Por Francisco Weyl
"Conheci Mojica em 2000. Na cidade do Porto, Portugal, onde ele participava do "Fantasporto". Fui ao hotel onde ele estava hospedado e nessa mesma hora ele me enregou duas latas de 16 milímteros com o seu "À meia-noite levarei sua alma", que projetamos em uma sessão lotada no Cineclube do Porto para estudantes da escola onde eu me formei em cinema. Então, convidei Mojica para fazer um filme, "A maldição de Zé do Caixão em comunhão com a Escola do Porto sob as bênçãos de São Francisco de Assis" (Super-8 milímetros), película que pode ser vista no youtube (http://www.youtube.com/watch?v=xXbkUOU8tdg).
"A maldição..." foi o seu primeiro filme em Portugal, que estreamos em Belém durante o Concílio Artístico Luso-Brasileiro, que criou o Cineclube Amazonas Douro, o qual coordeno e do qual o Mojica é presidente de honra. E Mojica realizou conosco (um total de 13 pessoas – o número não foi por acaso) um outro flme, dessa vez, digital, o "Pará Zero Zero", resultado de uma oficina de audiovisual, filme esse que deu mote à revista homônima e que foi lançado numa sexta-feira, 13 de junho de 2003, no Cemitério da Soledade, numa das cenas mais anárquicas desta terra.
Mojica faz filmes históricos, com uma coragem absoluta, sem medo da hipocrisia e da censura, sem medo da burocracia e da unanimidade, sem medo da mesmice e da burrice. Amaldiçoada seja a sua arte, vítima de todos os tipos de preconceitos e censuras, estes, originários, tanto durante os negros anos do regime militar, quanto neste tempo (pós-moderno?), no moralismo da (pseudo) intelectualidade cultural brasileira, em geral conceitual, covarde e leviana.
Ainda bem que este velho louco e alucinado foi ostracizado em seu próprio país. Assim, não precisou aprender a gramática da intelligentsia medíocre para construir o seu próprio percurso, fundado em corajosas atitudes, com as quais, enfrentando o medo a omissão da elite e sacrificando-se a si próprio e aos seus familiares e amigos, tem desempenhado a sua missão que é fazer cinema.
Indiferentemente aos critérios e análises reacionários da crítica cinematográfica que se submete aos padrões e dogmas do sub cinema comercial, quer ele seja hollywoodiano ou Europeu, este homem "ignorante" (utilizo o termo entre aspas para ressaltar o preconceito da pseudo crítica intelectual), fez filmes influenciados pelo seu auto didatismo, sem nunca sequer ter lido um livro sobre cinema.
Mojica é um Brasil que se nega a si próprio. O Brasil pobre e violento, que tem força cósmica em sua interioridade mas que dispersa as suas energias em auto flagelações artísticas. O Brasil de Mojica é genial, responde com criatividade às suas adversidades".
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