11.5.18

Márcio Jardim faz show memorável no Schivasappa

Fotos do blog e contribuições de Reginaldo Santos
A força da ancestralidade do tambor, dizem, é capaz de fazer chover, para lavar a alma. Aqueles que sabem disso não se deixaram vencer pela chuva que caiu torrencialmente sobre Belém, na última quarta-feira, 09 de maio. E quem conseguiu chegar ao Teatro Margarida Schivasappa do Centur, não se arrependeu. 

O Show “Conexão Amazônia - Márcio Jardim e Convidados”, projeto contemplado pelo edital Pauta Livre - Programa Seiva - da Fundação Cultural do Pará, superou as expectativas. Foi um espetáculo de percussão, precisão e muitos encontros no palco. Tudo isso por culpa de Márcio Jardim que tem em mais de dua décadas ao longo de sua trajetória vem se conectando e originando inúmeros projetos no campo da percussão.

“Posso contar esses 20 anos de uma carreira profissional, mas na verdade eu já tocava desde muito antes”, relembra ele, que foi criado nas rodas de samba em sua casa, e as que ele frequentava no bairro da Pedreira, onde mora até hoje, local que se tornou referência de ensino de música, com o projeto que ele desenvolve, batizado de Jardim Percussivo. Tudo isso tendo o apoio incondicional Dona Socorro, que também fez uma participação inesquecível nesta noite de quarta-feira.

Márcio Jardim sempre se viu rodeado por muita gente, músicos, artistas da música, o que não passou despercebido no “Conexão Amazônia”, trazendo a participação do grupo Tamboiara, Jardim Percussivo, Trio Manari e Jacinto Kahwage. Isso já seria o suficiente para o show, construído meses antes, mas não foi assim, isso não bastou. 

Davi Amorim, Sebastião Tapajós, Igor  Capela nos bastidores
Em mais um registro de Reginaldo Santos da Conceição.
Ao longo da semana que antecedeu a apresentação, outras participações surgiram e os bastidores do projeto no dia do espetáculo se tornou um show à parte. As atrações extras foram chegando. Desde o início da tarde, Manoel Cordeiro e Felipe Cordeiro já estavam lá. O contrabaixista Minni Paulo Medeiros deu o ar da graça para cumprimentar Márcio Jardim, assim como o guitarrista Davi Amorim.

E teve mais, os percussionistas Arythanan Figueiredo, Douglas Dias, João Paulo Pires, Bruno Mendes, além de Wilson Monteiro, foram chegando um a um e, de repente, quase todos estavam passando o som para se apresentar a menos de duas horas depois. Já anoitecendo, chegaram serelepes e de baixo de uma chuva ainda fina, os violonistas Sebastião Tapajós e Igor Capela.

Márcio Jardim é assim e quem chega perto logo compreende sua maior grandeza, o jeito simples, além do talento inegável. No palco, uma grande festa percussiva, encontro de gerações, com mestres e jovens músicos que já despontam no cenário da música paraense. 

Show trouxe músicas inéditas e muitos encontros

Jacinto Kahwage, Márcio e Jardim Percussivo abrem o show
O show abriu com Márcio Jardim e Jacinto Kahwage, que apresentaram as composições “Lundu” e “Marabaixo”, do ainda inédito CD de ritmos amazônicos, feito com percussões, teclados e sintetizadores. Em breve um novo show será realizado para lançar o álbum. No palco, além de Márcio e Jacinto, entraram ainda Marcelino Santos, Tamara Aviz e Lucas Magalhães nas percussões. Crias do Márcio, pelo projeto Jardim Percussivo.

Em seguida entram Nazaco Gomes e Kleber Benigno “Paturi”, que junto a Márcio Jardim retomam o Trio Manari. No palco, eles se olham e tocam “Luanda” e “Dançando no Rio”, composições que estão no disco mais recente e no primeiro disco, respectivamente, gravados pelo grupo. Também aparecem na cena Wesley Jardim (baixo) e William Jardim (guitarra), filhos de Márcio e integrantes do grupo Jardim Percussivo, projeto que vem potencializando uma novíssima geração de músicos paraenses. 

Márcio, Nazaco e Paturi vibraram num encontro que remeteu há anos de trabalho e pesquisa realizados sobre ritmos amazônicos e confecção de instrumentos de percussão com o DNA da Amazônia. O grupo, projetado internacionalmente, é responsável por inúmeras participações dos três em festivais nacionais e internacionais. A partir do Manari, Márcio Jardim gravou em mais de cem discos, transitando nos estúdios e palcos, com diversos compositores. O Trio Manari é hoje uma referência da Percussão amazônica não só no Brasil, mas no mundo.

Tamboiara, a força feminina no tambor e na voz
Na plateia, um público aquecido e formado por gente importante nesta cena musical, vendo tudo isso, como o maestro Nelson Neves, regente da Amazônia Jazz Band, da Fundação Carlos Gomes, e outro maestro, Vanildo Monteiro, que coordenou nos anos 1990, o projeto Percussão Brasil, onde originaram os estudos que resultaram na criação do Trio Manari. 

