21.12.16

André Macleuri mostra novo trabalho em 2017

André Macleuri, com o Guitarada Açu, no RJ
(Fotos: acervo do artista e do blog)
André Pereira de Souza e Souza, 37, músico paraense, mais conhecido no meio musical de Belém, como André Macleuri, está se preparando para dois grandes momentos em 2017, ser pai e lançar o primeiro disco solo. Ao vê-lo tocando, mais recentemente, num espaço cultural de Belém, para o qual foi convidado a apresentar seu trabalho autoral, percebi que havia algo de novo no horizonte do músico. O músico, multi instrumentista, ele bateu um papo com o blog e falou de sua trajetória e de sua pesquisa sobre guitarrada, que o levou a desenvolver a obra “Suite Guitarradas Amazônicas”.

O projeto, contemplado com bolsa de pesquisa, criação e experimentação artística do hoje extinto Instituto de Artes do Pará, em 2009, traz os estudos sobre a guitarrada, que aproximaram André Macleuri do maior ícone do estilo, o músico guitarrista Joaquim de Lima Vieira, conhecido do início dos anos 2000 pra cá, como Mestre Vieira. 

Em 2009, eu e Macleuri nos encontramos em uma das apresentações mais emocionantes do guitarreiro, em um domingo de setembro, na Praça Batista Campos. Descobrimos um interesse em comum. Fazíamos registro de Vieira para nossos projetos e pesquisas desenvolvidos com a guitarrada. Tem um vídeo campeão de audiência no Youtube, acessem aqui.

Ensaios de Mestre Vieira e Conjunto, Fábrika Studio (2015)
Desde então sempre estivemos em eventos ligados a guitarrada até que em 2012, André participou da gravação do “DVD Mestre Vieira 50 Anos de Guitarrada”, no Theatro da Paz. 

Em 2014, entrou para abanda de Mestre Vieira, em um concerto realizado antes da primeira viagem do grupo intitulado Mestre Vieira e Seu Conjunto Musical. André acompanhou o mestre no Porto Musical, em Recife (PE) e no lançamento do CD Guitarreiro do Mundo, em 2015, em Belém e no Rio de Janeiro, além da apresentação realizada em setembro do ano passado, em Brasília. 

André Macleuri agora tenta focar em seu trabalho. E entrando em cena o artista solo, sai de cena a Guitarrada-açu, banda que chegou a circular e participar de shows em outros projetos como o Música na Estrada em 2011 e Mostra Terruá Pará,  além dos shows no Samba Rock Café no Rio de Janeiro e na Black Soul Samba, em Belém. “A banda Guitarrada-Açu surgiu, a partir do projeto mencionado anteriormente e já está algum tempo em recesso, provavelmente não darei mais continuidade”, diz.

Para a produção de um álbum solo, André diz que não faltam músicas. Depois de ter passeado pelo universo da guitarra, tanto pelo viés da pesquisa, quanto da prática, o músico diz já ter muitas prontas, o problema agora seria escolher quais entram e quais ficam de fora.

Guitarrada Açu em ação
“Tenho uma produção musical muito diversificada, penso que seria mais fiel comigo mesmo e com o público fazer um trabalho com meu próprio nome e sem distinção de gênero musical, tudo junto e misturado mesmo, é um processo que estou amadurecendo”, comenta.

André produz em casa num home stúdio, onde vem trabalhando gravações novas e mixagens de músicas já gravadas, além de estudar estratégias de divulgação. “Componho e produzo minhas músicas de forma individual, mas ter um trabalho com uma banda para tocar minhas músicas é uma meta”, alerta. “Também tenho trocado arquivos e opiniões com pessoas que também fazem suas produções e divulgações independentes para chegar a melhor conclusão do que fazer”, diz.

O músico conta que tem um processo criativo variável. “Às vezes levanto de manhã ou de madrugada já com uma melodia ou a música toda na cabeça. Em outras, induzo o processo criativo a partir de uma pesquisa”, comenta.  

Pergunto sobre suas influências e ele acha que é uma resposta difícil de dar, pois são muitas. “Acho que o mais importante numa música é o que ela lhe causa. Também houve várias fases de interesse, uma pelo jazz, outra pela bossa, acho que o que me marcou bastante foi o hard rock e o rock progressivo”, confessa.

André Macleuri
Holofote Virtual: Quando foi a primeira vez que a vontade de ser músico te chamou atenção?

