11.11.09

“A Tempestade” de Shakespeare ganha montagem em Ponta de Pedras

Atores e técnicos de artes cênicas de Ponta de Pedras, cidade do escritor Dalcídio Jurandir, no Marajó, estão vivendo dias de criação e de grande desafio.

Há uma montagem sendo feita por lá, "A Tempestade", de Shakespeare, através do projeto Cena Interior, elaborado pelo Sistema integrado de Teatros (SIT), com o objetivo de estabelecer uma política pública de formação profissional de atores e técnicos em todo o Pará.

Não há uma agenda de apresentações prevista. Mas com o espetáculo montado há possibilidades de apresentá-lo dentro de programções e outros projetos ligados às cênicas.

Embora a apresentação seja um resultado esperado por todos, o objetivo do projeto é bem maior, de formação mesmo, o que valoriza a iniciativa uma vez que a política cultural relevante, hoje, propõe sustentabilidade e não somente encerra-se em um evento de espetacularização da cultura.

“Nós modificamos vidas. Não damos o peixe; ensinamos a pescar. Nossa intenção é fazer com que atores e técnicos das cidades que recebem o projeto possam caminhar sozinhos em futuras produções teatrais”, afirma Ailson Braga, diretor do SIT.

O incentivo à produção local é o foco do projeto. “Durante um período, que varia entre três e quatro meses, um diretor artístico, sugerido pelos artistas de cada município, ministra oficinas sobre interpretação, figurino, luz e toda a logística para se montar um espetáculo”, explica Yeyé Porto, coordenadora e idealizadora do projeto.

Neste caso, o diretor artístico da vez é o ator, diretor e dramaturgo paraense, Adriano Barroso. A montagem de “A Tempestade” em Ponta de Pedras mistura o teatro elisabetano com comédia dell'arte. É uma experiência não convencional. Com 15 atores em cena, Adriano Barroso explica que a ideia é fazer com que todos eles participem da montagem e percebam as relações e semelhanças entre a realidade do texto shakesperiano com a cultura pontapedrense.

“Os seres encantados do texto tocam nas lendas marajoaras, o naufrágio e a vida nas águas têm relação direta com o cotidiano do Marajó. O texto na verdade é um pretexto para uma montagem com uma personalidade muito própria, que terá muitas referências da comédia dell'arte e será feito em uma carroça como as trupes de atores que faziam teatro nos tempos da comédia dell'arte”, afirma Adriano Barroso.

Pedro Nicácio (foto), o Pedrinho, ator e artesão de Ponta de Pedras, diz que a ida do projeto ao município marajoara é uma oportunidade única para a comunidade e para os artistas locais.

“Receber as oficinas e ter a oportunidade de trabalhar com um diretor que não tem medo de partilhar seus conhecimentos é muito importante para nós. A experiência está sendo inesquecível”, opina.

Além da oficina de montagem de Adriano Barroso, o Cena Interior levará a Ponta de Pedras as oficinas de figurino (Mariléa Aguiar), cenografia e adereços (Jorge Cunha) e iluminação (Sônia Lopes), além de contar com a assistência de direção de Monalisa da Paz.

A gerente de artes cênicas do SIT, Yeyé Porto, informa que o projeto ocorre também com o apoio das prefeituras dos municípios escolhidos. “A acolhida em Ponta de Pedras foi uma das melhores que nós tivemos. O apoio ao projeto da prefeitura de Ponta de Pedras é imprescindível para o sucesso do projeto”, afirma Yeyé.

Cena Interior - O Cena Interior leva aos municípios as rotinas de trabalho que geralmente eles não possuem, ou seja, a profissionalização do fazer teatral. Yeyé Porto explica que a Secult fornece todo o material necessário e o local onde a produção será executada, de forma gratuita.

Em cada município o trabalho é pensando de uma forma diferente para atender demandas distintas, uma vez que o movimento teatral em cada cidade se desenvolve de maneira diversa, em níveis diferente.

“Em Santarém o movimento teatral é grande e bem organizado. Lá, o objetivo foi criar uma dramaturgia experimental e que revelasse novos olhares sobre espaços cênicos. Em Igarapé-Açu foi necessário incentivar mesmo a criação de uma prática teatral, que era muito incipiente”, observa a coordenadora do projeto do SIT.

Para detectar tudo isso, o proejto começa bem antes da equipe chegar no município para ministrar as oficinas. “Cada cidade escolheu a sua área de interesse, assim como o tipo de produção teatral. Em Igarapé-Açu, por exemplo, os atores escolheram trabalhar com teatro de bonecos e montaram 'Tem gato no telhado', baseado na obra de Martins Pena. Já em Santarém, o teatro experimental foi o escolhido e se montou 'Macbeth', de Shakespeare, dentro de um casarão desocupado, com as cenas ocorrendo em várias salas da cas e até no quintal”, informa Yeyé.

O Cena Interior já vem sendo realizado desde 2008, quando quatro municípios foram atendidos: Santarém, Igarapé-Açu, Barcarena e Bragança. Em 2009, Moju e Ponta de Pedras receberam o projeto.

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