4.3.14

Sérgio Sampaio com tributo, finalmente em Belém

No dia 12 de março, Pedro Vianna, banda e convidados vão colocar o bloco dos sampaiófilos na rua, ou melhor, no Teatro Waldemar Henrique, com o show  "Cada Lugar na sua Coisa". Que venha e seja lindo, como é a obra desse artista ímpar, que teve reconhecimento tardio, mas ainda não o merecido, na cena popular da música brasileira.

Há anos eu venho esperando por este momento. Um show tributo a Sérgio Sampaio, em Belém do Pará.

Muitos outros já foram realizados país afora. Um deles, intitulado "Balaio do Sampaio", realizado no Rio de Janeiro, dois anos após a sua morte, trazendo participações de cantores como Alceu Valença e Jards Macalé. Assim, saiu o CD "Balaio do Sampaio" (1998).

Depois o selo de Zeca Baleiro lançou "Cruel", em 2005, e "Sinceramente" (2011). Estava comprada a briga pela recuperação da obra de Sérgio. Disso tudo pra cá, o gigante despertou, e inúmeros outros músicos, menos conhecidos do grande público, também já lhe renderam homenagens. Chegou a nossa vez.

Este artista sempre me impressionou pela maturidade musical, poética, de texto direto, irônico, sensível. Desde que me deparei com suas canções, a partir de encontros com amigos, fãs incondicionais, como eu acabei me tornando, nutria a vontade de produzir algo cênico em um musical, com direito a vídeos e outras gravações raras com o artista. Sou grata à jornalista Jecyone Pinheiro, que me levou para além do Bloco.

A iniciativa de A Senda Produções trará como cenografia, a projeção de imagens editadas em mapping. "Tá tudo certo, a videocenografia, a banda, o release, o teatro agendado, já paguei o Ecad", me disse Pedrinho (Vianna), entusiasmado, em uma manhã de sábado, ainda em fevereiro, via rede social. 

Naquele momento, o repertório estava sendo fechado e debatemos à respeito, afinal com uma obra tão intensa e extensa, essa parte da produção foi certamente a mais difícil. Questionei ausências irreparáveis. "Não tenho como por tudo no repertório, nem um terço do que gostaria de cantar. É muita coisa", me disse ele quase desesperado (risos). Mas será que vai entrar "Leros, leros e boleros"?

Entraram 15 músicas, que incluem “Velho bandido”, “Que Loucura”, “Cala a boca Zé Bedeu”, “Muito além do Jardim”, “Rosa Púrpura de Cubatão", "Polícia, Bandido, Cachorro e Dentista”...

Quando recebi a primeira versão do repertório, com 13 músicas então, estavam de fora as belíssimas "Quero encontrar um amor", “Brasília” “Cabras Pastando”, "Não tenha medo não", “Velho Bode”, “Eu sou aquele que disse”, “Menino João”, “Labiritnos Negros”, “Ninguém vive por mim”,  “Quatro paredes”, "Foi ela", "Real Beelza",“Rauzito Seixas”, uau, todas, para mim, sucessos em potencial, entre tantas outras. Depois do balaio escolhido, só fazendo o segundo tributo, o lado B do lado B!

Trajetória - O capixaba Sérgio Sampaio foi daqueles artistas não devidamente reconhecidos em seu tempo. Nasceu em 13 de abril de 1947. Faria 67 anos em 2014. Infelizmente, em 1994 ele nos deixou. 

Ironia, mas o artista sofreu com seu maior sucesso. Em plena ditadura Médici, estourou nacionalmente com a marcha-rancho "Eu quero é botar meu bloco na rua".

A canção tornou-se histórica, como um dos mais contundentes protestos da MPB contra a ditadura. "Odete", "Viajei de trem" e "Meu pobre blues" demonstram sua versatilidade como compositor, mas parecia, de certa forma, estar aprisionado àquele sucesso tão marcante. 