André Macleuri: Quando eu já conseguia acompanhar muitas músicas à “bateria”, que na época era um jogo de vasilhas para mantimentos como tambores e um escorredor de louças como prato, depois substituídos pelo sofá.




Holofote Virtual: Tocas vários instrumentos, mas podemos dizer que teu ‘xodó’ é a guitarra?

André Macleuri: Creio que não, por ter sido o primeiro instrumento, o xodó é a bateria, depois vieram violão, baixo e guitarra, respectivamente.

Holofote Virtual: A gente se conheceu por causa de um interesse em comum, o Mestre Vieira. Quando inicia a tua pesquisa tendo-o como referencia?

André Macleuri: Só fui descobri de fato a importância de Mestre Vieira na pesquisa que realizei em 2009 sobre guitarradas, chamado Suíte Guitarradas Amazônicas, cujo resultado foi uma obra composicional composta por sete músicas, gravadas e escritas em partituras e textos que descrevem o processo.

Ele é, sem dúvida, o mais importante e mais influente ícone da Guitarrada. Posso dizer que 80% de referência para as composições de Guitarrada que fiz, bem como de conteúdo de pesquisa, vem de e sobre Mestre Vieira, e acho que isso foi algo natural, porque ele possui maior produção e, portanto, mais história nesse universo musical. 

Entre LPs, Mestre Vieira, Bruno Rabelo e Canhão (Na 
Discosaoleo, durante ensaio para um show de bolso - 2014)
Holofote Virtual: Porque você escolheu a guitarrada...

André Macleuri: Existe todo um repertório de guitarrada da década de 1980 que me causa um saudosismo muito bom: há músicas que onde quer que eu ouça me congelam, me remetendo a memórias e paisagens daquela época; lembranças da infância. Esse sentimento, que me levou naturalmente a curiosidade de conhecer melhor a história, aliado ao BOOM da guitarrada que estava acontecendo em Belém, isso tudo me fez desenvolver o projeto sobre a Guitarrada.

Este projeto, não apenas me conduziu a compreender melhor a história da guitarrada, como conhecer seus atores, suas produções, suas influências e etc. Também fiz um levantamento discográfico. Ouvi e analisei uma grande quantidade de álbuns, dentre eles quase todos os do Vieira. Para facilitar a “portabilidade” da audição, digitalizei os álbuns.  

Guitarrada Açu
Holofote Virtual: Como tem sido difundido teu trabalho?

André Macleuri: Isso faz parte das estratégias mencionadas na resposta anterior. Sabe como é, hoje temos muitas possibilidades, muitas redes sociais, é preciso pensar qual a melhor para o trabalho que você faz. 

Por enquanto tenho atendido a solicitações de pessoas que entram em contato comigo para tocar minhas músicas em rádios. Ontem, por exemplo, foi executada meia hora só com músicas minhas na www.rstradiorock.com.br. Há duas semanas, outra foi tocada no programa “Os Progressivos” da Radio Cultura do Pará.

Holofote Virtual: Cenário da música paraense. Qual a tua análise desta cena em Belém, a partir da tua observação e envolvimento com mesma? Quais teriam sido os momentos mais efervescentes?

Passagem de som para o show "Mestre Vieira 50 anos de 
guitarrada.
André Macleuri: Dentro da minha compreensão do termo "cena" e pelas minhas pesquisas, entendo que Belém teve a cena do carimbó, na década de 1970. A lambada, a guitarrada e o brega, na década de 1980. 

Como cena mais underground, reconheço o Rock e Metal no final dos 80's e início dos 90's. Creio que essas cenas são referências para grande parte do que vem surgindo desde o início desse século. Eu tenho minha opinião particular sobre a produção musical paraense, e os álbuns que mais ouvi são os três do Guilherme Coutinho e o do Walter Freitas. 

Holofote Virtual: Para fecharmos o que te define 2016 e quais expectativas para 2017, com uma filha chegando aí?

André Macleuri: Considerando aspectos intra e interpessoais, foi um ano maravilhoso, apesar da recessão do País. Mas não posso deixar de sentir que o ano está terminando com uma atmosfera sombria. Já a filha foi a melhor das coisas nesse ano de 2016, ela é um grande impulso para se viver melhor e também uma grande inspiração. Já fiz cinco músicas a ela em pouco mais de uma semana. Em 2017, a ideia é começar o ano colocando em prática os projetos de divulgação dos trabalhos.

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