12.1.12

Cinema paraense no aniversário de Belém 396 anos

"Belém, 350 anos", de Líbero Luxardo e Milton Mendonça
Sim, parabéns minha Belém. A partir desta quinta-feira, 12, ao completar 396 anos, a cidade das mangueiras ganha a tela grande e será mostrada nos vários filmes que serão exibidos em duas semanas de programação. É assim que o Cine Líbero Luxardo homenageia a quase quatrocentrona metrópole da Amazônia.

Ao todo serão exibidos onze curtas, seis documentários de longas e médias metragens, além de três longas de ficção. Para marcar bem o clima de aniversário, as sessões serão iniciadas com a exibição do curta “Belém 350 anos”, de Líbero Luxardo, que também ganha destaque na programação com outros dois filmes, “Brutos Inocentes” e ”Um dia Qualquer”. Os ingressos serão distribuídos gratuitamente uma hora antes das sessões, que começam sempre às 19h.

Na abertura, estão três filmes que mostram como Belém é uma locação cinematográfica imperdível. O curta “Ver-o-Peso”, que teve realização coletiva numa oficina da Embrafilme, realizada em Belém em 1984, em parceria com a secretaria municipal de educação e cultura e do CRAVA – Coletivo de Realizadores em Audiovisual da Amazônia, traz no elenco o ator já falecido Albertinho Bastos, no papel principal de um mendigo filósofo. Com direção de Januário Guedes, Sônia Freitas e Peter Roland, o filme abre a programação desta noite, seguido de Ribeirinhos do Asfalto, de Jorane Castro, e de Miguel Miguel, de Roger Elarrat.

Ribeirinhos em direção ao asfalto de Belém
“Ribeirinhos do Asfalto”, nem precisa falar muito, é último curta de Jorane Castro, que teve estréia no próprio Líbero Luxardo, em 2011, e vem sendo premiado em vários festivais nacionais, além de já ter ganho outras exibições em Belém e em Santarém e espaço na mídia nacional e local. Pena mesmo é não podermos ver a projeção em película.

Já a produção de 2009, “Miguel Miguel”, na verdade uma minissérie, terá todos os cinco episódios exibidos de uma só vez, ainda que fragmentados. Mas poderá ser melhor entendido, pois quando exibido pela TV Cultura do Pará, em capítulos, dispersos na programação aos sábados, deixou o telespectador meio tonto para assimilar uma história que se passa em três tempos diferentes.Só precisa ter paciência de ver cinco vezes a abertura e a ficha técnica, a cada novoepisódio.

Traz no elenco Yeyé Porto e Henrique Andrade, além do músico Nego Nelson, no papel de Miguel e tantos outros artistas. A versão de Elarrat para a novela homônima escrita pelo grande Haroldo Maranhão traz no roteiro a intrigante história de Varão, um homem obcecado por obituários e que testemunha, através dos jornais, o melhor amigo morrer duas vezes. É de um realismo fantástico comovente, não perca não. 

Líbero Luxardo - O cineasta integra a mostra com o curta “Belém 350 Anos”, que entrou na mostra na última hora, através de uma parceria do cinema com o MIS - Museu da Imagem e do Som do Pará e com a Cinemateca Paraense. No cine-jornal, produzido em 1965, pela produtora de Líbero Luxardo, a Amazônia Filmes, vê-se a Belém do Pará de 47 anos atrás, uma metrópole que ainda exibia suas construções erguidas no século XIX em contrastes com prédios e arranha-céus de aspirações modernas. 

As imagens foram feitas pelo cinegrafista Milton Mendonça, que mais tarde sucederia Líbero na realização de inúmeros outros cine-jornais que também merecem ganhar restauro para serem mostrados ao público, pois guardam parte da memória política, social, cultural e urbana da cidade. Lembro de ter visto alguns deles anos atrás durante um evento chamado “Pioneiros do Cinema Paraense”, realizado pela Central de produção Cinema e Vídeo na Amazônia nos anos 90. 

Entre eles vi um bem curioso que mostrava a inauguração da iluminação pública da então avenida Tito Franco, hoje Almirante Barroso. Não tenho certeza, mas estes cine-jornais devem estar no acervo do MIS-PA, aguardando iniciativas, assim como outros filmes, incluindo outras raridades de Líbero, de quem também serão exibidos mais dois filmes de longa metragem. 

