16.11.09

Paulo Vieira lança livro de crônicas e quase-crônicas

Na próxima quinta-feira, 19, será lançado “Livro para distração na tragédia”, do poeta Paulo Vieira. Vencedor do Prêmio Dalcidio Jurandir de Literatura, o livro de crônicas e quase-crônicas tem uma edição limitada de 1000 exemplare.

“Feliz, em estrear na prosa, e com um sentimento um pouquinho esquisito de ser um cronista que nunca publicou uma croniquinha sequer em jornal, mas que já vai em livro, lhes digo de minha reação lépida com essa história toda, até choveu nos campos de cachoeira”, escreveu Vieira em seu blog (http://vieiranembeira.blogspot.com/2008/09/prmio-dalcidio-jurandir.html), onde também publicou, em primeira mão, em setembro de 2008, um dos textos, ainda inédito, do livro:

Foi embora pra nunca mais

Pousava no segundo fio do poste de iluminação pública. Morando no segundo andar, e com uma janela para a rua, coincide de o poste apontar seu olho para nós, com os fios se oferecendo, quase um varal. 5 da manhã, e o passarinho começava a gritaria, sim porque não era canto, aquilo era grito. Um som metálico, voz de ferro? De lata? De zinco? Sei lá! Invariável e forte, todos os dias, quero dizer, madrugadas, batia ponto em frente a janela.

- O que é isso? Parece um monstro rouco.
- Ah não, é ele de novo, vai você, estou dormindo...
- Ta bom, eu vou...

No princípio a estratégia era afastar a cortina e gritar com ele.

- Ei seu doido! Vai embora, xô! Ainda não amanheceu, olha a hora!

Depois de me acordar ele partia, para um poste distante mas ainda se podia ouvir seus grunhidos ao longe, pesadelo sem fim. O tempo foi passando e ele começou a perceber sua impopularidade. Era eu afastar a cortina, já batia em retira, sem dar ouvidos a um xingamento sequer. Daí usei outra estratégia: ao ouvir o primeiro berro, sem levantar da cama, esticava o braço, e balançava forte a cortina, três vezes, e ele entendia, voava mais que depressa.

Fiz isso só umas duas ou três vezes, e nunca mais ele veio, escafedeu-se, pronto. Paz, sono tranqüilo, adeus bater de lata, adeus pesadelo estridente! Foi o que pensei nas primeiras noites após seu sumiço.

Depois, me estranhava acordando pela madrugada e procurando por ele embaixo do escuro tapete de silêncio que a noite estende por toda a parte, não era o que se pode chamar de saudades exatamente. Era só uma preocupação, onde terá ido o passarinho de voz irritante? Era um passarinho, apesar da voz, era um passarinho. Sempre pensei em passarinhos como se pensa em um deus de encantos. E agora eu tinha desprezado um deles. Que coisa.

- Não fica assim, quem sabe um dia ele volta, ninguém tem culpa, vai ver ele virou assunto de menino balador.

- Aquilo lá se deixa abater por menino, mas quando? Se ao menos ele gritasse de dia seria mais fácil aturá-lo, mas não, tinha de vir atrapalhar o sono dos justos! Praga! Onde você foi se meter? Eu juro que não te brigo mais, vem cá bichinho...

Serviço
Lançamento de "Livro para distração na tragédia", de Paulo Vieira. Dia 19 de novembro, às 19h, no Hall Isael nery, Centur. Av. Gentil Bittencourt, prox. a Rui Barbosa.

Nenhum comentário: