23.8.17

No ar três séries novas do audiovisual paraense

A Cultura Rede de Comunicação lança três séries contempladas pelo Edital Cultura de Audiovisual. Única emissora pública do Norte do Brasil a garantir edital audiovisual, a TV Cultura do Pará destinou R$ 3 milhões para as produções, sendo que R$ 1 milhão foi contrapartida da emissora e o restante do Fundo Setorial do Audiovisual, da Agência Nacional do Cinema (Ancine).  Anote, será dia 31 de agosto, às 19h, no Teatro Maria Sylvia Nunes, em Belém 

Ficção, documentário e animação, com finalidade comercial, para exibição na emissora. É a primeira vez que o audiovisual paraense recebe incentivos por meio do edital. Das produções contempladas no edital lançado em 2014, as séries de ficção "Diários da Floresta", da produtora Floresta Vídeo, e "Os Konsiderados", da Green Vision, receberam R$ 1 milhão cada. Já o documentário "Eu moro aqui", da produtora TV Norte Independente, e a animação "As Icamiabas na Cidade Amazônia", do Iluminurias Estúdio, receberam R$ 500 mil cada.

"Uma das finalidades da TV pública é fomentar a produção independente de audiovisual, movimentando a cadeia econômica e o mercado. Hoje, a economia criativa é que mais cresce no mundo. No momento em que você investe nessas produtoras, você tem uma grade televisiva de conteúdo diferenciado. Isso proporciona qualificação para que o Brasil seja um dos grandes pólos produtores de audiovisual do mundo", destaca Indaiá Freire, coordenadora do Edital Cultura de Audiovisual. 

Conforme o edital, as produtoras tinham que realizar 80% dos projetos em solo paraense, bem como contratar artistas e técnicos locais para fomentar o segmento no Estado. No Teatro Maria Sylvia Nunes serão exibidos ao público os primeiros capítulos das três séries, que serão veiculadas pela primeira vez na emissora pública. A produção "Os Konsiderados" deve ser lançada somente em 2018. 

Eu Moro aqui

A exibição dos produtos na TV Cultura do Pará começa dia 11 de setembro, às 20h, com o primeiro dos quatro episódios do documentário "Eu moro aqui", realizado pela TV Norte Independente, com direção e pesquisa de Fernando Segtowick. A produção aborda a vida de moradores em quatro unidades de conversação no Pará e relação destes com a sustentabilidade e a floresta. Mais de 30 pessoas estiveram envolvidas no documentário, que levou quase dois anos para ficar pronto.

"A série é um pouco política porque mostra como é a organização social destas comunidades, mostrando o que é esse local e como funciona o corporativismo. O que a gente procura entender é como é morar em um lugar destes? Qual era o compromisso deles com a floresta? E observamos que mesmo morando em lugares afastados, essas pessoas se organizam, se mobilizam e acreditam em diferentes maneiras de preservar os espaços e sobreviver a partir dele", conta Fernando Segtowick, diretor do documentário. 

Para gravar o documentário, a equipe da produtora viajou para o interior do Estado e desbravou comunidades onde a maioria dos paraenses não conhece a realidade. "O legal da série é levar, mesmo para quem é paraense, a realidade destes lugares que ficam a milhares de distância. Tecnicamente foi um desafio muito grande para a equipe entrar nessas unidades e gravar com equipamentos grandes", completa Segtowick. Três episódios da produção foram gravados em unidades de conversação e um na floresta estadual de Cachoeira Porteira, na Calha Norte. 

Mais de 200 pessoas envolvidas 

Em outubro será vez da TV Cultura exibir os cinco episódios da série de ficção "Diários da Floresta", produzido pela produtora Floresta Vídeo, com estreia prevista para o dia 16, às 20h. Baseada no livro de mesmo nome da antropóloga Betty Mindlin, a produção foi gravada nos municípios de Belém, Breu Branco e Tucuruí, sudeste paraense, onde foi construída uma aldeia indígena cenográfica. 

