No atelier (Foto: Bruno Pellerin) |
Tarcísio Ribeiro, em entrevista ao Holofote Virtual fala sobre sua 11a exposição “O Grande Dia”, aberta em junho, e que segue em visitação até setembro, na Barbearia Belém, um casarão antigo que também oferece espaço à arte e encontros com os amigos. O processo de criação para compor a obra, que traz 18 pinturas expostas como um painel único, também será tema de um bate papo com o artista, nesta quinta-feira, 3 de agosto, às 19h, com entrada franca - Rua Antônio Barreto, 939, entre Alcindo Cacela e 14 de Março. Mais informações: (91) 3353-7457.
“O Grande Dia” é um painel de 2,7m x 5,4 metros. Levou um tempo para ficar pronto. “Mais de um ano de pintura se tornou uma paisagem misteriosa e sutil imersa na imensidão do cosmo”, resume Tarcísio Ribeiro. É uma engenharia na métrica. Cada parte tem 90x90cm. As 18, juntas, estão no painel final, mas os conjuntos de duas, três, quatro partes também podem formar novas obras. Na abertura, compareceram aproximadamente 100 pessoas, entre amigos, artistas e clientes da barbearia. A ideia do bate papo nasceu em conversas durante o vernissage.
“Um grupo presente à abertura manifestou esse interesse em conhecer o processo criativo. Então, o bate papo sobre este processo é interessante e oportuno”, comenta Tarcísio. “O trabalho foi iniciado um pouco mais de um ano, primeiro no campo do pensamento, do invisível, do desejo e da escolha”, conta.
No dia do vernissage (Fotos: Lu Medeiros) |
Depois, o processo criativo deu vazão ao plano físico, visível, e a montagem, que surge a partir de dois desenhos. “Passei à pintura sobre os desenhos, os estudos de cores em quadros pequenos, e por fim, a execução do painel, o políptico. Agora, ocorre ainda um terceiro momento desse processo, que agora inclui o que o outro vê, e as possíveis interferências que virão. Tudo isso é cheio de detalhes, os quais contarei, prometo, no bate papo”, diz o artista.
O convite para expor na Barbearia Belém foi feito logo que o espaço inaugurou, há quatro anos, mas só agora foi possível realizar. O espaço abre de 9h às 20h, de segunda a sábado. Tem área de café, lanches, sucos e uma programação musical que passa pelo rock clássico, o que bem cai ao gosto de Tarcísio. Na abertura de “O Grande Dia”, o artista inclusive ofereceu aos convidados um set de horas e horas de uma trilha sonora pra não te deixar sair do local, feita em parceria com o jornalista e cantor Clemente Schwartz.
Tarcísio Ribeiro não é um artista convencional, em vários sentidos. Expôs pela primeira vez, em 1998, no saudoso Baixo Reduto, que foi um dos bares mais badalados da cidade e, desde então vem ocupando vários espaços não tradicionais da arte, assim como propondo novas formas de pensar e expor. A partir de sua filosofia de vida e a prática existencial, as pinturas produzidas trazem à tona o caos e a alegria de viver.
A produção, contínua, pode ser vista também em seu atelier casa, onde ele se prepara para abrir a Galeria T195. Ele também já trabalha na próxima exposição, uma série toda em p&B, que será realizada em setembro, no Ziggy Hostel Club.
Tarcísio e seu painel, na Barberia (Foto: Bruno Pellerin) |
Holofote Virtual: Tatá (com é chamado na roda de amigos), o que é afinal O Grande Dia?
Tarcísio Ribeiro: É uma floresta percorrida pela extensão de um dia (o grande) incluindo sua madrugada/noite. Foi pensado e concebido como uno, mas foi desdobrado e pintado em 18 partes separadas, onde as conexões foram articuladas de duas em duas partes. O grande dia também é metáfora da vida, como se toda vida fosse a totalidade de um dia, isso ocorreu por conta de agenda cheia. Essas atividades requerem dedicação e planejamento, então, comecei a tratar todos os dias como se fossem um só, o dia em que vivo, acho que “essa brincadeira” me facilitou as coisas.
Holofote Virtual: Você pretende lançar um catálogo desse painel, conta que ideia é essa...
Tarcísio Ribeiro: Sim, mas, o catálogo ainda está se formando, procurando sua expontaneidade, crescendo, mudando, agora mesmo, quando respondia, tive uma nova ideia sobrea anterior que me pareceu mais interessante, isto é, já dentro de um outro processo criativo.
