevíamos o roteiro (um prato muito especial, que não descrevo aqui para manter a curiosidade, foi inventado pela Cláudia da Natividade, produtora executiva e co-roteirista).
Como disse antes, tínhamos uma equipe formada por três pessoas (dirigidas pela chef Cristiane Ribeiro) dedicadas exclusivamente ao preparo da comida de cena e contamos com a consultoria da chef Geraldine Miraglia para o comportamento das pessoas na cozinha.
Obviamente o ator João Miguel foi ajudado por um dublê de mãos, um cozinheiro profissional, nas cenas em que manipula a comida. Algumas cenas de preparação de comida foram rodadas mas acabaram sendo cortadas da versão final do filme pela absoluta falta de tempo, como por exemplo uma linda cena de preparação de uma carbonara e uma outra de língua.
Fonte: http://www.estomagoofilme.com.br/index.htm
Açaí com Jabá é uma comédia baseada no costume do paraense de tomar açaí. Em cena, um paraense e um turista duelam para ver quem consegue tomar mais açaí acompanhado de jabá e farinha da “baguda”.
O filme foi premiado com edital para produção de curta-metragem do MinC, em 1999 e lançado em 2001, com 13 minutos de duração.
O longa metragem narra uma fábula nada infantil sobre o poder, o sexo e a culinária. Na vida há os que devoram e os que são devorados. Raimundo Nonato, o protagonista, descobre um caminho à parte: ele cozinha.
E é nas cozinhas de um boteco, de um restaurante italiano e de uma prisão - o que ele fez para acabar ali? - que Nonato vive sua intrigante história. Lá ele também aprende as regras da sociedade dos que devoram ou são devorados.
Regras que ele usa a seu favor, porque mesmo os cozinheiros têm direito a comer sua parte - e eles sabem, mais do que ninguém, qual é a parte melhor. Abaixo, entrevista concedida pelo diretor ao site do filme.
O que motivou você a produzir um filme tendo a comida como mediadora das dinâmicas sociais?
Marcos Jorge: Nada do que é humano me é estranho. E tudo o que é humano me interessa profundamente e interessa ao cinema que gosto e que quero fazer. E há algo mais humano do que a culinária? O homem é o único animal que cozinha. Isso já basta para justificar o meu tema em Estômago.
Você comentou que o roteirista Lusa Silvestre escreve contos sobre comida. Qual deles inspirou o filme? Marcos Jorge: Conheci o Lusa quase por acaso, enviando-lhe um e-mail circular convidando-o para a estréia em São Paulo de meu curta-metragem “Infinitamente Maio”. Ele não pode ir, mas desculpou-se enviando dois ou três contos seus para que eu lesse. Eram contos ainda inéditos, e um deles deu origem ao projeto Estômago. No ano passado os contos foram publicados em livro, num volume chamado “Pólvora, Gorgonzola e Alecrim”.
Por quê Estômago?
Marcos Jorge: O conto que deu origem ao filme é intitulado “Presos pelo Estômago” e conta a história de um cozinheiro na prisão. Eu li, gostei, e propus ao Lusa que a transformássemos em roteiro de filme.
Mas a história não era suficiente para alimentar um longa, então inventamos toda uma primeira parte, um antefato, que na realidade é a história do cozinheiro antes de ir para a prisão.
O título do conto não me entusiasmava, e o primeiro nome do projeto foi “Uma História Gastronômica”.
Mas o nome ainda não me convencia completamente, eu precisava de um título mais forte, que fosse compatível com as tonalidades da história que estávamos escrevendo. Aí surgiu Estômago, simplesmente.
Não foi de aceitação imediata, mas acabou prevalecendo. Estômago nos falava obviamente da digestão, mas também de todas as metáforas relacionadas ao órgão: soco no estômago, ter estômago para enfrentar uma situação, dor de estômago...
Numa rápida pesquisa me surpreendi que até agora, depois de mais de cem anos de história do cinema, ninguém tivesse tido a coragem de usar este nome como título de filme. Talvez pelas contra-indicações, que são muitas. Mas o título Estômago reflete bem a visceralidade da história e espero que funcione.
Qual a sua experiência com a gastronomia e como você avalia a importância da comensalidade para compreender fenômenos urbanos, evidenciado pelos hábitos alimentares?
Marcos Jorge: Eu adoro cozinhar. Aprendi a fazê-lo na Itália, onde vivi toda a década de 90. Lá a culinária é coisa séria e bastante difundida entre a população: praticamente não há italiano que não cozinhe. Lá aprendi a respeitar o momento das refeições como algo sacro, um momento de encontro privilegiado entre os comensais.
Do ponto de vista puramente artístico, acredito profundamente em procurar a verdade nos aspectos mais simples da existência humana, nos aspectos mais básicos, essenciais e ancestrais, entre os quais elenco entre os primeiros lugares a alimentação.
A partir desta constatação, fazer um filme sobre comida era quase uma necessidade para mim. O mercado editorial está investindo alto em literatura especializada de gastronomia, mas no cinema brasileiro este tema não era apresentado com destaque.
Estômago inaugura ou apresenta a relevância deste tema?
Marcos Jorge: Não posso dizer que Estômago inaugure algo, pois não tenho conhecimento de nenhum outro projeto cinematográfico em que a culinária apresente a relevância que tem em nosso filme.
Sempre vasculho documentários e curtas sobre o tema, pois é meu tema de interesse. E me desperta a curiosidade saber como a produção audiovisual encara a comida como matéria, já que em algumas áreas, por exemplo, o assunto sempre foi posto em segundo plano.
Qual a vantagem de trabalhar um tema trivial para falar de questões complexas?
Marcos Jorge: Antes de mais nada, não considero a comida como algo trivial. Compartilho a visão de meu personagem Giovanni, que considera a culinária como uma forma de arte. No fundo, aquilo que comemos nos influencia tanto quanto aquilo que lemos ou vemos.
Onde aconteceram as filmagens? E quanto tempo duraram?
Marcos Jorge: Estômago foi filmado em Curitiba e São Paulo, em 5 semanas. Os ensaios com os atores consumiram mais 4 semanas, obviamente antes das filmagens.
Detalhe importante, e que na minha opinião ajuda a explicar porque um tema tão importante como a comida foi um pouco relegado em segundo plano pelo cinema: filmar gente comendo é muito complicado.
Antes de mais nada, é preciso atentar para a continuidade, o que significa continuamente refazer os pratos dos atores. Consumimos uma quantidade enorme de comida em cena, durante as filmagens. Era necessário manter os pratos quentes e agradáveis para os atores, o que exigiu uma equipe dedicada exclusivamente para isso, composta de três pessoas. E um gasto considerável.
Na maior parte das cenas de Estômago as pessoas ou estão comendo ou estão cozinhando. Você comentou que o filme não é sobre alta gastronomia, mas sobre a alimentação do dia a dia. Que tipo de receitas são apresentadas no filme e como elas se comunicam com as questões dos personagens?
Marcos Jorge: O filme inicia com um monólogo do protagonista sobre a história do queijo gorgonzola. Pouco depois, vemos o protagonista aprendendo a fazer pastel. Aliás, as imagens desta preparação servem de suporte para os créditos iniciais do filme.
E a partir daí os pratos apresentados e descritos, no interior da história, são muitos: xinxim de galinha, macarrão alho e óleo, macarrão à putanesca, risoto à milanesa, peixe ao forno, carpaccio, leitão ao forno, e até uma farofa de formiga. Prato importante no contexto da história é uma sobremesa, Anita e Garibaldi, feita de gorgonzola e goiabada, prato que será o pivô da tragédia que se abate sobre o protagonista.
Como foram selecionadas as receitas? Quem preparou a comida? Podia citar algumas curiosidades das gravações?
Marcos Jorge: As receitas foram selecionadas por mim mesmo e pelo Lusa, à medida que escrevíamos o roteiro (um prato muito especial, que não descrevo aqui para manter a curiosidade, foi inventado pela Cláudia da Natividade, produtora executiva e co-roteirista).
Como disse antes, tínhamos uma equipe formada por três pessoas (dirigidas pela chef Cristiane Ribeiro) dedicadas exclusivamente ao preparo da comida de cena e contamos com a consultoria da chef Geraldine Miraglia para o comportamento das pessoas na cozinha.
Obviamente o ator João Miguel foi ajudado por um dublê de mãos, um cozinheiro profissional, nas cenas em que manipula a comida. Algumas cenas de preparação de comida foram rodadas mas acabaram sendo cortadas da versão final do filme pela absoluta falta de tempo, como por exemplo uma linda cena de preparação de uma carbonara e uma outra de língua.
Fonte: http://www.estomagoofilme.com.br/index.htm
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