22.8.09

Atriz Yeyé Porto surpreende em Miguel Miguel

Esta semana estive na ilha de edição da minissérie “Miguel Miguel”, na Digital Produções. Roger Elarrat (diretor e roteirista da obra) já está trabalhando duro e já temos algumas seqüências bem montadas.

Como ele mesmo disse no blog da minissérie, Miguel está morto e enterrado (duas vezes), mas ainda está bem vivo em nossas memórias aqueles dias de gravação em que tivemos muitas e gratas surpresas.

Uma delas foi sem dúvida a performance da atriz Yeyé Porto, vivendo a personagem Úrsula, esposa de Varão. Para construí-la, de personalidade tão diferente do determinado e prático Varão, foi preciso um trabalho de investigação emocional.

Adriano Barroso (diretor de elenco) diz que precisou buscar na memória emocional da atriz, algo que puxasse a Úrsula de dentro de Yeyé, uma vez que entre as duas, atriz e personagem, há uma diferença abismal.

O Varão foi logo visto em Henrique, diz Roger Elarrat. “Eu já esperava por isso. Criei uma ansiedade em ver isso acontecer. Mas com a Yeyé foi ao contrário, não sabia o que esperar e tivemos cenas fortes com ela”, conta.

"A Úrsula é aquela mulher que se submete ao marido. Yeyé é a produtora, que vai, faz e resolve tudo. Mas o grande barato com ela era tentar baixar cada vez mais este tom de produtora, buscando a relação dela com o alguém pela qual ela pudesse dar a vida”, diz Barroso.

“Com o Henrique foi mais fácil porque eu já conhecia a vida dele, pela nossa proximidade. Mas com a Yeyé, tive que ir mais devagar procurando saber, da vida dela, alguma coisa que trouxesse a Úrsula pra dentro da vivência dela.

E isso aconteceu no momento em que ela disse que tocava piano e contou uma historia da relação dela com piano envolvendo a mãe e o pai”, continua.

E dessa descoberta surge então uma das seqüências mais lindas da minissérie, no quarto episódio, em que ela toca piano. Na cena, a catarse da personagem com sua vida.

Também nos últimos dias de gravação conversei com ela, que atualmente é Gerente de Artes Cênicas da Secult. Embora tenha sido este o seu primeiro trabalho de atuação no audiovisual, Yeyé há muito vem participando desta cena. Em 1998, por exemplo ela dirigia o Museu da Imagem e do Som do Pará em um de seus melhores momentos.

Naquela época, reuníamos toda semana para discutir os encaminhamentos para uma retomada da cena audiovisual no Pará. Foi naquelas reuniões que conseguimos elaborar ma proposta de edital para produção de curta metragem.

O prêmio, da esfera municipal (prefeito Edmilson Rodrigues), durou apenas duas ou três edições. Mudando-se de gestor, infelizmente deixou de existir. Mas foi a partir daí que os nomes mais novos do nosso cinema, surgiram. Nesta época, começaram a acontecer mais cursos profissionalizantes e foi quando me abracei ao ofício da continuidade, depois de fazer o meu primeiro curso de roteiro com a Flávia Alfinito (Chuvas e Trovoadas, Carlos Gomes).

No mesmo ano, 1998, através do MIS, restaurou-se “Brutos Inocentes” de Líbero Luxardo e o escritor Haroldo Maranhão lançava “Miguel Miguel”.

Ironia do destino ou não, Yeyé, que estava no MIS, nem imaginava que um dia iria dar vida a uma das personagens daquela novela. Segue a entrevista com Yeyé Porto, mulher e atriz com quem tive o prazer de conviver nestas últimas semanas.

Holofote Virtual: Este é o seu primeiro trabalho com cinema. Diferente do teatro, a atuação se torna muito fragmentada. Foi complicado fazer a Úrsula, em “Miguel Miguel”?

Yeyé Porto:
Foi realmente um desafio muito grande. Precisei direcionar todas as minhas energias para que a minha inexperiência não comprometesse o trabalho, portanto, estive atenta a tudo e sempre pedi orientação a todos os envolvidos, para que fosse alcançado o resultado almejado. Quanto à atuação fragmentada, eu fui aprendendo a lidar com isso no decorrer das filmagens. E isso vai me ajudar muito ainda, na própria atuação teatral. Buscar as emoções aos pouquinhos, usando a memória, é muito diferente e muito interessante.

Holofote Virtual: Apesar de ser a primeira vez na frente da câmera, o cinema já esteve presente na tua vida de diversas maneiras. Na década de 90, por exemplo, você dirigiu o Museu da Imagem e do Som do Pará e, certa vez, realizou-se lá um curso de “Atuação para câmera de cinema”, lembra? Nesta época você pensava em um dia fazer um filme?