Depois desse reencontro, o show retorna ao trabalho inédito de Márcio e Jacinto, que tocam “Mazurca”, acompanhados de Marcelino, Tamara e Lucas. A seguir, a apresentação cresce e chega a “Maré Alta”, música na qual entram os demais integrantes do Jardim Percussivo, Katarina Chaves e Gabriel Gomes, que tocam ainda “Jardim dos Pássaros”, parceria de Márcio e Luiz Pardal, ambas gravadas no primeiro CD do grupo, lançado em dezembro de 2017, com um grande show no Teatro do Sesi.

Toda a energia e emoções já estão à flor da pele. Na plateia, o público já estava se dando por satisfeito quando fecha esse set e entra na cena nada menos que Sebastião Tapajós e Igor Capela. A participação deles foi definida um dia antes com um telefonema do próprio Sebastião, dizendo que tinha acabado de chegar a Belém e queria participar do show. 

No palco, Sebastião Tapajós e Igora Capela, no registro de 
Reginaldo Santos da Conceição.
O violonista, reconhecido mundialmente, entra no palco e pede o microfone. “Eu quero dizer a vocês que o Márcio é um dos maiores percussionistas do mundo e é meu amigo”. Aplausos da plateia. Tocaram “Aos da guitarrada”, tendo no baixo Wesley Jardim. 

Ao final, Márcio também pegou o microfone, agradeceu e disse: “Eu não podia deixar ele de fora”. Aplausos. Os dois mantém uma relação de amizade e realizações profissionais que já são de longa data. Acompanhando Sebastião Tapajós em shows, Márcio também já produziu dois discos do violonista. As parcerias entre eles seguem a todo vapor.

Sebastião Tapajós e Igor Capela se despedem e entram no palco as nove integrantes do Tamboiara, a força feminina nos tambores desse show. Abrem com “Roda de Batuque” e cantam “Linda Flor do Luar”. O grupo acaba de gravar um EP, produzido por Márcio e em breve terá lançamento. Outro show que de certo será imperdível. As meninas arrebatam o público e saem de cena. 

Indo para o final do show, sozinho no palco, Márcio Jardim, com seu instrumento de escolha e especialidade no universo da percussão, o Pandeiro, chama os amigos percussionistas, Bruno Mendes, Wilson Monteiro (cuíca), Arythanan Figueiredo, João Paulo Pires e Douglas Dias. Com exceção de Arythanã, da velha guarda, os demais fazem parte de uma geração que desponta na cena após a grande explosão do Trio Manari e que agora é sucedida pelos meninos e meninas do Jardim Percussivo. 

Márcio Jardim, com pandeiro, um show a parte
Os músicos atendem o chamado do pandeiro de Márcio e entram em fila, tocando cada um o seu pandeiro, além da cuíca de Wilson. “Essa é uma geração de ouro. E quero chamar agora a rainha do Samba, dona Socorro”, diz Márcio se referindo a sua mãe, que sempre organizava as rodas de samba das quais ele, ainda menino, participava em casa. 

E ela entoa... “Quando eu não puder pisar mais na avenida... Não deixa samba morrer...”, e segue com muitos batuques. Dona Socorro com destreza canta e dança rodeada por todos os músicos participantes do show. Neste momento, todos os convidados são chamados de volta ao palco. 

Dona Socorro manda um novo batuque e em seguida, Márcio chama mais uma participação inusitada, o guitarrista Manoel Cordeiro, que ocupa o seu lugar no palco. Segue o show e todos finalizam com “Pretinhos do Mangue”, single do Jardim Percussivo lançado no carnaval de Cametá deste ano. A festa foi potente e a ideia é que tenha desdobramentos. “Isso aqui é o início de um projeto de um encontro de percussão que estamos pensando em realizar ano que vem”, anunciou Márcio Jardim. Evoé! 

Dona Socorro comanda a roda de batuque
O “Conexão Amazônia” foi idealizado para trazer à tona as parcerias e encontros musicais de Márcio Jardim ao longo de seus 20 anos de trajetória durante o ano de 2018. Tem produção minha (Luciana Medeiros), com direção musical do Márcio Jardim e direção artística de Carlos Canhão, que além de produtor, é músico percussionista. 

Tivemos na equipe, profissionais de peso na técnica de som, Silvio Amorim e Sérgio Brito, a quem agradecemos todo o carinho e atenção, e no desenho de luz, o artista visual Cláudio Castro. No palco contamos com Paulo Henrique. A realização desse primeiro espetáculo foi da Central de Produção Cinema e Vídeo na Amazônia, com apoio do Edital Pauta Livre, Cultura Rede de Comunicação, Guiart, UEPA, Na Figueredo, Promusic e Comunicação do Holofote Virtual. Agradecimentos especiais ao Teatro Margarida Schivasappa, em espacial à direção de Cláudia Pinheiro e toda a equipe que nos recebeu.

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