Cláudio Barros está novamente em cena com a leitura dramática de Inútil Canto e Inútil Pranto pelos Anos Caídos, conto do dramaturgo Plínio Marcos. As apresentações serão realizadas, nesta segunda-feira, 25 de novembro, e na próxima, dia 02 de dezembro, sempre às 19h, no Teatro Waldemar Henrique. O ator bateu um papo com o blog sobre o novo trabalho e também fala desses 44 anos de carreira dedicados ao teatro e também ao cinema.
Em 2019, ele esteve em cartaz em Belém com o monólogo “Solo do Marajó”, sobre a obra de Dalcídio Jurandir. O espetáculo foi visto também em vários municípios paraenses, pela circulação ribeirinha do projeto Mambebarca, do grupo Usina de Teatro, sob direção de Alberto Silva Neto.
Claudio Barros iniciou sua carreira em 1976, com 12 anos de idade, no Grupo de Teatro do SESC. Em Belém, integrou elencos de vários importantes grupos da cidade. Pelo Grupo Experiência, onde trabalhou durante 10 anos, conquistou os prêmios de melhor ator e melhor diretor, em festivais nacionais de teatro, com os espetáculos Don Xicote Mula Manca, dirigido por Geraldo Sales e A Terra é Azul? dirigido por ele mesmo e por Edgar Castro. Atuou também no Grupo Cena Aberta e é fundador do Grupo Cuíra, onde trabalhou como ator, diretor e administrador durante 26 anos.
Na fase inicial do Grupo Cuíra, dirigiu três espetáculos musicais para crianças. Na fase que o Grupo foi dirigido por Luiz Otavio Barata, foi ator nos espetáculos Um Baile em Hiroshima Logo Após a Bomba e Aquem do Eu, além do Outro. Ainda no Cuíra, foi dirigido pela atriz e diretora Wlad Lima, nos espetáculos Dama da Noite, de Caio Fernando Abreu e Água Ar Dente. Sob a direção, ainda no Cuíra, do ator Cacá Carvalho, realizou os espetáculos Convite de Casamento, Toda Minha Vida Por Ti e Hamlet, Um Extrato de Nós.
Solo de Marajó Foto: J.M. Conduru |
Os dois últimos espetáculos de teatro foram Solo de Marajó, espetáculo baseado no romance Marajó, de Dalcídio Jurandir, e Pachiculimba, espetáculo-cerimônia inspirado em narrativas ameríndias da Amazônia. Ambos são realizações do Grupo Usina de Teatro e dirigidos por Alberto Silva Neto.
O primeiro trabalho no cinema foi como stading de Tom Wats, no filme Brincando nos Campos do Senhor, de Hector Babenco. Depois, na função de produtor e preparador de elenco, trabalhou com os diretores, Tania Lamarca, Mauro Lima e Rosane Swartman, na trilogia Tainá.
Também no cinema, produziu elenco para os longas: Sol do meio Dia, de Eliane Caffé. Órfãos do Eldorado, de Guilherme Coelho, Pequeno Segredo, de David Shurmam, entre outros. Recentemente, como ator, ao lado de Dira Paes, atuou no filme Pureza, de Renato Barbiere, e que acaba de estrear.
Em Belém participou de alguns curtas metragem dos diretores Marta Nassar, Rubens Shinkai, Jorane Castro e, mais recentemente, preparou o elenco do longa Eu, Nirvana e da série Sacoleiras S/A, ambos dirigidos pelo cineasta paraense Roger Elarrat.
Os últimos trabalhos, como preparador de elenco, foi para a série O Escolhido, da Netflix e a comédia romântica, dirigido por Hsu Chien, Quem Vai Ficar com Mario?
A leitura dramática já tem um lugar em sua trajetória. “Inútil canto e inútil pranto pelos anjos caídos”, que ele agora também coloca em prática, faz parte da pequena coleção de contos com o mesmo título, do escritor e dramaturgo Plínio Marcos (1935-1999).
A primeira edição do livro é de 1977. O título reúne três contos e a leitura de Claudio Barros, será do segundo conto, que trata da perda dos fundamentos dos índios brasileiros.
A narrativa brinca com a repetição, quase mântrica, de palavras e frases. Esse jogo possibilita que a história ganhe um caráter rítmico, musical, ritualístico. A História de um velho índio que começa a perceber a degeneração total de sua raça é o ponto de partida da narrativa, que mesmo sendo escrita a mais de 40 anos, em plena ditadura militar, continua atual.
Foto: J.M. Conduru |
Holofote Virtual: Leituras Dramáticas sempre fizeram parte do seu repertório?
Cláudio Barros: Leituras dramáticas compartilhadas com o público já fiz algumas vezes. No inicio dos anos 2000 fiz a leitura dramática de um capítulo do livro Petróleo (Ponto 55), de Pier Paolo Pasolini, na Livraria Travessa no Rio de Janeiro.
