22.1.20

Fotógrafa revela em livro história de superação

Formada em Direito, a fotógrafa Dri Trindade descobriu, aos 34 anos, que tinha câncer. Isso mudou sua vida, mas o que poderia ser tragédia se transformou em uma história de superação. Especialista em retratos femininos, ela experimentou o auto retrato e passou utilizar a fotografia como ferramenta terapêutica para mulheres que buscam, como ela, autoconhecimento, autoestima e amor próprio. Os ensaios que revelam belezas escondidas das mulheres fotografadas também ajudam a própria artista a passar pelas dores físicas e emocionais causadas pela doença. Um processo de transformação cujas experiências ela vai contar no livro que pretende lançar no segundo semestre de 2020, com apoio de uma campanha de financiamento coletivo que estará nas plataformas digitais, logo depois que o carnaval passar.

A campanha está sendo planejada este mês, enquanto Dri Trindade dá os primeiros toques no livro. Morando no município de Bragança, cidade paraense situada há 230 quilômetros de Belém, para onde se desloca com frequência por razões profissionais, mas também para tratamentos de saúde, ela vem realizando de forma silenciosa, mas potente, um trabalho que ganha a cada dia mais admiradoras e atrai seguidores a suas redes sociais. Via diálogos, rodas de conversa e ensaios fotográficos, a artista vem ajudando a mudar a vida de várias outras mulheres que entram em contato com o poder da autoestima e a aceitação de seus corpos.

"Faço ensaios reveladores onde busco a beleza escondida e que está dentro de cada pessoa. É um processo onde juntos vamos além de nós mesmo", diz Dri que deseja compartilhar com as pessoas os caminhos que ela encontrou para superar e continuar superando as batalhas do dia a dia além de situações de assédio e de violência vividas pelas mulheres que atende com a fotografia terapêutica.

E Dri Trindade também conhece na pele essas histórias de violência. Foi assediada na infância, sofreu tentativas de estupros na juventude, precisou trabalhar quando adolescente e viveu uma relação abusiva por doze anos até que se separou. Casou novamente, mas decidiu se separar do segundo marido quando foi concluído o tratamento de câncer. Por várias vezes, foi e voltou do inferno na emergência do Hospital Ophir Loyola, em Belém. Vivia a peso de morfina e diz que após tudo isso, ressuscitou.

“Em 2014 observei algumas mudanças em meu corpo e senti dores, procurei um médico, passei bastante tempo em exames laboratoriais e consultas, quando, meses depois, descobri que lamentavelmente ele não era especialista no meu caso. Com uma vida agitada entre casa e trabalho, deixei a vida seguir seu curso, mas no final daquele ano, eu fiz a Curetagem Endocervical, sob anestesia geral, para remover material da cavidade uterina que foram submetidos a biópsias. Meu mundo caiu no dia 12 de janeiro de 2015, quando recebi o diagnóstico final, eu estava com câncer do colo uterino, seguindo-se a partir deste momento uma série de situações que mexeram com meu espírito, e a minha tranquilidade psicológica e física, e que alteraram radicalmente a minha vida material, emocional, e profissional", conta ela em um dos trechos do livro que o Holofote Virtual teve acesso com exclusividade.

"Com o tempo, aprendi que me entregar à doença era deixa-la vencer, sem que fosse para um campo de batalha, sem nenhum exército e sem armas, para enfrentar um inimigo ao qual eu temia e que eu tinha medo de combater. Teve dias que o sorriso desaparecia, claro, mas não desisti de lutar, minuto a minuto.  Quando se vencia uma batalha, a guerra continuava, na sua nova fase. Meu corpo se transformou, tornei-me um cadáver", diz em um trecho inicial de seu livro.

A fotografia passou a ser um pretexto para que ela e as pessoas também falem de si. "Eu colho depoimentos de mulheres que participam dessas sessões fotográficas. E contam sua experiência, e como foi revelador para cada uma. Faço Rodas de Conversas Femininas, com mulheres que sofrem violência doméstica, um espaço onde essas mulheres podem ter seu momento de fala e escuta. Buscamos este acolhimento, onde juntas buscamos esta união", continua.

Dri também desenha e cria personagens para sobreviver aos tropeços, medos, amores, desamores e conquistas de quem atravessou o deserto da doença que mais mata pessoas no mundo, o câncer. "Hoje eu consigo me amar e me aceitar, por isso levo um pouco do que vivi e ajudo pessoas que querem aprender a se amar. Eu quero compartilhar o que aprendi no meu processo de dor”.

Uma história de superação e amor a fotografia

O milagre é que a Dri acreditou na vida, em quem ela era e o que ela poderia ainda fazer por si e pela humanidade.  A necessidade da aceitação de seu próprio corpo, transformado, e suas limitações a levou a um processo de aprendizado. Era como nascer de novo. 

"Então, comecei a construir um processo de aceitação de minha transformação. Como fiquei com sequelas dos danosos tratamentos aos quais fui submetida durante um ano, acabei sendo obrigada a fazer uma cirurgia (ileostomia), para desviar o fluxo do intestino delgado, passando a armazenar minhas fezes numa bolsa coletora, acoplada à parte externa do abdômen. Como limpar as bolsas era coisa que fazia várias vezes ao dia, trocar bolsas passou a ser a minha rotina. Criei um diário de emoção onde eu desenhava o que eu sentia. E senti que me fotografar me fez amar muito ao meu eu feminino", continua.

Foi quando parou de se odiar. "Sentia-me mais forte e linda a cada passo que eu dava. Um passo de cada vez. Eu me amo, dizia-me, todos os dias. Vivi momentos de transformação e fui me amando cada vez mais. Mas, ocorreram momentos de recaídas e de dores em que eu somente pensava em sumir. Então, fazia dos meus autorretratos um trabalho para a aceitação de meu corpo. Porque meu corpo é a minha nova morada E isso me faz sentir plena. Vivo o meu amor pela fotografia, a minha válvula de escape para o meu amor próprio”.

No livro ela também fala sobre o amor que tem pelos animais. Dri vive com seis cães e dois gatos, além de recolher animais nas ruas, fazendo campanhas de adoção, tratamento de doenças, e recolhimento para castração, do mesmo modo que também não se furta em apoiar aos amigos, com um sorriso que conquista as pessoas. Além disso, Dri prepara um novo projeto de exposição, com ensaios intimistas com mulheres homossexuais e heterossexuais.

Já é possível colaborar

Enquanto a campanha não entra nas plataformas digitais, quem quiser desde já apoiar o projeto, pode entrar em contato diretamente com ela, pelo número de telefone: +55 91 9148-7483.  Ou depositar qualquer quantia na conta  0006351 – 7, Banco BRADESCO - Agência 6671 – 0 | Via 02 - Tipo 00, em nome de de Adriana Cristina da Trindade Gomes.

Acompanhe também a artista pelas redes sociais:
https://www.facebook.com/dritrindaderetratista
@_dritrindade_

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