Parceria entre a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Fundação Nacional de Artes (Funarte), o Territórios da Arte está mapeando ações culturais para elaboração de uma cartografia da arte e da cultura popular nas diversas regiões do país, contribuindo para maior entendimento do campo cultural e artístico nacional. Belém é uma das capitais que o recebe, de 16 a 19 de agosto, no ICA - Instituto de Artes da UFPA e em Icoaraci. Inscrições on line, pelo link do projeto.
A partir de uma dinâmica de encontros e seminário, o Territórios das Artes está reunindo reflexões, discussões, trocas e capacitações entre artistas, coletivos de arte e grupos de tradição cultural – quer urbanos, de periferia ou zona rural. O objetivo é fortalecer identidades, ativar vozes e protagonismos; e, criar processos colaborativos que resultem no incremento das expressões artístico-culturais e dos vínculos sociais do território.
Cinco capitais, uma em cada região, foram contempladas por essa iniciativa. O encontro já foi realizado em Cuiabá (Centro-Oeste), em maio. Na próxima semana chega a Florianópolis (Sul), de 02 a 04, e vem até Belém (Norte), de 16 a 19 de agosto. Depois ainda segue para Recife (Nordeste), onde fica de 13 a 15 de setembro, e encerra no Rio de Janeiro (Sudeste), de 28 a 30 de setembro.
Para chegar às histórias e relatos, projetos e ações culturais de cada encontro, foi realizado um trabalho de campo, com prospecção de artistas, fazedores de cultura, produtores culturais, pesquisadores de arte, grupos e coletivos artísticos atuantes e representativos da cultura de cada região.
Guelman, em Icoaraci - junho de 2017 |
"Nossos critérios principais para a escolha dos participantes foram a representatividade e a qualidade dos trabalhos e experiências implementados por artistas, grupos ou coletivos artísticos, além de procurarmos refletir a diversidade local, com bons exemplos dos segmentos artísticos mais consagrados e também de práticas artísticas culturais populares, urbanas, rurais e de periferia", explica Leonardo Guelman, Superintendente do Centro de Artes da UFF e gestor do projeto.
No início de junho, em Belém, ele realizou duas rodas de conversa com artistas e fazedores de cultura, gestores de espaços culturais. Formado em Arquitetura e Urbanismo pela UFF, mestrado em Filosofia pela UERJ e doutorado em Literatura Comparada pela UFF, onde coordenou o curso de graduação em Produção Cultural (1997-2000) e foi Diretor do Centro de Artes (2001-2006).
Em sua trajetória, está a curadoria do Teatro Raul Cortez (2007-2008) e a idealização e coordenação do Projeto Rio com Gentileza, que promoveu duas ações de restauração (em 2000 e em 2010) da obra mural do Profeta Gentileza no Rio de Janeiro.
O professor, escritor e pesquisador em arte e cultura, atualmente, Diretor do Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF, em entrevista ao blog, falou do surgimento do projeto, contextualizou os eixos dos debates que serão desenvolvidos nas rodas de conversa, e o impacto desse mapeamento nos campos da cultura e política. Entre os dias 16 e 19 de agosto ele estará novamente em Belém.
Em sua trajetória, está a curadoria do Teatro Raul Cortez (2007-2008) e a idealização e coordenação do Projeto Rio com Gentileza, que promoveu duas ações de restauração (em 2000 e em 2010) da obra mural do Profeta Gentileza no Rio de Janeiro.
O professor, escritor e pesquisador em arte e cultura, atualmente, Diretor do Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF, em entrevista ao blog, falou do surgimento do projeto, contextualizou os eixos dos debates que serão desenvolvidos nas rodas de conversa, e o impacto desse mapeamento nos campos da cultura e política. Entre os dias 16 e 19 de agosto ele estará novamente em Belém.
Holofote Virtual: O que norteou a concepção do projeto Territórios da Arte?
Leonardo Guelman: Foi o pensar na arte fora da caixinha da arte, dessa caixinha tradicional da arte, pensada oficialmente, e às vezes um pouco dentro dos repertórios dos meios de expressão - você é de teatro, você é de cinema, você é de artes visuais. É um caminho que eu já venho tratando desde o projeto chamado Territórios Criativos, também pensado fora da caixinha da economia criativa tradicional. Queríamos pensar em sujeitos, atores e a gente vem falando em formas granulares, singularizadas, das subjetividades, dos sujeitos e dos grupos, dos pequenos grupos, que muitas vezes estão fora da economia, sem opção.
Então, o Territórios da Arte vem dessa experiência com o Territórios Criativos, que nós fizemos em 2015 e 2016 (projeto da Universidade Federal Fluminense - UFF - e da Secretária de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, em parceria com a Universidade Federal do Cariri - UFCA), e de um percurso anterior, que vem do Curso de Produção Cultural, na UFF também.
Então, o Territórios da Arte vem dessa experiência com o Territórios Criativos, que nós fizemos em 2015 e 2016 (projeto da Universidade Federal Fluminense - UFF - e da Secretária de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, em parceria com a Universidade Federal do Cariri - UFCA), e de um percurso anterior, que vem do Curso de Produção Cultural, na UFF também.
O Territórios da Arte não tem um acabamento, um fechamento. Ele é uma convocação para que a gente possa estar conversando, desdobrando essas questões e de alguma forma, é uma preparação para um circuito de encontros e conversas, que geram um desejo, uma vontade de produzir, de estar junto.
