João Vieira Jr. |
Vencedor do Kikito de Melhor Filme no Festival de Gramado 2013, Tatuagem, de Hilton Lacerda, entra em sua segunda semana de exibição na sala de cinema do Centur – Av. Gentil Bittencourt, 650 – Nazaré. As sessões de Tatuagem vão de 05 a 08 de fevereiro, às 19h, e no dia 09, às 16h30, com ingressos a R$ 8,00. É mais um filho do cinema brasileiro que dá certo fora dos grandes centros de captação. O produtor do filme, João Vieira Jr., em entrevista ao blog, falou sobre o novo trabalho da produtora REC Produtores Associados, fundada por ele, e da trajetória do cinema pernambucano e suas semelhanças com a cena audiovisual no Pará, que ainda busca afirmação e reconhecimento.
"Tatuagem" é o primeiro longa metragem dirigido por Hilton Lacerda, roteirista consagrado
pelos filmes “Baile Perfumado” e “Árido Movie” (dir. Lírio Ferreira), “Amarelo
Manga” e “A Febre do Rato” e “Baixio das Bestas” (dir. Cláudio Assis), além de
“A Festa da menina Morta” (dir. Matheus Nachtergaele), entre outros que fazem
do cinema pernambucano, um dos mais criativos e originais do país.
“Eu e Hilton Lacerda já nos conhecíamos, estudamos juntos no
Recife, mas ele foi morar em São Paulo e perdemos o contato, retomado já nas
filmagens de Baixio das Bestas, para o qual eu fazia a produção executiva, e perguntei a ele quando ele dirigiria o primeiro filme, pois eu
gostaria de produzir”, conta João Vieira Jr.
Em 2007, Hilton Lacerda dividiu a direção de “Cartola”, com
Lírio Ferreira, e sua primeira obra de fato, como diretor, foi Tatuagem, cuja
história se passa no Recife do final dos anos 1970, mostrando a convivência e
as criações de personagens como Clécio Wanderley (Irandhir Santos), líder da
trupe teatral Chão de Estrelas, que realiza shows repletos de deboche e com
cenas de nudez.
Junto a isso, a história de um amor tórrido e um clima de repressão
existente no meio militar, em plena ditadura. O filme não é inédito por aqui. “Tatuagem” teve pré-estreia,
ano passado, em Belém, quando o produtor João Vieira Jr. veio ministrar um
curso de produção executiva para filmes de baixo orçamento e conseguiu
articular a exibição em primeira mão do mais novo produto de sua produtora, a
REC Produtores Associados, assim como deixou agendada sua entrada em cartaz.
Foi nesta ocasião que o também produtor executivo de
“Cinema, Urubus e Aspirinas” (dir. Marcelo Gomes) conversou com o Holofote
Virtual. João Vieira Jr. estudava Direito nos anos 1980 e acabou largando o
curso, pela publicidade e daí para chegar ao meio cinematográfico foi rápido, e
enveredando pelo caminho da produção executiva.
Há 15 anos, porém, deu um salto maior e abriu a REC
Produtores Associados. O primeiro filme realizado pela produtora deu o sinal
positivo ao que viria após. Cinema Aspirinas e Urubus participou de 80
festivais nacionais e internacionais, acumulou
50 prêmios e ajudou João a construir a produtora.
“Nós levamos cinco anos entre conseguir os recursos até
poder filmar, em 2003. Está fazendo 10 anos a partir daí, embora tenha sido
lançado apenas em 2005”, relembra João. “Tenho um orgulho muito grande de ter
produzido o "Cinema, Aspirinas e Urubus", que foi o primeiro filme de Marcelo
Gomes, e o primeiro filme pernambucano ou o único, até hoje, que entrou na
seleção oficial do festival de Cannes”, complementa.
Em Pernambuco as coisas do cinema começaram a ganhar
destaque nos anos 1990. De lá pra cá, com o Fundo de Cultura implantado, e num
estado crescente a cada ano em termos de valores de recursos, já há outras
gerações surgindo,produzindo, ganhando prêmios.
João diz que nada foi tão fácil. E foi só depois de 30 anos
sem se fazer longa em Recife, que no final dos anos 1990 veio ‘O Baile
Perfumado’, que nos serviu aqui de espelho. Naquela mesma época, Belém retomava
a produção de curtas e agora vai fazer o primeiro filme longa, de ficção, de
Baixo Orçamento (Jorane Castro vai filmar este ano).
Aqui ainda nos falta a efetivação dos Fundos de Cultura
Municipal e Estadual, uma vez que os modelos impostos pelas Leis de Incentivo,
que deixam nas mãos do empresariado (a maioria desinteressado ou desinformado)
estão cada vez menos eficazes. Na entrevista que segue podemos compreender e
aprender com este universo deste cinema pernambucano de sucesso, acompanhando
um pouco dos caminhos percorridos pela REC e seus produtores associados.
A trupe de "Tatuagem" |
Holofote Virtual: O “Tatuagem” traz um contexto interessante
do Brasil em determinado momento histórico, político, fala um pouco mais
dele...
João Vieira Jr.: O filme se passa em 1978, quando o Hilton
tinha 15 anos e algumas coisas do mundo chamavam muito atenção dele, principalmente sobre como o futuro era construído
na cabeça dele com aquela idade. Daí ele me disse que queria falar disso no
filme.
Apesar de termos esta data dos anos 1970, com personagens
que estivessem antenados ou prevendo o futuro que viria em algum momento. Para
isso, Lacerda se inspirou em um grupo de teatro chamado “Vivencial Di - Versiones”,
uma trupe teatral que existia em Olinda, no Recife, nos anos 1970, época em que
o teatro tinha força política e por isso estava na mira da ditadura e da
censura.
Então o teatro trazia mesmo essa coisa do nudismo, do corpo,
da ironia e do deboche. Fazia este papel de se contrapor ao falso moralismo e conservadorismo
presentes. Era assim no resto do país. Havia grupos no Rj, em SP e devia ter
aqui em Belém também, com certeza. Era a contestação personificada.
Holofote Virtual: O Di Versiones parece ter sido
histórico... Mas poça gente tem conhecimento...
João Vieira Jr.: Sim, não era algo tradicional... Eles não
tinham palco tradicional, armaram um tipo de barracão perto de uma favela entre
Recife e Olinda e seduziram toda a classe média da época. Abriam às 21h com
show de MPB, às 22h tinha peça de teatro, algo clássico, com texto e padrão
formal, mas em seguida o desfecho trazia um show de rock e as “Bonecas”, com um
show exótico de Travestis. As pessoas iam pra lá e passavam a noite toda bebendo
e conversando, enfim, esse é o clima em tatuagem, que traz também na trama
casos de amor, descobertas pessoais, em meio a construção da liberdade do amor e
das possibilidades deste em outras formas de expressão.
Pensar a produção e realizá-la! |
Holofote Virtual: João, agora vamos falar da tua trajetória.
Você fez direito e largou. Depois chegou a produzir curtas, mas ainda trabalhou
com publicidade até voltar de forma mais definitiva ao cinema. Como foi tudo isso?
João Vieira Jr.: Estudei
Direito nos anos 1980. Naquela época estávamos em um Brasil bem diferente de
hoje, quando os jovens saem já com um plano de carreira, um emprego. Nos anos
1980 era muito difícil pensar no futuro, coisa que era pra quem tinha condições
de estudar fora do país. Por outro lado, eu também queria trabalhar com outras
coisas e se não havia um plano de carreira, éramos multifacetados.
Holofote Virtual: E como viestes para o cinema?
João Vieira Jr.: Não gostava do meu curso, então conheci pessoas
de outras áreas e fomos formando grupos de estudos sobre vários assuntos e
temas como Existencialismo, Freud... Enfim,
eu era aquela mangueira furada, atirando água pra todos os lados. Isso acabou e
eu, que era minimamente organizado para orçamentos etc, acabei produzindo os primeiros curtas. O mercado, porém, não estava aquecido e acabei
indo trabalhar com publicidade.
Trabalhei durante seis anos em uma grande produtora de
publicidade do Recife e isso acabou ajudando muito na minha formação, pois você
aprende que seu trabalho tem que trazer resultados, que você não pode chorar
orçamentos, que você trabalhava numa empresa privada, que tinha que ter
receita, pagar os funcionários... Todas
estas camadas foram se acumulando em mim, que aprendi que eu podia voltar pra
produção cultural com outras questões.
