Quem já viu afirma que é imperdível. O espetáculo da Companhia de Teatro Balagan (SP) estará em cartaz, em Belém, nesta sexta-feira, 25, e
no sábado, 26, sempre ás 20h, no Teatro Universitário Cláudio Barradas (TUCB), com apoio do Instituto
de Ciências da Arte (ICA), da Universidade Federal do Pará (UFPA). A encenação de Maria Thaís, com dramaturgia de Luis
Alberto de Abreu, conta com os atores premiados Antonio Salvador e Eduardo
Okamoto. Entrada franca.
Recusa começou a ser desenhado a partir do interesse
despertado pela notícia veiculada no Jornal Folha de S. Paulo, em 16 de
setembro de 2008 sobre o aparecimento de dois sobreviventes, índios Piripkura –
etnia considerada extinta há mais de vinte anos.
Viviam nômades, perambulando por fazendas madeireiras no
noroeste do Mato Grosso, próximo ao município de Ji-Paraná, em Rondônia, e
ambos se recusavam a estabelecer qualquer contato com os brancos. Foram
encontrados porque suas gargalhadas ressoaram na floresta e chamaram atenção:
eles riam das histórias que contavam um ao outro enquanto davam conta de comer
a caça recém abatida.
O espetáculo é narrado, cantado, por dois olhares e seus
múltiplos: dois índios Piripkura; dois heróis ameríndios, Pud e Pudleré,
criadores dos seres; um padre que foi engolido por uma onça que resolveu morar
dentro de um lugar inesperado; um fazendeiro que matou um índio e o mesmo índio
que o matou, por uma cantora que se perde na mata, por Macunaíma e seu irmão,
os heróis dos Taurepang, e outros tantos.
A primeira fase do trabalho, que teve início em março de
2009, reuniu atores, dramaturgo, diretora, preparadora corporal, cenógrafo, e
foi dedicada a tecer um diálogo com colaboradores convidados – antropólogos e
estudiosos da cultura ameríndia para investigar quais as formas de aproximação,
artística, deste universo.
A segunda etapa da pesquisa, de julho de 2010 ajunho 2011,
integrou o projeto O Trágico e o Animal contemplado pelo Programa
Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo – apresentou
publicamente, na Casa Balagan, três Estudos Cênicos dos primeiros
roteiros dramatúrgicos experimentados em sala de ensaio. Ainda como parte das pesquisas, em fevereiro de 2011
integrantes da Cia Teatro Balagan passaram um período de troca e convívio na
aldeia Gapgir, junto ao Povo Indígena Paiter Suruí, em Rondônia.
Pesquisa - Lançando o olhar para outras fontes de pesquisa,
descobriu-se que em inúmeras cosmologias ameríndias, o mundo, os seres e as
coisas são criados por uma dupla de gêmeos, que passam pelo mundo, para
criar e desaparecer. Para os ameríndios o mundo sempre existiu – não houve um
começo – somente as coisas e os seres não o habitavam.
E o mundo já acabou
diversas vezes, configurando um ciclo de construção e destruição constante.
Será que estes dois sobreviventes, ao invés de estarem a beira do fim, não
passam pelo mundo, única e exclusivamente, pra criar algo?
“O espetáculo é nossa via poética, de resistência artística
e desloca nossas perspectivas sobre a idéia de extinção, finitude, história,
civilização, identidade, alteridade, animalidade e humanidade”, complementa a
diretora Maria Thaís.
Dramaturgia - Essencialmente narrativa, a dramaturgia partiu
de uma série de discursos que foram assim nomeados pela equipe de trabalho:
discurso jornalístico, discurso antropológico, discurso geopolítico e discurso
mítico, valendo-se de diversas fontes – jornais, textos de antropologia,
discursos de advogados e entidades políticas ligadas à causa indígena e
narrativas míticas de diversas nações ameríndias oriundas de reelaborações por
algum interlocutor branco ou transcrições fiéis às fontes narradas: os próprios
indígenas.
A concepção da cenografia e do figurino é do cenógrafo
e figurinista Márcio Medina, criador da Cia Teatro Balagan e responsável por
todos os seus trabalhos. O espaço cênico foi concebido de modo que a cena seja
vista de forma frontal, onde o espectador possa também transitar por diversas
perspectivas.
Os figurinos construídos são os dos atores narradores, e não
das “personagens”. Eles contêm elementos que multiplicam um único sujeito em
muitos. Todos os seres são humanos, dizem os mitos. O que acontece é que a “pele”,
a “roupa” que cada um veste é que é de onça, gente, cadeira, chinelo, vento,
livro.
