Na região Norte, muitos talentos surgem na cena independente enfrentando inúmeras dificuldades, as mulheres em especial, são atravessadas por adversidades como: desemprego, baixos salários, desigualdade de gênero, (no caso das mulheres negras e transexuais) acrescenta-se racismo e transfobia, entre tantas outras amarras patriarcais que ferem a autoestima e demarcam os espaços na sociedade.
Não à toa, o projeto é direcionado a mulheres cis e trans com idades entre 16 e 28 anos que a partir de aparelhos celulares possam produzir uma obra em formato digital e concorrer ao prêmio em dinheiro no valor de R$300,00. A artista responsável pelo evento é Laiane Guedes, cientista social pela Universidade Federal do Pará, professora, percussionista e escritora. Ainda na universidade no ano de 2013 começou a produzir eventos culturais, em 2015 fundou junto de outras mulheres o Movimento Ferminista Mulheres do Fim do Mundo, o movimento reunia música regional, batuque e poesia no combate à violência contra a mulher.
No ano de 2018 mergulhou profundo na literatura, em 2019 publicou o primeiro conto "fuga" pelo projeto Alfredo's-UFPA, no ano de 2020, publicou mais dois contos em formatos digitais, escreve regularmente em sua página do Medium, está entre as autoras da antologia “Tramas das Águas” e é uma das coordenadoras do clube de escritoras paraenses.
“Minha trajetória como artista, escritora, percussionista, bisexual, amazônida e professora de sociologia é marcada pelo combate ao machismo e toda forma de opressão contra as mulheres, pela busca de todos os direitos a nós concedidos e que ainda nos são negados. Assim, em todas as minhas ações coletivas e individuais prezo pela inclusão de mulheres e outras minorias”, conta ela em entrevista ao blog.
Ações culturais de empoderamento e afetos
Desde o ano de 2015, Laiane participa de ações coletivas que elevam o empoderamento feminino, provocando discussões em torno das políticas públicas para as mulheres através da música e da escrita. A exemplo disso, ela conta que já foram realizadas ações no Centro de Recuperação Feminina de Ananindeua (CRF), intervenções na delegacia da mulher, intervenção pelo fim do massacre da juventude negra no bairro do Guamá, oficinas de percussão na ocupação Mestre 70, também no Guamá, além de diversas oficinas de percussão em escolas públicas de Ananindeua e Belém.“Além das ações coletivas, apresentei-me no centenário do Mestre Verequete - Pedreira, Museu de Arte Sacra, Estação Cultura, ocupação do Ministério da Cultura, entre outros eventos. Sempre vi em Belém uma pluralidade na cena, nunca pensei ou percebi que havia somente homens nos holofotes, há sim mulheres engajadas, trabalhadoras e que conquistam seus lugares”, continua.
A artista aponta que “assim como em outras áreas, as mulheres são minorias ou são menos valorizadas, quando há espaço para a elevação de seus trabalhos estes geralmente são concedidos por homens, os principais eventos são construídos por homens, se nós tocamos, demora mais tempo para sermos reconhecidas por nosso talento, demoram a acreditar que uma mulher possa tocar bem um tambor, uma guitarra, um sax etc, assim como leva mais tempo para uma mulher lançar um livro, uma poesia, uma publicação, entre outros, demora bem mais para uma fotógrafa ter o mesmo público que um fotógrafo, são fatos que comprovamos em conversas com as nossas, se somos periféricas todas essas questões se aprofundam e ganham outras nuances”, revela.
Foram todas essas questões que levaram Laiane a escrever essa Mostra Cultural voltada ao público feminino. “Para que mulheres jovens saibam que as suas criações têm valor e que os espaços para nós podem ser criados por nós mesmas”, diz. Os trabalhos recebidos passarão por curadoria realizada pela equipe do projeto, o resultado da seleção será divulgado nas redes sociais do projeto, através de postagens e lives para apresentar a obra e a artista, bem como, nas redes de todas as envolvidas.
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