Cena de "Aspirinas...." |
Holofote Virtual: Como foi que surgiu a REC?
João Vieira Jr.: Naquele momento, o mercado não estava muito
formalizado para assumir uma ideia de empresa cultural, que tem que se manter e
pagar funcionários, direitos trabalhistas etc.
Foi como percebi que seria muito
bacana que eu tivesse sócios produtores e não diretores para que a gente
pudesse trabalhar com uma gama maior de linguagens e fazer mais coisas ao mesmo
tempo, inclusive se sustentando. Mas no
início fazíamos um pouco do publicitário e do institucional.
Holofote Virtual: Vocês começaram trabalhando com Marcelo
Gomes, cineasta que vem num crescente em sua cinematografia... Foi acaso?
João Vieira Jr.: A REC, na verdade, abriu há 15 anos
exatamente para fazer uma parceria com Marcelo Gomes, para coproduzir o “Cinema,
Aspirinas e Urubus” . Naquela época, não tinha a ANCINE, enquanto agência que
regulamenta este setor. Não havia também a Lei do Audiovisual. E quando eu digo
que não existiam é porque hoje existem caminhos não sei se mais fáceis, mas ao
menos mais claros. Hoje você sabe por onde começa e sabe onde chegar.
Holofote Virtual: Você veio a Belém ministrar um curso no
Instituto de Artes do Pará,
de produção executiva para longa metragem de baixo orçamento. A experiência de vocês permeou todos os dias
de curso que foram entremeados com exibição de filmes feitos pelo cinema
pernambucano... Foi muito legal isso.
João Vieira Jr.: É. E foi o primeiro curso que demos. Trouxe
a Nara Aragão comigo, que é uma das sócias da REC. Tivemos nossas dúvidas em
como transmitir esse trabalho de produção, já que é algo de jeito tão
pragmático... É difícil teorizar assim... E eu tinha minhas dúvidas se eu teria
talento de fazer isso.
Na verdade eu e Nara já demos um curso, on line, mas em outra
lógica, diferente dessa que desenvolvemos no IAP. Ficamos felizes quando fomos
procurados pelo instituto para vir ministrar este curso, pois acho que Belém e
Recife têm mais similaridades do que diferenças no campo do audiovisual. Obviamente,
não ignoro que temos diferenças regionais, mas temos semelhanças do modelo de
produção e o campo do social, econômico. Eu acho sim que nossos cinemas se
parecem.
Holofote Virtual: No que você acha que temos semelhanças?
João Vieira Jr.: Olha, eu acredito que o cinema paraense tem
tudo para ser construído. Aqui há uma riqueza cultural que se espalha por todo
o estado. E nisso parecemos também. Belém e Recife possuem culturas locais fortes,
mas com grande capacidade de universalidade, pois não tem problemas de fazer
fusões, de modernizar seus ritmos.
Há dez anos estávamos muito parecidos como vocês estão aqui
agora, discutindo sistema de incentivo a cultura, que ele não funcionava
daquela forma que ele era imperfeito que você não tinha confiança nele e não
ajudava a criar ou formalizar e dar visibilidade ao mercado, não permitia que
os artistas se expressassem. O sistema então passou a ter um Fundo, em Recife, que
iniciou com um valor bem pequeno. E como
os artistas puderam se expressar, os produtores também puderam criar mais
projetos.
Isso tudo fez com que a cena se fortalecesse e o audiovisual
pernambucano ganhasse poder de barganha para que estes agentes pudessem cobrar
participações maiores de incentivos e fomentos dentro do próprio governo.
Holofote Virtual: Sim, vocês estão dando os passos certos. E
que olhares você tem para o cinema aqui?
João Vieira Jr.: Pelo nosso curso, percebi que há uma
diversidade de pessoas atuando na cadeia produtiva do audiovisual, em Belém.
Tem gente de empresa e com perfil de produtores. Vejo pessoas interessadas em
produzir e com uma gama de diferenças muito boa acho. Há setores de animação,
documentários, ficção. Enfim, gente a fim de abrir empresas, pessoas que querem
ser técnicos. Então isso tudo, esta diversidade, é que ajuda a criar e
fortalecer um mercado.
