1.3.14

Les Rita Pavone volta a viver no Café com Arte

O  "pé na porta", dado no "Waldeco"  -  agora é mais!
(Foto: Tainah Fagundes)
Domingo passado, o Teatro Waldemar Henrique, cravado na Praça da República, em Belém (PA), se iluminava com a “Les Rita Pavone”, que radiante estreava em seu palco experimental e histórico. Há 7 anos, a banda vem tomando corpo, ganhando fôlego e se deixando emergir de ideias criativas - ser feliz é tudo que se quer. Neste sábado, 1º, volta à cena, cai na folia Felliniana do Café com Arte. O blog quis saber mais e conversou com Mateus Moura, um de seus mentores.

Intitulado “Voltar a Viver”, o show no “Waldeco” foi um tipo de “pé na porta”, da banda. “Pegamos nossas músicas mais vibrantes e botamos pra brincar. Dentro desse conceito experimentamos várias atmosferas, como o momento pra bater cabeça, pra sambar, pra dançar juntinho, pra cantar balada, pra fechar os olhos e viajar”, continua Mateus. “É nosso cartão de visitas”, diz Mateus.

Em 1h e meia de música autoral, o set do show trouxe músicas como Perros (Rafael/Gabriel), Idiot butterfly (Rafael/Gabriel), Na rua da saudade (Mateus/Jimmy), Ela vai acabar comigo (Lucas), E eu só queria conversar (Lucas), Nina (Rafael/Gabriel/Mateus), Acre (Rafael/Gabriel/Mateus), Chinatown (Maecio), A velha beleza (Gabriel), Sexo selvagem (Rafael), Creuza (Rafael/Gabriel), Rádio AM (Rafael/Mateus), Fui cumê no Ver-o-Peso um urubu queimado (Rafael/Gabriel/Mateus), Pira de pajé (Rafael/Gabriel/Mateus), Por aí (Lucas), Sentimento do mundo (Rafael) e Café Havana (Rafael/Gabriel/Mateus).

A noite foi aberta com a apresentação de Renato Torres, Armando de Mendonça e Carol Magno, artistas que nutrem afinidades com a banda. 

“O Armando já tá acompanhando a gente há muito tempo, desde quando o projeto todo ainda era um sonho. O Renato se encantou recentemente pelas músicas e tocou com a gente no natal, e pelo visto a parceria vai ser longa. A Carol também fez parte do coro, tem um trabalho com o Renato já”, continua Mateus (baixo, vocais, apitos).

Além dele, a banda tem ainda Andréa Rocha (produção executiva), Maurício Franco e Nanan Falcão (figurino e cenografia), Thiago Ferradaes (iluminação), Gabrie Gaya (vocais, percussões), Rafael Pavone (cavaquinho, percussões, vocais), Lucas Guimarães (violão e vocais) Maécio Monteiro (bateria, percussões, escaleta), Ramón Rivera (guitarra) e Diego La Percurssa (percussão).

Para quem não foi ao quarto show da banda, não tem problema. A festa do Les Rita Pavone vai continuar neste sábado, na programação do Fellini Folia, festa momesca a italiana que o coletivo Pogobol promove no Café com Arte.

Entre as demais atrações, também ousadas, estão o DJ performático Sid Manequim, que junto a Les Rita Pavone fará as vezes dos palhaços mais fanfarrões dos palcos musicais de hoje, contemplando a temática da noite, o circo de Fellini, o Satyricon, a comédia e o picadeiro apoteótico. Você pode ter mais informações e detalhes no facebook. Aqui, a gente quer saber mais do Les Rita Pavone.

Holofote Virtual: Afinal o que é a banda, seus diferenciais?

Mateus Moura: A banda é, por natureza, um acidente. Somos parte viva deste acidente, pulsando de alguma forma, com nossas sequelas a flor da pele. Sim, desejamos ser diferentes, talvez seja esse nosso maior diferencial: querer ser diferente - sem perder a ligação. 

Mas desejamos ser primitivamente espontâneos nesse gesto: o selvagem nunca será vulgar. Buscamos expressar sons que se arrisquem de alguma forma, que dêem passos firmes em sua errância. Somos artistas, ou seja, “viciados em linguagem”, essa é a nossa birita, e a nossa liturgia é se embriagar. Essa banda existe, de fato, para celebrar a vida, pela linguagem, e a linguagem, pela vida. O resto é acidental.

Holofote Virtual: Foi o quarto show, em sete anos... dá pra contar como surge este projeto?

