Não vai ter valsa, mas com certeza será uma festa com direito a muitos bailados. O aniversário de 15 anos do site Cultura Pará criado, projetado e programado pelo poeta e web designer Vasco Cavalcante, será comemorado em grande estilo, nesta de quarta-feira, 15, a partir 19h, na Fundação Ipiranga (Almirante Barroso). Todos convidados.
Pergunte a Vasco o que o moveu para concretizar este projeto. Imediatamente, ele revela que foi a paixão pela arte e vontade de não só ver, ler e sentir, mas também de distribuir, compartilhar e mostrar pra todo mundo.
É assim que entra no ar, em 1997, o Cultura Pará, site no qual sempre se chega, quase que invariavelmente, ao buscar, no infinito espaço virtual da internet, informações sobre a trajetória de artistas ou grupos paraenses na área do teatro, artes plásticas, fotografia e literatura.
Ao longo dos anos, o Cultura Pará já mudou de cara, foi ganhando conteúdo, leitores e se tornou referência. É uma verdadeira vitrine para os artistas e suas obras. Por muito tempo novidade, o site já foi ganhador, ainda nos anos ‘90, de vários prêmios internacionais, tendo um acesso superior à média nacional, recebendo solicitações externas de licença de utilização de páginas específicas, para figurar em sites estrangeiros.
Além disso, Vasco Cavalcante mantém uma agenda atualizada onde estão serviços sobre exposições, espetáculos e lançamentos literários, em cartaz na cidade. Ao completar estas 15 primaveras, como qualquer um faria nesta idade, o site agora quer ampliar seus horizontes e, além de continuar trazendo novos autores, irá criar novas seções para os artistas do audiovisual, dança e música.
Colaborativa - Bem, da mesma forma que o site, a festinha desta noite também tem espírito
colaborativo, por isso quem for até lá festejar, pode tocar, cantar,
dançar e levar as bebidinhas. É pra ficar à vontade, avisa Vasco, que
está recebendo durante todo o dia de hoje parabéns que chegam via FaceBook, e-mails e, mais tarde, presencialmente. Os brindes serão inúmeros.
Entre
os que já confirmaram presença para se apresentar no aniversário estão o
pianista Paulo José Campos de Melo e o trio instrumental formado pelo
percussionista Paulinho Assunção, o multi-instrumentista e maestro Luiz
Pardal e o tecladista Jacinto Khawage, além de Marcelo Siurotheau e
Patricia Rabelo, e Pedrinho Cavallero.
E o Holofote Virtual, que procura divulgar ações culturais e contribuir com a criação de conteúdos sobre a produção artística contemporânea paraense, inúmeras vezes foi beber na fonte infinita que é o Cultura Pará, trazendo informações complementares e fundamentais para suas publicações, não poderia ficar de fora da comemoração e nem de bater um papinho com Vasco Cavalcante, amigo e parceiro importante para mim, como jornalista e produtora da área cultural, e também para todos que vêm expostas no site suas criações.
É ele quem nos conta na entrevista abaixo, como surge o site e quais as suas novidades para os próximos 15 anos.
Holofote Virtual: Esta história pode até já ter sido contada antes, mas é sempre bom revê-la. Conta como surge o site Cultura Pará e o que foi que levou a pensar neste projeto?
Vasco Cavalcante: Bem, o meu principal estímulo é difícil definir direito. Talvez seja aquele vírus que algumas pessoas têm de querer interferir, de não se conformar em apenas ver. Sabe aquilo de tudo o que se vê, ouve, lê e sente vontade de querer mostrar pra todo mundo? De não se conformar em admirar algo e ficar para si? Isso é uma coisa que me fez me dedicar a esse trabalho.
Mas tudo começou no inicio dos anos 80, quando eu e o hoje jornalista William Silva, partimos para uma publicação de nossos poemas, feitos na época à lápis, caneta esferográfica e a máquina de datilografia. Na época, publicar um livro, mesmo simples com poucas páginas, era caríssimo, então criamos um modelo, ainda original por aqui, com envelopes comerciais, pintados a tinta spray, para envelopar os poemas e vender aos amigos.
Depois se juntaram a nós: Jorge Eiró, Celso Eluan, Zé Minino e Iru Bezerra dando inicio ao grupo Fundo de Gaveta, que se reunia semanalmente e publicava também de forma artesanal poemas em envelopes comerciais. O grupo publicou três envelopes poéticos entre os anos de 1981 e 1983.
Holofote Virtual: Concretamente, com publicações, isso durou apenas três anos. E o Fundo de Gaveta é também um capítulo importante na tua vida. O que aconteceu depois que o grupo se desfez?
Vasco Cavalcante: Após a separação do grupo, aconteceu em mim uma espécie de vácuo. Senti falta daqueles sonhos de participar de algo envolvendo arte e cultura novamente, de tentar mudar a história.
Daí veio a ideia, no ano de 1985, de montar, durante o mês de outubro, um mês de muito movimento turístico aqui na cidade, por conta do Círio de Nazaré, um grande galpão onde se abrigasse vários segmentos artísticos com o objetivo de mostrar o talento de nossos artistas, tão distantes dos grandes centros, e por isso com enormes dificuldades em mostrar/difundir seus trabalhos.
Mas para isso precisaria de grana, e obter grana para esse fim só se recorrendo a empresários, que precisariam ver um retorno comercial forte para o empreendimento, mas o que eu queria mesmo era trabalhar com os artistas que tinham trabalhos com pouco apelo comercial, porque esses eram justamente os que tinham maiores dificuldades.
Bem, passaram-se 11 anos, até em 1996 eu começar a trabalhar no desenvolvimento de sites na Prodepa (Empresa de Processamento de Dados do Estado do Pará), para voltar à ideia do grande galpão. Eu agora poderia montá-lo virtualmente, e mostrar nossos artistas não apenas para os que viessem aqui ocasionalmente, mas permanentemente e para o mundo. Daí começou tudo.
Holofote Virtual: O que você pretende desenvolver no site daqui pra frente? Ele ganhou nova cara e está com uma organização que facilitou mais o acesso às informações que estão lá e não são poucas.
Vasco Cavalcante: Bem, projetos em minha cabeça há muitos. Ampliar para os segmentos de música, cinema e dança é um deles. Continuar incluindo gradativamente novos autores, mas seguindo as normas de sempre, ou seja, solicitando curadorias colaborativas para novos elementos. Mudar gradativamente a forma de apresentação das obras dos artistas nas partes internas do site. Trazer mais sobre a história das artes em nossa região. Continuar trocando ideias com dois elementos de fundamental importância para o desenvolvimento do site e que sempre me acompanharam nessa longa jornada, a fotógrafa Maria Christina e o artista plástico Jorge Eiró.
Holofote Virtual: Qual é a sensação de ver um projeto independente chegar aos 15 anos. Tens algum apoio?
Vasco Cavalcante: É uma sensação maravilhosa por tudo o que o site alcançou. E ele prova uma coisa, que quando se tem um sonho e uma vontade, não existem obstáculos ou eles são efêmeros. Você arranca o seu sonho e o planta no terreno mais estéril e ele brota, nasce porque você quer que nasça.
Nunca tive grana de apoio para fazer e realizar o site, mas nunca paguei nada pra ninguém para tê-lo/fazê-lo, a não ser custos indiretos como energia por exemplo. A ajuda que recebi, e muito bem vinda por sinal, foi para a manutenção dele, gratuitamente, em um provedor, inicialmente por interesse do provedor e depois com ajuda de terceiros nesse serviço de locação do espaço para usufruir do benefício.
Então ele é totalmente independente.
Nunca aceitei nem uma troca direta, apoio financeiro para desenvolvê-lo. Já tentei um edital uma certa vez, mas para desenvolver um projeto maior dentro do site e para isso eu precisaria de uma equipe de pesquisa, e técnica qualificada para execução.
Holofote Virtual: Muitos artistas devem se interessar em fazer parte do site. Como trabalhas quanto a esta demanda?
Vasco Cavalcante: O site não é um salão com obras, mas com autores e suas obras, então é complicado você eleger determinados artistas e deixar outros de fora, e temos um cenário muito rico em todos os segmentos. Então, elejo curadorias como bem falei mais acima, e essa curadoria discute e escolhe os participantes. Alguns são convidados e não participam por falta de tempo em organizar/registrar suas obras. Mas se temos que apontar um critério é o de participação na cena artística local.
O artista tem que ter uma historia pra contar e justificar a carreira dele, não precisa ser um veterano, mas ter pontuações em salões, referências que o justifiquem como participante da cena artística paraense. Mas tem também os critérios de curadoria, que em geral é embasada, mas arte não é matemática, então cada curadoria, tem seus próprios critérios para determinar suas escolhas. Isso ocorre em qualquer salão de arte do mundo, o Cultura Pará segue esse critério.
Holofote Virtual: Qual o conselho que você dá ao artista que ainda não tem o perfil exigido pelas curadorias do Cultura Pará?
Vasco Cavalcante: Um conselho que dou a todos os artistas que têm o sonho de viver de sua arte: submetam seus trabalhos a salões, festivais, concursos, todos os possíveis. Os salões mais importantes de nossa região: Primeiros Passos (CCBEU), Pequenos Formatos (UNAMA), o Arte Pará e o recente Prêmio Diário de Fotografia Contemporânea. Festivais esse ano de 2011 tiveram às pencas.
Vasco, pelas lentes da filha Luiza Cavalcante |
Não se deixem levar pela corrente de que os premiados são escolhidos por padrinhos.
Não é demérito não classificar trabalhos em salões de arte, em concursos literários, em festivais etc.
Tudo depende dos critérios de curadoria, e muitas vezes elas, as curadorias, são sazonais. Temos um mercado de arte deficitário em nossa região, sofremos muito com o interesse do empresário em geral, ele corre para vender lata de sardinha em vez de arte.
O produto comercial em minha opinião é todo igual. Lata de sardinha, vidro de azeitona, luz de cabeceira e trabalho dito “artístico”, feito com intuito único e exclusivo de vender, não são diferentes e todos são descartáveis, após o uso. O verdadeiro artista faz arte por que precisa fazer, senão nada tem sentido na vida dele e às vezes até enlouquece. Artista realmente faz sua arte pra ele mesmo.
Holofote Virtual: Preparado pra todos os abraços de hoje?
Vasco Cavalcante: Continuo afirmando que o parabéns é para todos, pois sem o trabalho desses artistas nada disso teria acontecido, todos fizemos juntos tudo isso. Os artistas viveriam sem o site, mas o site não existiria sem o trabalho deles.
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