A ideia é que nele estejam contidas as 18 obras individuais, alguns bípticos, tripticos, e polípticos, extraídos de O Grande Dia. As páginas, das obras individuais, podem ser destacadas e utilizadas para montar uma gravura de O Grande Dia, completo, em alta definição no tamanho 51 x 102 cm, ou de partes de “O Grande Dia”, de acordo com o gosto, estilo e visão do admirador. O catálogo acabará tendo uma função didática na exploração da obra e suas partes.
No Atelier (Foto: Bruno Pellerin) |
Holofote Virtual: Como é esse teu percurso na arte?
Tarcísio Ribeiro: Moro em uma galeria com umas 30 obras, de minha autoria, expostas. Foi também onde pintei “o grande dia” e deitei o olhar sobre ele (s), então, a visão dos quadros todos reunidos me deixou bastante clara a impressão de ver um quadro por dentro do outro e vice versa. Os quadros expostos na galeria tem entre 3 e 20 anos de idade e o grande dia foi pintado em 2016/2017.
Devido ao gigantismo do último, tornou-se possível ver a expansão das cores, os movimentos das mãos e dos braços, os ritmos, e, tudo isso aparece em todos os quadros. Uma outra sensação interessante é a de que uma nova obra ilumina todas as obras anteriores, é como se todas elas fossem acariciadas.
1 mês antes do início da exposição (Fotos: Lu Medeiros) |
Holofote Virtual: Vamos filosofar.... Pintar, pra ti, é existir?
Tarcísio Ribeiro: O ano passado, 2016, foi um ano de amadurecimento, mudança, e portanto, de perdas e dores. Em certo período dele senti indisposição, porém, na medida em que fui produzindo, pintando, estive mais a vontade com o entorno.
Indiretamente, essa percepção sobre esse ano ao qual me dediquei à pintura, exclusivamente, me leva a crer que para mim, pintar é existir. Por outro lado, não sei de muita coisa não, apenas gosto de pintar, me sinto bem, sempre posso ir mais longe e alegrar ou contentar a mim ou alguém.
Holofote Virtual: Enquanto “O Grande Dia” está na barbearia Belém, você começa a construir uma nova exposição. Assim como neste painel reflete muito do teu estilo nesta trajetória de 20 anos, agora vais voltar ao preto e branco, o início de tudo... É isso?
Tarcísio Ribeiro: Sim, tenho produzido pinturas p&b que serão expostas no Ziggy, um espaço cultural novo, sensacional, que combina culinária, música, artes plásticas, com público diferenciado, e uma programação musical que me identifico. Outro belo lugar, cujo convite para expor me deixou contente, e curioso com os desdobramentos.
A pintura em p&b é um retorno às minhas origens, os desenhos p&b marcaram o inicio da minha relação com as artes plásticas, são anteriores à pintura , as minhas experiências com cores que me aprofundei. Porém, continuei desenhando em paralelo por todos esses anos, só que não fiz nenhuma exposição com essa técnica. Mas, agora vai, no Ziggy, em setembro/outubro, nos aguardem. Fico pensando que o contrastes com as pinturas coloridas vai ser interessante para criar mais impacto, então devo levar alguns quadros coloridos com esta finalidade.
Casa Galeria T195 em expansão (Foto: Lu Medeiros) |
Holofote Virtual: E conta como vai ser esta casa de caldos aliando música e arte... O que falta para inaugurar?
Tarcísio Ribeiro: Em resumo, consiste em uma casa de caldos e sucos com artes. A ideia é acrescentar mais um lugar à cidade, de baixo desgaste físico e financeiro. No momento, falta só matar o dragão e abrir o recinto. É um projeto simples que vem amadurecendo, além de pintar, costumo cozinhar com frequência.
Vivo em uma galeria de pinturas, em Belém, e a ideia de trabalhar com caldos vem da praticidade, da variedade de sabores, e conforme o gosto de cada um, pode ser bem leve ou encorpado. Creio que as duas partes poderão ser complementares, a casa de caldo dará circulação a galeria, que por sua vez, deverá dar uma motivação a mais para a frequência das pessoas.
Holofote Virtual: És estatístico e tens atuação na área. Como divides teu tempo com a pintura?
Tarcísio Ribeiro: Assim como todo mundo, preciso administrar o tempo, com atividades acadêmicas, sociais, técnicas, domésticas etc. Considero essas atividades convergentes e a pintura é parte que integra tudo. Aprecio muito esse despertar que tive para a pintura, e procuro fazer por continuar merecendo esse dom, que também me relaciona com a música e com o mistério.
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