2.7.21

Fashion Fake estreia virtual com gosto de ao vivo

A emoção do elenco cumprimentando o público
Fotos: Carol Abreu
A Cia de Teatro Madalenas gravou no palco Teatro do Sesi, o espetáculo “Fashion Fake, a Roupa Quase Nova do Rei”, que vai estrear no Youtube do grupo, nesta sexta-feira, 2. A mini temporada digital vai até domingo, 4, sempre às 20h, com apoio do Edital de Teatro Secult-Pa Lei Aldir Blanc.

Poderia ter sido mais uma experiência para o ambiente virtual, sem o calor dos aplausos ou participação da plateia, mas desta vez, ainda na pandemia, foi diferente. E quem acessar o canal da companhia neste final de semana, vai perceber. Eu estava lá, senti essa emoção e bati um papo com o elenco e equipe técnica, nos bastidores, logo após a apresentação. 

Em cena, Brasilândia passa por tempos sombrios, em que a violência e a impunidade prevalecem. O povo vai às ruas para exigir dignidade, mas acaba se iludindo com as promessas de um rei vaidoso e arrogante. O elenco entrou em com entusiasmo no palco, ao ver na plateia, cerca de 120 pessoas, convidadas a reexperimentar a sensação única do espetáculo ao vivo. 

Cléber Cajun e Flavio Furtado | Bobo e Rei
“Eu estava com muita saudade de me apresentar com público, ter esse feedback dá um gás pra gente, para o personagem e para a cena como um todo. Ver que a plateia estava participando nos motivou ainda mais para o retorno às ruas e com todos vacinados”, disse Flavio Furtado, ator que interpreta o rei vaidoso que (des)governa Brasilândia, uma país, cujo cenário é devastador do ponto de vista político, social e econômico.  

Preocupado com o próprio umbigo e seu ‘closet’, quer andar sempre na moda, pouco se importando de fato com as necessidades de seu povo. No elenco principal também, Cleber Cajun interpreta o Bobo da Corte, personagem interessantes que fica quase o tempo todo em cena, num misto de consciência, subserviência e ironia que, para o ator, diz muito sobre o comportamento diversos das pessoas hoje em dia diante de sua realidade. Ao mesmo tempo em que ele puxa o saco do rei, enxerga com maior clareza tudo que está acontecendo ou prestes a acontecer no reino.

“Eu vejo meu personagem, o Bobo, como uma metáfora do povo brasileiro, que tem suas contradições, costuma dar seu jeito e vai levando. É muito bom falar do nosso tempo através do teatro. Charles Chaplin dizia que ‘a comédia faz pensar sem sentir dor’. Esse é um teatro político, mas com dança, circo e fantasia”, diz Cleber Cajun.

Adaptação de clássico atualizado para nossos tempos

Leonel Ferreira e Marta Ferreira 
Alfaiate e Conselheiro
O espetáculo, uma adaptação de “A Nova Roupa do Rei”, clássico da literatura escrito por Hans Christian Andersen, é também a décima montagem do grupo que já vem há duas décadas criando na cena teatral paraense e que durante esta pandemia estava um ano e meio se apresentando apenas virtualmente. 

“As apresentações digitais são bem vindas mas é muito diferente, porque não sentimos o calor do publico, cuja presença estabelece um jogo. No virtual a gente não sabe como o público está reagindo, a gente só sabe que funciona quando a gente sente o público, que é a parte mais importante em toda e qualquer apresentação de teatro. Então, mesmo quem for assistir a gravação, vai com certeza também sentir essa energia”, diz Leonel Ferreira.

O ator e também diretor do espetáculo, além de um dos fundadores da Cia de Teatro Madalenas, interpreta pessoas do povo e um dos alfaiates contratados pelos Conselheiros do Rei para confeccionar uma roupa magnífica com a qual vossa magestade deseja impressionar e enganar seu povo. “Estamos felizes e esperançoso, nessa Brasilândia real, vendo as pessoas sendo vacinadas e logo poderemos voltar as apresentações de rua que é o forte da Cia de teatro Madalenas”.

Conselheiros e Rei na articulação para a roupa nova

Para Marta Ferreira, que interpreta um dos dois conselheiros que são constantemente obrigados aos caprichos do rei, essa apresentação teve gosto de missão. “Estou me sentindo com o dever cumprido, porque o teatro tem que dizer, mexer e fazer a pessoa sair dali pensando na sua realidade, temos que refletir muito, não pode ficar como está”, disse a atriz.

O grupo também teve dois atores convidados para este espetáculo. Patrick Marques interpreta, ao lado do diretor do espetáculo, o ator Leonel Ferreira, um dos alfaiates que são contratados pelos Conselheiros para criar um modelo estonteante, magnifico e inesquecível para o rei. “Foi emocionante, acho muito importante trazer esse espetáculo neste momento que estamos e também por poder atuar com o Madalenas, grupo importante”, diz o ator.

A experiência também foi gratificante para Wanuza. “Eu já tinha feito outros trabalhos, mas é a primeira vez com o grupo Madalenas. Foi um processo longo, tivemos que adiar por três vezes, mas no final tudo deu certo e foi algo inexplicável, conseguir através do teatro passar a mensagem desse momento que estamos vivendo. Pra mim foi esplêndido, me arrepiei e me identifiquei muito”, confessa.

