9.4.12

Vladimir Herzog e o espaço cultural on line no IAP

O Instituto de Artes do Pará traz hoje uma sessão especial em homenagem ao Dia do Jornalista, comemorado na semana passada, no dia 07. Na programação, será exibido o documentário “Vlado 30 anos Depois”, de Mônica Teixeira, lançado em 2005, quando se completaram três décadas desde que o jornalista, então diretor de jornalismo da TV Cultura de São Paulo, saiu de casa para nunca mais voltar. Em seguida será aberta uma mesa para discutir o espaço para a cultura no jornalismo on line. Tudo isso nesta segunda-feira, 09 de abril, a partir das 19h, com entrada franca. O IAP fica na Praça Justo Chermont, ao lado da Basílica de Nazaré. 

Herzog foi jornalista, professor, dramaturgo. Tinha outras paixões como a fotografia e o cinema. Nasceu Vlado, mas passou a assinar "Vladimir", pois achava seu nome muito exótico para nós, dos trópicos. Ele nasceu no extinto Reino da Iugoslávia. No Brasil, casado com a publicitária Clarice Herzog, tornou-se referência na luta pela democracia no Brasil, após 1964. Foi militante do Partido Comunista Brasileiro. Acabou torturado até a morte. 

Naquele dia 25 de outubro, de 1975, Herzog ficou horas prezo no DOI-CODI, junto a outros companheiros de profissão, mas imaginou que seria ouvido e responderia sobre a suspeita de pertencer ao PCB e em seguida voltaria para casa. Ledo engano. No início da noite daquele mesmo dia o comando do então II Exército anunciou que Herzog, na verdade assassinado, se enforcara em uma das celas. É esta a triste história contada no documentário, que tem como intenção fazer com que ela nunca seja esquecida e nem se repita. 

O debate que segue após o filme certamente iniciará com comentários sobre este fato horrendo de nossa história política e seguirá com um bate papo sobre o espaço para a cultura nos meios virtuais, debate para o qual fui convidada, como representante do Holofote Virtual, e agradeço pelo reconhecimento, mas para o qual não poderei ir por estar fora de Belém. 

No entanto, como é óbvio, o tema que me interessa. Depois de iniciar uma trajetória no jornalismo cultural, nos primórdios década de 1990, como repórter e depois editora do ex-Caderno D, hoje Você, no Diário do Pará, tive o prazer de fazer parte do programa Cultura Pai D’égua, na Tv Cultura do Pará, entre 2003 e 2008. E foi com minha saída da TV Cultura no final daquele ano,aliás, que resolvi fazer o Holofote Virtual. 

O crescimento da produção cultural da cidade e a maior atenção do público à informação cultural foram incentivos suficientes para isso, e mais, pois sempre acreditei que através da cultura pode se transformar as condições e as relações humanas. Além disso, meu interesse pessoal por tudo que é ligado à arte e meu envolvimento com o movimento cultural da cidade de Belém determinaram em muito esta quase obcessão que possuo em manter o blog atualizado e como fonte de conteúdos inéditos para a grande rede, tentando dar mais voz aos artistas independentes sejam eles da cultura popular, contemporânea, experimental ou já estabelecidos no mercado. A ideia é que muito em breve ele se amplie, alcançando também a produçãocultural nos outros municípiosdeste imenso Pará.

O jornalismo cultural on line tem ajudado a reverter situações pendentes no jornalismo cultural impresso, à revelia dos profissionais que nele atuam e que sabem muito bem que nosso foco não se limita à produção diária do que está em cartaz ou vai estrear na semana que vem, embora isso seja de enorme interesse dos consumidores da notícia cultural. 

É mais que isso, é uma responsabilidade social, que informa e também forma opinião. E o surgimento de sites culturais que começam a absolver mão de obra especializada vem também atraindo o interesse de jovens jornalistas com o desejo de atuar nesta área, sempre muito desvalorizada dentro das redações do jornalismo seja ele impresso, televiso ou mesmo radiofônico, com raras exceções, diga-se.

Há muitas diferenças entre o que limita o cultural no jornalismo impresso e de web. No primeiro, o espaço precisa ser dividido com publicidade, aquela que “paga” os jornalistas e sempre ganha de nossos textos e fotos. Na internet, aqueles tendem a ser curtos, mas é uma regra que não precisa ser seguida por todos. Não é, na maioria das vezes, pelo Holofote, como vocês já devem ter percebido. 

O jornalismo on line, de forma geral, também deu voz ao público, que deixa de ser um mero leitor da notícia, abrindo-lhe a chance de “colaborador". Percebendo isso, os impressos também abrem esta frente quando inauguram suas versões on line. Mas foram os blogs, hoje cada vez mais profissionais, e as redes sociais, que se tornaram as principais fontes de informação cultural, abrindo margem para a criatividade e conquistando, muitas vezes, aquele leitor mais exigente, que deseja fugir do convencional, desde que conduzidos com ética, sempre ela, não esqueçam. 

A discussão desta noite no IAP ganha maior importância por colocar em pauta a construção e os caminhos emergentes tomados para o uso da linguagem cultural na web, com seus hipertextos e diante das suas diversas formas interativas. O hibridismo cultural, a apropriação social dessas novas tecnologias, tudo isso conta e só a partir desses entendimentos, é que poderemos unir a realidade ao caráter conceitual reconhecido no espaço on line. Parabéns a todos os jornalistas, sejam eles da área cultural ou não, em especial à Lúcio Flávio Pinto, e ao IAP, por trazer à tona esta discussão. Tentarei acompanhar à distância.

Um comentário:

Afonso Gallindo disse...

Muito obrigado pelo apoi na divulgação. Vou repassar seu texto no bat-epapo a noite.
Para quem quiser participar e não estviver em Belém ou mesmo com tempo de vir até o IAP, o bate-papo será transmitido por nosso canal. Quem quiser assistir a partir das 19:30 horas, enviar perguntas pelo twitter ou facebook, basta acessar http://www.ustream.tv/channel/webtv-iap