Repeti a mesma leitura em alguns lugares aqui em Belém. Anos depois li, ao lado da atriz Zê Charone, trechos da obra de Benedito Monteiro, no interior do aquário do Museu Emilio Goeldi. Mais recentemente, na livraria Saraiva, realizei a leitura do conto Copromancia, de Rubens Fonseca. Então, não se trata de uma constante, mas quando sinto necessidade gosto de compartilhar uma boa leitura
Holofote Virtual: Qual a função da leitura dramática e porque fazer isso de forma aberta ao público?
Cláudio Barros: Creio que a leitura dramática é uma ferramenta que o ator possui para criar intimidade com a dramaturgia que ele está trabalhando. É algo que, normalmente, antecede a encenação. Encontra-se no limiar entre a literatura e o espetáculo teatral. As vezes, o ator sente necessidade de experimentar a leitura para analisar alguns aspectos da comunicação do texto com o público. Então, antes de encenar o espetáculo, promove alguns encontros dessa natureza.
No meu caso, sempre que realizo leituras dramáticas porque sinto profunda necessidade de me expressar através daquele texto específico, sem a obrigação de transformá-lo em cena. No caso atual fui movido pela indignação que sinto com a barbárie enfrentada pela população indígena nos dias de hoje, promovida pela ignorância e truculência do atual governo. Se vai virar espetáculo, ainda não sei.
Foto: J.M. Conduru |
Holofote Virtual: Não é tão comum ver na programação cultural da cidade esse tipo de opção, mas lembro que na Casa da Atriz houve uma série delas uns anos atrás e a prática vem sendo mais elaborada com produção e direção cênica. Neste sentido, o que diferencia uma leitura dramática de um monólogo, ou de uma performance?
Cláudio Barros: Fiz minhas primeiras leituras há 20 anos. Naquele momento, fui dirigido pelo escritor Edyr Augusto Proença e foi muito proveitosa a troca de experiência. Então, pra mim, não se trata de novidade leitura dramática com direção. Já experimentei esse formato algumas vezes. Novidade mesmo é a auto direção que experimento agora. A leitura dramática pode, dependendo do texto, ser realizada por vários atores. Aí não pode ser considerada um monólogo. No caso de agora, só eu leio, sendo assim se parece muito com um monólogo. Dependendo de como a presença do ator, no ato da leitura, é construída, pode ser considerada uma performance, ou uma leitura performática. Acredito que a minha é assim.
Holofote Virtual: Plínio Marcos sempre foi um fascínio? Que outros autores te estimulam a fazer leituras em público?
Cláudio Barros: Acho que alguns dramaturgos ficam presentes no imaginário, na íntima vontade, de quase todo ator. Plinio Marcos é um deles, pela importância política de sua palavra e pela profundidade de sua poética. Nelson Rodrigues, William Shakespeare, Moliére e muitos outros, habitam, desde sempre, o ator que sou. Tenho vontade, ainda, de ler mais autores paraenses como Haroldo Maranhão e Bruno de Meneses, só pra citar alguns.
Foto: J.M. Conduru |
Holofote Virtual: É uma ideia para 2020, colocar mais em prática esse tipo de ação cênica? Que textos estariam de prontidão para isso?
Cláudio Barros: Dificilmente programo, com muita antecedência, o texto que quero abraçar. Sempre sou tomado pelo texto, acontece uma espécie de invasão poética. Fico tocado. Quero falar, dizer pra outras pessoas aquele texto ou não. Acontece, entende?
Em 2020, quero e tenho profunda necessidade de me comunicar através desse texto de Plínio Marcos. Outra obra que está na fila é A Queda do Céu, do xamã Yanomami David Kopenawa. Essa obra serviu de base dramatúrgica para meu último espetáculo Pachiculimba, dirigido por Alberto Silva Neto. Mas não fiquei satisfeito, quero mais, de outra forma, talvez numa leitura, quem sabe?
Holofote Virtual: Recentemente, estivestes imerso no Mambebarca, com o Solo de Marajó. Como foi esta experiência de levar esse teatro às cidades contempladas pelo projeto?
Cláudio Barros: Posso analisar essa experiência de vários aspectos. No que se refere a troca de saberes com as comunidades ribeirinhas foi de uma potência assustadora. Acho que só terei nítida noção do que isso representou, daqui a algum tempo. As forças descobertas nesse encontro, sei que estão presentes em mim, mas ainda não consigo percebe-las tão nitidamente. Por outro lado, o Mambembarca, serviu para perceber a complexidade que é viajar, em turnê, pela Amazônia. Não sabíamos o que isso representava. Tínhamos uma vaga ideia. Vivenciar, na prática, esse projeto não foi fácil e nem sempre senti prazer. O positivo é que agora já sei como é.
Holofote Virtual: O que fica desse contato com a obra do Dalcidio, em você, como homem de teatro e nativo da região?
Cláudio Barros: São 10 anos fazendo o espetáculo Solo de Marajó e pretendo continuar com esse trabalho sem data exata para parar. A poética Dalcidiana transformou minha percepção de mundo. Com Dalcídio Jurandir consegui aprofundar o sentido de pertencer a Amazônia, eliminando a visão exótica da floresta, focalizando no humano que habita esse lugar, ampliando, consideravelmente, minha percepção política e social da minha terra. E olha que trabalhei apenas uma obra. Ainda faltam nove livros... (risos).
Foto da página FB do ator |
Holofote Virtual: Vamos falar sobre cinema. Qual foi o teu primeiro trabalho no cinema?
Cláudio Barros: Iniciei no Cinema 1990 como standing do ator e cantor Tom Waits, no filme Brincando nos Campos do Senhor, de Hector Babenco. Esse filme foi o inicio de carreira de muitos profissionais do cinema paraense. De lá pra cá nunca mais parei de fazer. Hoje sou um profissional respeitado nacionalmente. Que bom, né?
Holofote Virtual: Tua formação de ator foi para teatro, onde além de atuar também diriges. Mas tu fizestes muitas vezes a preparação e/ou a direção de ator para cinema. E costuma-se dizer que atuação para câmera requer técnicas diferentes. Nem todo ator de teatro faz cinema. Você concorda com isso?
Cláudio Barros: Acredito que o ator, em sua formação, deveria ser preparado para todas as linguagens cênicas. É uma pena que isso não acontece. Claro que existem diferenças entre essas linguagens, não só no trabalho do ator. O teatro exige do ator a construção de uma dilatação corporal, e quando falo do corpo estou incluindo a voz, muito mais ampla, capaz de atingir o público na distancia que estiver. Mesmo construindo sua dinâmica de dentro pra fora, o corpo do ator é percebido por inteiro. Sua composição precisa ter, sempre, essa preocupação.
No cinema a construção é a mesma, porém, o ator direciona sua criação para uma câmera. Sua composição é captada, num primeiro momento, por uma lente e isso faz toda a diferença no tratamento físico de sua interpretação. Entender isso, talvez, seja muito mais fácil do que concretizar o entendimento. Só o treino resolve.
Holofote Virtual: Você fez trabalhos para series também. Como você enxerga e interpreta essa nova geração e esse momento do audiovisual?
Cláudio Barros: A primeira série que fiz foi Sacoleira S.A., do Roger Elarrat, toda filmada aqui, com elenco paraense e, recentemente, como preparador de elenco, fiz mais uma série, sendo a primeira para a Netflix, O Escolhido. Não senti muita diferença no trabalho de preparador, mas percebi que o tempo e a velocidade de produção são bem diferentes. Foi desafiador nesse sentido. Acho que o audiovisual está sempre se redescobrindo, como uma necessidade natural da linguagem. Daqui a pouco as séries serão substituídas por uma nova percepção. É ótimo que seja assim, dinâmico e constante.
Pachiculimba
Foto: Alberto Silva Neto
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Holofote Virtual: Vamos voltar para o teatro. Fazendo uma retrospectiva de palco, quais personagens e/ou espetáculos que fariam parte de uma programação para comemorar os seus mais de 40 anos de carreira?
Cláudio Barros: Essa, talvez, seja a resposta mais difícil de formular. Todos os trabalhos, tem sua época e sua infinita importância na minha busca como ator. Fiz muita coisa, mas vou tentar selecionar alguns espetáculos de vários momentos dos 44 anos dedicados ao teatro. Vamos lá: No Grupo Experiência destacaria Mãe D'agua, Don Xicote Mula Manca e A Terra é Azul? No Grupo Cena Aberta destaco Trontheia Staitheia.
No grupo Cuíra, Um Baile em Hiroshima Logo Após a Bomba, Aquém do Eu Além do Outro, Água Ar Dente, Hamlet, um Extrato de Nós. E ainda no Grupo Cuíra, eu fiz também, o meu primeiro monologo, A Dama da Noite, do Caio Fernando Abreu, dirigido pela Wlad Lima, Mais recentemente no grupo Usina, Solo de Marajó e Pachiculimba. Espero não ter esquecido de nenhum, o que é muito provável.
Holofote Virtual: Uau, seria muito bom se pudessem ser remontados. E há algum novo trabalho em vista para 2020? Essa Leitura ficará só dois dias em cartaz?
Cláudio Barros: Meu novo trabalho é a leitura dramática. Pra mim tem a mesma importância que um espetáculo ou um filme. Para 2020 tenho projetos e convites no cinema e no teatro. Por enquanto, não vamos falar nisso. Precisa ficar tudo mais concreto. Mas tem novidade sim, é claro. Não sei fazer outra coisa.
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