Yeyé Porto:
É verdade, o cinema já esteve e continua estando na minha vida. Quando assumi a direção do MIS, descobri uma paixão pelo cinema. Lá, eu sempre busquei trabalhar, oferecendo oportunidades de atualização e até mesmo capacitação na área. Penso que conseguimos alguma coisa neste sentido. Eu, como toda atriz, é claro que pensava em fazer cinema. Não fiz o curso naquele tempo, por estar envolvida na coordenação, e ficaria difícil fazer as duas coisas a contento.

Holofote Virtual: Já tinhas lido a novela Miguel Miguel? Chegastes a conhecer o Haroldo Maranhão?

Yeyé Porto:
Não, o Adriano e o Roger me apresentaram a obra quando me convidaram para participar do filme, e me deram de presente esta personagem.

A Úrsula para mim, foi um desafio enorme, porque não tenho (na Yeyé) quase nada dela. O meu temperamento é forte e penso que jamais conseguiria ficar casada com um homem como o Varão, que quase nunca está com sua companheira.

HolofoteVirtual: Como foi a experiência de atuação junto aos outros atores do elenco, principalmente das cenas com o Henrique da Paz. No teatro vocês também já haviam contracenado?

Yeyé Porto:
Eu e o Henrique nunca tínhamos contracenado. Foi uma das melhores coisas que me aconteceram enquanto artista. Temos uma afinidade muito grande, uma cumplicidade que nos ajuda muito.

Em algumas cenas, ficamos emocionados na mesma medida e rimos muito com as brincadeiras que criamos entre a Úrsula e o Varão. O talento enorme do Henrique, me fez crescer, pois é preciso muito empenho para a Úrsula não ser ‘engolida’ pelo Varão, pois a personagem é introspectiva e precisei de muito trabalho para não a deixar desaparecer.

Holofote Virtual: Assim como Úrsula, você também perdeu um amigo querido, teu compadre, o Walter Bandeira. Já está processado isso?

Yeyé Porto: Mais ou menos. Para a Úrsula, não é permitido um relacionamento muito próximo com um homem. O Miguel era, na verdade, muito amigo do Varão. A grande amiga da Úrsula é a Miguela, com quem ela estabelece uma grande cumplicidade, um carinho enorme (coincidência ou não, a Yeyé e a Olinda são assim).

Quanto à perda do meu compadre.... ainda não tive tempo, nem coragem de começar a processar isso. Parece que ainda é um grande pesadelo. Eu e Walter éramos compadres, amigos, irmãos, enfim, nossa relação tinha tudo aquilo que qualquer pessoa sonha em ter quando tem um amigo. Nossa amizade estava acima de tudo, sem cobranças ou falta de respeito.

Holofote Virtual: Quais as impressões deixadas por estas semanas em que gravamos “Miguel Miguel”?

Yeyé Porto:
O que mais estou gostei foi do tesão da equipe, da energia e generosidade das pessoas, que não reclamam em nenhum momento de ficar repetindo, repetindo e repetindo quando é por causa do elenco.

O que me espanta é a urgência. Tudo tem que dar milimétricamente certo, no tempo, para que não caiam os planos. Outro grande espanto para mim é a continuidade (outro aprendizado). Parabéns para o casal de continuistas, os Lucianos (risos).

2 comentários:

SANDRO DESTRO LIMA disse...

MAGNÍFICO TRABALHO!
Como seria o olhar de Haroldo Maranhão se vislumbrasse esta joia mais do que rara, baseada em seus escritos?
Talvez ele sentisse o mesmo que eu. Meus olhos marejaram. Depois, numa messa redonda, discutimos todo o roteiro do Roger e do Adriano. Atuamos algumas cenas do filme, pra ver como ficaria com outra abstração. Foi maravilhoso.
Tive a honra de assistir antes de ser lançado.
O Roger e o Adriano, sem reservas, são dois mestres. A cultura pareanse se há projetado há tempos através do cinema, pena que apenas agora temos acesso aos meios profissionais que possibilitem a realização de produções que não deixem a desejar pro que é feito no eixo do centro sul. O Instituto de Artes do Pará, através do N.P.D., é o grande agente de adoção de boas ideias. Sendo apenas necessário a boa ideia.


Emfim... Coooooorta!

Holofote Virtual disse...

Oi Sandro, que bacana o exercício que vcs fizeram.

vc estava na sessão lá do Stúdio Pub? A melhor maneira de ver esta obra é na versão de longa. Não funcionou mto bem, ao meu ver, como minisserie, sendo exibido um caítulo a cada semana. Ficou disperso, sem falar na transmissão ruim de sinal da Tv Cultura do Pará. Aqui em casa, por exemplo, a imagem ainda fica péssima, uma pena.
Vmos torcer que o Roger consiga captar para fazer o transfer e lançar o filme nos cinemas, participar de festivais, isso seria mto legal.

um abraço