Foi aplaudido pela crítica com "Velho bandido" e o LP “Tem que acontecer”, porém não conseguiu uma repercussão popular significativa. Sua incompatibilidade com a indústria musical, fez com que a partir de meados dos anos 70 ele trilhasse um caminho solitário à margem do mercado, gravando apenas mais um LP, o independente "Sinceramente", de 1982, e fazendo shows em teatros underground e bares.

Quando morreu, tinha acabado de fechar contrato com a "Baratos Afins" para lançar um disco de inéditas, o Cruel, o que teria teria consolidado a retomada da carreira, renovada no início dos anos 1990, quando ele tinha se mudado para a Bahia. Não houve tempo.

O disco que planejava lançar em 1994, depois de 12 anos sem gravar, esbarrou num problema: sua morte, no dia 15 de maio, após uma crise de pancreatite, previsível diante das angústias e abusos alcoólicos cometidos ao longo de 47 anos de vida.

Foram necessários mais 12 anos para que as derradeiras (e incompletas) gravações chegassem ao CD “Cruel”, empreitada de um aplicado discípulo, o cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro, que com esse lançamento inaugura seu selo independente Saravá Discos.

Paixão Vianna - Pedro tem uma longa relação com a obra de Sampaio e uma profunda identificação com o repertório do autor, é autor de mais de três livros de poesia e tem uma carreira musical acidentada.

“Participei de muitos festivais de música dentro e fora do estado, fiz alguns shows em teatro até início de 2000, mas nunca tive uma atuação musical frequente na noite.”

O show traz o intérprete de volta aos palcos da cidade, prestando assim um tributo à figura de Sergio Sampaio, que vem tendo sua obra revisistada por alguns intérpretes de peso nos últimos anos, e cada dia arrecada mais fãs e é redescoberto pela nova geração.

“Tenho muitos amigos, e pessoas conhecidas, que, como eu, tem uma profunda admiração pela obra do Sérgio. Hoje é fácil ver o grau de repercussão, ainda que póstuma, que ele tem na internet. São dezenas de blogs, sites e conteúdos relacionados à vida e obra dele.”

Arrolado entre os "malditos" da MPB setentista - Jards Macalé, Luiz Melodia, Jorge Mautner, entre outros - rotulado de "compositor de uma música só", Sérgio Sampaio tinha muito mais a oferecer. Permaneceu um artista puro, que, mesmo longe dos holofotes da mídia, fez do ato de compor e cantar sua própria razão de ser.

Deixou um balaio precioso de músicas. Um tesouro a ser descoberto por intérpretes dos mais variados gêneros. Foi esse balaio que o escritor, cantor e compositor Pedro Vianna revirou para retirar as canções que formam o repertório do show “Cada lugar na sua coisa”.  

Banda e participações - No show. Pedro será acompanhado por uma banda de grandes instrumentistas da música popular paraense, formada por Quiure Soares na guitarra, Príamo Brandão no contrabaixo e Moacyr Rato na bateria e Dan Bordalo nos teclados.

Ainda contará com a participação especial dos artistas Arthur Espíndola, Gigi Furtado e Ziza Padilha, que dividirão o palco com Pedro em três musicas. O público terá a chance de conferir a intervenção em videomapping do VJ Kauê Lima no cenário do show. Arranjos e direção musical, de Quiure Soares.

Além de apresentar no repertório os clássicos do compositor como Eu quero é botar meu bloco na rua, Meu pobre Blues e Que loucura, Pedro promete agradar os “sampaiófilos” com composições não tão conhecidas do grande público, mas extremamente representativas da obra do compositor.

Serviço
O show acontecerá no dia 12 de março, quarta feira, às 20 horas, no Teatro Waldemar Henrique. Os ingressos custarão R$20,00 no dia do show, e R$15,00 antecipados nas lojas Ná Figueiredo. Patrocínio do CESEP, realização de A Senda Produções. Apoio Cultural Governo do Estado do Pará, Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, Funtelpa, Rede Cultura de Rádio e TV, Abelhuda e Posto Paraense. Mais informações: 91 8908-6486 e 8838-3980. 

(Holofote Virtual com informações da assessoria de imprensa)

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