25.4.15

“Kiuá Nangetu!”, ode artística à afro-religiosidade

Os mesmos  Jinkisi (orixás) que guiam as tradições de matriz africana podem servir de inspiração para o fazer artístico. Com esta possibilidade em mãos, artistas do terreiro Mansu Nangetu realizam um projeto inovador em Belém, o “Kiuá Nangetu! Poéticas de Resistência Negra”, que desde o início de março vem realizando intervenções na capital paraense, a fim de aproximar a sociedade à força estética pouco visibilizada que a cosmologia afro-religiosa emana. 

As atividades se estendem até final de março, com performances e rodas de conversa.  O Holofote Virtual em parceria com o núcleo de comunicação do projeto, a partir de hoje, passa a publicar uma série de matérias sobre as atividades e intervenções que estão preenchendo a cidade  com a força da poética negra.

Por Luiza Cabral

Contemplado pela 3ª edição do Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras, o projeto se utiliza da arte como dispositivo de reflexão sobre o preconceito contra as religiões de matriz africana.  Oito artistas associados ao terreiro de candomblé Mansu Nangetu participam das ações do “Kiuá”. Em suas obras, eles apresentam como resultado uma ação vivencial e interventiva, ocupando espaços diversos da cidade. O grupo também convidou artistas de outros terreiros para participarem das ações.

“O ‘Kiuá’ vem para celebrar dez anos de atuação do Instituto Nangetu, que é uma organização dentro do terreiro que tem como finalidade realizar atividades de afirmação da identidade de matriz africana, preservada nos territórios tradicionais negros na Amazônia. Nesta década de existência, criamos projetos como a WebTv Azuelar, o cineclube Nangetu e outras atividades relacionadas à comunicação. 

Nossos artistas participam desde a primeira  exposição ‘Nós de Aruanda’, de artistas de terreiro, que em maio realiza a sua terceira edição. Esse histórico de ações que mesclam linguagens, todas sempre muito próximas das artes, nos fizeram propor um projeto especial para dar visibilidade à produção poética que vem sendo realizada dentro do terreiro”, conta Arthur Leandro, coordenador do projeto.

A primeira ação do “Kiuá Nangetu!” ocorreu em Mosqueiro. Na beira da Praia de São Francisco, a artista Isabela do Lago realizou a intervenção “Mikaia te espera na Kalunga”, em que saudou Mikaia (Iemanjá), com uma pintura lançada às águas. Logo depois, foi a vez do artista Carlos Vera Cruz propor uma vivência gastronômica na feira do Ver-O-Peso. 

Mametu Nangetu, em “Fundamento”, foi à Avenida Duque de Caxias replantar o bosque que ela tinha cultivado desde 1988, árvores que foram derrubadas pela Prefeitura de Belém. 

“É muito triste quando você planta algo e as pessoas tiram depois. Este trabalho diz sobre nossa perda de território, algo que o povo de terreiro entende muito bem o que é”, explica Mametu. Tatá Kinamboji (Arthur Lenadro), Tatá Kafungeji (Rodrigo Ethnos) e Tatá Kafunlumizo (Angelo Imbiriba) também já realizaram suas ações.

“As artes visuais é um campo muito restrito do mundo das artes, normalmente protagonizado por camadas mais abastadas da sociedade, feito pela e para a elite. Então, é um espaço importante de confrontamento, também queremos o ‘negrume’ amazônida representado ali”, justifica Arthur Leandro.

Nego Banjo e Tatá Kitauanje (Delleam Cardoso) realizam suas intervenções ainda no mês de maio, e aínda terá uma intervenção midiática coletiva com a rádio Azuelar na UFPA na manhã do sábado, dia 16 de maio. As atividades encerram com a realização de uma roda de conversa com todos os artistas participantes do projeto, marcada para o dia 28 de maio, no Instituto Nangetu.

Programação
  • Conversa de griôt - estórias cantadas com Nego Banjo, vivência de Nego Banjo. Icoaraci, 9 de maio de 2015 - a partir das 9h.
  • Morada de mamãe,, intervenção de Táta Kitauanje (Delleam Cardoso). Orla do Portal da Amazônia. 10 de maio de 2015 - a partir das 7h.
  • Faladô! intervenção midiática, Rádio Azuelar, Mametu Nangetu, Ogã Jayro Pereira, Mãe Nalva, Mametu Muagilê. Campus do Guamá - UFPA. sábado, 16 de maio de 2015 - a partir das 9h no Campus do Guamá, área do profissional da UFPA (próximo ao bloco Gp.
  • Roda de conversa com os artistas, lançamento do catálogo e projeção com os registros dos trabalhos. Na quinta-feira, 28 de maio de 2015. 18h 
Anote
Instituto Nangetu, Tv. Pirajá, 1194 – Belém/PA. Para mais informações, acesse o blog kiuanangetu.blogspot.com.br e a página: http://migre.me/pBwjm. Apoio na divulgação: blog Holofote Virtual.

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