Às vezes eu acho que a cultura é um pretexto para juntar pessoas e acho que é um pouco isso que o Território das Artes busca, procurando reconhecer essas diferentes forças, essas diferentes formas de amalgamar. O amálgama dessa função poderosa que a cultura tem, o Jorge Mautner fala muito isso da arte como amálgama, a cultura como amalgama, e acho que é um pouco isso...
Roda de conversa no Casarão do Boneco, em junho deste ano |
Holofote Virtual: Como Belém entrou neste mapeamento?
Leonardo Guelman: Fizemos uma prospecção muito rápida, mas muito intensa. Belém vai ser um dos passos fundamentais neste processo.
Essa escolha se deu junto com a Funarte também, sem dúvida pelo protagonismo de Belém, nessa cabeceira da Região Norte e da Amazônia. Fiz a prospecção em junho, com apoio da Elis de Miranda, que foi uma pessoa fundamental nessa aproximação, nesse reconhecimento desses atores, desse campo de forças, onde você também se encontra e tem um protagonismo.
Holofote Virtual: Quais os temas que surgem dos coletivos artísticos neste mapeamento?
Leonardo Guelman: Os coletivos trazem várias questões. Autonomia, auto gestão, cooperação. E, ao mesmo tempo, a ideia da autoria, do autor, o dono da obra, o artista que é levado a estar sozinho ali produzindo. Todos são produtores e coletivos, estão em um processo de sinergia. Essa categoria tem muito ainda o que se desdobrar e vai expandir muito. E ainda tem a ver com momento politico que estamos passando.
Qual o lugar da arte e da cultura, que lugar pode ter nestes questionamentos, e nestas reivindicações, afirmações, enfim todo esse jogo da cultura ? Aí em Belém, isso me pareceu muito vivo, dentro dos contextos e contradições que todo território tem, mas que aí, isso está sendo ativado, muito acionado e isso é interessante pra gente.
Na Casa do Artista, durante a prospecção em Belém |
Holofote Virtual: Outro eixo importante do debate são os Direitos Culturais. Você poderia contextualizar?
Leonardo Guelman: Aqui estamos falando em liberdade de expressão, apropriação do espaço público, culturas afirmativas, questões de identidades, identidade de gênero, raça, questões raciais, mas não do ponto de vista biológico, e sim do acionamento identitário.
Estamos falando do movimento negro e o cruzamento do gênero e etnicidade, do protagonismo das mulheres negras, das expressões trans, em suas mais diversas nuances. Estamos falando da arte e da cultura interessadas, em narrativas de território, em vetores de mudança e emancipação, como processos sempre continuados.
A questão dos direitos culturais, ela perpassa tudo. É o horizonte da cultura, visto não apenas como direitos autorais de quem detém os direitos culturais, ou o acesso à cultura, no sentido de consumo. É um horizonte mais amplo, que passa pela criação, pela perspectiva de empoderamentos de várias ordens, de auto expressão, construção de conhecimento, participação e construção de conhecimento, na expressão e na leitura do mundo.
Leonardo, com artistas de Icoaraci |
Holofote Virtual: A questão da memória é mais um eixo. Qual o fator de importância dela na percepção de mundo e ações no campo da cultura?
Leonardo Guelman: Vamos tratar a questão da memória, vista não como algo deixado lá atrás, como um resíduo que insiste em permanecer, ou a tradição num sentido tradicionalista, de modo algum, mas pensando a tradição sempre atualizada, como linguagem viva, com um pé atrás e um pé à frente. Um passo. A tradição é esse passo, não é residual, ela está viva e ela é reativada nos processos cognitivos e identitários, nas formas de pertencimento.
Estar inserido num circuito de tradição é participar de uma compreensão de mundo, interpretação de mundo, mas é necessário reaplicar a tradição num determinado contexto, faixa etária, comunidade. Um jovem não vive a tradição, como seu pai e seu avô.
Então a importância da memória se coloca exatamente aí, não como um aporte tradicionalista, mas de poder manter um código de linguagem, poder dar condições de pertencimento e de leitura de mundo, que se faz a partir da nossa inserção nos lugares. E aí entra essa combinação dos Guardiãs da Memória, que também estamos trazendo numa perspectiva dentro do patrimônio imaterial, narrativas de pessoas e acervos.
Foto do projeto com o Profeta Gentileza |
Holofote Virtual: O que se espera com os resultados do projeto?
Leonardo Guelman: Esta experiência com a Funarte é muito interessante porque a Funarte está reconhecendo esta importância de pensar neste contexto para além da arte, das expressões em si, pensar a arte na convergência com território, com as culturas. Acredito que há um caminho aí, uma possibilidade de trabalho, no mesmo momento em que a dimensão política da arte, da cultura, está em cheque.
Outro vetor importante é a retomada de uma dimensão ética. Acho que tem uma dimensão ética e étnica, territórios da arte, pensar a etnicidade e pensar a ética. Retomar um pouco esse paradigma, ética da estética, perceber que a arte tem um campo de inserção um tanto mais amplo aí.
O Ministério da Cultura já vinha plantando essa coisa de pensar a arte como cidadania, pensar a arte além dos meios de expressão, a questão da diversidade, dos processos inclusivos, do Mais Cultura, ou seja, pensar a cultura para aquelas pessoas que, de alguma forma, estavam fora dos processos culturais tradicionais, acho que esse é o nosso desafio social de atores articulados.
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