23.12.15

Rock and roll autoral fervendo na noite de Belém

Nem sexta, nem sábado, o dia do rock and roll na capital paraense é a quarta-feira, isso mesmo, bem no meio da semana. O que poderia ser somente uma ousadia, deu certo. A "Quarta Autoral" já recebeu 20 bandas no Old School Rock Bar, atraindo um ótimo público, interessado em ouvir coisas novas e trocar boas ideias sobre música. Começa às 20h, terminando tudo no inicio da madrugada. Nesta quarta-feira natalina (23) tem Delinquentes, que divide a noite com a The Last Machine. DNA e Mitra, em clima de réveillon, farão a festa em 30 de dezembro. Dá pra curtir a música, bater um papo, encontar os amigos e ainda ir dormir cedo, se você quiser. O ingresso custa R$ 10,00. Fica na R. Antônio Barreto, 196, com a Wandenkolk. 

A iniciativa traz outros ares pra cena, preenche uma lacuna na noite de Belém. Soma com outros projetos e contribui para o acesso a diversidade da música paraense, abrindo espaço para o rock and roll. Liège e Dharma Burns, duas novidades desta cena, apresentaram seus trabalhos na semana passada, no mesmo espaço em que bandas mais antigas e veteranas também tocaram, ou ainda vão tocar.

A ideia partiu de Augusto Oliveira, baterista, e Nathalia Petta, jornalista e cantora, que resolveram prestar solidariedade a uma felina ferida, encontrada na rua, muito machucada, precisando de cuidados, inclusive uma cirurgia, para sobreviver a um acidente. 

Assim surgiram os "Save The Cat", shows que foram produzidos para arrecadar os recursos necessários ao tratamento de “Frida”. Augusto Oliveira, que toca em muitos projetos, convidou suas bandas para realizar esses shows. Depois disso, foi achar um lugar que recebesse os shows.  Artur Bestene, sócio proprietário do Old School, também engajado em causas de animais, comprou a ideia. 

Os shows foram um sucesso, a gatinha ficou boa, e o esforço pra realizar as apresentações beneficentes, se transformou em vontade de fazer rock autoral ferver novamente na vida noturna de Belém. Desde que surgiu em outubro deste ano, a “Quarta Autoral” já recebeu também a “Enfim Nós”, “Lucas Guimarães”, “Zeromou”, “Bling For Giant”, “Lívia Mendes”, “Maraú”, “Dois Na Janela”, “Navalha”, “Reef O’ Sines”, “Groove”, “Bravos”, “Thunerjonez”, “Blocked Bones”, “Ana Clara”, “Turbo”, “Cais Virado” e  “Álibe de Orfeu”.

“Percebemos ali que havia um público muito interessado em ouvir música autoral e em conhecer novidades”, explica Nathalia Petta. Assim, a “Quarta Autoral” ganhou fôlego e já promete ter seus horizontes ampliados em 2016. “Só pensamos em não deixar a cena desaquecer”, complementa.

Jayme Katarro e a Delinquentes
A ideia se fortaleceu com o apoio de vários outros músicos e amigos, como Claudio Fly, baixista do Navalha, Raphael Guimarães, vocalista do Cheese, Lívia Mendes, cantora, Raul Bentes, jornalista, Filipe Alencar e Blocked Bones, que ajudam emprestando equipamentos, divulgando, enfim, apostando firme. 

“Esse projeto é lindão, tem dado certo e cada vez mais pessoas, no meio da semana, estão indo ver suas bandas preferidas, levando seu próprio som. E agora, dando um passo além, levando pela 1° vez o estilo punk hardcore para o aconchegante bar. Esse show encerra nossas comemorações dos 30 anos, que começou ainda em novembro”, diz Jayme Katarro, fundador e vocalista da Delinquentes.

Entre o entusiasmo pelo momento e os novos projetos para 2016, ele avisa que o clima desta quarta é de comemoração e que vão estar disponibilizadas pra venda, camisas novas, palhetas e baquetas personalizadas da Delinquentes, além de uma coletânea em CD com o "The Best" de tudo que já foi gravado pela banda.

“Em 2016, nossa meta principal é lançar um CD Full (cheio) e viajar, fora os shows pela cidade. Já temos dois confirmados para janeiro, na abertura do Violator e nas comemorações dos 400 Anos de Belém, que será no bairro de Terra Firme”, avisa Katarro.

Bandas interessadas em se apresentar ano que vem na Quarta Autoral devem enviar material para o e-mail quartaautoral@gmail.com. Ou entrar em contato, por telefone, com Augusto e Nathalia (91 98383.9999 e 91 98519.5407). Os dois bateram um papo com o blog para falar dessa conquista que só promete se afirmar em 2016.

Nathalia Petta e Augusto Oliveira
Holofote Virtual: A “Quarta Autoral” vem se tornando um ponto de encontro para quem curte música, e bem no meio da semana. Vai continuar em 2016?

Nathalia Petta: Vamos com certeza dar continuidade ao projeto com apoio da casa, mantendo os shows nas quartas mas estamos providenciando algo maior, que é um projeto que visa circular com essas bandas por outros bares da cidade. Já temos propostas e queremos firmar novas parcerias. 

Augusto Oliveira: Nosso objetivo é continuar dando visibilidade tanto para as bandas que estão começando como para as que já tem um público porque assim a gente desconstrói essa ideia de que banda autoral só toca em festivais ou cenas independentes. 

O que a gente percebe é que, além das bandas,  o público também ganha porque tem a oportunidade de conhecer coisas novas e o que rola na cena local. Temos percebido que o público que comparece ao evento não é somente quem conhece as bandas, pessoas que frequentam o bar acabam ficando e gostando das novidades que estão ouvindo. Muitas vezes esse público não vai aos festivais que essas bandas tocam. 

Holofote Virtual: Pensam em buscar outros espaços para essa música autoral, quem sabe em outros dias da semana, complementando a quarta-feira?

Nathalia Petta: Certamente, e estamos lutando por isso, quase como uma causa. O projeto está ganhando forma, se estruturando e queremos levá-lo para mais espaços. Em 2016 vamos certamente ver música autoral tocando em mais espaços. A quarta autoral segue essa linha mais rock e pop porque é um conceito da casa e era do projeto inicialmente, até porque o rock ainda enfrenta muitas barreiras para chegar até o público mais abrangente, digamos assim. 

Com o projeto tiramos, tanto as bandas, quanto o público, dessa segregação que diz que só se ouve rock em alguns lugares, ele pode sim estar em diversos espaços. A proposta do projeto é também buscar outros dias da semana em outras casas e variar os gêneros, afinal música é sempre música e a cena precisa de apoiar e se ajudar independente de padrões ou estilos. 

Cais Virado
Holofote Virtual: Pelo que já rolou na “Quarta Autoral”, como vocês percebem o cenário rock autoral em Belém? 

Augusto Oliveira: O rock está mais forte do que nunca. Acho que a cena está muito poderosa e crescendo como nunca se viu, com muitas bandas novas surgindo com: Blind For Giant e Zeromou, que até já fizeram shows fora do estado, a Blocked Bones e Sokera, que já lançaram seus discos, assim como os vanguardistas da Delinquentes, que tem 30 anos de estrada e acabara de lançar dois singles. A galera tem feito a cena acontecer e de forma independente, lutando para fazer seu trabalho da melhor forma e isso estimula com que mais gente possa produzir.

Holofote Virtual: Artistas e bandas de vários estilos começam a projetar melhor seus trabalhos fora daqui, inclusive o rock. Sammliz (ex-Madame Saatan), que estava na plateia da Quarta Autoral da semana passada, está pra lançar seu primeiro disco solo e promete fazer um barulho bom ai na cena nacional. Isso sempre pareceu tarefa impossível pro rock... 

Augusto Oliveria: Isso é bom para a música, para cidade, e para cultura como um todo. Tirar nossos trabalhos daqui e mostrá-los para outros lugares é importante porque faz parte de um momento novo. Anos atrás a música paraense não tinha tanta visibilidade como hoje e, tendo a internet como aliada, fica mais fácil produzir conteúdo, vídeos, músicas, o que ajuda a fazer com que esse trabalho chegue a um público diferente. 

Enfim Nós
Nathalia Petta: O momento é fantástico e é preciso cada vez mais, que os próprios artistas entendam que não vai funcionar se cada um fizer apenas por si. É justamente essa força coletiva, prestigiar o outro, conhecer o que o outro produz e ajudar nessa divulgação é que faz a diferença e ajuda a cena a se fortalecer.

Na quarta autoral a gente tem esse lema: não venha apenas no dia que você vai tocar, venha sempre, compareça pra conhecer outros projetos e fortalecer a música paraense. 

Holofote Virtual: Quais os outros planos autorais pra 2016? 

Nathalia Petta: Saí do jornal (Diário do Pará), ao mesmo tempo em que fui convidada para cantar em uma banda cover, de pop rock e de samba rock, que é onde atualmente estou desenferrujando, mas tenho mil composições minhas que eram parte apenas do meu universo e que agora vou fazer funcionar e vou transformar em um trabalho autoral. Já estou trabalhando nisso e em 2016 pretendo já soltar algumas músicas. Quem tem me ajudado nesse sonho é o Augusto que entende muito de música e me dá forças para avançar.

Augusto Oliveria:  Em 2016 pretendo continuar circulando com as bandas que participo como Molho Negro, que tem projetos legais por vir; Navalha, que vai futuramente preparar um disco e conquistar o mundo (risos), além de também crescer com projetos como Cheese, Livia Mendes e  Dois na Janela. 

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