12.9.13

"Mater Dolores – Desvãos da Memória" na periferia

Jeferson Cecim e a caixa Lambe Lambe (foto do blog)
O projeto do artista e bonequeiro Jeferson Cecim, inicia nesta sexta-feira, 13, em praça pública, no coração da Terra Firme. A proposta depois é percorrer outros bairros e ilhas do entorno de Belém, levando o Teatro de Miniaturas, como também é conhecido, a públicos mais distantes do circuito cultural do centro da cidade. 

A primeira parada de Mater Dolores – Desvãos da Memória será na praça Olavo Bilac - onde fica a Igreja Matriz São Domingos Gusmão -, a partir das 17h. Depois ele realiza uma mini oficina na Casa de Cultura do bairro.

Quando se fala em Lambe Lambe logo nos remetemos aos antigos fotógrafos que costumavam capturar retratos do público em praças públicas, nas décadas de 1940 a 1960. Inspirado nisso, o teatro lambe lambe se utiliza da linguagem de formas animadas e dentro de uma caixa preta ocupa um espaço cênico mínimo, formado por um palco em miniatura, onde bonecos de dimensões reduzidas são apresentados. Geralmente curtas, as cenas são vistas por um furo na parte frontal da caixa, se transformando em momentos de deleite, um mergulho na magia encenada bem a frente de seus olhos. 

Música, luz e movimentos delicados caracterizam o projeto Mater Dolores, que propõe investigar, com base na linguagem do teatro de caixa ou teatro lambe-lambe, as imagens da velhice poeticamente representadas nos contos Mater Dolorosa, da escritora paraense Maria Lúcia Medeiros (In: Velas por quem? - 1991) e A rede, dona Bibi, do também escritor paraense Haroldo Maranhão (In: Feias, quase cabeludas, 2005), dois nomes de extrema relevância para a literatura paraense. 

Em uma composição farta em descrições do cenário e dos movimentos de uma anciã em sua casa, os narradores, cada um a seu modo, (des)tecem memórias que instauram um tempo incerto, povoado de figuras, de objetos, de vozes. 

Universos da terceira idade (foto do blog)
Circulação e oficinas  - Prêmio Funarte Artes na rua (circo, dança, teatro) 2012, o projeto prevê, além das apresentações abertas, mini oficinas ministrada por Jeferson Cecim. 

De 23 a 27 de setembro será realizada a primeira, na Casa de Cultura da Terra Firme. Aberta à comunidade, as inscrições podem ser feitas no local – Rua São Domingos, Passagem São Sebastião, 140, próximo a UFRA. A circulação do projeto chegará sempre a rua, em espaços de livre circulação, como praças ou espaços da terceira idade situados também nos bairros da Marambaia, Jurunas, os distritos de Icoaraci e Ilha de Outeiro, no vilarejo de Nazaré de Mocajuba, a cidade de São Francisco do Pará, Igarapé-açu, Colares e ainda em Soure, na Ilha do Marajó, onde se encerrará . 

A ideia é proporcionar ações culturais nos bairros periféricos de Belém e localidades distantes da capital. “É uma forma de promover o acesso a produtos culturais de artistas paraenses por uma faixa da população que está, em geral, à margem do que se produz nas artes no estado do Pará”, diz Jeferson Cecim. 

O projeto também permite ao artista, dialogar com novos espectadores, não só através das apresentações teatrais, mas também pela viabilização de oficinas de teatro de animação (confecção, manipulação de bonecos). “Para mim abrem novas possibilidades de iniciativas construídas em processos colaborativos com os artistas de cada região, fortalecendo e fomentando a linguagem do teatro de formas animadas”, explica Cecim. 

Para aprofundar o projeto Jeferson pesquisou a população idosa mundial, que tem se ampliado, também em sua expectativa de vida. “Este projeto, é um modo de contribuir para que o idoso entre também no circuito das manifestações artísticas e culturais brasileiras, assim como ganhe mais respeito dos mais jovens. 

Dona Bibi, foto de André Mardock
Periferia quer acesso e apoio à cultura 

A mini oficina que será realizada na Casa de Cultura da Terra Firme está sendo aguardada com entusiasmo, segundo o diretor Edmar Souza. Trabalhando com pessoas de todas as idades, principalmente jovens e crianças, a entidade é uma das iniciativas no bairro que através do voluntariado e engajamento da comunidade, trabalha mais diretamente em prol da cultura.

Um dos mais populosos bairros de Belém, a Terra Firme possui diversidade cultural abrangente. Além da tradicional Paixão de Cristo, na Semana Santa, é lá que fica a sede do Coletivo Casa Preta, que trabalha a cultura afro na Amazônia, e se realizam as manifestações do boi Marronzinho e o Boi da Terra, que integram a forte tradição de bois bumbás da cidade. 

“Vai ser muito interessante ter esta oficina aqui, pois a Terra Firme é um bairro carente de acesso à cultura. Nossa diversidade é grande e tem reconhecimento público, o que nos falta é apoio e políticas públicas que garantam o desenvolvimento e a sobrevivência dessas atividades. Fazemos tudo sem apoio de governos. Tudo é feito por esforços da própria comunidade”, comenta Edmar Souza, que também cita nome de alguns artistas atuantes no fazer artístico da cidade, saídos do movimento cultrual e que saíram do bairro.

“Tem o José Arnaud, que trabalha com Clown e teatro de Formas Animadas (Rádio Margarida), tem a Cleice Maciel, que é do grupo Palhaços Trovadores, e a Adriane Queiroz, cantora de renome internacional, atualmente trabalhando na ópera de Berlim. Ela saiu do movimento de teatro daqui do bairro”, enfatiza Edmar. 

Alguns anos atrás, o grupo de teatro Ribalda participou do elenco do curta metragem do jornalista Jorge Vidal. Intitulado “Matinta Perera”, que faz alusão ao tráfico de drogas, uma das realidades vividas pelos jovens do bairro. O filme ganhou diversos prêmios em festivais de audiovisual, como o Festival Guarnice, de São Luís do Maranhão. 

“Precisamos que olhem para cá, pois através da cultura podemos modificar. O índice de criminalidade tem aumentado e não é só com policiamento que se muda isso”, diz o diretor. “Por isso também apoiamos o Movimento Chega, que pede a democratização da produção e mais acesso á cultura. Veja só, a nossa praça pública é um pequeno triângulo, enquanto a maior, onde vai ser apresentado o espetáculo do Jeferson Cecim, pertence à igreja”, conclui.

Ficha Técnica
Concepção: Jeferson Cecim
Assistente de atelier e  bonecos  Dona Bibi e Ma lucia : Aline Chavez
Bonecos: jeferson cecim
Desenhos: Igor Felipe
Adereços  :  Nívea Brito
figurino (costumização) e estandarte: Ione Cecim e Ana Santos
Desenho de som: Leo Bitar
Voz : Astréa Lucena
Designer gráfico: Alexandre Sequeira
Dramaturgia: David Matos, Jeferson Cecim, Sandoval Nonato Gomes Santos

Produção: Usina de Animação

Serviço
A minioficina na Terra Firme será de 23 a 27 de setembro, na Casa de Cultura da Terra Firme – Rua São Domingos, Passagem São Sebastião, 140, próximo a UFRA. Aberta à comunidade, as inscrições estão abertas e podem ser feitas no local. Mais informações: 91 8235 0932 / 8863 2607 Para saber mais sobre o projeto ou buscar parceria para a realização das oficinas, envie e-mail para jeferson.cecim@gmail.com ou ligue (91) 82333368.

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