A concepção de luz se estruturou a partir da exploração das
possibilidades da luz natural, da sombra, das distinções entre o dia e a noite.
São estes os elementos a serem materializados pela luz que, antes de iluminar a
cena, o ator, como na tradição ocidental, deve iluminar o mundo – sem contudo,
tornar visível o que deve se manter invisível.
A pesquisa sonora, dirigida pela etno-musicista Marluí
Miranda, tem como material a construção verbal (como a desestruturação da
língua portuguesa, quando falada pelos indígenas), os modos de narração, as
técnicas de uso da voz e da palavra, além de cantos de diversos povos
indígenas, recriados pela pesquisadora, como também as referências pesquisadas
e aprendidas pelos atores (Karajá, Kaiapó, Mehinaku, Yanomami, etc). Cantos em
outros idiomas, como o latim e o português também compõem o material de
criação. Outros elementos foram incorporados ao trabalho, como os zunidores,
chocalhos e rabeca, compõem a rica musicalidade desta tradição.
Premiações - O espetáculo recebeu várias premiações
como Prêmio Shell de Teatro 2012 como Melhor Direção: Maria
Thais, Melhor Cenário: Márcio Medina; Prêmio da Associação Paulista dos
Críticos de Arte 2012 (APCA) como Melhor Ator: Antonio Salvador e
Eduardo Okamoto; Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro 2012 - como Melhor
Espetáculo de Sala Convencional, Melhor Projeto Sonoro: Marlui Miranda; Prêmio
Shell de Teatro 2012 - para Ator e Música; Prêmio CPT 2012: para
Dramaturgia, Direção, Elenco, Projeto Visual.
A companhia - Balagan é
uma palavra presente em diversos idiomas como o russo, o turco, o árabe e o
hebraico. Pode significar teatro de feira, baderna, bagunça ou confusão. Desde
seu surgimento, em 1999, a Cia Teatro
Balagan formou-se como um núcleo de criação que reúne artistas o redor de
uma prática teatral fundada na experimentação.
“Para nós, os processos criativos têm um caráter pedagógico,
pois permitem a formação continuada dos artistas envolvidos e, em uma segunda
instância, através do espetáculo, a formação dos espectadores. É no espetáculo
que se organiza e para onde convergem as vozes criadoras – da cenografia à
atuação, da dramaturgia à iluminação, da produção à direção e ao público – que,
juntas, geram a polifonia da cena”, diz a diretora.
Em 1999, a Cia estreou o primeiro espetáculo, Sacromaquia.
Desde então foram criadas outras quarto obras: A Besta na Lua (2003),Tauromaquia (2004-2006), Západ
– A Tragédia do Poder (2006-2007) e Prometheus – a tragédia do fogo (2010-2012).
Em 2007 e 2008, realizou o projeto Do Inumano ao mais-Humano que integrava
duas ações de formação: uma voltada para os artistas da Cia e outra, à Formação
do Olhar para o Teatro, voltada para o espectador. Dois dos temas pesquisados
ali, Inumano-trágico e Inumano-animal geraram dois espetáculos
respectivamente, Prometheus e Recusa.
Ficha Técnica
- Dramaturgia: Luis Alberto de Abreu
- Encenação: Maria Thaís
- Atuação: Antonio Salvador e Eduardo Okamoto (ator convidado)
- Cenografia e Figurino: Márcio Medina
- Direção Musical: Marlui Miranda
- Iluminação: Davi de Brito
- Preparação de Butoh: Ana Chiesa Yokoyama
- Assistência de Direção: Gabriela Itocazo
- Assistência de Cenografia: César Santana
- Assistência de Iluminação: Vânia Jaconis
- Operação de Luz: Bruno Garcia
- Administração: Deborah Penafiel
- Produção Executiva: Norma Lyds
- Costureira: Judite de Lima
- Fotografia Material Gráfico e Divulgação: Ale Catan
- Assessoria de Imprensa: Adriana Monteiro | Ofício das Letras
- Projeto Gráfico: daguilar.com.br
- Direção de Produção: Daniele Sampaio
- Duração: 90 min
- Classificação Etária: 12 anos
Serviço
O Teatro Universitário Cláudio Barradas fica localizado na
Avenida Jerônimo Pimentel, 546, esquina com a Travessa D. Romualdo
de Seixas, no bairro Umarizal, em Belém. Entrada franca. Mais
informações: (91) 8417-5387 (Claro) e 8229-4297 (Tim).
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