Fotos: Cacá Bernardes |
A Velha Senhora chega a Belém na próxima semana para uma temporada de 4 a 6 de maio, no Teatro do SESI. Os ingressos já estão à venda na bilheteria digital e no própri teatro (veja detalhes no serviço desta matéria). No elenco com 13 atores, estão Denise Fraga e Tuca Andrada, que em circulação com a peça pelo país, acabaram de se apresentar em BH e falaram ao jornalista Walter Félix do site uai.com.br.
A visita da velha senhora, peça escrita pelo suíço Friedrich Dürrenmatt em 1956, sobreviveu ao tempo abordando sentimentos universais e atemporais. Levado para o atual contexto político e social brasileiro, é como se o texto tivesse acabado de ser concebido.
A tragicomédia clássica faz parte de uma trilogia de adaptações da atriz Denise Fraga, centradas no contraponto entre os valores éticos e o poder do dinheiro. Seus últimos trabalhos nos palcos foram A alma boa de Setsuan e Galileu Galilei, textos do alemão Bertolt Brecht com abordagens semelhantes, mas muito diferentes de A visita em seus desenvolvimentos. A atriz entende que Brecht desconstrói as ilusões humanas propondo possíveis transformações, ao passo que Dürrenmatt traz uma visão não tão otimista no destino de seus personagens.
“O Dürrenmatt expõe, em um de seus ensaios, que não existem culpados ou inocentes, somos todos pecados e vítimas nesse ‘manicômio labiríntico’ – como o autor define a forma de vida louca que o ser humano inventou”, observa a atriz. “Para ele, essa abordagem no palco só é possível com a comédia. O humor, afinal, traz a possibilidade de reflexão ao mesmo tempo em que diverte. As pessoas vão ao teatro à procura de um momento de lazer, mas saem transformadas de alguma maneira”, afirma ela.
Denise Fraga interpreta Claire Zachanassian, uma bilionária com sede de vingança que retorna a Güllen anos após ser expulsa da cidade. Ao encontrar a população na miséria, ela oferece uma grande quantia em dinheiro a quem se dispuser a matar Alfred Krank (Tuca Andrada), o homem por quem foi apaixonada e que a abandonou grávida no passado.
“Quando Claire faz essa proposta louca à cidade, todos, a princípio, se negam. Mas ela diz: ‘Eu posso esperar’. A partir daí, Dürrenmatt cria uma obra-prima de dramaturgia, com uma sucessão de cenas hilárias sobre as reações daquelas pessoas na iminência de receber o bilhão que ela oferece”, diz Denise.
A trama desencadeia uma série de questionamentos sobre a flexibilidade dos valores humanos diante da necessidade de sobrevivência ou da pura ganância. “Citando Brecht, ‘que ética resiste à fome’? Até onde a gente se vende para poder comprar? Nós somos tentados, todos os dias, a sair de quem somos e ter atitudes contrárias aos nossos princípios. O texto trata dessa letargia e propõe como essa omissão possa virar ação”, analisa.
Com mais de 30 anos de carreira, Denise Fraga leva as reflexões da peça para a sua vida. “Parece que a regra é nunca deixar de ganhar mais, mesmo que você esteja feliz no lugar que ocupa. Escolhi ganhar menos, fazendo o teatro em que eu acredito. O dinheiro é importante, claro, mas ele não pode determinar a minha vida.”
Tema atemporal da peça e o Brasil de hoje
A atemporalidade do texto de Dürrenmatt surpreende os atores de A visita da velha senhora. Algumas passagens, em especial, soam como referências diretas ao noticiário político e social brasileiro. “Há quatro anos eu já queria montar a peça e, com tudo o que aconteceu nesse meio-tempo, além de atemporal ela foi ficando assustadoramente propícia. Em algumas ocasiões, nos ensaios, as falas pareciam ‘cacos’ adicionados ao texto, porque tinham tudo a ver com as manchetes, de tão perfeita e justa que é a parábola da peça”, observa a atriz.
Tuca Andrada atribui parte do sucesso da montagem ao diálogo da história com assuntos contemporâneos. “Que justiça é essa que se adapta às conveniências da sociedade? Até onde você é capaz de ir para sobreviver? Qual é o seu limite ético?” Questionamentos como esses, apontados pelo ator, caem como uma luva nesta época assolada pela crise institucional brasileira.
“O texto dialoga com qualquer parte do mundo, mas parece que foi escrito especialmente para o Brasil de hoje. Além de justiça, aborda ética, empoderamento feminino, linchamento popular, entre outros assuntos tão latentes”, cita.
Os atores entendem que parte da riqueza do texto está na complexidade de cada personagem. Apesar de ter atitudes controversas e, por vezes, hediondas, todos são movidos por sentimentos comuns a todos nós e não se encaixam em uma dicotomia entre o bem e o mal.
“Não há vilões na história, todos foram levados pelas circunstâncias. O que Alfred fez foi terrível, mas a solidão que ele encontra nos momentos finais, sem qualquer escuta para sua defesa, revela um personagem totalmente humano”, analisa Tuca Andrada.
“Dürrenmatt é muito pessimista, ao contrário de Brecht. Para ele, a humanidade não deu certo. Meu personagem não se redime do que fez no passado, mas entende que não há fuga possível, a não ser refletir e aceitar que foi ele quem construiu toda aquela história. Ele reúne todas as características de um personagem trágico: arma o seu próprio destino, tenta fugir dele, mas percebe que não há outra saída senão aceitá-lo”, descreve o ator.
