Há pouco mais de uma semana, o encontro entre Mestre Vieira e Herbert Vianna emocionou o pequeno grupo de pessoas que esteve presente no estúdio da AMT – Academia de Música e Tecnologia, em Belém. Mestre Vieira me contou que tinha um sonho antigo em tocar e conversar com o guitarrista do Paralamas do Sucesso.
Lembro que estava em uma comunidade quilombola, meses atrás, acompanhando uma das apresentações do projeto Bonecos na Estrada – Em Caravana, do grupo In Bust – Teatro com Bonecos. A diretora do grupo, Adriana Cruz, que estava sentada ao meu lado lendo o caderno de cultura de um jornal local, quando vira pra mim e diz: “Olha que bacana, o Paralamas vem a Belém junto com Titãs”.
Quando ela falou isso, acendeu uma luz e só consegui pensar que esta poderia ser a chance de realizar um desejo de Mestre Vieira, manifestado ainda em 2008, quando nos encontramos diversas vezes para conversarmos sobre o projeto dos 50 anos de guitarrada. De volta a Belém, comecei a buscar os caminhos que me levariam a José Fortes, o empresário do grupo com quem conversei durante duas semanas.
Quando ela falou isso, acendeu uma luz e só consegui pensar que esta poderia ser a chance de realizar um desejo de Mestre Vieira, manifestado ainda em 2008, quando nos encontramos diversas vezes para conversarmos sobre o projeto dos 50 anos de guitarrada. De volta a Belém, comecei a buscar os caminhos que me levariam a José Fortes, o empresário do grupo com quem conversei durante duas semanas.
Foram vários e-mails e muitos telefonemas, até que conseguíssemos chagar a uma definição. Não havia muita resistência, pelo contrário. Fortes fazia questão de dizer que eles conheciam o trabalho do Mestre, mas tudo dependeria de como estávamos encaminhando as coisas por aqui, levando em consideração a situação física de Herbert Vianna.
Era preciso encontrar um lugar de fácil acesso a cadeiras de roda. Era a hora de chamar a produção! Ganhei apoio de produtores como Michele Maia, Taca Nunes, José Carlos Gondim e Wanderson Lobato para organizar o encontro.
Kim Azevedo, da AMT, cedeu o estúdio que os recebeu, e Givaldo Pastana, que no apoio, trouxe Mestre Vieira de Barcarena. O cinegrafista Marcelo Rodrigues, chegou ao estúdio para ajustar a fotografia da cena. Claro que eu não deixaria de fazer esse registro.
Também convidei o jornalista Ismael Machado para acompanhar tudo, uma vez que pouco antes desse feito se concretizar, ele mesmo tinha cantado a pedra em sua coluna Parabólica, no Caderno Por Aí, do Diário do Pará (Edição de 18 de setembro). Junto com ele, veio ainda o fotógrafo Thiago Araújo. Além de ser um grande parceiro, ele conhece o trabalho dos Paralamas e trajetória de Herbert, assim como a de Mestre Vieira e sua guitarrada. A reportagem foi publicada no jornal Diário do Pará, mas logo se multiplicou virtualmente em blogs e outras dezenas de sites na internet e eu também compartilho aqui pra vocês!
Kim Azevedo, da AMT, cedeu o estúdio que os recebeu, e Givaldo Pastana, que no apoio, trouxe Mestre Vieira de Barcarena. O cinegrafista Marcelo Rodrigues, chegou ao estúdio para ajustar a fotografia da cena. Claro que eu não deixaria de fazer esse registro.
Também convidei o jornalista Ismael Machado para acompanhar tudo, uma vez que pouco antes desse feito se concretizar, ele mesmo tinha cantado a pedra em sua coluna Parabólica, no Caderno Por Aí, do Diário do Pará (Edição de 18 de setembro). Junto com ele, veio ainda o fotógrafo Thiago Araújo. Além de ser um grande parceiro, ele conhece o trabalho dos Paralamas e trajetória de Herbert, assim como a de Mestre Vieira e sua guitarrada. A reportagem foi publicada no jornal Diário do Pará, mas logo se multiplicou virtualmente em blogs e outras dezenas de sites na internet e eu também compartilho aqui pra vocês!
Duas Guitarras, um Brasil: Herbert e Mestre Vieira
Por Ismael Machado
“Então toca um pouquinho para mim para mostrar um pouco desse som”. Essa foi uma espécie de senha para que o velhinho de 75 anos pegasse a guitarra e começasse a mostrar os sons que encantaram ingleses, alemães, italianos, escoceses, portugueses e paraenses. Mestre Vieira começou devagar, mostrando a levada que o consagrou como o 'inventor' da guitarrada.