Olha, se eu fosse paraense cidadão de Belém eu teria um orgulho
danado de ter uma gastronomia tão forte, tão inusitada, tão saborosa com é a de
Belém. É um carro chefe fenomenal para o setor da economia criativa, que pode
trocar com tudo isso inclusive com o cinema e as artes visuais. Esta culinária
é absurdamente sedutora.
Agora sobre o cinema e suas potencialidades, como falei,
vejo similaridades com Recife. E tenho que reconhecer que lá a produção ganhou
destaque quando realmente entrou em vigor o Fundo de Cultura. E eu vejo que
vocês podem unir as forças.
Cláudio Assis |
Holofote Virtual: Como foram as primeiras experiências tuas
com longas pernambucanos. Você também, fora e dentro da REC, trabalhou com
filmes do Cláudio Assis, um diretor considerado um tanto polêmico, tanto quanto
criativo e interessante, diga-se...
João Vieira Jr.: Eu já estava bem envolvido na pré-produção
do “Aspirinas”, um ano antes de rodarmos e já havia um convite para fazer o “Baixio
das Bestas”, convite direto do Cláudio para eu assumir a produção executiva. É um
trabalho que me orgulho muito também. Fico até com vergonha, mas vou dizer que
este é o filme que mais gosto, embora goste de todos os demais filmes de Cláudio,
mas o roteiro do Baixio é incrível, bem elaborado, gosto das atuações de Mateus
e do Uirandhir, dois atores fenomenais.
O convite do Cláudio veio, claro, após a boa repercussão do
Aspirinas. E tudo, a cada filme, é um aprendizado. O “Aspirinas” foi também um filme de Baixo
Orçamento e foi assim que fomos enquanto produtora nos notabilizando neste cenário. Tem que saber administrar um orçamento como
este, pois normalmente as obras são muito maiores.
Depois disso o Karim Aïnouz me convidou pra fazer o Céu
de Suely, que foi outra experiência brilhante, um filme que eu adorei de fazer e
aprendi muito com o Karim, um diretor de grande generosidade e que tem um
conhecimento profundo do cinema, é um regente e tanto. Ele sabe compartilhar o
conhecimento que tem e isso só retorna a ele em bons resultados. Eu pude
perceber o método dele e isso foi um aprendizado.
Karim Ainouz |
Holofote Virtual: “Céu de Suely” é um ótimo filme. E nestas
produções em que há deslocamentos de domicílios rola também um aprendizado de
convivência, com é que isso se reflete no filme?
João Vieira Jr.: Céu de Suely é um dos filmes do cinema
brasileiro recente que eu considero dos mais interessantes. Na época eu não
estava na equipe pela REC. Fui como técnico, fazer a produção executiva. O Céu
foi filmado numa cidade no sertão do Ceará que ficava a cerca de 600 quilômetro
de Fortaleza e a uns 800 de Recife. As
equipes eram dessas duas cidades.
Trabalhamos tanto na pré-produção, quanto nas filmagens, com
uma folga semanal, então esta equipe estava mergulhada, não dava pra sair e
aproveitar a folga nestes centros, então era uma imersão muito bonita e acabou
influindo positivamente na atmosfera do próprio filme.
Holofote Virtual: Hoje como você vê este mercado em Recife?
João Vieira Jr.: Eu acho que esta visibilidade conquistada pelo
cinema produzido em Pernambuco tem a ver com o Fundo Estadual de Cultura.
Atualmente estamos em crescimento, produzindo uns 20 curtas por ano, nas mais diversas
matizes, e pelo menos um longa anualmente. Os recursos do fundo, no caso do
cinema, porém, ainda não cobrem todo o orçamento de um B.O. , mas garante a
parte inicial que vai garantir a captação que falta. É muito legal a gente
poder apresentar um projeto que já tem um apoio desse, que é de 25% do
orçamento.
Esta contribuição é importantíssima e há diretores que
conseguem fazer tudo com este fundo, afinal trazem outros tipos de filmes. Para
os que não conseguem, há outros caminhos de produção, que certamente dizem
respeito a todas as coisas da cadeia e vem somar com o valor de R$ 1 milhão e
meio de um B.O, indo atrás de outros recursos para chegar algumas vezes a R$ 2
milhões, dois e meio.
Cena de "Tatuagem" |
Holofote Virtual: A meta é filmar um por ano por lá?
