Henrique da Paz |
De volta aos palcos se re-significando para, mais uma vez, descobrir-se intacto e íntegro em seus princípios do fazer teatral. O diretor do Gruta, Henrique da Paz, nos fala da retomada com a montagem de Aldeotas e da trajetória do grupo em seus 42 anos de estrada.
Há uma revolução em cena nesta cidade. E neste final de semana, no sábado, 28 (21h) e domingo, 29 (20h), mais precisamente, seriam as últimas oportunidades para vivenciá-la, no Espaço Cuíra (1º de março, c/ Riachuelo), onde encerraria a primeira temporada do espetáculo “Aldeotas – lugar de memórias”. Mas ontem, ao final da excelente apresentação, Adriano Barroso deu a boa notícia. O espetáculo continuará em cartaz em junho, sempre às quartas-feiras (a partir do dia 08), 21h.
Ver Ailson Braga e Adriano Barroso vivenciando um teatro verdadeiro, tal qual propõe o texto de autoria do ator-poeta e dramaturgo Gero Camilo, nos deixa em estado de revolução. De cara limpa, em cenário de quase nada, a luz de Sonia Lopes pontua as ações dos dois atores que, a todo instante, durante uma hora e meia, se refazem das emoções diversas que emolduram veias do corpo e expressões de seus personagens, Levi e Elias. Os dois amigos, que juntos viveram sonhos, se reencontram agora para recontar, através de suas lembranças, as brincadeiras, os conflitos da infância e inicio da juventude, vividos em uma pequena cidade chamada Coti das Fuças.
A identificação do grupo com o texto foi imediata. Adriano já o conhecia, Ailson Braga já tinha até visto a peça montada com o próprio autor, Gero Camilo, em São Paulo. Henrique da Paz, diretor do grupo, porém, não sabia nada do texto, mas não demorou para perceber que tinha em mãos a possibilidade de fazer uma viagem de retorno também a essência do GRUTA.
Em entrevista ao blog, revirando memórias do grupo e de seu elenco, Henrique mexe em seu próprio baú de recordações, remetidas ao final dos anos 60, tempos difíceis vividos no país. É nesse contexto que nasce o grupo, cujo nome surge da sigla para Grupo de Teatro Amador, uma cena efervescente naquela época em todo o país, quando escolas de teatro eram poucas ou sequer existiam para aqueles que queriam ter como profissão a dramaturgia.
Em entrevista ao blog, revirando memórias do grupo e de seu elenco, Henrique mexe em seu próprio baú de recordações, remetidas ao final dos anos 60, tempos difíceis vividos no país. É nesse contexto que nasce o grupo, cujo nome surge da sigla para Grupo de Teatro Amador, uma cena efervescente naquela época em todo o país, quando escolas de teatro eram poucas ou sequer existiam para aqueles que queriam ter como profissão a dramaturgia.
História - Não se trata de um teatro amador no sentido do mal feito, ou do nada elaborado. O Teatro Amador, no contexto em que nasce o GRUTA, significa reflexão, força e amor ao teatro e mais do que nunca profissionalismo. E isso é o que permanece. O GRUTA sempre teve como linha mestra de suas montagens o trabalho de ator e encenou grandes textos, alçando vôos ousados, que revolucionaram a cena teatral de Belém.
São inesquecíveis “Auto da Cananéia” de Gil Vicente, em 1971; “Cínicas e Cênicas”, de Henrique da Paz e Marton Maués, um marco, em 1987; “Caoscomcadicáfica”, também de Henrique (adaptação de O Processo, de Kafka), em 1989; “A Vida que sempre morre, que se perde em que se perca?”, mais uma vez de Henrique, numa releitura de “Antígone”, de Sófocles; “Odeio Drummond”, de Barroso, em 1997, e na sequência “Hamlet Máquina”, de Heiner Müller, em 1998.
São inesquecíveis “Auto da Cananéia” de Gil Vicente, em 1971; “Cínicas e Cênicas”, de Henrique da Paz e Marton Maués, um marco, em 1987; “Caoscomcadicáfica”, também de Henrique (adaptação de O Processo, de Kafka), em 1989; “A Vida que sempre morre, que se perde em que se perca?”, mais uma vez de Henrique, numa releitura de “Antígone”, de Sófocles; “Odeio Drummond”, de Barroso, em 1997, e na sequência “Hamlet Máquina”, de Heiner Müller, em 1998.
Henrique da Paz tem sua trajetória marcada pelo teatro, iniciada em 1967, na pequena vila de Icoaraci. Tal qual Elias e Levi, ele e alguns amigos também nutriam um sonho e dele fundaram o GRUTA. “Foram anos difíceis. Ditadura. Censura. Mas nada disso me desanimou e continuei a fazer teatro, participando de todas as produções do grupo. Em 1969 comecei a participar de espetáculos não só em Icoaraci, mas também em Belém, no Grupo Experiência”, me diz ele.
