23.1.12

"Sonata de Outono" é a dica de cinema para hoje

Exibir Bergman neste início de semana chuvoso, combina perfeitamente. Tão sombrio quanto estas tardes de inverno amazônico, Bergman também foi intenso em seus filmes, ao discutir dramas humanos de forma profunda e poeticamente cinematográfica. Vencedor do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e candidato a mais sete prêmios internacionais, “Sonata de Outonoé uma das obras primas do cineasta sueco, escolhida pela Associação de Críticos de Cinema do Pará, para a exibição desta segunda-feira, 23, no Cineclube Alexandrino Moreira, no IAP, às 19h. Entrada franca. 

Ao som de Chopin, Bach, Haendel e Schumann, Bergman mostra, mais uma vez, em “Sonata de Outono”, sua habilidade em traduzir as dificuldades emoconais travadas nas relações humanas. Desta vez, o que marca neste longa de 19878, é a crua realidade de uma vida de ausências.

Eva escreve à mãe, Charlotte, uma pianista profissional que não vê há sete anos. Quando se encontram há momentos de alegria e afetividade, que logo mudam de tom quando Eva e Charlotte começam  discutir sobre a presença de Helene, a irmã mais nova e doente de Eva. Depois, ao piano, mãe e filha voltam a confrontar-se sobre um prelúdio de Chopin. Mãe e filha se envolvem numa longa noite de acusações, revelações e amargura.

É. Não se pode dizer é que os filmes de Ingmar Bergman sejam otimistas. Retratando a alma humana, com ousadia significante para sua época, seus temas preferidos sempre foram os abismos que separam homens e mulheres, pais e filhos, irmãos e irmãs e a morte.

Foi contando a história de um cavaleiro que volta das Cruzadas e desafia a Morte num jogo de xadrez, que em 1956 ele ficou conhecido mundialmente. No ano seguinte, consagra-se com “Morangos Silvestres”, onde um homem se despede da vida.

Abordando temas intrínsecos à existência humana – como desejo, morte e religiosidade, Bergman confunde-se à própria obra. Quando morreu em 2007, já estava há alguns anos isolado em seu retiro, na Ilha e Faro, próxima de Estolcomo. Era um homem estranho, com uma história de vida complicada. 

Filho de um pastor severo e uma mãe de temperamento frágil, oscilando entre a ternura e a frieza, ele herdou tristezas e mágoas que soube transformar em arte. Tratou de seus demônios e de quebra nos proporciona, até hoje, uma experiência emocional e estética sem igual. 

De seus filmes listo alguns preferidos e recomendo a quem ainda não os viu: “Sétimo Selo”, “Morangos Silvestres”, “Persona”, “Cenas de um Casamento” e “Fanny Alexandre”, este último, uma espécie de filme testamento, em que o cineasta trata de sua infância. Assisti no Cinema 1 ou 2 (do extinto Circuito Cinearte de Belém), em pé, por quase 3 horas, em uma sessão lotada dos anos 90. 

O IAP fica na Praça Justo Chermont, bem ao lado da Basílica de Nazaré. Leia mais sobre “Sonata de Outono” aqui.

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