5.5.21

Simões lança série de desenhos pelas redes sociais

O artista plástico José Augusto Simões prepara  nova série intitulada “Cerimônias Privadas”. Alguns desenhos já podem ser vistos on-line em suas redes sociais. E aqui no blog compartilho dois dos que recebi em formato digital, com notícias do artista que segue em isolamento por causa da pandemia.

Dias antes falamos dele por aqui, quando divulgamos a exposição "Maitê", para qual ele mobilizou diversos outros artistas, como Marinaldo Santos, Osvaldo Gaya e Laura Calhoun, além de Antar Rohit, in memorian,  que doaram obras para serem vendidas em prol do tratamento de saúde de Maria Tereza, sobrinha do artista, dêem uma olhada, o perfil da mostra é @exposição.maite.  

A expressão "Cerimônias Privadas" nos remete a diversas situações que estamos vivendo. E na arte de Simões, reflete, ainda, o estado de espírito pelo qual cada um de nós, em algum momento, passa nesta pandemia. Isolado ao máximo do contato com as pessoas, neste último domingo, ele enviou para sua rede de amigos, imagens de sua nova série, e me falou sobre esse momento delicado que vivemos no mundo. 

“Eu me protegi da imensa crise que nos assola, trabalhando com entusiasmo, mas depois de um tempo, veio um desânimo que me deixou abatido novamente e senti fragilidade em relação  à minha vida e das pessoas que amo. Enfim, vou recobrando a disposição para a vida e quero continuar a trabalhar e ver o resultado de tudo isso”, comenta ele, em meio a essa oscilação emocional pela qual todos estamos de certa forma passando. 

Demasiadamente humanos

Nesta nova série, Simões voltou a focar seus traços e cores na representação humana. Nos desenhos atuais, as pessoas estão "a sós, a murmurar suas paixões, carências e perplexidades. Isoladas e  introspectivas, como se realizassem ritos secretos, íntimos, pessoais, cada uma conversando consigo mesma".

Há algum tempo que não batemos um papo pessoalmente. Anos atrás, a gente varava a noite ouvindo música e tecendo ideias para adiar o fim do mundo... Simões continua morando em Mosqueiro, ilha-distrito de Belém do Pará, onde há mais ou menos uns dez anos ele escolheu morar. 

“Acabei de iniciar essa nova série. São desenhos sobre papel Canson. Estou retratando figuras humanas sempre solitárias. Seus corpos estão torturados”, diz ele que já passou por diversos estágios emocionais nesta pandemia. "Estou em Carananduba, na casa da minha mãe. Sozinho”, diz.

O artista confessa que gostaria de voltar a expor de forma presencial, que sente falta desse ritual mas que entende, ainda não estamos prontos. “Só quando tivermos superado a pandemia. E de preferência que o Brasil já tenha vomitado o demônio que está entalado. Gosto das exposições presenciais, mas vamos por enquanto ampliar e trabalhar com as ferramentas digitais”, conclui.

A última exposição individual de Simões foi em 2014, intitulada Fogo Sagrado, e que reunia nada menos que 28 telas, no MEP, um escândalo de beleza dividido em três salas. Eu rasgo a seda, gosto muito.  Na época, o artista estava imerso ao abstracionismo, eram outros tempos.

Na ocasião, o entrevistei e ele me disse ser um novo momento na sua trajetória, “...rompi com aquela coisa mais figurativa que eu tinha, de pintar retratos e figuras humanas. Hoje eu enveredo por uma linguagem mais abstrata e experimental, buscando outros caminhos que eu ainda tenho que trilhar adiante, estou em um devir, ao que virá!”.

Assim, a arte verdadeira também tende a oscilar por ser reflexo do momento do artista para consigo e com o mundo. A arte oscila e resiste como nós, na pandemia. Nas exposições anteriores, como “Redesenho” e “Natureza Morta”, Simões centrava no figurativo. A arte oscila em técnicas e linguagens, nós, em estado de espirito e emoções. 

Anos de trajetória, pizza e jambú

Simões com obra da série Fogo Sagrado
Simões iniciou nas artes plásticas na segunda metade da década de 70, ganhando inúmeros prêmios em salões e mostras de arte, já a partir dos anos 1980. Fez exposições individuais e participou de inúmeras coletivas, até 1990, quando inicia o ciclo em que Simões viveu afastado dos pincéis, chegando a abrir um bar galeria, o Café Imaginário, que durou dez anos, marcando a paisagem boêmia da cidade.  

Quando o lugar fechou, em 2008, Simões, mais uma vez, se recolheu, mas desta vez, ele voltou a pintar. Naquele mesmo ano, realizou a exposição “Redesenho” na casa Fundação Antar Rohit, no bairro da Campina, seguindo depois para a Taberna São Jorge, da fotógrafa Walda Marques. 

Em 2009, a série “Natureza Imaginária” foi exposta no Hall do Tribunal Regional do Trabalho, em frente à Praça Brasil e em 2014, como já dito, “Fogo Sagrado”, exposta no Museu do Estado. 

Já estou torcendo pra gente ver essa nova série "Cerimônias Privadas" completa. E quem sabe, por um milagre disfarçado de vacina ou desejo cheio de cuidados, a gente em breve possa sim, estar face to face com um desenho dele!

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