Ao longo de sua história, o grupo fez várias paradas em sua produção. Imagine que se hoje as coisas são difíceis para grupos iniciantes que buscam apoio de patrocínios e espaços de apresentação, imaginem naquela época, 42 anos atrás. O jeito era unir forças e participar da montagem de outros grupos ativos na cidade, mas deixar de fazer teatro? Nem pensar!
Acima, Hamlet Máquina (Heiner Müller, em 1998). |
Em 1977, na capital paraense, numa dessas paralisações do grupo, Henrique integrou o famoso grupo Cena Aberta, onde atuou até o ano de 1985 para, no ano seguinte participar da reativação do GRUTA, que havia interrompido sua trajetória em Icoaraci, desde 1980. Na metade dos anos 80, portanto, inicia uma nova fase para o grupo, desta vez em Belém.
“Desde então tenho atuado no GRUTA, não só como diretor, mas também como ator em algumas das nossas peças. E está sendo muito gratificante trabalhar novamente com Adriano e Ailson e ainda mais com um texto desse que faz parte de uma nova tendência de teatro, que é o teatro narrativo”, diz Henrique.
Novo fôlego - Ele está emocionado com Aldeotas, espetáculo que, em sua opinião, exige muito dos atores e da própria direção. “O trabalho do ator se triplica também como narrador, personagem e condutor da história. Estamos trabalhando em uma linha mais despojada, minimalista e em termos de cenografia, estou utilizando técnicas do Bertolt Brecht, quebrando os segredos do teatro, embora deixando-lhe o mistério. Por isso, quando o público entra no teatro já vê os atores em cena, de forma despojada, aquecendo-se, ao mesmo tempo em que percebem a platéia está sendo preenchida”, explica o diretor.
“Sinto-me incentivado por este texto, premiado, um texto que não é panfletário e nem esboça um posição política, mas detém-se em questões fortíssimas como a violência humana, a amizade pura e traz come centro das questões o preconceito, a homofobia e a convivência familiar que deixam marcas, são reminiscências da infância, coisas que vivemos ali e que mais tarde aparecem de novo e influenciam nossa vida adulta”.
Aldeotas: viagem à memória (foto: Hamilton Braga) |
Para Henrique, o texto funciona como uma parábola, que começa contando a história do início da amizade dos dois personagens e o que eles vão vivendo durante a vida até chegar o momento culminante, quando um se desgarra e se vai e o outro fica.
“Um é mais jogado à vida, enquanto o outro, é mais raiz e fica preso em sua própria história. Depois, em mais uma parábola, eles voltam a se encontrar e parece que vai começar tudo de novo. É como se fosse uma nova chance para um dos personagens retomar a caminhada da vida. É o momento em que Levi , aquele que foi embora, retorna para resgatar e resolver uma amizade que foi rompida bruscamente”, comenta Henrique.
Retomada - Após uma breve parada, desde 2008, é assim que o grupo retoma a caminhada. “Mas é preciso dizer que mesmo sem atuar juntos, nestes períodos, a gente fica sempre em contato. Apesar de cada um ter seus projetos pessoais, trocamos ideias o tempo todo sobre a organização do grupo”, diz Henrique.
Mas não só isso. Quem acompanha de perto a trajetória de Adriano, Ailson e Henrique, sabe que de vez em quando até mesmo nos projetos de cada um acaba eles se encontram, como aconteceu na minissérie “Miguel Miguel” (Tv Cultura do Pará), em que Henrique protagonizou o Varão, no trabalho que também teve participação de Ailson no elenco. Adriano Barroso, invertendo o papel com Henrique, o dirigiu em cena.
“Estávamos fora da cena desde 2008, quando apresentamos ‘A Peleja dos Soca Soca’ e até então não tinha acontecido de assumirmos nenhum texto, o que só torna este momento mais interessante. Isso tem nos renovado o pique e as baterias.
O Adriano há tempos que não atuava. A última encenação de Ailson foi em 2004, com ‘A Farsa do Boi Catirina’. Então tudo isso está sendo muito legal, este reencontro, esta emoção renovada”, finaliza.
Aldeotas - lugar de memórias. Neste sábado, às 21h, e no domingo, às 20h. Teatro Cuíra - R. 1º de Março, esquina com Riachuelo - Bairro da Campina - Belém do Pará. Ingressos: R$ 20,00. Mais informações: 91 8163.0775.O espetáculo segue em temporada, sempre às quarta-feiras do mês de junho, no mesmo espaço, às 21h.
Um comentário:
Infelizmente ainda não pude prestigiá-los, mas tenho acompanhado tudo largamente. Adoro o trabalho do GRUTA e saliento a simpatia e competência do Henrique da Paz com diretor e pela pessoa impar que é, pelo privilégio que tive de ser dirigida por ele em "A peleja dos soca-socas João Cupu e Zé Bacu". Inesquecível!!rr
MERDA AO GRUTA, fina flor do teatro paraense, ou como diria o Adriano " teatro brasileiro"!
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