Mateus Moura: Esse projeto surge há 7 anos atrás. O Rafael e o Gabriel começam a compor e mostrar essas composições para amigos. Eu me encanto pelas canções e vira um trio de compositores em busca de uma banda. Quando completa os 7 anos de cozimento dessa “maniva espiritual” aí (pois devem ter compostas umas 200 canções, uns 5 conceitos para discos, milhares de ideias para shows, arranjos, performances, etc), surge o Maecio, o Lucas e o Ramon. 

E a banda enfim tira a alegoria da caverna e cai no carnaval. Começamos a existir enquanto Banda, socialmente falando, quando gravamos o primeiro single (Sentimento do Mundo), no início de 2013, mas foi no final do mesmo ano, depois de alguns meses de ensaio, que enfim subimos aos palcos. E aí, de novembro até janeiro fizemos 3 shows. Este é o quarto – e estamos famintos!

Visual reflete o clima da banda (Foto: Tainah Fagundes)
Holofote Virtual: Que tipo de som vocês fazem?

Mateus Moura: Sons dedicados ao silêncio. As diretrizes principais se referem aos ouvidos: ele é o principal instrumento, e deve ser puro como a puta mais sincera. Nossa esposa é a música popular, mas também flertamos com a vanguarda mais obscura. Não queremos tão-somente fazer shows, mas também puxar pontos nas esquinas, botar bloco na rua, celebrar autos de natal, tocar na casa da avó do Gabriel no dia 1º de abril (seu aniversário).

Holofote Virtual: A banda agora parece viver novo momento, com produção, parcerias, quais os projetos para este ano?

Mateus Moura: Esse ano queremos rodar com esse show “Voltar a Viver”. Apresentar em todos os lugares de Belém e arredores, e buscar festivais fora. Pretendemos gravar um EP, e, se formos aprovados em algum edital, gravar nosso primeiro disco: o “Em busca da velha beleza”. As parcerias fundamentais são com os Produtores Criativos e com o Holofote Virtual – só a nata!

Holofote Virtual: Vocês Buscam o mercado?

Mateus Moura: A gente busca a Criação, os meios acabam sendo vias, atalhos. Até agora o Mercado não se apresentou, e o Estado nos esnoba. Mas somos abertos, queremos jogar com a Cultura, estamos no jogo do fazer-acontecer, de um jeito ou de outro. A única diretriz é a fidelidade a si mesmo. Estamos ávidos pra ver o resultado das coisas, mas prezamos pelo cuidado, não queremos fazer qualquer coisa. A fórmula é: trabalhar todos os dias, sem pressa.

Holofote Virtual: Há música de todo tipo rolando no país, muita mesmice, no entanto. Como vocês percebem isso em volta?

Mateus Moura: Ouvimos muita coisa. Somos uma banda que ouve muito som além de fazer. Nos mostramos muita coisa também. Gostamos de algumas coisas que tão rolando. Mas também discordamos entre si. Mesmice sempre teve e sempre vai ter, mas isso dá pra perceber na primeira faixa do disco, aí já deixamos de lado e vamos pro que interessa.

Holofote Virtual: Quais referências musicais possuem, de forma geral no grupo? Há gostos muito distintos? É tanta gente... (risos)

Mateus Moura: Pois é, tem muita coisa que gostamos em comum, mas também discordamos. A gente vai se descobrindo. Um dia desses descobri que o Lucas não gosta de Beatles, e mandei ele se foder. A Andreia não curtiu um teaser que a gente botou como trilha “Detalhes” do Roberto; Eu, Rafa e o Gabriel faltamos pular no pescoço dela. Acho que todos concordam que a música brasileira é a melhor do mundo, e ouvimos todos os gêneros musicais, sem preconceito. Mas o mais importante mesmo é que gostamos do que fazemos juntos.

Holofote Virtual: Cena musical paraense. De alguma forma se encaixam nisso?

Mateus Moura: Sem dúvida! Somos uma banda daqui, isso é inegável! Nos alimentamos muito de tudo, do som das ruas principalmente. 

Nos encaixamos sim, mas bem conscientes das diferenças. Temos uma estrada que desejamos percorrer que tá bem distante de um modelo de música pop que tá sendo vendida daqui lá pro Brasil, mas existem vários compositores locais que nos empolgam mais que qualquer outra coisa.

Holofote Virtual: O que é mais importante pra banda, em relação à produção artística (e) coletiva que já vem desenvolvendo?

Mateus Moura: Falar a verdade e gozar na criação.

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