De Octávio Cardoso |
Uma exposição surge como forma de alerta para que a sociedade civil fique de olhos bem abertos para a história da cidade e do estado, já que o patrimônio cultural edificado é um bem de todos, da sociedade, e não apenas um negócio nas mãos do setor privado. A abertura é nesta sexta-feira, 10, a partir das 19h.
Fotografia é memória. E a mostra “Memória Profanada”, com fotos de Luiz Braga, Octávio Cardoso e Rosário Lima trazem registros de dois períodos que marcam a história do palacete Vitor Maria da Silva: antes e depois das ações criminosas que saquearam objetos de valor artístico e depredaram o prédio localizado na Trav. Veiga Cabral com a Rua Presidente Pernambuco, no bairro da Campina.
“São fotos em cores que representam o manifesto, a minha posição em relação a preservação do patrimônio. Não sou contra o moderno, pois tradição e modernidade podem conviver harmonicamente”, sinaliza o fotógrafo Luiz Braga, que marca presença na mostra com 19 fotos em formato 70 x 100, registradas de forma documental em 1998.
De Luiz Braga |
Nos anos 90, o fotógrafo teve permissão para entrar no palacete durante um trabalho a ser realizado com várias fotos sobre o patrimônio da cidade destinadas ao calendário do Ministério Público, entre elas a famosa foto da chuva na Praça da República.
Recentemente, o fotógrafo se posicionou publicamente contra a desativação dos galpões 11 e 12 da Companhia das Docas do Pará por meio do seu perfil em uma das redes sociais na internet. Os galpões são tombados há mais de 10 anos pelo Departamento do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Estado do Pará (DPHAC).
Em contrate com o registro de Luiz Braga que capturam o momento de manutenção do patrimônio, as fotos da depredação do prédio poderão ser vistas em três trabalhos do fotógrafo Octavio Cardoso, registradas imediatamente após denúncias feitas pelos moradores da área de entorno da Praça Coaracy Nunes (Ferro de Engomar) ao final de janeiro.
Além das peças de cerâmica, o vandalismo alcançou as grades do palacete, com paredes inteiras danificadas, infiltração e roubos de vários objetos ornamentais. “É triste olhar para uma cidade que não se reconhece, em que a palavra memória não é considerada em sua importância, seu ponto de referência. A cidade é como uma pessoa, só existe por meio da memória, de seu passado.”, reflete Octávio Cardoso.
De Luiz Braga |
Vídeo - A exposição também exibe um vídeo da fotógrafa Walda Marques e do produtor Luiz Laguna com imagens feitas pelo iPhone, e textos da arquiteta e urbanista Elna Trindade, da mestra em Arquitetura de Conservação e Restauro, Thais Sanjad; da diretora do DPHAC, Thais Toscano; e do secretário de Cultura, Paulo Chaves.
A exposição ‘Memória Profanada’ tem como objetivo chamar a atenção do público para os atos de vandalismo registrados neste início de ano, como o palacete Vitor Maria da Silva, em processo de tombamento há seis meses; e o prédio localizado na Travessa Rui Barbosa, 1343, no perímetro compreendido entre as avenidas Nazaré e Braz de Aguiar, devidamente tombado por se encontrar em uma área de preservação histórica.
Ambos embargados pela Secretaria de Estado de Cultura – Secult, por suas ações irregulares.
O palacete Vitor Maria da Silva foi construído no século XIX com painéis de azulejos raríssimos criados pela empresa francesa A. Arnoux e Boulanger & Cie.
O construtor e engenheiro, Vitor Maria da Silva, foi secretária de Obras Públicas, Terras e Viação.
“Foi com muito pesar que, uma semana depois, tomamos conhecimento do lastimável ocorrido com a casa - patrimônio histórico-cultural do Pará, que conta também a trajetória de nossa família”, lamentou Mônica Silveira, bisneta de Vitor Maria da Silva.
De Octavio Cardoso |
“A casa foi vendida ao atual proprietário em abril de 2005. Não havia mais como mantê-la, uma vez que minha tia, já com idade avançada, não teria condições de continuar residindo sozinha na casa. Hoje, aos 88 anos, ela mora conosco em Brasília”.
Dentre os painéis depredados, estão “Busto feminino”, “Primavera”, “A caça”, “Natureza morta”, “Marinha”, “Fidalgo português” e “Flamingo”, além de lustres, ventiladores, teto e piso.
Fazem parte do conjunto uma sala de estar, laboratório fotográfico, alcova, varanda, dois gabinetes, um jardim de inverno, quatro dormitórios, dependência de empregada e banheiro com ducha semi-circular. Os azulejos que restaram foram encaminhados ao Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação da UFPa, sob a responsabilidade da professora Thais Sanjad.
|Serviço|
A exposição ‘Memória Profanada’ é uma realização da Secretaria de Cultura e tem apoio da Associação Fotoativa. Fica aberta ao público de até o dia 24 de fevereiro, no Armazém 2 – Boulevard da Gastronomia, andar térreo da Estação, no espaço em que se encontra uma plataforma usualmente utilizada para serviço de restaurante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário