18.5.18

Leonel Ferreira celebra 20 anos de cena teatral

Casarão do Boneco: Rua 16 de Novembro, 815
Durante este ano, Leonel Ferreira traz a público seus trabalhos teatrais mais recentes, uma forma que ele encontrou de celebrar com o público os seus 20 anos de carreira. De sexta, 18, a domingo, 20, estará em cartaz a peça Marahu (19h), do grupo Cia Madalenas. E na quarta-feira, 23, ele mesmo estará em cena, no monólogo “Um Homem sem Títulos” (20h). Tudo no Casarão do Boneco. 

Em entrevista ao blog, o ator fala sobre o seu mais novo espetáculo, de sua carreira, do fazer teatral em Belém do Pará e cita os espetáculos que marcaram sua trajetória de 20 anos. 

Leonel Ferreira coordena a Cia de Teatro Madalenas, grupo que produz, há 15 anos em Belém, um teatro provocador e reflexivo. Em vinte anos de careira, ele já participou de diversas montagens teatrais na cidade, dirigindo ou atuando. Perguntei quais foram as mais marcantes. 

“Égua, essa é difícil (risos)”, diz ele, que cita  Paixão Barata e Madalenas (2001), À Flor da Pele (2003), La Fábula (2011). “Essas três com as Madalenas e Pé de Vento (2013) meu projeto de contação de histórias nos ônibus em Belém que tem me proporcionado muitas alegrias”, comenta.

Ator, contador de histórias, diretor, pesquisador em teatro, Leonel também é sociólogo e especialista em Educação, Cultura e Organização Social. Dono de um senso crítico aguçado, Leonel é atento aos movimentos culturais e não alimenta ilusões acerca do cenário cultural de Belém, sob o ponto de vista do incentivo público, mas acredita na produção independente que resiste e movimenta a vida cultural da cidade.

"Marahu", da Cia de Teatro Madalenas, está de volta à cena. Estreou em 2016, como resultado do Prêmio de Produção e Difusão Artística, da Fundação Cultural do Estado do Pará e retorna agora ao palco, dentro do Prêmio Seiva Pauta Livre. O espetáculo, pensado ainda em 2004, traz a adaptação de poemas de Max Martins.

Na outra semana, Leonel apresenta o mais recente espetáculo. Na Performance, ele interpreta um escritor diante de uma crise criativa, que busca inspiração em grandes nomes da literatura para escrever sua grande obra. E como se esta falta de criatividade fosse uma grande desculpa, a apresentação deleita o público com poemas e narrativas de Max Martins, Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Hilda Hilst, entre outros. 

É o próprio Leonel que assina a dramaturgia e encenação do espetáculo, que traz na direção musical, Thales Branche, e na percussão Diego Vattos. O artista também vai concretizar um sonho este ano, a realização de um Festival de Teatro de Rua em Belém. "Desde quando comecei a fazer teatro eu sonhava em organizar um festival de teatro em Belém, um festival de teatro de rua, que é minha grande paixão", diz. 

Contação de histórias
O projeto do Festival Encena de Teatro de Rua de Belém foi aprovado por um edital público e será realizado em Belém no mês de agosto. "Um festival na marra, com poucos recursos financeiros mas com muita vontade de reunir os grupos de Belém, a população, celebrar a vida", conta Leonel.

Tá no pacote também, um projeto com o Boca de Jambu Coletivo de Teatro. "Serão intervenções urbanas pelas ruas da cidade. Esse sem data certa de estreia, mas acho que em julho já apresentaremos as primeiras experimentações", conclui.

Leonel diz que “Ser artista é um ato que mistura coragem com loucura". Cita o Casarão do Boneco como exemplo. "É um espaço autônomo que reúne artistas de diversas linguagens artísticas e chama a cidade pra ver o que se produz ali. É um espaço de encontro e resistência. E há outros espaços Independentes que fazem a cena cultural na cidade, de Outeiro ao Guamá, mas que são invisíveis para o poder governamental”, comenta.

 ENTREVISTA

Holofote Virtual: "Um Homem sem Títulos" de alguma forma tem um quê de biográfico

Leonel Ferreira: Um pouco (risos). Algumas situações apresentadas retratam a via do meu processo criativo, a influência de Max Martins, algumas dúvidas em relação às escolhas feitas...

Holofote Virtual: Como nasce a ideia dessa montagem?

Leonel Ferreira: Quando as Madalenas estreou o espetáculo Marahu, em 2016, eu já estava com a ideia de montar um monólogo. Na verdade, Marahu era pra ser um monólogo, mas eu preferi dividir com as Madalenas. Não me sentia seguro pra fazer algo sozinho naquela ocasião. Foi então que decidi esperar por 2018 e por ocasião dos 20 anos de carreira, arriscar algo dessa natureza. E tudo foi sendo construído artesanalmente, aos poucos. 

Anotando as imagens que vinham na cabeça, pensando nos autores que costume ler e outros que  considero importante no cenário nacional, mas que estão na margem, Max Martins é um desses. E coincidentemente os poemas que mais me deixavam inquietos eram os poemas de amor. E por conta dessa coincidência ou acidente de percurso, cheguei num mote que virou o argumento do Um Homem Sem Títulos.

Holofote Virtual: O espetáculo fala da crise de criação de um artista. Como você dribla isso no seu dia a dia profissional?

Leonel Ferreira: Nos dias de crise eu vou pra rua, andar por aí. Olhar as pessoas, observar a cidade. Sempre trago comigo um bloco de notas. Eu ouço música. Ela sempre foi uma ótima aliada para os dias de pouca inspiração.

Holofote Virtual: A contação de histórias ganhou um espaço na cena cultural da cidade. Tu vens trabalhando com isso. Como tem sido essa experiência?

Leonel Ferreira: O trabalho com contação de histórias foi uma curva durante o meu percurso. Tem sido de uma grande riqueza e aprendizado desse outro público, o infantil no caso. Isso tem me possibilitado rodar com alguns trabalhos por diversos espaços culturais da cidade, viajar para festivais, encontros nacionais, o que me dá uma grande alegria e satisfação em ser reconhecido como parte de um círculo de contadores de histórias na cidade de Belém.

Holofote Virtual: Você vive da arte?

Leonel Ferreira: Viver de arte  no atual cenário em Belém, onde não há uma política cultural promovida pela prefeitura e a atuação do Estado é mínima, é power. Eu sobrevivo do meu ofício procurando manter a dignidade e honestidade no que faço.  Para isto eu dou aulas de teatro,  escrevo projetos, faço produção executiva, apresento contação de histórias em eventos, nos ônibus... Sempre na correria.

Holofote Virtual: Qual tua maior ambição no campo artístico?

Leonel Ferreira: Um espaço cultural que seja um centro de formação e difusão cultural. Que possibilite a pesquisa e experimentação artística e que congregue as pessoas em torno daquilo que elas buscam nas mais diversas linguagens artísticas. Que promova intercâmbio com artistas de outros lugares que queiram fazer parte de um projeto para a cidade. Quem sabe um dia.

Um comentário:

Unknown disse...

Que bacana um cara que para quem conviveu e convive com ele sabe que continua o mesmo uma pessoa super do bem. Um beijo meu irmão.