26.6.09

"Mãos de Outubro" traz um novo olhar sobre o Círio

Por Juliana Maués da redação do Guiart
(www.guiart.com.br)


Elas protegem, machucam, alimentam, escondem, curam. São uma parte tão fundamental do corpo para a maioria das pessoas que, a costume de tudo aquilo que se torna comum, adquiriram certo tom de banalidade. Mas, em muitas culturas, são vistas como o instrumento pelo qual o homem contata o Universo. “Por que as pessoas esticam as mãos para o céu, em diversas religiões? Por que essa sensação de poder por meio das mãos, vista nos gestos de curandeiros a padres? (...) Como o material e o espiritual podem estar tão fortemente presentes em uma só parte do corpo, mesmo que ajamos de forma inconsciente?” As perguntas são de Vitor Souza Lima. Nesses questionamentos está centralizado o filme que ele lança no segundo semestre de 2009. “Mãos de Outubro” sugere uma nova ótica do Círio de Nazaré, visto pela perspectiva das mãos.

A idéia veio, assim, de repente. Um dia, em 2005, analisando imagens e fotografias no computador, Vitor Lima percebeu que poderia fazer um filme retratando apenas as mãos do Círio: dos fogueteiros às bordadeiras do manto da Santa. Durante a Festa de 2008, com o trabalho de uma equipe integralmente composta por profissionais paraenses e produção da “Cabocla Produções”, as mãos de todos que participam da grande procissão foram transpostas da realidade à película. O filme é o primeiro trabalho em cinema de Vitor Lima, artista visual reconhecido no cenário paraense por seu trabalho em fotografia e videoarte. E ele começa já com muita responsabilidade: na direção.

“Vídeo é isso. É apenas uma espécie de chave com a qual se pode abrir portas e janelas de ideias, conceitos”, afirma o diretor. No caso de “Mãos de Outubro”, a ideia foi quase um achado: uma em milhões de outras que poderiam ser utilizadas para abordar o mesmo acontecimento, tantas vezes narrado. “Eu posso dizer que dá pra fazer 2 milhões de filmes tendo o Círio como tema. O Círio é inspiração inesgotável”, continua Vitor Lima.

Além do enfoque nas mãos, que proporciona uma narrativa anti-convencional, cuja proposta se enche de lirismo, a obra se diferencia em outro aspecto: a opção do diretor de filmar em preto e branco. No filme “O Estado das Coisas”, de Wim Wenders, o personagem interpretado por Samuel Fuller, diz uma frase que seria muitas vezes citada: “a realidade, certamente, é em cores, mas o preto e branco é mais real”.

Para Vitor Lima, que optou pela ausência de cores por um motivo de afinidade estética, “a imagem do preto e branco é mais verdadeira. (...) as imagens dessaturadas permitem uma compreensão melhor, a supressão dos detalhes – como as cores – facilita o nosso olhar, direciona”. Assim, “Mãos de Outubro” traz, nas palavras do seu diretor, “ao invés de cores esfuziantes, traços, linhas, pontos, contraste de luzes”.

O filme, que está em processo de finalização em estúdio carioca, terá duração de 25 minutos. Deve estrear próximo ao Círio deste ano, quando a multidão novamente tomar as ruas de outubro, acompanhada das vozes que clamam a confortável doçura advinda das mãos daquela que faz tantos pés caminharem.

Fotos: Divulgação / Ana Flor

Serviço: “Mãos de Outubro”, 25 min, dirigido por Vitor Lima e produzido pela “Cabocla Produções”. O filme foi um dos três vencedores do 1º Prêmio Estímulo de Realização de Curtas-Metragens do Museu da Imagem e do Som (MIS). Previsão de lançamento em outubro de 2009.


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