19.9.24

Turismo verde e perspectivas para a Amazônia

A semana de Belém está pontuada por um debate urgente, o turismo sustentável, cultural e economicamente viável para a região, em especial, Belém, a capital que se prepara para se firmar como um destino global que une modernidade, cultura ribeirinha e o compromisso com a sustentabilidade. 

Antes mesmo da reunião do G-20, que começou nesta quinta-feira (19), no Hangar, foi realizado, nesta quarta-feira, 18, na CasaMIa, o encontro “Conectando Culturas e Natureza: Iniciativas de Turismo Sustentável entre a União Europeia e o Brasil”, organizado pela Delegação da União Europeia no Brasil, com apoio da prefeitura de Belém e do Ministério do Turismo.

O evento reuniu, nesta quarta-feira (1), na Casa Mia, especialistas, autoridades e gestores para debater sobre o futuro do turismo sustentável, com destaque para o potencial amazônico. Na abertura, Stephanie Horel, oficial de programa da Delegação da União Europeia, trouxe à tona a experiência europeia no desenvolvimento de práticas turísticas sustentáveis. 

Ela destacou a crescente resistência de algumas comunidades europeias ao turismo predatório, além de mencionar desafios relacionados à qualificação da mão de obra e à digitalização das operações turísticas. “Na Amazônia, viajei para algumas localidades e fiquei impressionada com o uso de Wi-Fi. Podíamos fazer pagamentos por Pix, o que demonstra um grande avanço na digitalização, mesmo em áreas remotas.”

O encontro contou também com a participação de estudantes, profissionais do setor, e gestores públicos brasileiros, como Ana Carla Machado Lopes, secretária-executiva do Ministério do Turismo. Paraense de origem, Ana Carla destacou a importância de ações integradas para transformar o estado em um destino turístico sustentável. 

E o evento deixou claro que, para alcançar esse objetivo, é essencial promover uma cadeia produtiva transversal no turismo, que inclua desde o visitante que chega de avião até o ribeirinho que utiliza o tradicional barco “popopô” para se locomover, mas com uma ressalva, como observou Ana Carla Machado Lopes, secretária-executiva do Ministério do Turismo. 

Ela reforçou a necessidade de colaboração entre governo, empresas e comunidades locais para que o turismo na Amazônia se torne um exemplo de sustentabilidade para o mundo. “Queremos visitantes do Pará, do Brasil e do mundo, mas, como diz a música do Mosaico de Ravena, que venham um de cada vez. Afinal, não queremos nossos jacarés tropeçando em vocês, ou seja, que venham todos mas com respeito à diversidade local e para isso é importante que todos nós também estejamos preparados e  unidos em boas práticas".

A secretária de Turismo de Belém, Julia Gorayeb, também enfatizou a necessidade de preparar a cidade para eventos locais, nacionais e internacionais: “Estamos trabalhando não só para a COP, mas para transformar Belém do Pará em um destino turístico inteligente, que cause impacto positivo para os visitantes e para quem mora aqui", disse, destacando que o progresso das obras de infraestrutura para o turismo na cidade, vai melhorar a vida dos moradores, além de motivar estudantes e profissionais a investirem na carreira turística.

Riquezas Amazônicas e turismo cultural


As boas práticas de ecoturismo e conservação da natureza foi o tema abordado por Luiz Fernando Destro, diretor de turismo da República Tcheca, contando com a participação de especialistas que trouxeram estudos de caso. Silvia Cruz, turismóloga e professora da UFPA, destacou iniciativas de turismo comunitário nas ilhas de Combu e Cotijuba, ressaltando como essas comunidades utilizam a sociobiodiversidade para promover experiências autênticas.

Inês Silveira, presidente da Fundação Cultural de Belém (FUNBEL), falou sobre a importância de recuperar o patrimônio cultural local, apresentando um panorama das ações desenvolvidas pela prefeitura nessa área. Ela destacou, também, diversas iniciativas da sociedade civil realizadas durante o Círio de Nazaré e como isso impacta a cidade com muita antecedência. 

“O Círio atrai um turismo religioso, mas também um turismo cultural, que passa por ações como o Auto do Círio, a Festa da Chiquita e o Arrastão do Círio, do Arraial do Pavulagem. E nós, enquanto poder público, estamos juntos, apoiando e organizando a cidade para que todos tenham uma boa experiência.”

Izete Costa, mais conhecida como Dona Nena, relatou suas experiências com o turismo de base comunitária, a partir da fabricação de chocolate na Ilha do Combu. Hoje, duas cooperativas estão envolvidas na travessia de visitantes locais e turistas entre Belém e Combu, a partir da Praça Princesa Isabel, no bairro da Condor.

Desafios e oportunidades 

Além das práticas locais, o evento trouxe a perspectiva europeia sobre a sustentabilidade no turismo. Marlene Bartes, diretora de Políticas da Comissão Europeia, reforçou a importância de tornar o turismo mais verde, digital e resiliente até 2030, com foco nas três dimensões da sustentabilidade: ambiental, econômica e social. “Precisamos garantir que o turismo beneficie não apenas uma parte de um país, mas ele como um todo, então as boas práticas são fundamentais.”

Entre as iniciativas mencionadas, a Comissão Europeia propôs o uso de um mapa completo para ajudar as empresas de turismo a aderirem a práticas sustentáveis e informou sobre selos de certificação para acomodações e serviços que cumpram os critérios de ESG (ambiental, social e governança). Esses critérios são usados por investidores, empresas e outras partes interessadas para medir a sustentabilidade e o impacto ético de uma empresa:

Ambiental: Refere-se ao impacto que a empresa tem sobre o meio ambiente, incluindo práticas como gerenciamento de resíduos, uso de recursos naturais, emissões de carbono e esforços para mitigar as mudanças climáticas.

Social: Relaciona-se ao impacto da empresa nas pessoas e na sociedade, como as condições de trabalho, direitos humanos, diversidade e inclusão, e seu relacionamento com as comunidades locais.

Governança: Envolve a gestão e administração da empresa, incluindo questões como ética nos negócios, transparência, responsabilidade dos executivos e estrutura do conselho administrativo.

O futuro do turismo amazônico

O evento desta quarta-feira, reafirmou o papel estratégico de Belém no desenvolvimento do turismo na Amazônia, não apenas como uma porta de entrada para a floresta, mas como um polo cultural e gastronômico. 

“A gente está aqui para trabalhar, pensar a fazer uma proposta pra turismo mais sustentável, que conta com a biodiversidade que protege a biodiversidade, mas também que seja socialmente sustentável, integrando as comunidades, integramos o cidadão das cidades onde esse turismo vai acontecer e aqui em Belém”, disse Horel.

Ela, inclusive, segue em Belém para participar da Reunião do G20, que ocorre de hoje (19) a sábado (21), no Hangar, trazendo como um dos principais temas a ser debatido, o turismo sustentável, cujas propostas aprovadas serão levadas à Cúpula de Líderes do G20, marcada para novembro no Rio de Janeiro.

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