Cenário, adereços e figurinos com sustentabilidade 

Wanuza Mireya e Marta Ferreira | Povo 

O trabalho de Jackie Carvalho, responsável pelas 13 vestimentas que saltam aos nossos olhos, trazem junto toda a sua experiência em figurino para a passarela, teatro e para Tv e, atendendo a ideia de concepção pautada na questão da sustentabilidade e crítica à indústria predadora da moda, todas as roupas utilizadas para a montagem dos personagens foram comprada em brechó e posteriormente customizadas. 

“O ponto principal foi a sustentabilidade, 80% das roupas são provenientes do brechó, atendendo ao orçamento de baixo custo, com reaproveitamentos e deu super certo”, conta a figurinista. Foi também um desafio para ela produzir esses figurinos completos num tempo que, inicialmente, seria muito curto mas que acabou se estendendo por causa do lockdown e dos adiamentos para a estreia. 

“Aproveitei então para experimentar. Selecionei as roupas, dentro da temática do espetáculo Fashion Fake, remetendo à época dos reinados, mas trouxesse algo mais atualizado também. O manto do rei, por exemplo, é feito com três peças desmanchadas. As vestimentas do povo eram camisas masculinas todas de brechó e a roupa do Bobo varia nas roupas vermelhas reaproveitadas”, complementa.

O povo de Brasilândia protesta
E foi também por conta dessa pegada sustentável, que o artista visual Jesus da Conceição foi convidado para assinar a cenografia e adereços do espetáculo, por causa de um trabalho que ele já vem desenvolvendo. Papelão, restos de madeira, cabo de vassoura e até o material usado em sombrinhas, entre outros materiais reaproveitáveis foram utilizados. 

O artista disse que precisou até concorrer com os catadores de recicláveis. “Tive que dividir isso com eles e moradores de rua que também procuram pelo mesmo material e depois vender isso a cooperativas, é o sustento deles”, comenta.

Tudo feito com material alternativo, como o espelho, que é frutos de um trabalho de pesquisa e traz detalhes com jornal, revista, fios, madeira. “Isso já faz parte da característica do meu trabalho, mas neste caso e aqui no Madalenas é diferente, tudo se tornou mais específico, foi experimentação, mas deu certo e quando a gente vê que ficou tudo bom no palco, é maravilhoso”, disse Jesus.

Trilha sonora dá o tom de esperança

Música ao vivo
A trilha sonora é executada ao vivo, com a presença dos músicos no palco. “O processo foi muito coletivo, a letra foi escrita pelo Leo e a gente harmonizou. E pra mim é muito gratificante estar mais uma vez como convidado no grupo Madalenas, que já tem uma trajetória de renome em Belém. Fico lisonjeado, foi maravilhoso participar dessa montagem. Num período difícil como esse, conseguimos levar alegria ao público através da música e do teatro”, diz Pawer Martins,  que divide a direção musical com Diego Vattos.

O elemento musical da montagem ao final do espetáculo faz com que a gente se arrepie, sinta esperança e renove nosso votos de fé de que Brasilândia tem jeito e que novos tempos virão. “Fashion Fake – A Roupa quase nova do rei”, ficará apenas três dias em cartaz. O link para cada dia estará disponibilizado e poderá ser acessado nesta sexta-feira, 2, sábado, 3 e domingo, 4, sempre às 20h. 

Pouco tempo né? Mas tenho outra boa notícia, já está confirmada a participação do grupo com o espetáculo no Festival de Verão da Secretaria de Estado de Cultura e haverá uma apresentação presencial, no dia 17, no teatro Gasômetro. São duas oportunidades, duas maneiras que temos hoje de acessar a arte no mundo.  

O Teatro do Sesi, parceiro na gravação do espetáculo, também abriu suas portas ao público esta semana, depois de seis meses fechado, este ano. Evoé, que abram as cortinas, que entre em cena um novo momento para todos nós! Viva o teatro, a cultura e o afeto com que arte nos abraça.

Ficha Técnica | Fashion Fake 

Direção Musical – Diego Vattos e Pawer Martins

Cenografia e Adereços – Jesus da Conceição Ferreiro 

Cenário: Sergio Carvalho

Motorista: Clóvis Santana

Cabelos – Sara Miranda

Maquiagem – Nádia Alvarenga

Iluminação – Thiago Ferradaes

Figurinista – Jackye Carvalho

Costureira – Nete Ribeiro

Coordenação de Comunicação: Tainah Fagundes

Assessoria de comunicação: Luciana Medeiros

Designer Gráfico, fotografia e arte do cenário: Carol Abreu

Ilustração bandeira: Cleber Cajun

Produção Executiva: Leonel Ferreira e Flávio Furtado

Assistente de Direção: Flavio Furtado

Dramaturgia e Direção Geral: Leonel Ferreira

*Todas as músicas compostas pelo elenco de forma colaborativa

Elenco:

Flávio Furtado - Rei

Cleber Cajun – Bobo

Conselheiros – Marta Ferreira e Wanuza Myreia

Alfaiates – Leonel Ferreira e Patrick Marques

Povo – Marta Ferreira, Wanuza Myreia, Leonel Ferreira e Patrick Marques

Serviço

Cia de Teatro Madalenas apresenta Fashion Fake - A Roupa Quase Nova do Rei. Apresentações online nos dias 02, 03 e 04 de julho, às 19h, no canal do YouTube da Cia de Teatro Madalenas. Agradecimentos: Casarão do Boneco, Associação dos Moradores da Vila da Barca e Teatro do Sesi Pará. Projeto selecionado pelo edital de teatro Lei Aldir Blanc, Secult-Pa.

Nenhum comentário: