22.10.19

Show e campanha solidária em apoio a Rafael Lima

Divulgação do Amazônia Visceral, em junho de 2019
Foto: Cláudio Ferreira
Allan Carvalho e Nilson Chaves, as cantoras Ju Abe, Lucinnha Bastos, Simone Almeida, Shayra Mana Josy e ainda os compositores instrumentistas  Marcos Puff, Salomão Habib, MG Calibre, Minni Paulo Quarteto Equilibrium e Kim Freitas, além dos meninos do projeto Violão Cidadão e ativistas do MST, estarão com Rafael Lima, em um grande show, nesta terça-feira, 22, a partir das 20h, no Teatro Gasômetro, no Parque da Residência. O ingresso custa R$ 25,00 e tudo que for arrecadado será repassado ao músico que precisa de R$ 10.000,00 para fazer um tratamento de câncer, diagnosticado em abril deste ano.

“Estou muito grato a todos que toparam e estão colaborando. As coisas foram encaminhadas pela professora e jornalista Viviane Mena e o palco ficou até pequeno, porque as coisas precisavam ser divulgadas, e não deu para entrar mais participações, foi muita solidariedade”, diz Rafael Lima, músico, cantor, compositor, professor e ativista, que bateu um papo com o blog ontem (21), poucas horas antes de sair para outra entrevista, na TV Cultura do Pará, ao programa Sem Censura Pará. 

Além dos cantores e músicos compositores haverá participação de integrantes do MST – Movimento dos Sem Terra farão a mística de abertura, uma parceria que existe há muito entre as artes evolvidas. Foram inúmeras as vezes em que Rafael também se apresentou em atos do movimento. 

“Tenho até um título de Amigo do MST, e é uma honra isso. E os meus meninos do projeto Violão Cidadão também estarão presentes e serão protagonistas. Vão subir num palco pela primeira vez, veja que ironia. Vamos fazer juntos seis canções. Alguns vão tocar, mas a maioria vai cantar. Eles vão cantar o Reggae comigo”, conta o artista. 

Também foi lançada, na semana passada, a Campanha de Arrecadação em Apoio à Rafael Lima. Qualquer pessoa pode ajudar, depositando qualquer valor na conta: Banco do Brasil - Ag: 3702-8 - C/C: 1817-1 - CPF: 043.949.762-00 - Rafael Tadeu dos Santos Lima. 

“Eu nunca passei por uma experiência dessa, vivendo, né. Pois quando fizeram um show para mim quando estava internado em coma, eu não estava sabendo de nada, mas agora eu estou vivendo com isso, e vendo as pessoas que estão fazendo esse show e movendo esta campanha. Eu nunca tive isso. Estou sem palavras”, diz Rafa quem em 2016 fez um quadro de pneumonia aguda, ficando internado por muito tempo no Barros Barreto. Na ocasião, vários músicos também se mobilizaram para ajudá-lo.

Diagnóstico veio em meio  dois projetos

Show Amazônia VIsceral
Foto: Cláudio Ferreira
Em abril deste ano, Rafael Lima estava iniciando o projeto Violão Cidadão Por uma Cultura e Paz, aprovado em um edital da prefeitura de Belém, e se preparando para a apresentação do show “Amazônia Visceral”, que estávamos produzindo para celebrar os 40 anos de música e parceria entre ele e Minni Paulo. 

A doença foi confirmada após uma biópsia, já no finalzinho de abril. No início, poucos amigos souberam, e Rafael se manteve silencioso, dando continuidade a tudo que já estava fazendo.

“Fiquei na fila da oncologia para conseguir um leito no Barros Barreto, onde já tinha cadastro, e iniciar o tratamento, mas adiei naquele momento, por causa do projeto. Pode ter sido um erro meu, mas disse que deixaríamos pra resolver em julho. O problema é que não resolveu, e agora já está chegando no natal. Espero que resolva então”, comenta.

Naquela ocasião, as aulas do Violão Cidadão estavam a pleno vapor, com uma turma de 50 que puderam, então, finalizar na oficina que, neste segundo semestre, já possui mais três turmas, com, ao todo, 77 alunos matriculados. “Tenho apenas 20 violões e às vezes é muito difícil dar aula faltando instrumento, mas a gente leva em frente. Dou aulas às terças, quartas e quintas das 14h às 19h, nas segundas e sextas, pela manhã, das 9h30 às 11h30, é em uma escola no Guamá”.

O compositor, pai da cantora Ju Abe que também estará no show desta noite, diz que em relação à doença, vai levando. “A vida muda, claro, mas eu até brinco e chamo o CA de Carlos Alberto. As pessoas riem, me olham como se eu fosse um maluco, mas é assim que tenho tentado encarar, com humor, porque a primeira coisa que pensei é que eu teria que parar de cantar, mas não é isso, eu vou continuar trabalhando fazendo o que gosto de fazer, enquanto eu puder. E não abro mão dos meus meninos. Essa é a melhor terapia que há. Tocar e fazer eles tocarem. Por isso eu não abro mão do Guamá, e continuo indo lá”, diz Rafael Lima.

4 décadas, uma obra e o jeito marcante de cantar

Rafa, no camarim do Gasômetro - Show Amazônia Visceral
Foto: Cláudio Ferreira
Rafael Lima tem maneira rápida de cantar, refletindo o linguajar do caboclo Amazônida. Ao longo de 40 anos de carreira possui 6 Cd gravados e uma enorme gama de outros trabalhos inacabados ou inéditos. 

“Tem as Ladainhas do Glorioso São Sebastião , de Cachoeira do Arari, que fiz em 2016, que é muito bacana, tem registro em áudio, mas não finalizei e nem lancei. Fiz a partir de um edital do extinto IAP (atual Casa das Artes). Fui no Marajó, pesquisei e até trouxe os caras aqui para se apresentarem no Jacofest” lembra o músico e também produtor do festival. “Acho que tenho cerca de 100 músicas, nunca fui gravado por nenhum cantor ou cantora, acredito que seja porque é difícil cantar em 5x4, ritmo ímpar, como eu faço”, diz Rafael.

O músico iniciou a carreira como vocalista do lendário Sol do Meio Dia, grupo que também reunia Minni Paulo, Albery Albuquerque, Zé Macedo, Magrus, Arythanan, entre outros, incluindo, acredite, o próprio Odorico, que tocava guitarra, e hoje cede o som para o show do amigo. Em 1984, Rafa saiu de Belém e se jogou no eixo sudeste, fazendo shows entre São Paulo e Rio de Janeiro. Em São Paulo foi convidado para fazer o projeto Pixinguinha em tournée nacional dividindo o palco com o saudoso Belchior. 

Rafael Lima e Waldemar Henrique - "Foi boto sinhá"
Foto: Cláudio Ferreira
Depois ganhou o mundo. A partir do Canadá, pra onde se mudou no final de 1986, Rafael foi convidado para tocar em festivais de "jazz music", chegando a ser considerado pela crítica especializada local, como "The best latin jazz band de Toronto". 

Em 1994, já radicado na Suíça, tocou no Festival Internacional de Jazz de Montreux, onde inaugurou a "Miles Davis Hall"; uma sala de concertos para 3 mil pessoas, onde Miles Davis tocou pela última vez em vida. Depois foi ao Canadá, a Suíça, Europa e mundo afora. 

Voltou a Belém ainda na primeira metade dos anos 1990, quando viveu um encontro memorável, com o Maestro Waldemar Henrique. Gravou com ele "Foi oto Sinhá", com o próprio ao piano um registro  mágico e que acabou norteando a criação artística e produção do show "Amazônia Visceral", que celebrou, no ultimo dia 7 de junho, os 40 anos de carreira e amizade entre Rafael Lima e Minni Paulo, acompanhados pelos músicos Robenare Marques, Thiago Belém e Elias Coutinho.

Serviço
O show é nesta terça-eira, 22, às 20h, no Teatro Estação Gasômetro. Ingresso à R$ 25 à venda na bilheteria do teatro Gasômetro - Parque da Residência - Av. Magalhães Barata, com entrada também pela Trav. 3 de Maio. Maiores informações: (91) 98309 3649.

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