O primeiro que será exibido neste domingo é “Brutos Inocentes”, de 1974, para mim, uma das narrativas mais contundentes sobre a escravidão de trabalhadores da borracha. Na trama central, vemos o capataz João, que maltrata os seringueiros, que vivem em regime de servidão em uma vila, entre os quais Inácio, cuja mulher morre ao se defender de três agressores sua filha Joana, que ficou muda com o trauma. Qualquer semelhança com coisas que acontecem até hoje no Pará não é pura coincidência. 

Este longa tem uma história engraçada. Para chegar ao tempo exigido pela Emvbrafilme para filmes de longa metragem, o cineasta Líbero Luxardo colou um curta que mostra um jovem casal branco que espera a chegada do primeiro filho, que nasce amaldiçoado, pois a mulher, mesmo advertida por amigas do povoado, olha para o eclipse da lua e o bebê nasce negro. É claro que a história acabou virando polêmica, por ter sido apontada pelos críticos como racista. 

Clássico do cinema paraense
O outro filme dele na programação é a obra prima “Um Dia Qualquer”, realizado 1962, considerado o primeiro longa paraense. Em 2008, em uma mostra organizada pelo MIS-PA, pelo centenário de nascimento de Líbero, alguns dos profissionais que fizeram parte da equipe técnica do cineasta estiveram presentes e se emocionaram nas sessões. 

“Um Dia Qualquer” é imperdível para quem gosta de memória e linguagem cinematográfica. Misturando ficção com ares de documentário e filme noir, chega a ser nostálgico. Na tela, vemos mais uma vez imagens do Ver-O-Peso,  da avenida Presidente Vargas, das praças da República e Batista Campos, da Igreja do Carmo e do Cemitério da Soledade, entre outros lugares característicos da cidade. Líbero filmou também manifestações culturais marcantes como o Círio de Nazaré, sem a multidão impressionante da atualidade, a brincadeira de Boi-Bumbá e o Tambor de Mina em um terreiro. 

Na trilha, há músicas do maestro Waldemar Henrique como “Tamba-Tajá” e “Uirapurú” e no elenco Hélio Castro, Lenira Guimarães, Gelmirez Melo e Silva, Conceição Rodrigues, Raimundo Silva, Eduardo Abdelnor, Cláudio Barradas, Maria Gracinda, Luiz Mazzei, Zélia Porpino e o Coral Universitário do Pará, com regência de Nivaldo Santiago, além de um aparticipação de Sebastião Tapajós, mas tem que ficar atento para sacar o momenot de aparição do violonista.

O filme conta um dia na vidade de Carlos, um homem que ao perder a esposa, sai pela cidade e acaba testemunhando inúmeras situações de violência e festas. Em sua andança, vamos identificando a cidade, que ainda tinha muitos igarapés em plena região urbana. Num deles, aliás, Líbero filma a primeira cena de nudez do cinema paraense. É obrigatório assistir "Um Dia Qualquer"! 

Mais filmes - Com exceção de Ver-o-Peso, todos os outros três filmes deste primeiro dia também serão reexibidos na programação da próxima semana, como a maioria que está na programação. Dos que já pude assistir, também terão direito a duas exibições, nesta e na outra semana, as animações “Muragens”, de Andrei Miralha e “A Onda - Festa na Pororoca”, de Cássio Tavernard e os curtas de ficção “Açaí com Jabá”, de Alan Rodrigues, Marco Daibes e Walério Duarte e “Matinta”, de Fernando Segtowick, outro curta premiado nacionalmente em festivais e mostras do país. 

Filmado no parque do Utinga e na Comunidade de Caruaru, em Mosqueiro, o curta tem no elenco Dira Paes e Adriano Barboso, que também protagonizam o filme de Jorane, cineasta que tem na mostra mais dois documentários, “Belém, Cidade das Águas” e “Invisíveis Prazeres Cotidianos”. “Chupa-Chupa”, de Adriano Barroso e Roger Elarrat, filmado em Colares, e “Belém aos 80”, de Alan Guimarães e Januário Guedes, também terão duas sessões. 

