Obra de Flávia Mutran |
Obras em gravuras, fotografias e pinturas produzidas por mulheres artistas estão no projeto, que propõe um diálogo entre a moderna técnica da projeção mapeada, a rua e monumentos históricos. Iniciando por Belém, a primeira ação será realizada nesta terça-feira, 22, a partir das 20h, nas paredes externas da Igreja de Santo Alexandre, no bairro da Cidade Velha. Depois, o projeto ainda aporta no Acre e em Macapá.
Desvendar a arte contemporânea produzida por mulheres da
Amazônia foi um desafio para a artista visual Roberta Carvalho. “Nem na
internet, a atual base de dados mais acessível que temos, há registros dessas
produções. E as informações são ainda mais escassas quando se trata de artistas
mulheres”, destaca a paraense.
O trabalho de pesquisa de Roberta traz à tona
artistas de diferentes cidades e estados da Amazônia. Contemplado pelo Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais
2013, o projeto, que também será exibido em outros dois estados da região,
propõe uma forma inovadora de mostra coletiva. Dispostas em sequência, as obras
das sete artistas evidenciam contrastes de linguagens e perspectivas.
De Lucie Schreiner |
"São propostas distintas, não há grande similaridade entre a produção das artistas. Isso traz uma multiplicidade valiosa", avalia Roberta, artista visual propositora da projeção experimental.
O leque criativo ganha ainda mais um desdobramento que
garante ineditismo à experiência do projeto: as obras selecionadas serão
transportadas para o videomapping. "Gravuras, por exemplo, foram animadas,
e isso recria, de certa forma, a obra. Ela já não é a mesma coisa”, conta.
“As
obras mapeadas geram um efeito único, lúdico e iluminado nos espaços ocupados
pelo projeto, ressignificando o trabalho das artistas e a cidade", explica
Roberta. O videomapping, ou mapeamento de vídeo, é uma técnica de
projeção das mais inovadoras da atualidade. Comumente aplicada a
estruturas, como edifícios e monumentos, o mapping permite que as imagens “se
dobrem” sobre a arquitetura na qual são exibidas.
Precursora da técnica na região, Roberta Carvalho promoveu, em 2013, o primeiro Festival Amazônia Mapping, em Belém. Trata-se de
uma moderna intervenção urbana, capaz de ampliar o
alcance dos trabalhos artísticos, deslocando a obra dos espaços
institucionalizados dos museus e galerias, levando-a para às ruas e
para o convívio social, transformando o espaço onde se instalam.
Mais de Flávia Mutran |
Sete “Amazônias” - Além de Roberta Carvalho, compõem o
projeto artistas de longa trajetória, como a fotógrafa Flavya Mutran. Com mais
de vinte anos de atuação, a paraense integra o projeto com obras da
série “There’s no place like 127.0.0.1”, que versa sobre os limites
da apropriação da imagem privada de anônimos que se tornam públicas uma vez
expostas na internet.
“A frase que nomeia as imagens desta série representa
muito da postura do internauta e sua relação com o lugar. É através do localhost (127.0.0.1),
ou IP local dos computadores, que o internauta estabelece uma espécie de lugar
utópico, como um intervalo no tempo e no espaço, em que realidade e ficção são
projeções invertidas de uma mesma imagem”, explica.
Radicada na Suíça desde 2007, Lúcia Gomes, também com mais
de duas décadas de carreira nas artes visuais, é outra reconhecida artista que
participa do projeto. Irrequieta, corrobora a ideia de que por meio da
arte se modifica a maneira de pensar e sentir o mundo.
Entre os destaques da cena atual, Keyla Sobral, que
traz a inédita instalação "São Todos Seus", de 2014. São mais de
30 desenhos feitos em nanquim, ponto de partida para a projeção mapeada.
"A Amazônia é uma região enorme e essa troca é importante para conhecermos
o que estamos produzindo. Muitas vezes sabemos muito mais sobre os artistas de
outras regiões do que entre nós mesmos. Esse projeto vem contribuir com esse
estreitamento de fronteiras", destaca.
Da Intervenção Urbana de Lúcia Gomes |
Nascida no Paraná, Lucie Schreiner há anos atravessou o país
até o Acre. Lá, aprendeu a entalhar com um mestre artesão.
A formação em
Geografia a manteve interessada pelos relevos e pelas relações que as pessoas
estabelecem com a natureza. Por meio da xilogravura, seu desenho tátil, conta
histórias que remontam à literatura de cordel.
Voltada para dentro das complexidades da Amazônia, a fotógrafa Paula Sampaio, mineira
radicada em Belém desde criança, faz da linguagem fotográfica um discurso de
denúncia. Fotojornalista desde 1988, foi contemplada com premiações
internacionais e exibe, no projeto, a série
“Refúgio”.
O trabalho é composto por imagens capturadas quando Paula percorreu
comunidades de remanescentes de quilombos espalhadas por um labirinto de matas
e rios que, no passado, foram um refúgio para aqueles que desejavam escapar da
escravidão.
Um legítimo (olhar) de Paula Sampaio |
JJ Nunes, a mais jovem artista da mostra, é de Macapá, e
traz uma obra que explora os limites do grafite e da pintura em mural.
“Essa
costura entre as artista cria um panorama da produção feminina amazônica
contemporânea. Gerar esse movimento, ocupação, e estabelecer conexões entre as
partes é um triunfo”, celebra.
Para JJ, o intercâmbio com as artistas da região
diz respeito ao desvendar da própria identidade. “Me sinto universal, mas de
fato o ritmo de vida, a fauna, a flora, as mitologias afetam minha percepção de
mundo, imaginário e criatividade”, completa.
Serviço
Exibição de “Projeções do Feminino - Projeção mapeada”,
projeto contemplado no Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais 2013, nesta
terça-feira, 22, a partir de 20h, na fachada da Igreja
de Santo Alexandre, bairro da Cidade Velha. Todas as intervenções serão filmadas e seus registros irão compor um documentário que será́ lançado nas redes sociais e no site oficial do projeto.
(Com informações da assessoria de imprensa do projeto)
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