22.11.18

Do Isca de Polícia ao feminino em Chico Buarque

Virgínia Rosa (Fotos: João Caldas)
Bisneta de índia e filha de mineiros, Virgínia Rosa nasceu e cresceu em São Paulo – mais exatamente no bairro da Casa Verde Alta, zona norte de São Paulo.  Começou a cantar na década de 1980 como vocalista da banda Isca de Polícia, de Itamar Assumpção e seguiu carreira musical, lançando CDs e realizando inúmeros shows pelo país, mas aqui em Belém será a sua primeira vez. 

Virgínia Rosa integra o elenco do espetáculo “Palavra de Mulher”, que será apresentado no Teatro do Sesi, nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, às 21h, e no dia 2 de dezembro, às 19h. No palco, junto com ela, mais duas atrizes e cantoras, Lucinha Lins e Tania Alves.  Há dez anos circulando o país, esta é a primeira vez que o público do Nordeste e Norte tem a oportunidade de vê-lo. 

“É um show de música teatralizado, como nós dizemos, no qual interpretarmos as canções que o Chico Buarque compôs especialmente para personagens femininos. Vão surgindo diversos tipos de mulheres, através dos sentimentos, da postura. Há uma dinâmica muito interessante”, conta Virgínia Rosa.

O espetáculo tem emocionado o público por onde passa. Mais de 50 cidades, um público de mais de 200 mil pessoas. Abre com o instrumental de "Ópera do Malandro". Neste momento, as atrizes, uma a uma vão entrando num ambiente que reproduz a luz baixa e avermelhada de um cabaré, com objetos de cena e alguma mobília. Os músicos, no palco, tocam ao vivo. Ogair Júnior, maestro, arranjador e diretor musical, Ramon Montagner, na bateria, e Roberto Carvalho, no contrabaixo completam o clima necessário. O público aplaude. A direção é de Fernando Cardoso.

As três cantoras atrizes em cena
A partir daí, o repertório envereda por “À Flor da Pele”, “Teresinha”, “Meu namorado”, “Palavra de Mulher”, “Bem-Querer”, “O meu Amor”, “Folhetim”, “Atrás da Porta”, “Tango de Nancy”, “Tatuagem”, entre outras. Quem nunca se viu revirada do avesso nas canções de Chico Buarque, que soube compreender e interpretar a alma feminina, traduzi-la de forma poética, quase lírica e musicalmente provocante. 

Ao mesmo tempo, revisitar o universo feminino a partir de suas canções e emoções, num momento em a mulher está no centro do debate político do país, também é oportunidade para refletir, mas a atriz ressalta que para além de tudo, o espetáculo encanta, porque faz cantar, rir e chorar. 

“Acho que, muito mais do que levantar uma bandeira sobre as questões feministas, a grande essência desse espetáculo é a alma feminina que o Chico escreve tão bem, com toda sua complexidade, as emoções, os sentimentos, ou seja, como a mulher se posiciona diante da vida, de como ela exercita seus sentimentos, através ou diante das perdas, das frustrações, desencontros, desafetos, injustiças sociais”, diz. 

Além das questões femininas, de forma geral, passamos por momentos de retrocesso do pensamento crítico e da importância da arte e da cultura como fatores sociais. Essa ideia repassada pela mídia global e redes sociais parecem se tornar a única verdade, mas basta acionar o off line e dar uma volta neste país. Virgínia conta que durante a turnê do “Palavra de Mulher”, pelo Norte e Nordeste, tem vivenciado e constatado um grande interesse do público pela Cultura.

“Nós fazemos um bate papo de 15 a 20 minutos, após o show, e as pessoas além de darem seus depoimentos sobre o espetáculo, perguntam como foi concebido o show, perguntam sobre nossas carreiras individuais, perguntam o que achamos da situação atual da Música Popular Brasileira, como funciona a lei Rouanet”, diz a cantora.

Música e identidade cultural por este país

Cenário traz o ambiente de um cabaré
A identidade cultural nas regiões Norte e Nordeste chamou atenção da artista. “As pessoas têm orgulho da própria cultura, nos apresentam outros artistas, a comida local, suas tradições”, comenta  atriz. “É uma troca muito importante, porque às vezes a gente fica só no eixo Rio-São Paulo”, afirma. 

Virgínia diz que a turnê, além de quebrar esse eixo, tem sido uma oportunidade para conhecer o Brasil. “Temos uma cultura muito diversificada. Cada estado tem a sua particularidade, tem o seu sotaque, tem a sua tradição local, o que mostra a força cultural do Brasil, que está sempre muito latente, muito visceral, e sem Cultura um povo não tem identidade, a Cultura é que faz a ‘cara’ de um país, né? De uma Nação”, diz.

Virgínia iniciou a carreira de atriz recentemente em 2015. A estreia foi na televisão, na novela de Gilberto Braga, Babilônia, exibida na Rede Globo, onde também fez em 2017, Pega-Pega. No palco, Palavra de Mulher, é o primeiro trabalho. Embora envolva música, que é a sua praia, ela também precisa atuar e faz isso muito bem, de acordo com a crítica especializada.

4 CDs, inúmeros shows e turnês pela Europa

Virgínia em mais momento de Palavra de Mulher
A carreira solo de Virgínia iniciou nos anos 1990, fazendo diversos shows. O primeiro CD foi Batuque (1997) – com canções de Itamar Assumpção, Luiz Gonzaga, Lenine e Chico Science – lhe valeu a indicação de Cantora Revelação no Prêmio Sharp. Em 2001, veio o segundo disco, com músicas de Thomas Roth, Chico César, Herbet Vianna, Gilberto Gil e Luiz Melodia: A Voz do Coração.  Já em 2006, lançou Samba a Dois, onde cantou Cartola, Candeia e novos compositores. No quarto disco, homenageou o inesquecível Monsueto. 

Versátil, apresentou-se com a Jazz Sinfônica, de São Paulo, e com a orquestra da Paraíba. Cantou com Zeca Baleiro, Marcos Sacramento, Ney Matogrosso, Ná Ozzetti, Lucinha Lins, Célia, Fernanda Porto, Fabiana Cozza, Lenine, Chico César e foi acompanhada por músicos como Geraldo Flach e Dino Barioni.

Parabenizou a cidade onde nasceu e cresceu cantando com Jair Rodrigues em frente ao Prédio do Banespa, marco da cidade, em Alguma Coisa Acontece no Meu Coração – show comemorativo dos 454 anos de São Paulo. Interpretou canções de Paulo Vanzolini, Cartola, Candeia, Clara Nunes e muitos outros. Vale também dizer que antes da carreira solo, também nos anos 1980, Virgínia tornou-se vocalista do grupo Mexe com Tudo, com o qual trabalhou por sete anos e excursionou para França e outros países da Europa. 

Serviço 
Palavra de Mulher. Dias 30 de novembro e 1º de dezembro, às 21h, e 2 de dezembro, às 19h. Ingressos: R$ 60,00 e R$ 30,00 (meia), na Bilheteria no Teatro do SESI - Almirante Barroso, com entrada pela Dr. Freitas - e na bilheteria digital. Patrocínio: VIVO. Pessoas com carteira de identificação do SESI pagam meia entrada.

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