Ainda não vi “Verônika não Deita”, realização coletiva de 2010, “O Mundo e Célia”, de Ronaldo Rosa, SIssa Aneleh e Bruno Assis, “O Engano”, de Lorena Montenegro, "Na canoa pra aprender", de Dani Franco e Bruno Assis e nem, por incrível que pareça (está na internet, como tantos outros filmes da programação), o documentário Brega S/A, de Vladmir Lima e Gustavo Godinho, que mostra o fenômeno da pirataria na periferia de Belém, trazendo personagens como o DJ Maluquinho, que se auto-pirateia e enriquece sem precisar de empresário ou gravadora. Este vou ver na telona, melhor assim!

PROGRAMAÇÃO COMPLETA 

12 a 15 de janeiro 

QUINTA-FEIRA, 12/01 

“Belém 350 anos” (Líbero Luxardo, 1965, 10'); "Ver-o-peso" (Januário Guedes, 1984, 13’); "Ribeirinhos do Asfalto" (Jorane Castro, 2010, 25’); "Miguel, Miguel" (Roger Elarrat, 2009, 65’).

SEXTA-FEIRA, 13/01 

“Belém 350 anos” (Líbero Luxardo, 1965, 10'); "Veronika não Deita" (Coletivo, 2010, 8’); "O Mundo de Célia" (Ronaldo Rosa, Sissa Aneleh e Bruno Assis, 2009, 7’); "Belém aos 80" (Alan Guimarães e Januário Guedes, 2007, 105’).

SÁBADO, 14/01  

“Belém 350 anos” (Líbero Luxardo, 1965, 10'); "Muragens" (Andrei Miralha, 2008, 13’); "Matinta" (Fernando Segtowick, 2010, 20’); "Chupa, Chupa" de Adriano Barroso, 2007, 55’).

DOMINGO, 15/01

“Belém 350 anos” (Líbero Luxardo, 1965, 10'); "O Engano" (Lorenna Montenegro, 2003, 10’); "Açaí com Jabá" (Alan Rodrigues, 2000, 13’); "Brutos Inocentes" (Libero Luxardo, 1973, 95’).

18 a 22 de janeiro  

QUARTA-FEIRA, 18/01

“Belém 350 anos” (Líbero Luxardo, 1965, 10'); "Açaí com Jabá" (Alan Rodrigues, 2000, 13’); "Invisíveis Prazeres Cotidianos" (Jorane Castro, 2004, 26’); "Chupa, Chupa" (Adriano Barroso, 2007, 55’).

QUINTA-FEIRA, 19/01

“Belém 350 anos” (Líbero Luxardo, 1965, 10'); "A Onda - Festa na Pororoca" (Cassio Tavernad, 2005, 12'); "Matinta" (Fernando Segtowick, 2010, 20’); "Brega S/A" (Vladimir Lima e Gustavo Godinho, 2009, 55’).

SEXTA-FEIRA, 20/01 

“Belém 350 anos” (Líbero Luxardo, 1965, 10'); "Muragens" (Andrei Miralha, 2008, 13’); "Belém, Cidade das Águas" (Jorane Castro, 2003, 30’); "Miguel, Miguel" (Roger Elarrat, 2009, 65’).

SÁBADO, 21/01

“Belém 350 anos” (Líbero Luxardo, 1965, 10') "Veronika não Deita" (Coletivo, 2010, 8’); "Na Canoa para Aprender" (Dani Franco e Bruno Assis, 2010, 5’30’’); "Belém aos 80" (Alan Guimarães e Januário Guedes, 2007, 105’).

DOMINGO, 22/01

“Belém 350 anos” (Líbero Luxardo, 1965, 10'); "O Mundo de Célia" (Ronaldo Rosa, Bruno Assis e Sissa Aneleh, 2009, 7’); "Ribeirinhos do Asfalto" (Jorane Castro, 2010, 25’); "Um Dia Qualquer" (Libero Luxardo, 1962, 100’).

Serviço 
"Mostra Belém 396 Anos" . No Cine Líbero Luxardo, Av. Gentil Bittencourt, 650, Térreo – Fcptn. Entrada: Gratuita. Espaços especiais para cadeirantes. Mais informações: 91 3202.4321. Realização: Governo do Pará e Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves. Apoio Institucional: MIS Abdec-Pa Documentaristas Cinemateca Paraense.

Um comentário:

Juliana Bentes disse...

Matéria linda, parabéns! o/