Denise Fraga destaca o auxílio do diretor Luiz Villaça (com quem é casada), para a composição de sua Claire. “Dürrenmatt escreveu que nada atrapalharia mais essa tragédia do que não ser levada como uma comédia. Ao mesmo tempo em que tem um quê de vilã, Claire é um emblema do poder econômico e, debochada, se diverte manipulando a cidade. Seria muito fácil fazer uma malvada, mas ela é safa, tem savoir-faire”, diz Denise.
Clássico já influenciou obras no cinema e na TV
A trajetória artística de Friedrich Dürrenmatt é marcada pelo humor sarcástico e por romances policiais. A Visita da Velha Senhora se tornou um clássico, servindo como base para o argumento de diversas obras para cinema e TV.
Tuca enxerga no passado do dramaturgo como escritor de radionovelas de suspense a razão de sua desenvoltura para construir uma peça nos mesmos moldes. “É fantástica a capacidade desse texto de envolver o espectador. Boa parte do público já sabe como é o final da história e, mesmo assim, a tensão se mantém até o fim”, aponta o ator.
“Antes de tudo, a peça tem uma história ótima. O folhetim e os clichês não existem por acaso. Logo no fim do primeiro ato, vejo a plateia abrir a boca, literalmente, tamanho o grau de surpresa”, conta Denise. Além de interpretar a protagonista, ela participou da adaptação do texto original, ao lado de Maristela Chelala e da tradutora Christine Röhrig.
“Não fizemos nenhuma grande alteração, só alguns cortes, porque a peça era longa e tinha 20 atores. Reduzimos para 13, unindo alguns personagens em um só, porque seria inviável fazer a montagem com um elenco tão grande”, diz Denise, que afirma ter conseguido reunir o elenco de seus sonhos.
Figurino - O estilista mineiro Ronaldo Fraga assina o figurino de A visita da velha senhora. “A peça tem esse ponto altíssimo que é o figurino. Adoro o trabalho dele e sempre disse que nós precisávamos trabalhar juntos. Muito mais que estilista, o Ronaldo é um artista e um pensador. Ele dá show, como sempre”, elogia Denise Fraga.
Ficha Técnica:
Autor: Friedrich Dürrenmatt
Stage rights: Diogenes Verlag AG Zürich
Tradução: Christine Röhrig
Adaptação: Christine Röhrig, Denise Fraga e Maristela Chelala
Direção Geral: Luiz Villaça
Direção de Produção: José Maria
Elenco: Denise Fraga, Tuca Andrada, Fábio Herford, Romis Ferreira, Eduardo Estrela,
Maristela Chelala, Renato Caldas, Beto Matos, David Taiyu, Luiz Ramalho, Fernando Neves,
Fábio Nassar e Rafael Faustino
Direção de Arte: Ronaldo Fraga
Direção Musical: Dimi Kireeff
Trilha Sonora Original: Dimi Kireeff e Rafael Faustino
Desenho de Luz: Nadja Naira
Produção Executiva: Marita Prado
Preparação Corporal e Coreografias: Keila Bueno
Direção Vocal: Lucia Gayotto
Preparação Vocal: Andrea Drigo
Visagismo: Simone Batata
Assistente de Direção: André Dib
Assistente de Produção: Musical Nara Guimarães
Engenheiro de Mixagem: Fernando Gressler
Camareira: Cristiane Ferreira
Assistente de Iluminação e Operador de Luz: Robson Lima
Operador de Som: Janice Rodrigues
Cenotécnicos: Jeferson Batista de Santana, Edmilson Ferreira da Silva
Assessoria Financeira: Cristiane Souza
Fotografia: Cacá Bernardes
Making Off: Pedro Villaça e Flávio Torres
Redes Sociais: Nino Villaça
Programação visual: Gustavo Xella
Assessoria de Imprensa Belém: Luciana Medeiros/Holofote Virtual
Projeto realizado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Produção Original: SESI São Paulo
Patrocínio Exclusivo: Bradesco
Realização: NIA Teatro, Ministério da Cultura e Governo Federal
Serviço
A Visita da Velha Senhora - Belém
Dias 04, 05 e 06 de maio
Sexta e sábado, às 20h30; Domingo, às 19h
Teatro do SESI
Av. Almirante Barroso, nº 2540, Marco.
Classificação: 14 anos
Duração: 120 min
Gênero: Comédia Trágica
Ingressos:
R$ 70,00 (inteira) / R$ 35,00 (meia)
R$ 50,00 (inteira) / R$ 25,00 (meia)
Bilheteria: (91) 3366-0971/0972
Seg a Sex: 9h às 18h / Sáb: de 9h às 13h
Domingo a partir das 9h quando houver atração
Vendas também pela Bilheteria Digital
Informações para Imprensa:
Luciana Medeiros: 91 98134.7719/lume.com@gmail.com
(Reportagem de Walter Félix publicada no dia 24 de abril, no site UAI, de BH - https://www.uai.com.br/app/noticia/teatro/2018/04/24/noticias-teatro,226035/denise-fraga-estreia-em-bh-com-a-peca-a-visita-da-velha-senhora.shtml)
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