6.6.12

Leo Chermont na música e no cinema paraense

Leo Chermont
Fotos: Renato Reis
 
A lua ainda vai estar próxima de cheia nesta quarta-feira, 06, véspera de feriado, iluminando e recebendo, pela primeira vez em Belém, Karina Buhr, cantora sensação da nova safra da música brasileira. Mas antes dela soltar a voz, cheia de manha e sotaque distinto para o público que lhe aguarda na capital paraense, uma outra luz há de brilhar no palco do Hotel Gold Mar. E será a do Strobo, que abre o show da musa pop pernambucana (mais sobre o show dela, aqui). A banda é formada pelo baterista Arthur Kunz e pelo guitarrista Leo Chermont, que estreia aqui no bate papo do Holofote Virtual.

A banda Strobo não demorou muito para cair na estrada, país afora, depois que surgiu em Belém em janeiro do ano passado. Vem provocando sensações, delírios e ganhando fãs e admiradores, em espaços diversos, enquanto já prepara o segundo CD, sempre procurando dar à música instrumental uma roupagem pop, e se utilizando da tecnologia para misturar timbres sintéticos e acústicos sem restrição.

De jeito aparentemente tranquilo, do tipo largadão, porém ligado, Leo Chermont, 28, se encontrou na música há muito tempo, e vem fazendo dela o seu modo de vida, extraindo de cada acorde, as possibilidades que a vida possa lhe oferecer para ser feliz e sentir-se realizado profissionalmente, seja fazendo o próprio som, com outras bandas ou fazendo trilhas, além de som direto para cinema, sua mais nova e promissora paixão. 

No Strobo, ele experimenta a delícia de já ter conquistado tanto. Em pouco tempo de existência a banda já tem três EPs virtuais lançados (“001?, “Bizarro Dance Club” e “Quando se perde a inocência”), dois clipes na programação da MTV Brasil, foi contemplada pelo edital de circulação “Conexão Vivo” e gravou recentemente o programa “Experimente” da emissora Multishow. 

Além disso, a banda participou da edição 2012 do Festival Abril pro Rock.  E planos não faltam, mas o guitarrista faz segredo sobre o que ele chama TVT, uma nova mídia. “É um produto secretíssimo, que ainda está sendo pesquisado e estudado. Acho que até fim do ano posso falar um pouco”, é tudo que ele adianta. 

A descoberta da guitarra aconteceu de forma inusitada e porque não dizer privilegiada. Ainda moleque, ao visitar uma tia que morava nos EUA, ele entrou na loja do Eric Clapton, em Miami, a Guitar Gallery.  “Parecia uma biblioteca de instrumentos, com aquelas escadas que correm de um lado para o outro. Acho que ali, foi o despertar. Fiquei meio abestalhado com tanta guitarra e acabei comprando uma, mesmo sem saber tocar nada. Aí comecei a fazer barulho em casa e foi”, diz, simples assim. Para ele, o maior sonho é viver tranquilo “e poder fazer os trabalhos que eu quero, na paz e com muito roquenrol. Um sítio, um curió e a conta do banco cheia”, ressalta. 

No show desta quarta feira, Leo diz que a Strobo vai mostrar música nova, Delírio Cromático, e ter junto, um terceiro elemento, o artista Lucas Gouvea, que vai fazer um set visual, seu Improvideo. E aqui neste bate papo, ele fala mais sobre tudo que vem conquistando, experimentando e descobrindo com a música.

Leo e Arthur Kunz, prontos pra cena
Holofote Virtual: Uma banda de dois. Como é isso, Leo. Que invenção é o Strobo? 

Leo Chermont: O Strobo nasceu de parto natural, identificação de pessoas e de sons. Eu já tocava com o Arthur e com outras bandas e artistas da cidade, e sempre rolou uma conexão massa de sonoridade mesmo. 

Antes do Strobo, entramos em estúdio para gravar um disco live, eu, Calibre (MG Calibre) e Kunz e acabou que o disco não saiu, mas nasceu uma banda nova e isso é o barato da parada: novas ideias. 

Holofote Virtual: Os figurinos chamam atenção.... 

