13.6.18

Da Paz recebe alunos cegos do Álvares de Azevedo

O projeto Sinfonias de Inclusão iniciou em maio, recebendo uma turma de alunos surdos do Instituto Felippe Smaldone e hoje (13) recebe a turma da Unidade Educacional Especializada José Alvares de Azevedo, às 9h, no Theatro da Paz.

O objetivo do projeto é oferecer um ambiente de musicalização e arte acessível, capaz de estimular e aguçar diferentes experiências sensoriais em pessoas que têm poucas oportunidades de frequentar concertos, espetáculos e shows em espaços culturais da cidade. As visitas contam com uma metodologia inclusiva própria, a fim de promover o acesso de pessoas com diversos tipos de limitações a um ambiente musical que ainda se faz inacessível para a maioria delas. 

Além da visita guiada com áudio descrição do espaço, os alunos cegos também poderão acompanhar um ensaio da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz e conversar com músicos e com o maestro Miguel Campos Melo. Para entender a estrutura física da arquitetura do prédio eles também terão à disposição uma maquete especialmente construída para atender deficientes visuais.

“Esperávamos há muitos anos em viabilizar a ida deles a algum concerto, mas nunca deu para fechar as agendas direito entre a unidade educacional e a Fundação Carlos Gomes, por exemplo, por onde estávamos tentando. Além do mais é preciso logística para sair com todos eles. Quando o teatro nos procurou ficamos muito felizes”, diz a professora.

Ela diz que entre os demais, pode até haver quem já tenha ido alguma vez ao teatro, mas será inédita audição da OSTP. A falta visão os impede de ir a esses espaços, por isso têm pouca vivencia cultural. “Muitos deles dependem de um acompanhante e isso nem sempre é disponível, mesmo os que têm a técnica da bengala, eles se sentem inseguros para estar nestes ambientes”, continua Rosana Furtado.

Projeto causa expectativas nos visitantes 

Dos 20 alunos que participarão do projeto, apenas Seu Armando, um senhor de 60 anos, conhece o Theatro da Paz. Ele trabalhou na última reforma feita lá nos anos 1990, quando ainda era vidente. Rosana Furtado, professora de música, responsável pelas aulas de musicalização ofertadas no Álvares de Azevedo, diz que esse é um sonho antigo que está se tornando realidade esta semana.

Além de Seu Armando, que é um aluno adulto, também há um outro alunos que está com muita curiosidade em ouvir a Orquestra. Ele é Everton Silva de Deus, 27 anos, que já toca flauta e acaba de ingressar na UFPA, onde está estudando música. “Quero desenvolver um pouco mais e ficar por dentro do que é a música. A minha expectativa é que eu mude o meu jeito, a minha rotina. Em casa a minha relação com a música é de me deixar muito bem, sem a música eu não faço nada”, diz ele.  

É a primeira vez ele vai ouvir a OSTP e está muito ansioso. “Vai ser uma novidade para mim. Nunca fui ao Theatro da Paz. De espaços culturais acho que só fui no Hangar, mas para me apresentar com flauta, numa feira do livro em 2010”, lembra. “Eu nunca frequentei um espetáculo de teatro ou espaços culturais. Ainda é muito raro ter apresentações com audiodescrição e quando tem nem sempre a gente fica sabendo”, reclama o flautista. 

A mediação pedagógico na musicalização

A Unidade Educacional Especializada José Alvares de Azevedo é de referência no Estado para o atendimento da pessoa com deficiência visual. Tem 63 anos de funcionamento. A musicalização sempre esteve presente, mas antes era feita por professores da Fundação Carlos Gomes, de maneira muito técnica, até a chegada de Rosana Furtado que introduziu uma metodologia pedagógica nas aulas. Formada pela UEPA, ela acumula 31 anos de atuação na educação, sendo que 18 dedicados às pessoas com necessidade intelectual e mais especificamente de deficiência visual. É especialista em educação e técnica em musicografia braile.

“Aqui não é uma escola de música, tendo o aluno ou não habilidade, ele é acolhido. Há crianças cegas com problemas de mobilidade, com comprometimento intelectual, ou possuem o espectro do autismo. São muitas as complicações. Quando o caso é só a cegueira já é uma sorte”, comenta. 

As aulas de musicalização se dividem em três eixos, de acordo com a faixa etária, que vai dos 6 aos 70 anos. “Para crianças nós iniciamos a musicalização, que vem a ser a vivencia musical, trabalhamos a oralidade, a dicção, o movimento de expressão corporal, sempre tudo envolvendo o som musical. Temos os brinquedos cantados, como as cirandas, então a música se torna essa ferramenta de socialização da criança cega”, explica Rosana.

As demais turmas incluem os jovens que já se interessam pelas notas musicais. Então é chegada a hora de introduzir a musicografia braile, quando começam a conhecer um pouco mais de música e a trabalhar com um software que os permite ler partituras e a começar a tocar. 

“A musicografia braile permite que seja feita a transcrição das partituras em tinta, aquela que o vidente vê, mas que é possível ser transcrita para o sistema braile. Então a pessoa vai ler o Dó, o Ré e vai poder fazer o solfejo, a sua transcrição. É possível compor também. Tudo que for digitado vai ganhando voz, e quando se prepara o compasso, é possível finalmente tocar o que foi musicado”, explica a professora.

Além de crianças e adolescentes, há ainda a turma de adultos na musicalização do Alvares de Azevedo. “Nem sempre os mais velhos querem aprender música. Então temos as aulas de canto coral, onde eles vão fazer a socialização, aprender a educar a voz, fazer a respiração diafragmática, aprender a cantar e assim vai. Não somos escola de música, mas a gente a oferece como ferramenta que vai trazer qualidade de vida para esse aluno, que é cego”, finaliza Rosana. 

Serviço
Sinfonias de Inclusão recebe alunos da Unidade Educacional Especializada José Alvares de Azevedo. Nesta quarta-feira, 13 de junho, das 9h às 12h, no Theatro da Paz. Mais informações: 91 998033.2162.  A realização do Governo do Estado do Pará, por meio da Secretaria de Cultura do Estado, e Academia Paraense de Música, com apoio do Banco da Amazônia.

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