10.8.13

Quando árvores psicodélicas brotam em sushi bar

Em mais de 20 anos de trajetória, expor em bares e restaurantes não é novidade para Tarcísio Ribeiro, que realizou sua primeira mostra ainda nos anos 1990, no Cosanostra Café. O artista agora expõe “Cinco”, aberta desde o mês de julho, no Eco Sushi Lounge, onde poderá ser vista até final do mês de agosto.

“Árvore em céu quente”, “Escuta”, “Ao por do sol”, “Ulalá” e “Bailarina” são as cinco obras que integram a exposição. As pinturas que foram realizadas em momentos diferentes de sua carreira artísticas, trazem tamanhos razoáveis. A maior delas tem formato 120 x 240, o que seria equivalente a 12 quadros de 40 x 60 cm. 

“A mais antiga entre elas foi pintada em 2006 e a mais recente em 2012, elas vão surgindo espontaneamente apenas a partir da necessidade de pintar, os quadros que se sucedem, em geral, têm cores e formas opostos”, diz o artista em entrevista ao Holofote Virtual. 

Divididas em três partes: o céu (copa da árvore); a terra (raízes) e o tronco (conexão entre terra e céu), as obras trazem cores vivas, que pulsam revelando folhas, galhos e outros mistérios da natureza. Amante de música, cinema e literatura, além das artes visuais, claro, Tarcísio Ribeiro nasceu em Bragança, onde viveu até os 18 anos de idade, quando se mudou para Belém. 

Trouxe desde lá, certamente, em sua veia artística, a admiração pela natureza e pela região amazônica. Isso tudo sempre foi inspiração, mas não espere necessariamente ver paisagens naturais, seus traços trazem interferências da vida que resultam em surpresas transcendentes. 

Atualmente envolvido com a criação de uma galeria para deixar obras suas em exposição permanentemente, Tarcísio conversou com o Holofote Virtual e contou mais do que o instiga e lhe leva a pintar. 

Holofote Virtual: São 25 anos dedicados à pintura. O que isso significa isso pra ti? 

Tarcísio Ribeiro: Ficou claro pra mim que a vida passa rápido, em determinado momento a morte se faz presente, então acho importante me aperfeiçoar no que gosto de fazer e participar onde vivo.

Existem as coisas por fazer, escolhemos algumas, outras nos escolhem, outras são pensamentos que nem chegam a se materializar. Tenho planos com pinturas, trabalhos e estudos. Bom, é o mistério da vida, é sutil, vamos ver o que acontece. 

Holofote Virtual: Ao longo desse tempo você muitas vezes trabalhou de forma solitária. Mas também fez exposições, vendeu quadros e também presenteou amigos. Como você analisa esta trajetória pública? 

Tarcísio Ribeiro: Olhando para o assunto dessa forma, lembro de amigos que nasceram junto com quadros e de alguma maneira fizeram e fazem parte deles. Não lembro de maiores adversidades provocadas pela pintura nesta dita trajetória pública. Em algumas situações as pinturas provocaram emoções, arrepios, lágrimas, são boas essas lembranças. Quero dizer com isso que fiz alguns amigos em virtude das pinturas, assim como estreitei laços de amizade. 

Holofote Virtual: Tuas reflexões sobre a vida estão ligadas ao que você produz, fatalmente. Quais seriam questões mais pertinentes na hora de pintar? 

Tarcísio Ribeiro: Creio que as músicas respondem essa pergunta por mim, melhor do que eu. Veja bem.

Muitos dos assuntos (quase todos os assuntos) são tratados nas músicas e com muitas variações, muita graça, melodia, ritmo, então tem dias que é Tom Jobim, João Gilberto essa turma, tem outros dias que é o Prodigy, tem épocas de rock, épocas de samba. Ouvir música combina bem com minha forma de pintar. Quanto às conversas, enquanto estou pintando, prefiro assuntos mais descontraídos. Agora, o pensamento, o pensamento se governa. 

Holofote Virtual: E como estas trilhas embalam teu trabalho? Onde são refletidas? 

Tarcísio Ribeiro: Como falei a pouco, sim, permeiam, ditam ritmo das pinceladas grosso modo; ou acalmam a mente, os pensamentos, o coração, de modo sutil, o que permite pintar com maior atenção e criatividade. O problema na hora de pintar é o bloqueio, achar que o quadro em andamento está feio, duvidar da própria capacidade de superação, ou por outro lado, achar que está bom demais, ficar vaidoso no ato de pintar, todas essas coisas atrapalhem... e a música tem uma função bem importante neste momento.

Holofote Virtual: Nesta exposição de árvores vês-e boa dose de psicodelismo... 

Tarcísio Ribeiro: Sim, também acho, mas não ligo muito não, é o jeito delas, no fundo são simpáticas. Brincadeiras a parte, creio que há similaridades de minhas pinturas com imagens psicodélicas, mas em uma rápida pesquisa na rede mundial de computadores, pode-se perceber que as imagens psicodélicas são um pouco mais “emaranhadas“ ou “confusas” do que minhas pinturas. E o psicodelismo já é uma experiência visual agradável aos olhos. 

Holofote Virtual:  Quais outros alimentos nutrem tua arte?

Tarcísio Ribeiro: Acredito que a dor é o principal alimento para a arte, os outros todos são bem menores. Mas não é ruim assim, a ideia é transformar a dor em quadros que transmitam sentimentos positivos, certa alegria, esse é o desafio. Holofote Virtual: Produzes em demasia? 

Tarcísio Ribeiro: Acho que produzo o bastante, mas gostaria de produzir ainda mais. Estive um tempo empenhado em organizar o espaço da Galeria T, que é onde distribuo meus quadros, foi um tempo gasto para distribuir 40 quadros aproximadamente expostos em 100 m3 de galeria, e isso leva tempo. Além disso, tenho outras tantas em telas enroladas. Por outro lado estou sempre envolvido com estudos e trabalhos sobre estatísticas, sistemas de informações e afins e isso também toma um tempo considerável. 

Holofote Virtual: Humm... Então a Galeria T é a grande novidade do momento? 

Tarcísio Ribeiro: Estou em vias de concluir o projeto Galeria T, que tem por objetivo manter uma exposição permanente com quadros de minha autoria. Em um primeiro momento, contém aproximadamente 30 obras, de diferentes momentos de criação. A obra mais antiga do acervo é de 1997, foi pintada a dedo e trata-se de um auto retrato, em acrílica sobre duratex. 

Outro quadro relevante na galeria são 27 miniaturas, divididas em quatro partes, que simulam a galeria em miniatura, pintado em 2002. Até chegar à série de pinturas sobre árvores serie iniciada a partir de 2007. A ideia é que, entre uma exposição e outra, sempre haverá possibilidade de visitação das minhas pinturas, em ambiente propício. 

Holofote Virtual: Viver de arte é tua meta? 

Tarcísio Ribeiro: Não reclamaria de viver de arte não, porém também desenvolvi o hábito de gostar de trabalhar com estatísticas e sistemas de informações. Compreendo que tenho por onde contribuir nessa área também. O ideal pra mim é combinar essas atividades, e não só elas, mas também, ainda incluir outras não menos importantes, como culinária, esportes, atividades sociais e culturais, e o repouso.

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