Leo Chermont: Na real, no começo do Strobo rolou uma concepção mais futurista que é mesmo a sonoridade que fazemos. Duas pessoas no palco e muita coisa elétrica, logada, mas depois acabou que eu só tocava com calça de gari, enfim isso tudo mesmo é arte e forma de se expressar pelo som ou visual. Ficar à vontade no palco é o mais importante. Isso nada mais é do que espantar nossos fantasmas com a música, acho que o Strobo ao vivo é isso. 

Holofote Virtual: Parceria com Arthur Kunz... Ele é "o cara"? 

Leo Chermont: Tenho que admitir... Sacanagem... Arthur é um cara muito centrado e sabe o que quer com a banda, então fica fácil de trabalhar, além de ser um ‘puta’ batera, acho que rola um pouco de um completar o outro. Eu um pouco mais desligado, deixando o barco levar, e ele ali, sempre de olho, buscando o melhor caminho, parceria de alegria. Fico muito feliz de ter essa banda com Arthur. Nesse último ano, foi uma das minhas melhores surpresas. 

No palco, sensações sonoras
Holofote Virtual: Vocês têm feito muitos shows por aí. Conta como tem sido a carreira da banda. 

Leo Chermont: Tem sido bem louca. Temos um ano de banda e já temos um CD lançado e dois clipes na MTV rolando, além de muita coisa na rede. Então isso acabou abrindo portas rapidamente. Fizemos shows pela Funarte no Rio, Studio RJ, Festival Poraquê. Fizemos um em Manaus que foi massa demais, além do Abril pro Rock.

Acho nosso disco bom, mas ao vivo é mais legal mesmo e, paralelamente a isso, fizemos também o Multishow Experimente, que deu uma visibilidade massa. Está rolando esses tempos um programa no Canal Brasil de bandas novas que eu não to lembrado o nome, mas enfim, o que rola é que a produção da banda não pára e é isso que tá girando a roda.

Holofote Virtual: Antes do Strobo, tem outras bandas... 

Leo Chermont: Na real, já toquei e toco bastante por aí... Metaleiras da Amazônia, dos mestres do Sopro Manezinho, Pipira e Pantoja; com o pessoal do Coletivo Rádio Cipó, Mestre Laurentino, Dona Onete e fiz uma sequência também com o Felipe Cordeiro. Agora tô na estrada com a Luê (Soares), enfim, gosto de tocar com artistas que eu acredito e que me dão liberdade pra poder criar e tocar do meu jeito. 

Aí, na real, acompanhei já um pessoal que passaram por aqui, como a Andreia Dias, cantora de SP, Dago Miranda, Dudu Aires. Toco com quem acho válido, faço o som. Atualmente, acabei de fazer BH com os Metaleiras da Amazônia, e ainda vamos para Brasília. 

No mês que vem faço o Amazônia das Artes com a Luê, um projeto do Sesc. Então este ano tenho estas prioridades e, claro, o Strobo, que tem muita coisa no segundo semestre. Estamos finalizando o segundo disco. Também tô fazendo mais uma trilha para um desfile e sempre nos testes de sons, que é o que eu gosto mesmo. 

No Casarão Floresta Sonora
Holofote Virtual: Paralelo a isso, o “senhor” foi um dos mentores do Casarão Floresta Sonora, que fez muitas coisas, agitou a cena... 

Leo Chermont: Então, o Casarão era uma casa viva. Lá, as coisas aconteciam de uma forma mística e natural. 

Por lá passaram todos os tipos de músicos que se pode imaginar, e de artistas em geral. As pessoas se reuniram para experimentar bastante em um lugar que tudo se podia fazer. Como a casa era grande, podia-se pintar uma parede ou gravar uma banda ao mesmo tempo, e tudo estava interligado. 

Holofote Virtual: Acabou? 

Leo Chermont: Acho que o Casarão teve um papel muito importante na minha vida e de muitos outros que passaram por lá, de trazer uma firmeza que se pode viver da arte, do som e do sonho. Depois teve o papel de conectar as pessoas e agora o papel de profissionalizar. O Casarão é uma escola de vida. Acabar? Acho que o espírito do Casarão nunca vai sair de algumas pessoas que passaram por lá. 

Holofote Virtual: Agora tem o Labzone... 

Leo Chermont: Então, o Labzone veio justamente como uma continuidade do trabalho do Casarão, só que com a pegada do profissionalismo e a pegada é o Audiovisual em geral, documentário, clipes, curtas e por aí vai. Montamos a equipe que fica comigo no áudio, mixagem e som direto; a Suanny Lopes, na Produção; Lucas Escócio e Filipe Parolim tomando conta do vídeo, fora vários elementos fundamentais para o funcionamento da Casa Labzone, que fica em um porão. Todo homem tem que ter um porão. 

Com Mestre Vieira e Os Dinâmicos
Holofote Virtual: O nome Labzone é diferente. Eu até já sei, mas conta pra todo mundo de onde surgiu a ideia (risos)? 

Leo Chermont: O Batismo do nome veio do Mestre Vieira, um projeto lindão que a equipe participou. E ele, falando histórias de encantaria, falou do lobisomem e lá, como se fala no interior, ele falou Labisonho. 

Ali foi a sacada! O lobisomem é o processo do homem de se transformar, a natureza regendo tudo, e acho que estamos nesse processo no Labzone. Mas o nome pode ser apenas uma zona laboratorial da arte. 

Holofote Virtual: E vocês estão mandando ver, né?

Leo Chermont: Lá tá rolando mesmo e numa velocidade absurda. Já tô com a agenda de corre até fim do ano. A equipe tá respondendo bem e como já fizemos trabalhos anteriores juntos, já nos conhecemos e nos complementamos, todo mundo se afinando, aí não tem tempo ruim. Bem feliz nesse novo processo.

"Som foi", no set de Barcarena
Holofote Virtual: Estás fazendo documentários, ficção... A música e o cinema na veia... 

Leo Chermont: Massa demais esse momento, acho que isso sempre andou comigo até nas músicas que faço, sempre agrego atmosferas e sons de ambiente externos. 

Chegou um tempo que cansei de gravar banda na real, gosto de gravar a minha e poder experimentar o que rola. Então acabei indo para a rua gravar e fazer som direto. Montei os equipamentos e agora tô me deliciando com esse processo do agora e de se adaptar ao local e a estrutura que se tem. Tá tudo andando e o trabalho não pára.

Primeiro rolou contigo, o documentário sobre Mestre Vieira e aí já foi engatando um atrás do outro, como um doc institucional, com o Fernando Segtowick, depois o curta Certeza, minha primeira ficção, e agora tô fazendo o do Adriano Barroso, sobre os pássaros juninos. Esse tá começando essa semana e no fim do mês parto pro Marajó para fazer o documentário sobre o Mestre Damasceno, do Guto Baca. 

Acho massa documentário, que é o que se passa na vida real, e sempre fui fã e assisti muito mais documentário do que filmes de ficção, e agora poder trabalhar com isso tá sendo uma realização pessoal e tudo uma questão de entender o som.

Música, tecnologia e atitude eletrizante
Holofote Virtual: Agora é o futuro... 

Leo Chermont: O presente tá tão correria que o futuro não tô pensando muito não. O que quero nesse ano é lançar o disco novo do Strobo que tá ficando lindão e continuar deixando a música e os filmes me levarem onde quiserem, vivendo um dia de cada vez fica mais rápido o processo do ser. É isso mesmo... 

Ahhhh, o plano maior vai ser o estúdio na floresta, mas isso só pra mais uns dois anos. Todo erguido com bioconstrução, vai rolar meio junglesoundsystem. 

Holofote Virtual: O Pará na cena musical do país. Como tu estás enxergando tudo isso, achas que estamos no caminho certo? 

Leo Chermont: Acho que estamos andando, tudo isso é muito bom de ver e acho que esse é o caminho, usar a nossa cidade a nosso favor. Temos os elementos e todos querem ver. Acho bonito ver isso e me sentir parte do processo. Acho que o discurso tem que ser forte, válido e evolutivo. 

Pra mim, não adianta nada chegar, virar popstar e não passar mensagem nenhuma, não tentar mostrar que o mundo pode ser melhor, que as pessoas podem ser felizes e que existe um possibilidade. A partir do momento que você se torna mais do mesmo, é melhor aproveitar seu tempo de fama que logo mais vais passar. Espero essa consciência desses artistas que estão na grande mídia e que não seja mais um espelho para sua vaidade.

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