Uma das lendas urbanas mais populares de Belém une o trabalho de duas reconhecidas artistas paraenses e se projeta na tela do cinema. A fotógrafa Walda Marques se inspirou na ‘Moça do Táxi’ para criar uma fotonovela feita exclusivamente para colecionadores, e a cineasta Zienhe Castro se inspirou neste trabalho para realizar o curta metragem “Josefina”, que será lançado nesta terça-feira, 5, às 19h, no Cine Líbero Luxardo do Centur.
Baseada na lenda urbana “A Mulher do táxi”, e livremente inspirado na fotonovela de Walda Marques, a cineasta Zienhe Castro realiza “Josefina”, um foto-filme experimental de narrativa poética e estética noir, resgatando a história real da Jovem Josephina Conte, que morreu em 1931, aos 16 anos, de tuberculose. Contam que quando estava viva o pai lhe presenteava no aniversário com um passeio de carro pela cidade.
Reza a lenda, que um belo dia, um ano depois de sua morte, um motorista de carro de praça (não se chamava de Táxi naquela época) chegou à residência dos pais da moça cobrando uma corrida e foi surpreendido com a foto dela na parede e a notícia de estava morta. Desde então essa história vem sendo repassada oralmente de geração em geração. Foi publicada pelo escritor Walcyr Monteiro, em 1972.
Fotos: Walda Marques |
Embora já se conheçam há muitos nãos da cena cultural de Belém, é a primeira vez que as duas fazem um trabalho em parceria. “Sempre ressaltei o talento e sensibilidade da Walda para a Direção de Arte, além da estética do olhar sensível dela como fotógrafa" diz Zienhe Castro.
"Este ano, assim que retornei para Belém, recebi um convite dela para adaptar a fotonovela “JOSEFINA – A moça do Táxi”, para o cinema, e aí surgiu a oportunidade de inscrever o projeto no edital SEIVA de produção artística e foi uma alegria, ter sido selecionado”, comenta.
É um projeto duplamente premiado. “Josefina” foi um dos cinco projetos selecionados pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, que a cada ano seleciona artistas para produzirem uma obra a ser entregue aos associados do Clube de Colecionadores, núcleos criados anualmente para fomentar o colecionismo e incentivar a produção artística brasileira.
“Esse trabalho teve uma tiragem de apenas 117 exemplares, não posso nem reproduzi-la. Só quem recebe são os associados do clube de colecionadores, e então esse desdobramento de transformá-la em filme eu achei maravilhoso”, finaliza Walda Marques.
Atmosfera romântica na releitura de Walda Marques
“Josefina”, com direção de Zienhe Castro, da Z Filmes, é livremente inspirada na história recontada por Walda Marques. Desta vez, Josefina se apaixona por Waldomiro e convida Waldomiro para seu baile de 15 anos. Ele vai e o clima de romance fica no ar, mas depois nunca mais a vê e nem sabe de sua morte.
“O que eu fiz foi colocar amor nessa história. Na minha leitura, Josefina se apaixona da janela de sua casa”, diz Walda Marques. Sem saber que a moça havia morrido, anos e anos depois, ele, motorista de táxi, a pega, sem a reconhecer e passeia com ela pelas ruas da cidade. No desfecho, a descoberta assombrosa.
A adaptação de Zienhe mergulha neste clima romântico. “Gravamos várias coisas na minha casa, pois guardei todas as coisas da fotonovela e da Josefina, quando a fotografei. Então tinha tudo. A proposta da Zienhe foi misturar as coisas, fiquei muito feliz, tudo foi feito com um cuidado incrível”, comenta Walda Marques.
Dois meses de trabalho: "cinema de guerrilha"
Além das fotos que ocorreram na casa da Walda, foram realizadas filmagens no Cemitério Santa Isabel, no Theatro da Paz e pelas ruas de Belém, em particular da Cidade Velha, à noite, que de acordo com a diretora, foram as que mais deram mais trabalho, porque o filme é de época, década de 60/70.
“É um projeto de micro-orçamento, que foi desenvolvido, executado e finalizado em apenas 60 dias por força do Edital.
Não houve nem tempo, nem verba para a preparação devida das cenas: tinha-se que ir para as ruas e filmar, simplesmente. Às vezes acontecia de um ‘take’ sair belíssimo, mas eis que no fundo passava um carro ‘último tipo’, e o ‘take’ ia pro lixo”, conta Zienhe.
A cineasta diz que mesmo com todas essas dificuldades, nesse “cinema de guerrilha, com pouco dinheiro e pouco tempo, fomos abençoados por muitos acertos e por uma equipe em plena sintonia e que abraçou o projeto com amor. Digo que fomos abençoados pela própria Josefina”, finaliza.
No elenco estão Paola Pinheiro (Josefina), Diogo Souza (Waldomiro novo) e Cláudio de Melo (Waldomiro mais velho). A direção de fotografia é assinada por Neto Dias, com fotografias adicionais de Walda Marques, que assina a direção de arte, figurino e a maquiagem do filme.
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