A série, que tem direção de Luiz Arnaldo, retrata a história da antropóloga vivida pela atriz Rita Carelli, que em contato com a nação indígena Paeté, passa por um processo de indigenização e incorpora características indígenas, enquanto que os índios desse tribo sofrem processo inverso. Cerca de 200 pessoas entre equipe técnica e atores foram envolvidos nas gravações, que duraram quase um ano. Índios da etnia suruí-aikeawara também participaram das cenas, assim como os atores paraenses Cláudio Barros e Adriano Barroso.

"O que basicamente o diretor quis mostrar foi esse processo de indigenização e os prós e contras deste contato da antropóloga com os indígenas. Ela (a antropóloga) acompanhou as gravações e nos ajudou no processo de criação também", conta Pablo Costa, representante da produtora, destacando que cada episódio da série tem 26 minutos de duração.

A vez da animação

Já a partir do dia 24 de novembro, às 10h, a emissora leva ao ar a animação "As Icamiabas na Cidade Amazônia", produzida pelo Iluminurias - Estúdio de Animação, com direção de Otoniel Oliveira, criação de Andrei Miralha e Petrônio Medeiros. A série de cinco episódios em animação 2D, se passa na fantástica Cidade Amazônia, onde os antigos Deuses se aposentaram, e agora os conflitos entre os seres encantados e os humanos passaram a ser resolvidos por suas estagiárias, as Icamiabas. 

Elas são quatro meninas guerreiras, cada uma regida por uma fase da lua, que dividem sua rotina entre as tarefas comuns do dia a dia com batalhas divertidas para manter a harmonia na Amazônia de Pedra. As Icamiabas são velhas conhecidas do telespectador da TV Cultura do Pará. Em 2012 a animação ganhou espaço na interprogramação da emissora em três episódios de um minuto cada. Para realizar a animação, o estúdio contratou uma equipe com mais de 20 pessoas e formou novos animadores em Belém. 

"Apesar de falar da Amazônia, a série tem uma temática universal. Nossa preocupação foi criar um produto com referência amazônica e da nossa cultura local. 

As pessoas vão perceber que temos toda uma arquitetura tapajônica e marajoaras nas cenas. Por exemplo, a Cidade Amazônia é uma versão fantástica de Belém, onde as árvores vivem pertinho dos prédios. Bacana destacar também é que montamos uma equipe de animadores para dar conta do trabalho e formamos nova turma de animadores em Belém. Então, isso aqueceu o mercado, pois trouxemos capacitação também", explica Andrei Miralha, um dos criadores da série. A ideia dos criadores é chamar atenção principalmente do público infantil, por isso a temática da representatividade foi pensada de forma mais dinâmica nos cinco episódios.

"Se a gente gosta de ver super-heróis porque não fazer fantasias de poder com indígenas? Com mulheres amazônicas? Então, além das personagens e dessa estrutura toda, a gente construiu a narrativa com referências de todas as cidades do Norte porque achamos que a representatividade do Norte ainda é pequena dentro desse segmento da animação. 

Queremos que a audiência e as crianças vissem um lugar em que elas pudessem se reconhecer, ao mesmo tempo em que fosse um lugar fantástico para despertar a animação. Queremos que as pessoas de fora também vejam um lugar possível da realidade amazônica", observa Otoniel. Para realizar a animação, o estúdio contratou uma equipe com mais de 20 pessoas e formou novos animadores em Belém. 

Um estímulo à produção audiovisual

No total, 24 produtoras paraenses concorreram ao edital, lançado em 2014 pela Cultura Rede de Comunicação. Todos os projetos foram avaliados por uma banca formada por Maurice Capovilla, roteirista, produtor e cineasta; Armando Bulcão, doutor em Comunicação Audiovisual e Publicidade pela Universidade Autônoma de Barcelona e professor da Universidade de Brasília (UnB), e Jonas Brandão, diretor de animações. 

As produtoras responsáveis pelas obras de ficção e documentário tiveram 18 meses para produzi-los. Enquanto que a produtora responsável pela animação teve 20 meses para finalizar os trabalhos. Nos últimos anos a TV Cultura tem se dedicado a estimular a produção audiovisual, incentivando o mercado com iniciativas como o Edital Culturanimação e Edital Cultura de Audiovisual, em parceria com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), para séries de ficção, documentário e animação. Além disso, a emissora também possui um núcleo de documentários, que tem se destacado em diversos temas importantes da região, como culinária, cultura e memória.

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