23.4.18

Instalação leva Chikaoka de volta a Montevideo

Fotos de registro da instalação: Miguel Chikaoka
A experiência de “Águas Enlazadas” realizada no evento Jornadas 10 (Fotografia y Educacion), do Centro de Fotografia de Montevideo (cdF), em 2014, será o tema central do Laboratório de Reflexão, no qual o fotógrafo vai tratar de questões que permearam o desenvolvimento do projeto.

O trabalho apaixonado de Miguel Chikaoka pela fotografia e seus desdobramentos na prática e ensino, poética visual e sensorial, compartilhamentos e pesquisa, será um dos focos centrais nesta semana, em Montevideo. Além do Laboratório de Reflexão Chikaoka também vai ministrar no cdF, uma oficina e participar de palestras e mesas. As malas já estão prontas e ele parte nesta terça-feira, 24, pela manhã, mas antes conversou com o Holofote Virtual.

Miguel já tinha estado outras vezes no Uruguai para ministrar oficinas e outras atividades a convite do Centro de Fotografia de Montevideo, quando recebeu, em 2014, um convite desafiador de Daniel Sosa, diretor do cdF, que lhe pedia a criação de um projeto exclusivamente para apresentar na Jornadas 10 (Fotografia y Educacion). O convite foi feito e aceito em maio, meses antes da abertura que seria em novembro.

A partir de algumas trocas de e-mail, diversas reuniões via Skype, e com base nas experiências e ações de projetos já desenvolvidos como Olhos d’Água - 2004-5 (Colares-Belém-Yvry-Sur-Seine/Paris) e H2Olhos 2008-9 (SP), o fotógrafo deu início ao processo que resultou na instalação Águas Emendadas (Aguas Enlazadas).

Miguel conta que para construir o projeto, à distância, tomou como base a planta baixa do andar onde se daria a instalação e assim chegar ao que seria e foi a instalação. Foram necessários vários ajustes, com uma frente ampla de trabalho  e ações simultâneas em Belém e no Uruguai. “O processo envolveu uma pá de gente”. No final, ele havia formado 250 participantes entre instrutores e educadores, via skype. “Viajei a Montevideo quinze dias antes para finalizar o processo e montar a cena”, comenta. 

E o que se processou após 2014 a partir dessa experiência foi aproximação e uma abertura para outras ações e projetos de intercâmbio. 

"Dado o interesse e o contexto onde estarei falando do projeto: um laboratório de reflexão, a expectativa é de desdobramentos já que o tema e a abordagem não se encerram no que se produziu. Vai ser muito bom re-encontrar os colegas sem os quais não teria alcançado êxito na empreitada”, diz. “Já estamos em diálogo para um novo projeto que envolve ações simultâneas em Montevideo, Buenos Aires e Belém”, adianta ele em entrevista ao blog, enquanto arruma as malas para viajar nesta terça-feira pela manhã.

“Águas Emendadas” partiu de uma ideia de correnteza, fenômeno hidrográfico que se refere às águas que partem de um mesmo ponto e fluem para lados oposto. Miguel focou as que nascem no bioma do cerrado, na região central do continente, formando a Bacia do Tocantins-Araguaia e a Bacia Platina. Na liquidez da água, entrelaçou-se o afeto, a cultura compartilhada na Sul América. Miguel trabalhou dois países, duas cidades (Belém-Montevidéu), permitindo que as linhas demarcadoras se diluíssem no líquido.

Na instalação, o olho d’água foi simbolizado por um recipiente utilizado pelos ribeirinhos para coleta de água, produzido a partir da fruta da cuieira, e queserviu de base para criação da obra “Loading....”, um dispositivo que funciona como uma câmera obscura.

Os dois painéis fotográficos foram constituídos de fotos-pixel (unidades de informação), em que cada pixel representava em si, uma imagem, o associando “a um lugar-identidade de um autor”, de acordo com Chikaoka.  Em tons de cinzas, pequenas fotografias, criadas por diferentes autores, formaram os dois grandes painéis, um desdobramento de outras duas obras: o “Urublues” e  “Urublues Raiték”.

A primeira obra realizada em 2004 no Memorial dos Povos, em Belém do Pará (BR), trazia a imagem do Ver-o-Peso; e a segunda apresentada em 2009 no SESC Pompéia, em São Paulo (Br), a imagem de um urubu, ave símbolo da paisagem do complexo do Ver-o-Peso, e que era formada por milhares de fotos-pixel retiradas da paisagem paulistana. 

Para além do Laboratório, Miguel Chikaoka leva na bagagem o desejo de compartilhar tanto as experiências inovadoras no campo da formação quanto às indagações que surgem dessas experiências. 

“Tenho um grande interesse em trocar ideias e debater sobre as possibilidades de abordagens dos processos que se produzem a partir da natureza dos elementos vitais. É fundamental apreendermos, por  experiência própria, seja na esfera cientifica, das artes e da espiritualidade, por que os elementos  luz(fogo), o ar, a terra e a água são considerados vitais”, finaliza.

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