29.12.17

Tem músico paraibano na cena cultural paraense

Naldinho Freire é músico, educador, compositor e pesquisador. Nasceu na Paraíba (PB) e depois de ter passado por algumas cidades brasileiras, entre elas Maceió, em Alagoas, este ano passou a morar em Belém do Pará, onde já mergulha na cena cultural. O artista topou participar da retrospectiva do blog e falar do cenário da cultura no Brasil e do projeto  “Sem chumbo nos pés”, com o qual viajou o país este ano.

30 anos de carreira. Parcerias com poetas, escritores, compositores e músicos do Brasil e de Cabo Verde (país que o músico mantém um intercâmbio permanente). A ideia de residir em Belém veio por questões familiares.  “Minha companheira é belenense e decidimos que este ano, o Pará seria a nossa base e os planos se estenderão a 2018”, diz o músico.

Desde que se estabeleceu na capital paraense, o músico vem fazendo conexões, uma delas com Beá Santos, musicista paraense que o acompanha nos teclados e sintetizadores. Juntos já fizeram várias apresentações, numa turnê em outubro por algumas cidades brasileiras. Nas apresentações, a instrumentista também mostra seu trabalho autoral.

“Eu e o meu trabalho musical fomos e temos sido recebidos com muito carinho e respeito. Já conhecia algumas pessoas ligadas às artes, tenho ampliando esse território, construído parcerias e criado com muito esmero um tecido que vem me possibilitando atuar no estado do Pará, em outros estados do Brasil e outros Países”, diz Naldinho Freire.

Com Beá Santos, no Teatro Glauce Rocha da UFF em Niterói
Na discografia do artista está o LP Lapidar (1995) e o CD Viandante, em Alagoas (AL), lançado em 2005, através do projeto Misa Acústico. No CD Raízes, integrando a coleção Memória Musical do Sesc Alagoas (AL), em 2006, publicou pesquisa na área de música sobre tradição oral do Nordeste.

Naldinho também participa do CD Sound of Alagoas, lançado em Berlim (GER), na POPKOMM, e realizou turnê com o CD Raízes, na África, França, Portugal e Rotterdam (de 2008 a 2010). Realizou concertos na cidade de Praia e São Domingos, em Cabo Verde.

No campo das políticas públicas, o artista traz conhecimentos sobre as realidades e demandas culturais do Nordeste e Norte. Entre 2011 e 2016, Naldinho foi representante da Fundação Nacional de Artes – Funarte nestas duas regiões. Em agosto deste ano, o músico participou do Territórios da Arte, projeto trazido a Belém pela Funarte e UFF, no qual o blog também participou. Nos reencontramos em Niterói para a etapa final do mapeamento, no Territórios da Arte - Interculturalidades, onde tive a oportunidade de vê-lo em ação, já com Beá Santos. 

Foto: Elcimar Neves
Holofote Virtual: Como você analisa o ano de 2017 do ponto de vista cultural, dentro do atual contexto político? 

Naldinho Freire: 2017 foi ano em que percebemos com mais firmeza que as políticas públicas para área cultural no Brasil não é prioridade para o grupo que forçadamente está desgovernando o Brasil. Pois, com a extinção do Ministério da Cultura - MinC, e após sua recriação a partir da mobilização dos artistas, agentes culturais, políticos contrários à proposta, gestores e pessoas ligadas aos segmentos culturais, o MinC segue sem musculatura, vive desidratado, sem o diálogo com os que atuam nas áreas da cultura em nosso País. 

Diálogo que pelo qual lutamos muito e exercitamos na gestão do Ministro Gilberto Gil, e que vínhamos mesmo com dificuldades tentando manter nas outras gestões do MinC.  Em 2017 mesmo que algumas ações pontuais tenham acontecido através do MinC, as mesmas não tiveram lastro e nem perspectiva de construção coletiva. Temos servidores efetivos no Sistema MinC com grande potencial de conhecimento e envolvimento com a missão do Ministério, mas infelizmente sem investimento em ações transformadoras, esse recurso humano não é valorizado, e é perceptível o desestímulo de alguns servidores.  

Holofote Virtual: O que você citaria como exemplo de resistência diante desse quadro?

Naldinho Freire: Cito a tentativa grandiosa de sobrevivência dos que fazem a Funarte, o IPHAN, outros institutos, fundações, os que trabalham em escritórios regionais do sistema MinC que ainda não foram extintos, e que diariamente saem de suas casas, e se deparam com as consequências desse desgoverno. 

Portanto, diante desse contexto, os artistas, produtores culturais, agentes culturais, gestores e coletivos que atuam na área cultural, buscaram durante o ano de 2017 ferramentas de resistência, realizaram seus projetos independentes, com recurso financeiro mínimo, extraindo frutos das profundezas dos seus universos culturais, numa constante luta contra as intempéries geradas por essa descontinuidade governamental.

Holofote Virtual: Neste momento, como você tem trabalhado sua carreira?

Naldinho Freire: Também sou um resistente e nesse aspecto externei o trabalho musical que iniciei sua construção no ano de 2016, estreei no Recife/PE, em janeiro de 2017 o show “Sem chumbo nos Pés”, circulei com ele pela Ilha de Santiago - Cabo Verde/ África, por cidades do Sudeste, Norte e Nordeste do Brasil, e o mantenho ainda em processo de construção, a cada apresentação, estudando as possibilidades, percebendo como o público reage a cada canção apresentada, retirando ou acrescentando o que se faz necessário, e paralelamente sem pressa registrando as canções através de gravações em estúdio. 

Essa vivência mostrou-me vários caminhos, trouxe-me vários parceiros e amigos que contribuíram muito com essa construção. Reafirmou em mim o poder de voos infinitos que temos a partir do que idealizamos e buscamos praticar.

Holofote Virtual: Que projetos e ações você acredita que tem feito a diferença neste cenário e quais foram tuas principais conquistas e aprendizados?

Naldinho Freire: Os projetos que incluem o intercâmbio cultural. Entre minhas conquistas está a construção do trabalho “Sem chumbo nos Pés”, com ele permanece o aprendizado que é constante: a percepção do outro, de seus universos, e a nossa posição nesses universos, a forma de agir, interagir e dialogar com as diferenças e os diferentes.

Holofote Virtual: O que esperar para a cultura em 2018?   

Naldinho Freire: Percebo que 2018 não deve ser um ano de espera, penso que deveremos potencializar o uso das nossas ferramentas de resistência. Será um ano que teremos eleições em vários níveis e o nosso trabalho deverá multiplicar-se, para que o voto que é uma das nossas armas possa de fato contribuir com a transformação da realidade política que vivenciamos.

A cultura, seus agentes e suas ações diárias serão de fundamental importância nesse processo. Pessoalmente, darei continuidade ao trabalho musical “sem chumbo nos pés” e continuarei a trabalhar com ações que gerem o intercâmbio cultural.

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