27.3.17

Ver-o-Peso um holofote de nossa Belém do Pará

Fotos: Irene Almeida
Patrimônio histórico nacional, o Ver-o-Peso, completa hoje 390. O blog aqui é pura homenagem a este lugar, que já foi e continua sendo cenário de filmes, inspiração para poetas, compositores, pesquisadores, artistas visuais, ele foi também a inspiração para a criação deste blog. A imagem que lhe dá a cara é a gravura que traz um recorte da mais importante feira à céu a aberto da América Latina. Adoro o lugar e fotografo sempre que estou ou passo por lá.

Em 2008, eu estava tramando o Holofote Virtual. E precisava lhe dar uma cara, não tinha ideia que imagem usar, não estava procurando uma logo ou uma marca, eu queria uma imagem que pudesse traduzir a sua essência. Naquele momento eu também estava realizando um trabalho para a Museu de Arte Contemporânea Casa das Onze Janelas, que estava desenvolvendo um projeto sobre a Gravura no Pará e precisava fazer um documentário institucional, trazendo entrevista com alguns gravuristas que fossem referência no Pará.  

Um deles era Armando Sobral, que em sua entrevista me entregou um CD com diversas gravuras fotografadas por ele, durante as oficinas de gravuras, que ele coordenava na Fundação Curro Velho, no final dos anos 1990. Eu as usaria, algumas delas, para ilustrar seu depoimento no vídeo. Ao vasculhar o CD me deparei com esta imagem que finalmente poderia ilustrar meu blog. Estava ali só me esperando. Quando a vi, foi paixão, e solicitei ao Armando para utilizá-la, mas no entanto, ele não sabia dizer de quem era a autoria, para que eu pudesse então pedir a autorização.  

A gravura, o achado, a imagem do blog
Procurei muito pelo autor, pois não havia nenhuma assinatura ou menção no CD. De tanto perguntar por ai, em 2009, a autora me ligou. Por coincidência era dia do aniversário do ‘Veropa’, hahaha. Socorro me disse que soube que a estava procurando, e que ficou muito feliz em ver sua gravura no blog, mas que não queria créditos, que não era artista. Ãh? 

E eu já pensando em fazer uma matéria com ela (risos). Insisti enviando e-mails, ligando de volta. Nada. Tomara que ela leia isso aqui. Acho a imagem do blog incrível e extremamente significativa. Gratidão. Parabéns, Ver-o-Peso do meu cantar, como diz, e muito bem, a canção!

Não foi à toa a escolha desta imagem. Além de bela, representaria bem os objetivos com que criei o blog. O Ver-o-Peso, para mim, é uma síntese da cultura paraense, é o nosso holofote de luz própria. Ali estão nossos cheiros, cores, frutos, gastronomia, modo de falar, a mistura de sotaques do Pará. É porto, é lugar de encontro. Está tudo lá, com trilhas sonoras das mais peculiares até as mais surpreendentes. O barulhinho das embarcações se misturam à guitarradas, carimbós, tecnobregas, tudo se confunde ali, inclusive em domingos de jogo do Remo e Paysandu, quando suas torcidas reverberam na beira do rio.

Um pouco de nossa história ribeirinha

Peixe, carne, açaí, produtos hortifrutigranjeiros, entre milhares de outras coisas que você possa imaginar. O maior entreposto comercial da Amazônia é um lugar em que se vende praticamente de tudo. Foi criado com objetivos fiscais, o “lugar de ver o peso”, devido à sua situação estratégica no porto, ms acabou se tornando um grande centro de comercialização de alimentos, que chegam pelo rio.

Além de abastecerem a própria feira, também são distribuídos em outros locais e supermercados, para a comercialização. O pescado chega ainda de madrugada de Cametá, Abaetetuba, Marajó. Há 202 setores em que se vende farinha, ervas, peixes salgados, mudas, lanches. É uma economia familiar que gera mais de cinco mil empregos diretos ou indiretos.

Fundado em 1627, ao longo dos anos, foi se transformando também em complexo turístico tradicional de Belém, com quase 30 mil metros quadrados, testemunhas de uma história que se confunde com a origem da capital paraense. No Ciclo da Borracha, entre o final do século XIX e começo do século XX, a cidade teve grande importância comercial, principalmente para o cenário internacional. 

Edital sobre VEROPEZO, do Senado 
da Câmara, Lisboa, 22.12.1823.
Foi neste período  que a cidade passou por mudanças urbanísticas importantes, ganhando as edificações do o Palácio Lauro Sodré, o Teatro da Paz, o Palácio Antônio Lemos e do Mercado Ver-o-Peso. 

A construção do Mercado de Ferro, como inicialmente era conhecido o Mercado Ver-o-Peso, foi autorizada pela lei municipal nº 173, de 30 de dezembro de 1897, e sua edificação, com o projeto de Henrique La Rocque, teve início no ano de 1899. Toda a estrutura de ferro do Mercado foi trazida da Europa seguindo a tendência francesa de art nouveau da belle époque.

Na década de 1990, o Ver-o-Peso  passou por uma reforma que o configurou como está hoje, sendo que depois de tantos anos e a falta de uma manutenção regular, tem trazido transtornos constantes, principalmente aos que vivem da feira.  O Ver-o-Peso é um grande centro econômico popular dentro da cidade. 

Ano passado, um projeto de modernização apresentado pela prefeitura foi barrado pelo IPHAN, por não estar adequado às normas técnicas patrimoniais. O projeto também não agradou muito a população e nem mesmo aos feirantes que acabaram sendo consultados em cima da hora. Havia, de acordo com noticias veiculadas na época, um recurso de mais de 14 milhões, via PACH, para o projeto ser desenvolvido. Nada foi feito depois da recusa do IPHAN. Não se fala mais nisso e o Veropa segue sua assim, o seu destino. 

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