À sua frente, Herbert Vianna, o guitarrista dos Paralamas do Sucesso, observa embevecido, fazendo a marcação com palmas. Não demora muito e Herbert também procura uma guitarra. Começa a dedilhar aos poucos, tentando acompanhar Vieira. Era o início de um histórico encontro de dois guitarristas aclamados em seus estilos e que tem em comum o amor incondicional pela música.
Herbert começa a tocar Alagados, a música que em 1986 abriu as portas do Brasil para os roqueiros brasileiros. Vieira sorri. Conhece a música e passa a acompanhá-la com solos peculiares. Herbert Vianna retribui o sorriso. Em pé, da porta do estúdio, o baixista dos Paralamas Bi Ribeiro acompanha o encontro.
Durante cerca de uma hora Herbert Vianna e Mestre Vieira trocaram informações, impressões e musicalidade. Brincaram com os instrumentos, mostraram novas e velhas músicas. Compartilharam solos.
A idéia partiu da jornalista Luciana Medeiros, que prepara um documentário sobre Vieira. “Foram duas semanas planejando esse encontro, mas está valendo muito”, diz ela.
O Diário teve acesso com exclusividade a esse encontro de dois mestres da guitarra. E testemunhou um pequeno show, com direito a músicas de Lulu Santos, RPM, Legião Urbana e, claro, Paralamas e Mestre Vieira.
Herbert mostra a Vieira uma música do disco novo. “Tem uma levada que é muito influenciada por esse estilo de guitarra”, diz. Depois toca “Como uma Onda”, de Lulu Santos. Vieira sola. Depois mostra a Herbert a clássica “Jamaicana”, uma das pedidas de seu repertório. Herbert faz a base da guitarra. “O importante é valorizar o solo de guitarra”, diz Vieira. E mostra “Maravilha”, outra música. Herbert pede para ele repeti-la. Cria um novo solo de guitarra na hora.
Foi um encontro repleto de emoção. Vieira chegou cedo, vindo de Barcarena. Almoçou em Belém e foi levado ao estúdio Academia de Música e Tecnologia. Conta histórias de quando começou a tocar, ainda menino. “Com 13 anos eu fazia a festa sozinho”, diz. Na Escócia foi coroado como o melhor guitarrista do mundo. “Já toquei choro, samba, tudo”, resume.
A produção do documentário organiza tudo para que a entrada de Herbert seja facilitada. Quinze metros de compensado são comprados para evitar que a cadeira sacoleje no corredor lateral da academia. Às 17 horas, Herbert chega. É recebido por Vieira. “Salve mestre”, cumprimenta. Vieira aperta a mão do colega músico e lhe deseja boas vindas. Entram no estúdio. Ali, acompanhados apenas por dois cinegrafistas, pela equipe do Diário, pela diretora do documentário e pelo técnico de som, iniciam um passeio musical inesquecível.
Antes Vieira conta um pouco de Barcarena, da travessia de barco. Fala de sua trajetória e de sua música. Herbert explica como gosta de tocar a guitarra. Vieira diz que não usa pedais de efeitos. “Minha guitarra é viva”, afirma. “Então toca um pouquinho”, responde Herbert.
A cada música um sorriso, um comentário. Um tenta seguir a idéia do outro. Um complementa a levada do outro. Ao redor, um silêncio completo, cercado por olhares de cumplicidade e emoção das testemunhas. Herbert toca Bundalelê, do disco Bora Bora, de 1987. Nessa música estão inseridos os elementos que mostram a influência que a música africana e caribenha tem sobre os Paralamas do Sucesso.
Vieira diz que tocou com Renato, querendo dizer Renato e Seus Blue Caps. Herbert entende como se fosse Renato Russo, o vocalista da Legião Urbana. E toca “Que País É Esse”, do repertório da banda brasiliense. É quando Vieira usa e abusa de um solo que impressiona profundamente Herbert Vianna. A música se estende num improviso único.
Ao final, o cumprimento respeitoso de dois músicos que durante uma hora mostraram o poder da música. “Se até as pedras se encontram, a gente também vai acabar se encontrando”, diz Vieira. Herbert confirma. “Foi um encontro para a historia”, resume Kim Azevedo, o dono do estúdio ao olhar para o computador onde as improvisações dos músicos ficaram gravadas. “Para mim foi uma maravilha”, diz Vieira. “É como fazem os músicos africanos. Deixa rolar e viajar nas ondas sonoras”, filosofa Herbert.
Algumas horas mais tarde o líder dos Paralamas estava num palco maior, ao lado dos companheiros e da banda Titãs. Mas o show que certamente ficou na memória dos que puderam presenciar, foi feito ali, num pequeno estúdio com apenas dois guitarristas e seus instrumentos.
Texto publicado no Diário do Pará, em 27 de setembro
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