João Vieira Jr.: Eu adoro essa meta de filmar um por ano. Desde
2009 temos conseguido isso, exceto este ano de 2013, que a gente não conseguiu
filmar, porque coincidiu também com lançamento de dois filmes, um que estava sendo
finalizado, o "Tatuagem", e o “Homem das Multidões”,
do Marcelo Gomes e do Cao Guimarães, que já foi pra alguns festivais, mas que
vamos mesmo lançar em março de 2014.
Produzir anualmente estes filmes garante a sobrevivência da
produtora. É importante ter vários projetos simultaneamente, pois um vai bem em
edital, outro parece correr mais rápido, outros não.
Holofote Virtual: As parcerias com estes diretores também é
um ponto importante para a REC, não é? O que há para 2014?
João Vieira Jr.: Sim.
Temos diretores muito parceiros. O Marcelo Gomes é uma parceria muito feliz
muito importante. Dele já produzimos também o “Viajo porque preciso, volto
porque te amo”, o “Era uma vez Verônica” e filmamos em 2012, “O Homem das Multidões”.
Para 2014 temos mais três projetos em desenvolvimento, sendo que um deles filmamos
logo, e os demais devem ser captados ainda.
Há também uma série de televisão com o Hilton Lacerda, que é
baseada em contos não conhecidos de alguns contistas já conhecidos. A série se
chama “Contos que Vejo”. O Hilton fez os roteiros, o Ronaldo Brito, que é um
grande escritor cearense radicado no Recife, fez a curadoria dos contos e
convidamos um trupe de diretores da mesma geração, que embora se admirem nunca
tinham trabalhado juntos: Paulo Caldas, Lírio Ferreira, Cláudio Assis, Marcelo
Gomes e o próprio Lacerda também vai dirigir um.
Hilton Lacerda |
Holofote Virtual: Então é na verdade um projeto para
televisão...
João Vieira Jr.: A gente acha que este projeto tem condições
e elementos para juntos se tornem um longa, mas em outro momento. O produto
principal é para a televisão e o nosso parceiro neste projeto é o Canal Brasil.
Holofote Virtual: E o “Tatuagem” este ano está ganhando as
salas de cinema do país...
João Vieira Jr.: Eu fico bem feliz de falar do "Tatuagem",
que ganhou mais um prêmio, desta vez da APCA - Associação Paulista dos Críticos
de Arte - um prêmio anual. Há cinco categorias para a área de audiovisual: Melhor
Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro, Melhor Ator e Melhor Atriz. E ontem quando cheguei cansado no hotel (em
novembro de 2013), após o curso, eu soube que ganhamos para Tatuagem os prêmios
de Melhor Roteiro e Melhor Ator. O resultado saiu agora, mas a cerimônia é em
2014.
Holofote Virtual: Você e o Hilton Lacerda já se conheciam
antes, como foi que esta parceria se concretizou para a filmagem de Tatuagem?
João Vieira Jr.: O Hilton foi roteirista do "Baixio das
Bestas", aliás, ele é roteirista de três filmes dirigidos pelo Cláudio
Assis: também de “A Febre do Rato” e “Amarelo Manga”. Durante o Baixio a gente
teve uma convivência muito próxima, pois o Hilton Lacerda gosta de acompanhar
as filmagens, conversa muito com os diretores, sem interferir tanto. Nós dois já nos conhecíamos desde adolescência,
mas se aproximou nesta fase, porque ele mora em são Paulo e nem sempre nos
víamos.
Holofote Virtual: O Hilton Lacerda é
um homem do roteiro, mas que também dirigiu já algumas coisas, antes de
tatuagem...
João Vieira Jr.: Nos anos 1990 ele fez dois curtas que eu
adoro, o “Simião Martiniano, O Camelô do Cinema” e “A Visita”. Também
fez documentários para a TV e dividiu a direção de “Cartola – Música Para Os
Olhos”, com Lírio Ferreira. Daí perguntei a ele quando ele iria dirigir um
filme dele, de ficção. Disse que eu adoraria produzir. Um ano depois ele me
apresentou o "Tatuagem". Em 2011 entramos em processo de captação.
João Vieira Jr. no festival do Making Of 2012 |
Holofote Virtual: E você João, já pensou em fazer direção?
