14.11.09

Entrevista: Haroldo França fala sobre "Jodo de Sete"

Em cartaz ainda hoje e encerrando temporada neste domingo, espetáculo “Jogo de Sete”, da Cia. De Teatro Em Cores, traz em cena personagens que retratam e discutem no palco, as angústias comuns a todas as pessoas, com diálogos construídos através do jogo de palavras, melodias e passagens bíblicas.

Haroldo França, que dirige o espetáculo, diz que se acha uma pessoa de sorte. Começou a estudar Teatro na Escola de Teatro do Sesi, aos 15 anos, com Fernando Matos e aos 17 já fundava a Cia. Em Cores.

Hoje, ele faz curso técnico de formação em ator pela Escola de Teatro e Dança da UFPa e já teve a oportunidade de dirigir o Grupo de Teatro Universitário, ao lado de Wlad Lima e Olinda Charone.

Atualmente, Haroldo trabalha em parceira com Guál Dídimo (autor de Paixão Fosca). Juntos eles já têm projetos para o ano que vem. “Em 2010, lançaremos nosso primeiro trabalho realizado em direção conjunta, pelo Em Cores, o musical ‘Ópera Profano’, de Carlos Correia Santos”, diz França.

Com o retorno em cartaz de “Jogo de Sete”, no Teatro Waldemar Henrique, o HolofoteVirtual procurou Haroldo França para a entrevista que segue abaixo. O espetáculo “Jogo de Sete” pode ser visto hoje e amanhã, às 20h, com ingresso por R$ 10,00 (com meia para estudante).

ENTREVISTA

Qual é a história de “Jogo de Sete”, como surge a montagem?
Haroldo França:
O Jogo de Sete já se desenvolveu bastante desde que foi apresentado pela primeira vez, em julho de 2008. Iniciamos o processo de montagem no início do mesmo ano, ainda numa proposta bem mais modesta. No início de 2009, apuramos mais o trabalho e apresentamos uma nova versão ao público, com uma complexidade dramática bem maior. Agora, estamos apresentando uma versão com arranjos musicais ao vivo, pois a peça, até então, não tinha sonoplastia mecânica, apenas canções feitas à capela.

Como é o elenco do espetáculo, há atores iniciantes?
Haroldo França:
São sete atores. Todos são jovens, alguns, com mais tempo de carreira, outros, com menos. Alguns iniciaram a carreira nesse trabalho. Mas do início do processo até aqui, houve um amadurecimento notório. O termo "iniciante" é muito relativo, pois sempre estamos no início, há sempre muito a aprender... Eu me considero um diretor bastante iniciante, e considero o elenco competente para o trabalho.

As relações amorosas e a busca pelo amor são temas recorrentes nas artes. Como você isso?
Haroldo França:
As relações do homem com o amor na contemporaneidade vêm tomando contornos um tanto preocupantes. Os relacionamentos são cada vez mais passageiros e menos intensos. As pessoas primam pela quantidade, mais do que pela qualidade. Têm medo de embarcar em um relacionamento, justamente pela ansiedade de se relacionar umas com as outras.

E isso vai além de relacionamentos amorosos. As pessoas dentro da mesma família se relacionam cada vez menos. Procuram tribos, redes sociais on-line, aderem ao consumismo (através do qual é possível, segundo Freud, "assimilar" o outro, através de um mecanismo de identificações), justamente pela carência desse outro. Porque o fracasso do projeto de modernização iluminista levou os homens, de certa forma, isolados, a entrarem num caminho antiiluminista, de reimersão no coletivo (por essas coisas que falei), e de retorno às crenças religiosas.

Levar esta discussão ao teatro é uma maneira de fazer pessoas pensarem sobre suas próprias vidas?
Haroldo França: A obra de arte, da forma como apresentamos, tem um caráter meio desiludido, meio niilista. Nesse ponto, nos aproximamos do Teatro do Absurdo, que considera que o mundo é absurdo, e que as relações humanas são absurdas, e que não há nada que se possa fazer contra isso. O papel da arte, nesse caso, é simplesmente retratar o mundo tão absurdo quanto o é, sem fazer críticas explícitas, nem nada disso.

Em Jogo de Sete, o público não vai encontrar uma fórmula pronta, que mostre como todos são assim, ou assado, em condições X ou Y. A platéia não vai encontrar respostas, e sim perguntas. Vai encontrar um enredo ilógico, e aparentemente incompreensível - tão "incompreensível" como os mecanismos que regem muitos dos nossos relacionamentos.


O espetáculo “Paixão Fosca” recebeu, de um jornal local, uma crítica que falava sobre o tipo de utilização da nudez na peça. Você chamou isso, em seu blog na Rede Teatro da Floresta, de falta de profissionalismo em jornalismo cultural... O que houve?
Haroldo França:
Não tive nenhum retorno do Diário do Pará, mesmo depois de várias pessoas escreverem para o jornal, indignadas. A coisa ficou por isso mesmo, como de costume. Mas ouvi um ruído de indignação de uma parte da classe jornalística de volta.

O que você observa neste momento do teatro em Belém: academia, mercado, incentivo de editais... O público paraense vem respondendo bem às demandas de produção?
Haroldo França: Acho que aos pouquinhos, o público de Belém está se voltando cada vez mais pro teatro feito aqui. Em Paixão Fosca, vimos o resultado de um bom investimento em divulgação, por exemplo. Mas a realidade de que é quase impossível viver de teatro por aqui ainda grita. É difícil dar dedicação de corpo e alma a essa profissão, quando temos que nos dobrar em duas ou mais profissões. Mas isso é uma coisa que o povo de teatro sempre arruma um jeitinho de driblar, com muito amor.

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