6.12.10

Entrevista: Cristóvam Araújo lança "Diário de Bordo" no espaço literário da Fox

Não importa o barzinho de música ao vivo em que você esteja. Em Belém ou em qualquer outra cidade paraense, “Olho de Boto”, é repertório quase que obrigatório. 

Que Nilson Chaves musicou e gravou a música, todo mundo sabe. Mas a autoria do poema que deu luz à canção, talvez ainda seja uma informação de poucos.

Estamos falando de Cristóvam Araújo, paraense radicado no Rio de Janeiro, que depois de três décadas está de volta para lançar, aqui, “Diário de Bordo”, em edição da Paka Tatu. O lançamento será nesta próxima sexta-feira, 10, a partir das 19h, no espaço literário da Fox Vídeo, na rua Dr. Moraes, 584.

Morando no Rio de Janeiro, o poeta trabalhou em outras atividades que não estavam ligadas à literatura e à música. Terminou o curso de Filosofia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e foi bancário, profissão da qual hoje está aposentado. Mas nunca parou de escrever e produzir suas inspirações influenciadas pela sua origem amazônica.

Numa breve retrospectiva, ele lembra de sua participação na coletânea Poesia do Grão Pará, organizada pela Olga Savary, em 2001. E agora, em 2010, das coletâneas Falando de Amor (Casa do Novo Autor Editora) e I Concurso de Poesia - Amigos do Livro/Flipoços (Scortecci Editora), além de ter poemas publicados em jornais literários.

“Diário de Bordo”, segundo ao autor, constitui uma seleção do que ele viveu e escreveu nesses 30 anos longe de Belém. “É um registro das minhas impressões durante esse tempo – essa viagem – do ponto de vista poético”, diz.

As expectativas para o lançamento de Diário de Bordo são muitas. “Tenho reencontrado alguns amigos e parentes e espero reencontrar muitos outros no lançamento”. A mais importante, porém, é fazer com que seu trabalho alcance um público mais amplo. Abaixo, segue um breve bate papo, só para conhecer mais o poeta e suas lembranças/saudades de Belém.

Holofote Virtual: “Olho de Boto” tornou-se uma canção emblemática, tocada em tudo quanto é espaço de música ao vivo. Foi sua única parceria com Nilson Chaves?

Cristóvam Araújo: Olho de Boto é uma canção de exílio paraense e, mais amplamente, Amazônida. A constatação de pertencer a uma cultura, a uma origem que está indisfarçável e amorosamente entranhada na existência, não importa onde se viva, onde se esteja. Mais do que construído, o poema foi se revelando. Eu e o Nilson temos outras parcerias em composições já gravadas – Rastro, Canção da Véspera e Devaneios – além de algumas ainda inéditas.

Holofote Virtual: Você diz que Diário de Bordo é um recorte de suas impressões desses anos fora de Belém. O que temos aí?

Cristóvam Araújo: Diário de Bordo traz registros do que eu vi e vivi, do ponto de vista poético. Registros de fatos ocorridos, como a morte do Chico Mendes; registros afetivos da convivência em família, da relação com os filhos; registros da vida, tal como a percebo, em suas lembranças, expectativas de futuro, reflexões, sonhos, desejos e realizações.

Holofote Virtual: Quando você saiu de Belém e quais são as pessoas e os lugares guardados na sua memória poética?

Cristóvam Araújo: Saí de Belém em 1980. Em um retrospecto rápido e certamente incompleto, daquela época, o que parece marcante era a vontade de resistir. Baluartes da resistência cultural eram a Casa do Choro, do Aldemir, os desenhos do Bira e as crônicas do Chembra. A SDDH era referencial na resistência à Ditadura - (bem a propósito, Resistência foi o nome escolhido para o seu jornal). Livraria era a do Jinkings – onde a informação e circulação de idéias e de livros resistiam à censura oficial. Maranhão e Carlos Henry haviam composto a Valsinha (“Dança essa valsa, mesmo sem par..."). Porto do Sal, Porto da Palha, caldeirada em Icoaraci, Bar do Parque... Enfim, outra época.

Holofote Virtual: O movimento literário aqui sempre teve ótima verve, grandes expoentes. Para citar os ícones: Age Carvalho, Max Martins, Mário Faustino, Rui Barata, João de Jesus Paes Loureiro e por aí vai. São muitos que não citei aqui. Mas quais as suas maiores referências?

Cristóvam Araújo: Rui Barata, Paes Loureiro e Benedito Monteiro são as minhas referências mais próximas. Não tenho tido acesso à produção poética mais recente, mas tenho a intenção de retomar contatos e me informar a respeito, até porque minhas vindas a Belém serão mais freqüentes.

Um comentário:

UmbertoCostaBarros disse...

Bela matéria.
Nós cariocas estamos aguardando a chegada destes poemas do Diário de Bordo.
Agradecemos à Belém pela presença de poetas e artistas paraenses/amazônicos nesta megacidade que existe em torno da Baia de Guanabara.Cristóvam lança seu livro aí porque, na certa,já deve estar,espertamente,sintonizando-se às Musas para o próximo...
Abraço.
Umberto CostaBarros