(risos)
João Vieira Jr.: Eu já pensei nisso... (risos) mas embora eu
ache que você possa dirigir e produzir, tendo uma boa equipe de produtores, tenho
minha cabeça e minha forma de pensar a vida muito mais moldada pela produção.
Tenho sorte de fazer isso num momento em que a produção não está mais só ligada
à captação de dinheiro, mas também está no espaço criativo, propositivo.
As perguntas que eu gosto de fazer quando escolho um projeto
são: que projeto a gente deve fazer? Que importância há em realiza-lo? Principalmente
quando se trata de um projeto de renúncia fiscal, qual a contribuição que a gente
dá ao nosso tempo e a nossa sociedade, a nossa economia. Quais são as responsabilidades
que eu tenho enquanto produtor? Em ter uma empresa produtora sediada no Recife
e não no Rio ou em São Paulo, que poderia ser mais lógica.
Enfim, penso nos compromissos que tenho com tudo isso,
socialmente inclusive. E agora já são 15 anos e 8 longas, tudo em Recife. Então,
eu acho que tem um papel muito importante para produção voltada às questões que
dão pra ela resolver enquanto empreendedorismo, sustentabilidade a seleção de
temas.
Holofote Virtual: Nós tentamos fazer a nossa parte, só que
há percalços enormes nesta área, tanto de produção, distribuição, exibição.
Como você vê esta cena, hoje?
João Vieira Jr.: Como brasileiro cidadão e produtor eu
acredito que quando há o crescimento de uma sociedade, a educação dessa
população está na diversidade de todos os assuntos e não em ter um único
pensamento. Então eu acredito na diversidade que abre espaço pra existir todo
tipo de cinema, inclusive aqueles que eu mesmo critico pela hegemonia dele nas
salas de cinema. Tudo ajuda a construir uma cadeia produtiva. O que me
entristece é quando você encontra pela frente gestores de instituições
importantes acreditando que há um cinema que possa ser superior a outro. Todos
são importante s e podem cumprir o seu papel.
Amarelo Manga |
Holofote Virtual: Os festivais ainda são um espaço
importante de divulgação para os filmes brasileiros?
João Vieira Jr.: Do mesmo jeito que acho que é importante
que existam diversos tipos de produção de cinema, tem que existir festivais
diferenciados. Alguns com caráter do cinemão e das grandes produções; outros
que se preocupem mais com a linguagem, que atendem vários nichos. O que acho
também é que para algumas produções do
cinema autoral, é super importante a
carreira nos festivais, isso ajuda a criar uma visibilidade, a construir um
pensamento sobre o cinema e a incentivar uma critica que pense e teorize,
contribuindo para a academia. Está tudo num só pacote e pensamento.
Os festivais do Rio importante, Gramado, Brasília e Tiradentes,
muito importantes. Mas também o Janela Internacional, do Recife; o Panorama Coisa de Cinema, de Salvador; a
Semana de Realizadores, do Rio de Janeiro têm a sua importância. Agora é preciso
se antenar como produtor, percebendo a pertinência e adequação de sua obra com este
ou aquele festival. Não adianta você ter um perfil e escolher o festival errado.
Dira Paes, em Baixio das Bestas |
Holofote Virtual: Temos um modelo forte de captação baseado
em renúncia fiscal. Você acredita nisso como o caminho a continuar ser
trilhado?
João Vieira Jr.: Eu tenho uma ideia muito clara sobre isso.
O Fundo de Cultura é mais adequado, principalmente quando você quer construir
uma indústria. Quando se quer, de fato, fomentar esta atividade, esta é uma
forma mais justificável e muito mais democrática também, do que meramente a
leia de incentivo. O fundo, porém, pode ser uma lei que exista independente de
uma vontade política de um governo.
Temos que garantir a continuidade de um processo. Vejo que a
responsabilidade da renúncia fiscal deveria ser muito mais voltada a quem não
faz o comercial, este que dá resultado de bilheteria. Às vezes acho estranho
que eu, lá do Recife, saia com um projeto pra ser apresentado, por exemplo, ao
BNDS, no mesmo patamar de igualdade que um representante desse cinema
comercial, que já faturou 30 milhões no último filme lançado. Por isso sou mais favorável ao fundo porque
nesta área da produção cultural, o Brasil tem uma dívida enorme. Está esquecida
e abandonada há muito tempo.
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